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Carta do Fim do Mundo

quarta-feira, 17 julho 2024 08:29

Da teoria à prática

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Como empresário, tenho visto de perto as oportunidades e desafios que surgem para os jovens na transição do ambiente acadêmico para o mercado de trabalho. Respondendo ao desafio colocado pelas famílias e sociedade, tentarei partilhar algumas reflexões e propostas, afim de construirmos a ponte essencial para a profissionalização dos recém graduados e licenciados, que, inevitavelmente, serão o futuro do País e do mundo.

Ser futuro não é garantia de desenvolvimento ou progresso. Poderá ser bom ou mau, rico ou pobre, feliz ou triste. Para que os nossos jovens tenham o futuro risonho, o que têm direito, depende de como os responsáveis educacionais irão equipá-los com princípios e valores (soft skills), de conhecimento teórico e/ou saber fazer. Estes responsáveis devem colocar os seus pés no chão, serem pragmáticos e valorizar o que de facto tem valor. Todavia, esse valor só o será no futuro. Este é o maior desafio dos responsáveis, ensinar aos nossos jovens o que são virtudes - são hábitos que permitem ao indivíduo o caminho do bem.

 

Normalmente, os benefícios das virtudes são visíveis a longo prazo, o que para os nossos jovens não faz muito sentido, já que estão habituados à velocidade das tecnologias. Vivemos numa era de rápidas transformações tecnológicas, sociais, culturais e económicas. Os casos de sucessos de ontem poderão não o ser amanhã. O mercado não tem empatias, é intolerante, instável e cruel.

 

As empresas têm que se adaptar, inovar, ser competitivas, ou seja, oferecer produtos com o binómio preço/qualidade. As ameaças e oportunidades vêm de geografias inesperadas, onde o factor humano é fundamental para as vencer. Para o efeito, esse indivíduo terá que estar capacitado de conhecimento à altura dos desafios.

 

O capital mais valioso das empresas são os Recursos Humanos. Esse capital tornar-se-á efectivo, se estes indivíduos tiverem como sua fundação, virtudes, Saber Fazer e integrarem-se profissionalmente, com adaptabilidade e inovação permanente. Ser portador de diplomas, no mundo real ou empresarial, a partir do segundo dia de trabalho, conta muito pouco.

 

Como disse o Líder Chinês, Mao Zedong, século XIX (19) passo a citar: “a teoria é um produto da observação da prática” fim de citação.

 

Em outras palavras, partilhar teorias, sem exercícios práticos, laboratórios, estágios, projectos de pesquisas, socialização profissional, constitui um grande desafio para o aprendiz, bem como para o docente que muitas vezes, ele próprio, não tem experiência, aumentando o seu grau de dificuldade na transmissão do conhecimento.

 

Ninguém dá o que não tem, nem mais do que tem.

 

A maioria dos recém graduados não sabem que não sabem, o que eleva o grau de dificuldade na integração profissional. Este desconhecimento entre a teoria e a prática normalmente causa experiências traumáticas aos recém-chegados, nos locais de trabalho.

 

Afim de incorporarmos conhecimentos, que facilitem a vida destes indivíduos pós-graduação como trabalhador e ou empreendedor, proponho que:

 

- Os sistemas de ensino dêem prioridade ao saber fazer e, para o efeito, terão que actualizar os currículos e corpos docentes, de acordo com as necessidades dos mercados.

 

Quem são esses cruéis mercados? 

Somos nós que contribuímos na construção do PIB, produzimos alimentos, transformamos matéria-prima, recebemos salários, prestamos e compramos serviços e produtos, pagamos propinas e impostos e recebemos assistência social, entre outros.

 

Nós os produtores e consumidores, pagadores de impostos e taxas, os transportados, usuários dos serviços públicos, estaremos satisfeitos com a generalidade dos serviços, produtos, salários, infra-estruturas, educação, saúde, segurança, justiça, etc.?

 

A maioria de nós critica e com razão a qualidade dos nossos políticos. Mas afinal de onde vêm estes políticos?

 

Serão extraterrestres? 

 

Os políticos que conheço, e são muitos, vêm das nossas famíliascomunidades e escolas, o que pode querer dizer que, como sociedade, não temos cumprido com as nossas obrigações, na formação de indivíduos virtuosos.

 

Rudolf Steiner pedagogo e filósofo do século XIX (19) desenvolveu a teoria dos septénios:

 

Dos 0 aos 7 anos ensina-se princípios e valores;

 

Dos 7 aos 14 ensina-se as bases teóricas;

 

Dos 14 aos 21 ensina-se a saber fazer.

