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Pedro Francisco César continua à espera de notícias sobre o rapto do seu irmão - FOTO DW África

O mundo celebra, nesta quinta-feira (13), o dia de consciencialização do albinismo. Na província de Nampula, onde a onda da perseguição a pessoas com falta de pigmentação na pele, vulgo albinos, tem vindo a ganhar espaço, desde 2014, uma família continua à procura do seu parente albino, raptado a 17 de Dezembro de 2014. Até hoje, diz não ter pistas e, muito menos, informação das autoridades, em relação ao desaparecimento do seu parente.

 

Trata-se do jovem Auxílio César Augusto, que, este ano, completaria 26 anos de idade, e que viu interrompida a sua juventude por cidadãos até aqui desconhecidos. Segundo apurou a "Carta", de fontes familiares, Auxílio Augusto tinha sido solicitado por desconhecidos, por volta das oito horas da manhã daquele dia, para, alegadamente, ir negociar uma proposta de oferta de emprego na fábrica de cerveja, na terceira maior cidade do país, uma viagem que lhe tirou de casa quase para sempre.

 

Estranhando o seu sumiço, a família tratou de localizá-lo, mas sem sucesso, tendo accionado a Polícia, em concreto o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), na altura Polícia de Investigação Criminal (PIC), para a sua investigação. Esta prometeu, como sempre, trabalhar para esclarecer o caso e responsabilizar criminalmente os seus actores, porém, debalde!

 

Com o tempo, os casos de perseguição, rapto e assassinato dos albinos foram ganhando terreno, na província de Nampula, tendo chegado a fase em que a mais populosa província moçambicana passou a liderar a lista desta situação no país.

 

O conhecido "caso Augusto" chegou à Procuradoria-Geral da República (PGR) e outras instâncias de investigação, além de merecer condenação veemente por parte das organizações de defesa dos direitos humanos, mas sem sucesso.

 

Em Dezembro deste ano, iremos completar cinco anos sem Augusto César e, muito menos, sem o caso do seu desaparecimento esclarecido. O porta-voz do Comando provincial da PRM, em Nampula, já veio a público dizer que a investigação do caso é da responsabilidade da PGR.

 

Entretanto, Pedro Augusto César (também albino), irmão mais novo do jovem desaparecido, revelou-nos que a família está desapontada com as autoridades que investigam o caso pelo seu silêncio total.

 

"A Polícia não diz nada, a PGR também", disse, visivelmente agastado, antes de atirar: “duvido que este caso seja esclarecido e responsabilizados os autores".

 

Mesmo assim, o nosso entrevistado disse que a família sempre continuará a exigir o esclarecimento do rapto do seu irmão, que não chegou de ver o destino de realização de sonhos que o futuro que desejava dar.

 

Medo dos albinos em Nampula

 

Depois de um aparente abrandamento, a província de Nampula voltou a registar, este ano, pelo menos dois casos de rapto de albinos, cujos contornos e resultados das investigações ainda não foram anunciados pelas autoridades. Os mesmos ocorreram nos distritos de Liupo e Malema, na província mais populosa do país.

 

Pedro Augusto é também membro das Associações Amor à Vida e Sobre de Árvore, organizações, maioritariamente, constituídas por jovens albinos. Ele disse que, face a estas e outras situações, o medo voltou a instalar-se no seio dos albinos naquela província.

 

À “Carta”, a fonte fez saber que as duas organizações vão organizar uma marcha pacífica, seguida de uma palestra, no próximo sábado, em protesto contra este fenómeno. Além da manifestação pacífica, serão distribuídos protectores solares aos albinos. (Carta)

O tom de medo e preocupação tende a subir para os estrangeiros que vivem e/ou querem se implantar em alguns pontos da província de Cabo Delgado. Tudo se deve aos últimos pronunciamentos em torno da insurgência, naquela província, que apontam os forasteiros como financiadores dos ataques militares, sobretudo aqueles que estão interessados no negócio dos recursos naturais.

 

Nos últimos tempos, a província de Cabo Delgado tem sido famosa devido à descoberta não só dos jazigos de Gás, mas também de Ouro, Rubi e outras pedras preciosas, facto que tem estado a movimentar muitas pessoas, incluindo cidadãos estrangeiros.

 

Alguns, na companhia de cidadãos nacionais, fazem a exploração ilegal dos recursos, e outros, como agentes económicos, aproveitam a oportunidade para desenvolver os seus negócios. A província tem estado a registar muitos estrangeiros entre legais e ilegais, vindos da vizinha República da Tanzânia, da Somália, Congo e outros de origem asiática.

 

Os distritos de Meluco, Montepuez (Nanhupo e Namanhumbir) e, muito recentemente, Ancuabe (Mahera, Nanjua e Nacaca), incluindo a cidade de Pemba, são os locais onde se verifica maior circulação desses cidadãos.

