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terça-feira, 24 maio 2022 11:56

Um pedido dos moçambicanos à empresa CFM

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Sabemos que sabem, e muito bem, que o crescimento e desenvolvimento económico das nações dependem grandemente de caminhos de ferro. Quanto mais expandidos e extensos, mais desenvolvidos são esses países, econômica e socialmente. Sabemos que sabem que o comboio esteve na base das revoluções industriais que fizeram da Europa o que é hoje. Sabemos que sabem muito bem tudo isto.

O transporte ferroviário leva primazia sobre todos os outros porque leva muito mais mercadoria do que qualquer outro, só competindo com os navios colossais, que chegam a transportar mais de mil contentores equiparáveis a vagões. Os comboios transportam muito mais passageiros de uma só vez do que qualquer outro meio… só competindo, uma vez mais, com os navios de grande calibre!

 

Diríamos que o transporte ferroviário concorre com o marítimo. No entanto, o primeiro ganha ascendência. O transporte ferroviário leva muita quantidade de mercadoria (ainda que nalguns casos seja menor que a de navio) que pode ser descarregada em qualquer estação/paragem; é comparativamente mais fácil estabelecer uma estação de comboio - ao contrário, os navios não podem descarregar mercadorias em “qualquer” paragem; aliás, os navios não têm nem podem estabelecer “quaisquer paragens” em qualquer sítio. Os comboios podem transportar demasiados passageiros, imensos mesmo, seguindo para diferentes destinos, desde que na trajectória da linha, mas também ligações são possíveis. Os navios podem, sim, levar muitíssimos passageiros; todavia, não podem descer em “qualquer” paragem/estação.

 

Vamos imaginar que tivéssemos uma linha férrea saindo de Maputo passando entre Gaza e Inhambane e entre Sofala e Manica, entre Tete e Zambézia, depois cruzar Nampula e terminando num ponto a determinar na fronteira entre Cabo Delgado e Niassa. Uma linha férrea em linha recta, não passando propriamente por nenhuma capital provincial, que seria uma grande complexidade, dada a disparidade e distanciamento da sua localização em relação à hipotética linha dividindo o país ao meio. Pode, mais tarde, haver derivações da linha férrea recta para cada uma das capitais provinciais.

 

Seria uma maravilha termos uma infra-estrutura desta envergadura. Uma autêntica maravilha. Um sonho maravilhoso. Moçambique dar-se-ia ao luxo de se considerar um país desenvolvido. Teríamos mercadoria de todos os cantos do país a circular por todo o país - de norte para centro e sul e de sul para o centro e norte, ou do centro para sul ou norte! Teríamos passageiros viajando de todo o lado para todo o lado de Moçambique, fazendo negócios, levando mercadoria de um para outro ponto; visitando ou indo trabalhar lá ou acolá. E é isto que faz uma economia, que desenvolve um país: o movimento de pessoas e bens para todo o lado. Dinâmica!

 

Além de crescimento e desenvolvimento econômico, muitas outras vantagens adviriam. A primeira seria a redução da grande pressão sobre a nossa estrada nacional. Neste momento, toda e qualquer mercadoria de Maputo para o norte e vice-versa circula de camião na estrada nacional número um (EN1)! Camiões de e para o hinterland estão nas nossas estradas. É tanto, tanto e tanto camião a galgar a nossa EN1. Todos carregadíssimos. Cheios e bem cheios de toneladas de diversos produtos! Não há nenhuma estrada que possa aguentar a tanto camião carregado como os muitos que passam pelas nossas estradas. Passamos a vida a reabilitar a nossa sempre degradada EN1 e enquanto não reduzirmos esta demanda, nada estaremos a fazer. Vamos reabilitar… passados menos de quatro a cinco anos no máximo, voltarmos a reabilitar, a reabilitar e a reabilitar.

 

A outra vantagem é que, com o transporte ferroviário de passageiros, reduzíamos também a pressão de viagens de autocarro pelo país. Hoje, também, qualquer que seja o percurso é, sempre e sempre, de viaturas particulares, ou de autocarro ou de “chapas” (minibuses). É, também, tanto e tanto autocarro/minibus na estrada! Não há destino entre nós que alguém possa optar por ir de comboio! Nada. Tudo pela estrada - ou pelo caríssimo avião! Daí em parte a pressão que temos nas nossas estradas!

 

E a outra vantagem da linha férrea é que muito provavelmente ia diminuir o índice de acidentes de viação, justamente com a redução da pressão nas estradas. Volta e meia, temos acidentes aparatosos e mortais nas nossas rodovias em parte devido à pressão que os automobilistas vivem nas rodovias.

 

Sabemos que os compatriotas da empresa CFM sabem, e muito bem, de tudo isto.

 

O pedido que nós, moçambicanos, fazemos é tão somente que nos digam quando é que vão começar a expandir a rede ferroviária no país. Não nos alegra, nem conforta que em 47 anos de independência a empresa CFM não tenha expandido absolutamente nada da linha férrea do país; pelo contrário, só regrediu… extinguiu a linha Quelimane-Mocuba; extinguiu a linha Xai-Xai-Mawayela, não sei mais qual… transporte de passageiros está a minguar… a Ressano Garcia, Manhiça, Chókwè e Chicualacuala ia-se de comboio… hoje…

 

O argumento de que a construção de uma linha férrea é onerosa não é procedente. A construção de linhas de energia é também muito onerosa. Mas a EDM conseguiu 1.1 biliões de dólares e está aí a construir a central termoeléctrica de Temane, assim como a linha de alta tensão Temane-Maputo. Consegue onde o dinheiro?

 

Pedimos que nos digam, compatriotas dos CFM, quando é que teremos linha férrea para desenvolvermos o nosso Moçambique! E estamos com pressa, já perdemos muito tempo.

 

ME Mabunda

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