 

Toda a gente ralha e ninguém tem razão!

 

Quando fazemos uma avaliação, estamos a comparar se o que está em questão é bom, é menos bom, ou é mau. Como fazemos frequentemente, em relação ao nosso modelo e sistema de educação. Contudo, uma comparação exige um coeficiente ou Standard. Podemos comparar o sistema de educação, por exemplo, com os impostos que (não) pagamos? 

 

Podemos comparar o nosso sistema de educação com os salários dos professores?

 

Podemos comparar o nosso sistema de educação com o nível de destruição das carteiras escolares e degradação das escolas, nomeadamente casas de banho?

 

Podemos comparar os resultados obtidos pelos nossos estudantes com o nível de ausência dos pais ou educadores?

 

Senhoras e Senhores, temos que ser mais sérios, se quisermos mudar o rumo alarmante da ignorância da maior parte dos nossos alunos.

 

A minha experiência de 45 anos de trabalho ensinou-me que o maior capital que um profissional deve ter são os Princípios e Valores,ou seja, Virtudes. Muitos colegas com quem trabalho há mais de 30 anos têm em comum nessa longevidade são os princípios e valores.

 

A tecnologia aprende-se, adequa-se e adapta-se. As virtudes são transversais a todas as épocas, profissões, comunidades, sociedades do Universo.

 

Podemos ser mestres, especialistas, graduados, dirigentes, políticos, jornalistas, empresários, operários, camponeses, endinheirados, etc., entretanto, se não tivermos princípios e valores, será como caminhar num chão que não nos pertence e que a qualquer momento pode nos ser retirado.

 

A Luta Continua!

Amade Camal

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terça-feira, 11 junho 2024 11:35

ANC: a queda do libertador!

“O partido ANC, ao sair de 249 deputados em 2014, para 230 em 2019, não se deu ao trabalho de casa, para fazer uma introspecção sobre o que estava mal e o que estava bem, sobretudo, o que deveria capitalizar para uma mudança do paradigma. Continuou a afundar, cada vez mais o partido para, nas eleições de 2024, cair, de forma estrondosa, para os 40,2% com direito a 159 lugares no Parlamento. O erro do ANC pode ser o erro de muitos partidos libertadores em África. Perderam o princípio de auscultar o povo para tomarem decisões, as lições são várias, é hora de se prevenir”.

 

AB

 

“Em 1960, depois do Massacre de Shaperville (quando forças policiais atacaram pessoas que protestavam contra o apartheid, deixando cerca de 250 vítimas, entre mortos e feridos), o líder sul-africano deixou de lado a premissa de não-violência e começou a defender actos de sabotagem contra o governo.

 

Mandela recebeu treinamento de guerrilha na Argélia, norte da África, e foi um dos fundadores do Umkhonto we Sizwe, braço armado do CNA, segundo a Britannica.

 

No ano de 1963, Mandela foi levado a julgamento sob acusações de sabotagem, traição e conspiração. Acabou sentenciado à prisão perpétua, tendo escapado por pouco da pena de morte.

 

Nelson Mandela ficou 27 anos preso e, nesse período, tornou-se o grande símbolo da luta contra o apartheid, inclusive para a comunidade internacional. Ele foi solto em 1990, quando o sistema de segregação racial estava a deteriorar-se.”

 

In National Geographic, Rubrica: Quem é Mandela

 

O partido ANC da África do Sul é, sem dúvidas, um partido histórico da nossa região, fundado em 1912 em Bloemfontein. Seria ilegalizado no apogeu do regime do Apartheid em Abril de 1960, para, passadas três décadas, mais concretamente a 02 de Fevereiro de 1990, o regime do Apartheid, sob liderança de Frederik de Klerk, suspender as restrições políticas ao ANC e de mais partidos políticos na África do Sul, naquilo que foi considerado um acto heroico e ímpar na história. Lembre que o Apartheid era considerado um crime contra a humanidade.

 

Com o fim das restrições políticas na África do Sul, ensaia-se o fim do regime segregacionista na África do Sul. Na sequência, Nelson Mandela, preso em 1963, seria liberto em 1990, para, três anos depois, em 1994, realizarem-se as eleições multirraciais na África do Sul. Reza a história que a África do Sul sempre realizou eleições, contudo, os pretos não eram eleitores, de tal sorte que, num país de mais de 28 milhões de habitantes, quem votava eram perto de 3 milhões de brancos. Os pretos, mestiços e indianos não votavam.