 

A presença massiva de estrangeiros motivou as autoridades policiais, em meados de 2017, a desencadearem uma ofensiva contra eles e, nessa altura, o Comando Provincial da Polícia, em Cabo Delgado, mobilizou o seu contingente para evacuar muitos cidadãos.

 

Maior parte dos estrangeiros ilegais encontrados pelas autoridades foi repatriada, através da fronteira do Rovuma, no distrito de Palma, a pouco mais de 100 km de Mocímboa da Praia, onde começaram os primeiros focos da insurgência, em Outubro de 2017.

 

A empresa de transporte de passageiros Nagi Investimentos, através dos seus autocarros, foi responsável pela evacuação de muitos cidadãos estrangeiros, sob a escolta das Forças de Defesa e Segurança.

 

Pouco tempo depois, eclodiu a insurgência, entretanto, a expulsão dos estrangeiros ilegais nunca foi associada à onda de ataques, até porque, apesar dessa expulsão, pouco a pouco os estrangeiros iam voltando. Outros tiveram a má sorte de serem detidos e acusados de participar nesses ataques, que, na primeira hora, tinham rosto de insurgência islâmica, associada ao grupo Alshabab, que actua na região oriental de África.

 

Mas, porque perspectivar um futuro preocupante para os estrangeiros?

 

Primeiro, foi o Comandante Geral da Polícia, Bernardino Rafael, que, em Maio, em Montepuez, distrito onde reside parte considerável de estrangeiros ilegais, apontou o dedo aos estrangeiros como sendo os principais financiadores dos actos de insurgência do Centro e Norte de Cabo Delgado.

 

Mais tarde, na sua última visita àquela província do norte do país, o Chefe de Estado também apontou o dedo aos estrangeiros, como sendo os mandantes dos jovens que se juntaram à insurgência.

 

Filipe Nyusi foi mais longe e acusou tanzanianos e congoleses de instrumentalizarem jovens nacionais em troca de boa vida, tendo na altura reiterado que irá trabalhar até que se esclareça as reais motivações do fenómeno.

 

As acusações dos dois altos responsáveis pela segurança do povo serão, sem dúvida, replicadas pelos dirigentes aos níveis abaixo, podendo agudizar a ira contra os estrangeiros.

 

No dia de África, os estrangeiros afirmaram, na sua mensagem, que Moçambique, em particular a província de Cabo Delgado, era sua segunda casa, porém, pode passar de um sonho.

 

O medo aumenta ainda porque um dia, sob ordens do governo, tal como em Março de 2017, podem ser vítimas de expulsão, capturas desnecessárias e acusações infundadas ou podem ser vítimas de Xenofobia. Isto poderá fazê-los, mais uma vez, perder dignidade e bens, pois, segundo as autoridades, estes são o novo rosto da insurgência, que ainda não se sabe quando irá terminar.

 

Reforço da segurança na zona fronteiriça com Tanzânia

 

Praticamente, a segurança nas zonas fronteiriças com a Tanzânia está reforçada. Considerável efectivo das Forças de Defesa e Segurança (FDS) está a fazer patrulha, de forma permanente, durante 24 horas.

 

Aliás, no último domingo, 09 de Junho, o Comandante Geral da Polícia escalou a região de Namatil, distrito de Mueda, que faz fronteira com Tanzânia, e na sequência pediu a população para reforçar a vigilância e controlar a entrada de pessoas estranhas. Na sede do distrito de Nangade, reuniu-se com as FDS, posicionadas para controlar a fronteira com a Tanzânia.

 

Refira-se que, dos 24 réus condenados, a penas de 12 a 16 anos de prisão, há cidadãos tanzanianos que, alegadamente, estavam a caminho de África do Sul. (Carta)

Doze (12) jovens moçambicanos do sexo masculino estão, desde há dias, detidos na República Democrática do Congo, pelas autoridades locais, acusados de entrada ilegal naquele país, suspeitos de pertencerem a grupos terroristas, que também actuam em alguns distritos do centro e norte da província de Cabo Delgado.

 

Os jovens deslocaram-se ao Congo com  a ideia era chegarem a regiões ricas em diamantes, como Kivo, Goma e Quissangane, onde igualmente receberiam treinos militares. Os 12 jovens foram à RDC para treinar e depois voltar a Moçambique e continuar com acções armadas na província de Cabo Delgado, também rica em recursos naturais.

 

Os jovens em causa são naturais de Memba e Moma, na província de Nampula, Quiterajo, no distrito de Macomia, e outros oriundos no distrito de Montepuez. A sua ida à RDC foi por aliciamento mediante valores monetários e era suposto que aprendessem o alcorão, mas sucede que, quando chegaram lá, aprenderam doutrinas maliciosas.

 

O Comandante Geral da Polícia de Moçambique, Bernardino Rafael, explicou há dias, em Nangade, que as autoridades moçambicanas estão a ter dificuldades para a extradição dos jovens para Moçambique. Tudo porque as autoridades da RDC também querem saber as suas reais motivações, bem como de que maneira entraram naquele país africano, também com focos de conflitos.

