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Crime

Numa comunicação quase secreta e de última hora (foi convocada perto das 16 horas), proferida pontualmente às 17:00 horas desta quinta-feira, a partir do edifício do Ministério do Interior, o Ministro do Interior, Amade Miquidade, anunciou o abate de 50 terroristas na província de Cabo Delgado, entre quarta e quinta-feira desta semana.

 

Acompanhado pelo Ministro da Defesa Nacional, Jaime Bessa Neto, naquilo que designaram de “declaração conjunta”, Miquidade afirmou que as acções tiveram lugar nos distritos de Mocímboa da Praia e Quissanga. De acordo com o governante, no dia 13, quarta-feira, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) abateram 42 “terroristas”, depois de terem sido surpreendidos na via que liga as aldeias Chinda e Mbau, no distrito de Mocímboa da Praia. Segundo contou, estes faziam-se transportar em três viaturas e igual número de motorizadas e um camião cisterna roubados. Para além do abate, garantiu Miquidade, as FDS destruíram todos meios circulantes nos quais se faziam transportar.

 

“Na madrugada de hoje [quinta-feira], 14 de Maio de 2020, foi rechaçada uma tentativa de assalto ao distrito de Quissanga, acção que resultou no abate de 08 terroristas e ferimento de vários outros”, assegurou Miquidade, numa comunicação de 08 minutos e que não teve direito à perguntas.

 

Apesar de os terroristas terem sido “abatidos” em confrontos, Miquidade não anunciou baixas nas fileiras das FDS. Entretanto, no meio de “festejos”, o responsável pela pasta da segurança no território nacional confirmou o recrudescimento dos ataques “terroristas” naquela região do país. Segundo Miquidade, os insurgentes protagonizaram 11 ataques, em 7 distritos daquela província, entre os dias 03 e 13 deste mês.

 

Nangade, Quissanga, Mocímboa da Praia, Meluco, Muidumbe, Macomia e Mueda são os distritos “visitados” pelos insurgentes nos últimos dias. No distrito de Nangade, os insurgentes realizaram três incursões, uma à aldeia Litingina no dia 03 de Maio e dois no dia 11, nas aldeias Litingina e Ngongolo.

 

Já, em Quissanga, os insurgentes realizaram ataques nos dias 04 e 09. Em Mocímboa da Praia, os ataques foram realizados nos dias 04 e 13, onde atacaram as aldeias Ulu e Ntotwe, respectivamente. Em Ulu, segundo Amade Miquidade, os insurgentes raptaram cinco cidadãos. Os distritos de Meluco, Muidumbe, Macomia e Mueda foram atacados nos dias 06, 11, 12 e 13, respectivamente.

 

“As macabras acções de terror resultaram na destruição e pilhagem de bens das comunidades e património do Estado, rapto de cidadãos, designadamente: 11 aldeias destruídas; 16 cidadãos raptados; 14 cidadãos dados como desaparecidos; 03 barracas vandalizadas e pilhadas; Postos de Transformação de energia eléctrica sabotados ao longo da estrada que liga Macomia e Mocímboa da Praia; destruição a fogo posto de 01 hospital recém-construído em Awasse; sabotagem da linha de telecomunicações da rede de telefonia móvel da Vodacom em Awasse, onde queimaram a fibra óptica; e roubo de baterias na Estação de Capoca em Xitaxi, no distrito de Muidumbe; e destruíram a fibra óptica da Movitel no distrito da Mocímboa da Praia”, enumerou Miquidade, sublinhando que Mocímboa da Praia ficou sem comunicação telefónica.

 

“Essas acções de terror visam distrair, desmoralizar e semear confusão no seio da comunidade, face a ofensiva determinada das FDS contra as suas bases e perturbar a opinião pública”, defendeu o governante, avançando que “o objectivo desses actores de violência repulsiva é inviabilizar, através do terror, medo, desunião, a nossa vontade de construir uma nação próspera na base dos seus ricos recursos que abundam naquela parcela do país”.

 

Segundo Miquidade, as acções de terror que se vivem na província de Cabo Delgado, desde Outubro de 2017, “não surgem de forma furtuita”, mas sim “carregam uma agenda externa, contra a qual apelamos a união de todo o povo moçambicano e, de forma particular, de todos os jovens (…) nas fileiras das FDS, para que enrobusteçam a sua tenacidade e combatividade dia e noite para defenderem, com honra e heroísmo, a nossa independência, a liberdade, a segurança das populações incluindo a protecção dos seus bens e do património do Estado”.