 

Nas primeiras eleições multirraciais, o partido de Nelson Mandela coligou-se ao partido Comunista e aos Sindicatos, tendo ganho as eleições com a expressiva percentagem de 62,4%, com direito a 252 assentos no parlamento. Mas o ponto mais alto da popularidade do ANC, foi em 2004, quando conseguiu 69,7% com direito a 279 assentos, nas penúltimas eleições, isto é, em 2019, o partido de Nelson Mandela, teve o seu pior desempenho de sempre, com 57,5%, com direito a 230 assentos. Provavelmente, a direcção do partido não levou a sério este mau desempenho e, nas recentes eleições, conseguiu 40,2% com direito a 159 assentos no parlamento, o que torna o partido vulnerável e com pior desempenho de todos os tempos.

 

O dilema do ANC é como governar com este desempenho!

 

Depois do anúncio dos resultados eleitorais, dando vitória ao ANC, contudo, sem maioria que lhe permitisse eleger o Presidente da República e a formação do Governo, o ANC terá iniciado as conversações com alguns partidos, destaque para o ND, cujas conclusões são desconhecidas. Outros partidos também foram contactados, mas parece ter havido diferenças que poderiam comprometer um Governo de coligação. Para tal, o ANC viria com a fórmula do GUN, usada por Nelson Mandela em 1994 e, por aquilo que é público e segundo escreve o Jornal Noticias de 10 de Junho de 2024, edição nº32.260, “oposição sul-africana recebe proposta do ANC com frieza”, o ANC ensaia uma ampla inclusão.

 

A ampla inclusão refere-se a negociar com todos os partidos pequenos, que participaram das eleições na África do Sul, mas o que isso poderá significar? Eis a questão que se coloca, considerando que, caso os três partidos mais votados, ND, MK e EFF, que representam 45,9%, não colaborem, o ANC poderá ter dificuldades acrescidas para governar e, sobretudo, para eleger o Presidente da República. Não será difícil aos três partidos convencerem dois ou mais partidos pequenos a não se aliar ao ANC.

 

Com as coisas como estão, eventualmente, a África do Sul necessite de mais uma ronda eleitoral ou a oposição se organiza para indicar um Presidente, o que é pouco provável. Esperemos para ver. Entretanto, o calendário não joga a favor do adiamento de decisões e, sendo assim, o que nos espera no país dos nossos irmãos? Será o fim do partido histórico que esteve sob liderança de um homem especial, reconhecido e respeitado no mundo! O partido de Nelson Mandela a afundar-se, quem o salva?

 

Adelino Buque

“São muitos moçambicanos que, conscientes ou não, fazem o papel ridículo de apoiar tudo que é de fora, sobretudo, no que diz respeito a denigrir as nossas conquistas como país independente. Nesta reflexão, não pretendo, de forma alguma, dizer que somos um país de santos, mas que não sejam os outros a dizer e nós, pura e simplesmente, segui-los. Moçambique possui hoje gente formada a diferentes níveis e por diferentes escolas do saber. Temos uma massa crítica que, usando o seu intelecto para dentro, pode derrubar o Estado, sem armas e através de denúncias do que é simplesmente mau e indesejável para o nosso desenvolvimento. Não aceitemos ser divididos. Lutemos por Moçambique!”

AB

“O FMI é o exército americano com dólar em vez de porta-aviões. Querem transformar os países africanos em escravos económicos, eles pressionam para desvaliações, para que tudo possa ser comprado barato, pelas multinacionais, esta é a nova colonização económica. Moçambique não é o único exemplo africano que prova isso”, lê-se na página 63 de La Traquenard que quer dizer “A Armadilha”.

Jean Boustani disse a Guebuza que Teófilo Nhangumele, com quem vinham trabalhando há muito tempo, pediu 50 milhões de dólares, referindo que tal valor era para a Presidência. Guebuza respondeu: “Senhor Boustani, estamos a falar de um grande projecto estratégico. A minha resposta é simples: ninguém, nem eu, nem qualquer outro funcionário moçambicano, está autorizado a receber um cêntimo para avançar como deveria. Se alguém te pedir dinheiro, recuse e vem falar comigo”.

In Semanário Canal de Moçambique, edição nº 771 de 05 de Junho de 2024, citando o Livro “A Armadilha” de Jean Boustani.