 

Informações indicam que os primeiros treinados chegaram a Moçambique e recrutaram os moçambicanos que depois iniciariam as incursões armadas. Lembre-se que, no ano 2018, a polícia moçambicana confirmou a detenção de três moçambicanos na República Democrática do Congo, alegadamente, envolvidos em ataques em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. (Carta)

 

Residentes dos distritos de Mocímboa da Praia e Nangade mostram-se preocupados, pelo facto de, nos últimos dias, ter-se registado o desaparecimento de alguns agentes económicos. Segundo as fontes, as vítimas têm sido levadas, muitas vezes, à noite, por pessoas desconhecidas, que chegam de uma viatura dupla cabine sem matrícula. Só em Mocímboa da Praia, contam as fontes, a população queixa-se do alegado rapto de três agentes económicos, um deles de nome Abibo, residente no bairro Nanduadua.

 

Já no distrito de Nangade, segundo relatam, supostamente, desapareceram dois agentes económicos, um dos quais identificado por Mustafa Victor, proprietário das bombas de combustíveis, localizadas na entrada principal daquela sede distrital.

 

As fontes ouvidas pela "Carta" asseguram que não se sabe quem são os supostos protagonistas dos raptos, assim como não sabem dizer se podem estar relacionados com a situação dos ataques. Acrescentam que, aquando do seu suposto rapto, Mustafa estava na sua viatura de marca Toyota, modelo Landcruiser, quando uma outra viatura fez uma ultrapassagem e depois bloqueou a via, tendo, supostamente, saído seis homens que o levaram. A vítima, afirmam as fontes, saía do escritório, naquele posto de abastecimento de combustível. O agente económico de Nangade, avançam as fontes, foi raptado na quinta-feira, mesmo dia em que foi atacada a comunidade de Namuavika.

 

No entanto, casos de gênero já aconteceram também no distrito de Macomia, o mais afectado pelos insurgentes. Num passado muito recente, dizem as fontes, desapareceu um suposto renomado comerciante de pescado, de nome Bahar, natural de Quissanga, mas residente na aldeia Pequeue, no posto administrativo de Quiterajo. Até hoje, confirmam as fontes, ainda não se sabe do seu paradeiro.

 

Outro agente económico tido como desaparecido, também de forma estranha, chama-se Arumbe, natural e residente de Mitacata, também no posto administrativo de Quiterajo. Este comercializava pescado e outros produtos, nos distritos de Macomia e Mocímboa da Praia e, às vezes, deslocava-se para a vizinha Tanzânia.

 

Na sua investigação, a “Carta” apurou que, nos distritos afectados pelos ataques, continua a ideia de que os que possuem ou movimentam somas de dinheiro terão sido “entregues” por certos investidores, no âmbito da insurgência. Aliás, actualmente, movimentar dinheiro, viajar à noite, receber hóspedes desconhecidos na região, entre outros hábitos, são motivos mais que suficientes para ser conotado com os insurgentes. (Carta)

Dois analistas moçambicanos ouvidos consideraram que o norte de Moçambique não é um "palco natural nem apetecível" para o Estado Islâmico (EI) e a violência militar na região tem uma raiz local. O Estado Islâmico reivindicou na terça-feira ter morto e ferido vários militares moçambicanos no distrito de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado, norte do país, uma região alvo de violência armada desde outubro de 2017.

 

A Polícia da República de Moçambique (PRM) distancia-se das reivindicações do grupo terrorista “Estado Islâmico”, que alega ter protagonizado um ataque, na passada segunda-feira (3 de Junho), em Metubi, no distrito de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado, contra uma posição das Forças de Defesa e Segurança (FDS), tendo causado vítimas.

 

O distanciamento da Polícia foi manifestado esta quarta-feira pelo porta-voz do Comando-Geral da PRM, Orlando Mudumane, falando aos jornalistas, durante o habitual briefing semanal.

 

A uma pergunta dos jornalistas sobre como reagiam as autoridades à reivindicação daquele grupo terrorista, depois de o Comandante da Polícia, Bernardino Rafael, ter dito, há dias, que os insurgentes eram financiados por garimpeiros ilegais, Mudumane, curto e grosso, disse que não ia comentar a questão, por tratar-se de uma “informação falsa”.

 

“As Forças de Defesa e Segurança, de que a Polícia da República de Moçambique faz parte, distanciam-se desta informação e abstêm-se de fazer quaisquer comentários”, disse Mudumane. E justificou: “A PRM distancia-se porque não constitui verdade. E não há muitos comentários em relação a informações que, para a Polícia, não são verdadeiras”.

 

Sem ceder à pressão dos jornalistas, o antigo porta-voz da Corporação, na Cidade de Maputo, disse: “Reiteramos que as FDS estão posicionadas em todo o território nacional, levando a cabo várias acções operativas no sentido de garantir a permanente ordem e segurança públicas e garantido que as pessoas circulem num ambiente de paz e tranquilidade”. (Marta Afonso)

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