Lá se vão os tempos em que o empresariado da província de Inhambane, em particular do distrito de Inhassoro, se queixava da falta de oportunidades de negócio no projecto de exploração do gás natural de Temane, liderado pela petroquímica sul-africana Sasol.
Na última segunda-feira, Cecília Filipe, representante dos empresários do distrito de Inhassoro, revelou que a convivência entre a Sasol e o sector privado local ganhou uma nova vida, desde que os empresários reclamaram oportunidades de negócios junto daquela empresa.
Intervindo na cerimónia de lançamento da primeira pedra para construção dos projectos de gás e energia de Temane, a empresária garantiu que mais de 60 empresas daquele distrito já participaram em capacitações organizadas pela Sasol, assim como já têm acesso aos concursos públicos lançados pela multinacional. Assegurou ainda que as empresas locais já têm fornecido bens àquela multinacional.
O envolvimento cada vez mais activo do empresariado de Inhassoro no projecto de exploração de gás natural de Temane resulta de críticas lançadas pelo sector privado e pelo Governo da província de Inhambane à Sasol, que acusavam aquela petroquímica de pouco fazer pelo desenvolvimento da província de Inhambane, em particular do distrito de Inhassoro.
A título de exemplo, o Governador de Inhambane, Daniel Tchapo, chegou a questionar a relevância da responsabilidade social da Sasol, alegando, por exemplo, não fazer sentido a vila-sede do distrito de Inhassoro não ter um sistema de abastecimento de água potável, enquanto a petroquímica explorava o gás natural de Temane (Inhassoro) há mais de 10 anos. Coçada pelo discurso incisivo de Tchapo, a Sasol construiu um sistema de abastecimento de água, tendo sido inaugurado na passada segunda-feira pelo Presidente da República.
Em consequência do mau relacionamento entre a Sasol e as comunidades locais, jovens têm causado tumultos no distrito de Inhassoro, reclamando oportunidades de emprego. Os últimos tumultos tiveram lugar em Julho do ano passado.
Central Térmica de Temane vai injectar 35 milhões de USD em conteúdo local
Dados partilhados pela Electricidade de Moçambique (EDM) indicam que, com a construção da Central Térmica de Temane, o consórcio (EDM, Sasol e Globeleq) irá injectar 35 milhões de USD em conteúdo local. O valor será investido na contratação de bens e serviços locais, formação e emprego.
Comentando acerca do assunto, o Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, disse que o Governo continuará a lutar pela melhoria do ambiente de negócios, porém, voltou a sublinhar a necessidade de se melhorar a qualidade dos seus serviços e produtos oferecidos, de modo a serem cada vez mais competitivos.
“Vamos melhorar a nossa qualidade para competirmos em pé de igualdade e não passarmos a lamentar sobre alguns serviços que ainda não podem competir”, defendeu, explicando que a construção da fábrica de gás de cozinha abre oportunidades para a implementação de outras iniciativas, com destaque para o engarrafamento, transporte e distribuição daquele combustível.
Refira-se que as reclamações sobre a ausência do conteúdo local nos mega-projectos têm marcado a agenda do empresariado nacional. Aliás, o Governo continua sentado por cima da proposta de Lei do Conteúdo Local, aprovada em 2019 pelo Conselho Económico. O Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), uma organização da sociedade civil, acusa as multinacionais de bloquearem a proposta. (Abílio Maolela, em Temane)