Diz-se na gíria popular que “os anjos da casa não fazem milagres”. É verdade, muito do que diz o Senhor Jean Boustani, no seu Livro La Traquenard, citado pelo Canal de Moçambique, ouvimos no julgamento das dívidas ocultas, nos depoimentos de António do Rosário, então Director da Inteligência para a área económica do SISE. Mas muitos de nós, porque estavam em causa avultadas somas de dinheiro, não quisemos ouvir, ainda que ouvíssemos, quem éramos nós. O Ministério Público e o Juiz da causa é que tinham que ouvir, mais nada!

 

Muito recentemente, esteve em solo pátrio uma Missão do FMI – Fundo Monetário Internacional, para avaliar o desempenho de Moçambique e produziu as polémicas constatações de que a Autoridade Tributária, do valor que arrecada, 80% serve para o pagamento de salários e nós, como “bons” cidadãos que somos, saímos à rua a dizer que os beneficiários dos 80% da colecta dos impostos são uns improdutivos e que deveriam ser “demitidos” em massa. Estamos a falar de professores, de pessoal de saúde, do exército e da PRM, ente outros.

Mais uma vez, parece-me que o FMI – Fundo Monetário Internacional prepara-nos para medidas drásticas, como aquelas que foram aplicadas a Moçambique, desde o ano de 2016, salvo erro, em que o Orçamento do Estado passou a não beneficiar de qualquer apoio dos parceiros internacionais, com a alegação da “descoberta” das dívidas ocultas que, para Jean Boustani, foi uma espécie de “Golpe de Estado” apoiado por moçambicanos devidamente posicionados no sistema de governação.

Nesse mesmo contexto, ouviu-se a hostilização do antigo Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, a ser acusado de “ladrão” por algo que, em consciência, jamais faria. Hoje, o Livro de Jean Boustani, com o título “La Traquenard”, escrito pelo jornalista Francês Erwan Sezneen e citado pelo Canal de Moçambique, na edição de 05 de Junho de 2024 traz outros dados. Mas o mal está feito, Cabo Delgado e as províncias circunvizinhas estão em “chamas” devido à insurgência que pode ter como origem a desestabilização referida, para a desvalorização do metical e facilitar a pilhagem dos nossos recursos naturais.

A questão que se coloca é: até quando, nós moçambicanos, continuaremos a colaborar com o estrangeiro na desvalorização das nossas próprias conquistas como Nação? É verdade que os nossos dirigentes, em alguns casos, ávidos de enriquecimento fácil e rápido, facilmente aderem a esse tipo de atitudes, mas teremos de ser nós próprios moçambicanos a denunciar e a exigir que se “purifique” o sistema e não repetir tudo que vem de fora, com simples propósito de nos empobrecer, na famosa nova vaga de “colonização de África” de que somos certamente vítimas.

No Livro, Jean Boustan cita a ameaça estratégica da China e da Rússia, nos seguintes termos: “entre 2000 e 2014, a China investiu mais de dois mil milhões de dólares em Moçambique em obras de infra-estruturas e empréstimos (sem juros) à agricultura e isso faz parte de uma política africana mais ampla, porque a China investe em muitos países. Mas Moçambique tem um papel especial: O País é muito rico em recursos naturais e é a saída marítima para muitos países sem litoral, como Zimbabwe, Zâmbia, Malawi e até África do Sul. Maputo é Porto de Johannesburg, estando a apenas 545 Km de distância”, diz Jean Boustani, citado pelo Canal de Moçambique.

 

Mas adiante, o mesmo Boustani é citado a dizer: “é difícil ter a certeza sobre este assunto, mas o ano de 2015 é talvez o ano em que os Estados Unidos começaram a dizer que era hora de recuperar uma posição em Moçambique, para contrariar os objectivos dos seus rivais Chineses e Russos” fim da citação.


Apesar de abundantes informações sobre os interesses do Ocidente em Moçambique, claramente, que contam com a colaboração interna, muitas pessoas informadas preferem ignorar e dar voz àqueles que pretendem realizar a chamada “nova forma de colonização económica “que o faz através das suas multinacionais, o FMI – Fundo Monetário Internacional, que esteve recentemente em Moçambique, não fala sobre a não contribuição dos mega-projectos através dos impostos no Orçamento do Estado. Contudo, faz questão de enfatizar a necessidade de se criar o famoso Fundo Soberano, nada contra!

 

Ora, você tem alguma receita, resultante de exploração dos recursos naturais, que te obrigam a não gastar, alegadamente, porque os recursos irão se esgotar e as gerações vindouras não irão beneficiar, caso não se crie o fundo, mas não querem fazer um balanceamento entre a sustentabilidade da dívida a ser contratada, com dinheiro dos recursos estagnado como Fundo Soberano. Será que não temos seres pensantes em Moçambique? Por favor, acordem!