 

Referir que os ataques protagonizados pelo grupo “terrorista” atá aqui desconhecido já causou a morte de mais de mil pessoas, entre civis, militares e membros do grupo, para além de ter protagonizado a deslocação de mais de 160 mil pessoas. (A.M.)

Helicópteros da DAG (Dyck Advisory Group), firma de mercenários zimbabwaena que actua com operacionais sul-africanos, voltaram a roncar depois de alguns dias de interrupção, alegadamente destinada a reivindicar pagamentos junto do Governo. Uma fonte disse à  “Carta” que foram vistos movimentos no fim da tarde de quarta-feira e na manhã de ontem, quinta-feira. (Carta)  

Os mercenários sul-africanos do Dyck Advisory Group (DAG), que apoia o Governo na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, não têm sido vistos a operar nos últimos dias, abrindo brechas para contra-ofensivas dos rebeldes, que escalaram e incendiaram aldeias em Mocímboa da Praia nos últimos dois dias. Uma fonte sénior ligada a “inteligência militar” disse à “Carta” que os mercenários suspenderam suas incursões nos campos de batalha porque não têm sido pagos. “Estão em greve”, disse a fonte, que acrescentou outra razão: os homens querem garantias de que quando regressarem à Africa do Sul não serão detidos.

 

Recorde-se, de acordo com uma publicação recente do jornal digital sul-africano Daily Maverick, o Presidente Cyril Ramaphosa mostrou-se irritado ao saber que Maputo tinha apostado na contratação de mercenários sul-africanos ao serviço do zimbabweano, Max Dyck, filho do ex-coronel da Rodésia Lionel Dyck. A ausência dos mercenários sul-africanos no terreno fragiliźou as Forças de Defesa e Segurança (FDS), amolecendo uma ofensiva que já estava a ser cantada como totalmente vitoriosa contra os terrorristas. (M.M.)

Apesar da intensificação dos bombardeios em algumas zonas dos distritos de Muidumbe, Mocímboa da Praia e Quissanga, as acções macabras dos terroristas ainda continuam naqueles distritos da zona norte da província de Cabo Delgado.

 

Esta segunda-feira, os malfeitores atacaram as aldeias de Awasse e Miangalewa, nos distritos de Mocímboa da Praia e Muidumbe, respectivamente. De acordo com as fontes, os ataques começaram pela manhã e prolongaram-se pelo período da tarde, tendo cessado quase no final do dia. Não há detalhes sobre danos humanos, havendo apenas relatos de destruição. (Carta)

Existem paralelismos entre os dois casos e prendem-se com a origem da insurgência, diz Alex Vines. Mas o investigador britânico acredita que a crise ainda pode ser contida e que Maputo pode aprender dos erros de Abuja.

 

As acções dos insurgentes na província nortenha de Cabo Delgado entraram agora numa nova fase. Aumentou a violência e a frequência dos ataques e as suas investidas passaram a atingir de forma humilhante os símbolos do Estado e religiosos, e sugerem a "tomada" de certas zonas.

 

Mas a resposta das autoridades moçambicanas também já começa a ser ajustada às incursões dos insurgentes. E com isso entram novos atores no palco dos confrontos. É sobre esta nova fase em Cabo Delgado que entrevistámos Alex Vines, investigador do Programa para África no instituto britânico de pesquisa Chatham House:

 

DW África: Pela primeira vez, o Governo reagiu a altura das investidas dos insurgentes, aparentemente com resultados satisfatórios. Se isso acontecer com regularidade, acredita que a insurgência tem os dias contados em Cabo Delgado?

 

Alex Vines (AV): As Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique, durante o último mês, estiveram concentradas numa contra-ofensiva que foi possivelmente bem sucedida. E como todas as operações de contra-insurgência, esse desafio é de longo prazo, conquistando corações e mentes da população local, fornecendo desenvolvimento e segurança.

 

DW: Há relatos sobre a presença de mercenários sul-africanos, zimbabueanos e até de tropas angolanas a apoiar o Governo moçambicano. Também já se fala na possibilidade de uma tropa da SADC para apoiar o país. Como vê a cooperação regional, se considerarmos que os insurgentes podem ter intenções expansionistas na região austral de África?

 

AV:É verdade que o Governo de Moçambique contratou grupo AJA para fornecer aconselhamento e apoio aéreo. Esta dupla presença na experiência de contra-insurgência de Angola, Serra Leoa, Nigéria e de outros países me parece ter revertido os ganhos da insurgência a curto prazo. Igualmente, importante é o recente anúncio de que a Tanzânia enviou tropas adicionais para a fronteira [com Moçambique] do rio Rovuma. Não acredito que Angola tenha enviado tropas, mas ofereceu conselhos como o Zimbabué. A crise em Cabo Delgado é um assunto regional e a SADC desempenha um papel nesse sentido. 