Adelino Buque

“A aparição pública do político Venâncio Mondlane para entrega da sua candidatura à Presidência da República sem dúvidas que irá tirar sono a vários actores políticos, com destaque para Ossufo Momade, Presidente do partido Renamo. E não se enganem, o partido Frelimo terá de se reinventar, do ponto de vista discursivo.

 

Terá de dizer o que irá mudar para oferecer emprego aos jovens, o que irá mudar para oferecer habitação aos jovens, acesso ao ensino, dentre várias outras carências que a juventude enfrenta. É hora de reflexões políticas de muita seriedade e antevejo a Renamo de Ossufo Momade, depois das eleições, como um partido irrelevante na política nacional. Se calhar, é antevendo essa irrelevância que alguns falam de alguns militares mortos da Renamo e dizem que estão vivos. Por favor, preparem estratégias para fazerem face ao fenómeno político chamado Venâncio Mondlane”.

 
AB


Venâncio Mondlane inscreveu-se, a 06 de Junho de 2024, pelas 14h30, no Conselho Constitucional, para concorrer às Presidenciais de 09 de Outubro de 2024. Uma das razões desta reflexão é o número de assinaturas que conseguiu para poder concorrer: nada mais nada menos que 110.000 (cento e dez mil) assinaturas, tendo entregue ao Conselho Constitucional as 20.000 (vinte mil), o máximo permitido por Lei.


Para que não houvesse dúvidas, Venâncio Mondlane e seu mandatário portavam as restantes 90.000 (noventa mil) à porta do Conselho Constitucional e Mondlane desafiou os jornalistas presentes, querendo, para conferir. Ora, quando ouvi aquilo, fiquei estupefacto. Um homem sem suporte de uma organização política conseguir, em tão pouco tempo, aquela quantidade de assinaturas, segundo ele, válidas!

Com efeito, a partir de hoje passo a admirar este homem que, para mim, se torna um verdadeiro fenómeno político. Não haja confusão entre admirar e ser seu seguidor. Não sou seu seguidor, mas admiro a sua crença, persistência, a sua vitalidade e vontade de estar e ser na política. Repito, Venâncio Mondlane é um caso de estudo e faz frente a várias formações políticas existentes há muito mais tempo no País. De forma oficial, convenhamos, não é possível ignorá-lo.

Estive a pensar se realmente o partido Renamo, refiro-me à sua direcção, teve medo da sua participação como concorrente, para a liderança do partido. O que estarão a pensar essas mesmas pessoas com Venâncio Mondlane candidato à Presidência da República. Nas conversas de rua e da esquina, há quem já vaticina a Renamo numa situação de irrelevância política e Ossufo Momade a ser crucificado pelos seus pares.

Ora, a desvinculação voluntária de Venâncio Mondlane do Partido Renamo e da Assembleia da República será explorada até à exaustão pelo próprio e seus seguidores. Aquilo que os dirigentes da Renamo fizeram na posição de “quero, mando e posso” já não poderão fazer na arena de concorrência à presidência da República. Estarão preparados a ter um manifesto que os afaste do fenómeno Venâncio Mondlane? Eis a pergunta que não cala!

A questão não se coloca exclusivamente à Renamo. Que discurso trará a própria Frelimo para a Juventude? Quando falamos de emprego, habitação, formação escolar entre outras exigências de momento, que tem estado a ser motivo de cada vez maior distanciamento entre o Governo e a Juventude! Na condição de partido no poder, a Frelimo deve, desde já, mostrar que, de facto, as coisas irão mudar, mostrar pela prática, por acções no terreno. Não me pergunte como, mas promessas não valem hoje.

Ouvi e gostei de ouvir, do candidato da Frelimo, que pretende resgatar os valores da primeira República, sob liderança de Samora Moisés Machel. Para mim, que vivi esse tempo, faço ideia do que se refere, mas os jovens e adultos, nascidos depois de 1980, não sabem, o que é pior é que não querem saber, querem a solução dos problemas que vivem hoje e a solução era para ontem!

Uma coisa é certa, os partidos políticos, concorrentes às eleições de 09 de Outubro de 2024, devem estar à altura dos desafios de momento, a guerra dos dezasseis anos não é motivação para votação, a luta pela democracia não diz nada aos jovens nascidos depois de 1990, que são a maioria. O “Futuro Melhor” não galvaniza gente com carências de um pouco de tudo. A questão é: e agora?

 
Adelino Buque

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