 

DW: Já se fala em insurgentes infiltrados nas aldeias que estarão a usar a população como escudo. Também se advinha que deverão sequestrar ou atacar proeminentes líderes religiosos e altos governantes. Como interpreta essa nova abordagem dos insurgentes?

 

AV: A insurgência entrou numa nova fase. Ataques como o de Mocímboa da Praia evitaram muitas baixas civis e elementos como combustíveis e dinheiro foram restituídos durante a ocupação. Claramente os insurgentes estão a tentar construir uma base social e estão a revesar os símbolos do Estado e dos colaboradores. É por isso que o Governo precisará melhorar muito as suas próprias estratégias de corações e mentes.

 

DW: Já se pode dizer que Cabo Delgado é palco de uma guerra civil?

 

AV: É uma insurgência em Cabo Delgado e as causas principais são locais e regionais. Eu não diria que isso é como a guerra civil, como começou com a RENAMO em 1977 e que terminou em 1992, é diferente. Mas as maiorias das causas e soluções são moçambicanas.

 

DW: Também se acredita que as desigualdades sociais estejam na ordem da insurgência. Como acha que as autoridades deviam resolver isso?

 

AV: Pobreza, desigualdade e a governação são os principais impulsionadores deste conflito. A nomeação de Armando Panguene em março deste ano como presidente da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte de Moçambique é um desenvolvimento importante. Não existe uma solução militar para essa insurgência. 

 

DW África: Acha que os interesses dos gás em Cabo Delgado são o objetivo final dos insurgentes?

 

AV: Pesquisas mostram que nos primeiros anos da década anterior a raiz do descontentamento islâmico já estava lá presente. Os desenvolvimentos do gás não são a causa ou raiz da insurgência, mas podem esperá-lo provocando o sentimento de inquisição.

 

DW África: Há perigo de um conflito inter-religioso?

 

AV: O islão mais puro é uma das razões para apoiar a insurgência. Isso certamente recorre à mediação por meio das mesquitas, ONG islâmicas e da comunidade muçulmana em Moçambique para buscar soluções. Não será resolvido através da violência.

 

DW África: Há o risco de Moçambique se transformar numa pequena Nigéria?

 

AV: A insurgência em Cabo Delgado me lembra o crescimento inicial do Boko Haram no nordeste da Nigéria. As causas principais são semelhantes, assim como o local que faz fronteira, como uma fronteira internacional porosa. Espero que o Governo moçambicano aprenda com os erros dos nigerianos e evite que as crises piorem. A crise em Cabo Delgado ainda pode ser contida e [a situação] gradualmente melhor. (DW, com a devida vénia)

O assassinato de dois menores de idade, na vila de Gurúè, província da Zambézia, está a chocar a sociedade, havendo cidadãos que, através das redes sociais, propõem a implementação do Código de Hamurabi (aplicação da mesma medida aplicada pelo infractor ao ofendido).

 

Esta segunda-feira, 11 de Maio, a Polícia da República de Moçambique (PRM), a nível do Comando Provincial da Zambézia, apresentou os quatro indiciados de terem assassinado os dois menores, identificados por Dino e Dércio.

 

À imprensa, um dos indiciados, que confessa ter praticado o crime, disse o seguinte: “Eu levei para lá no chá… antes, as 15:00 horas cruzamo-nos na cidade e sentamos num sítio e começamos a conversar. Essas crianças são minhas conhecidas porque casei a mãe deles uma vez. Então, no regresso levei as crianças para o chá…”, afirmou, confirmando ter assassinado as crianças.

 

Sidner Londzo, Porta-voz da PRM, na Zambézia, garantiu: “os elementos que a Polícia tem indicam que os quatro indivíduos estão envolvidos no crime dos menores, sendo que dois são actores morais e dois materiais”.

 

Acrescentando, Londzo explicou que os corpos foram encontrados graças aos caçadores de ratazana que, na quinta-feira do dia 07 de Maio, colocaram armadilhas nas plantações de chá, pertencentes à Companhia da Zambézia. A fonte garantiu ainda que a investigação continua e que existem elementos que irão permitir chegar aos verdadeiros mandantes, pois, os órgãos humanos seriam traficados para a província de Nampula, terra natal de um dos supostos mandantes.

 

O Porta-voz da PRM, na Zambézia, revelou também que a arma do crime (faca) ainda não foi encontrada, porém, assegurou que a corporação abriu várias frentes investigativas para localizar o “paradeiro” daquela arma branca. (Omardine Omar)

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