As fortes medidas restritivas para prevenção do novo coronavírus, em todo o mundo, estão a surtir efeitos muito nefastos para a aviação em Moçambique. Em entrevista à “Carta”, na última quarta-feira (03), o Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM), João De Abreu, disse que a actividade no sector baixou drasticamente e mostrou incertezas em a indústria reerguer-se facilmente, caso a crise se prolongue para além de Junho.
“A Covid-19 está a afectar muito o transporte aéreo no mundo. Em Moçambique, particularmente, a nossa actividade deve estar actualmente entre 8 a 9%”, disse De Abreu. Para o efeito, o nosso interlocutor apontou, por um lado, o cancelamento massivo de voos internacionais operados por companhias estrangeiras e, por outro, as medidas de Estado de Emergência.
Das nove companhias estrangeiras, o PCA do IACM destacou a Transportadora Aérea de Angola (TAAG), TAP Portugal, Qatar Airways, Kenya Airways que suspenderam seus voos logo no início, em Março. Como consequência, a fonte explicou que a actividade baixou em 30%, pois, mesmo com a suspensão massiva, continuavam a acontecer alguns voos, principalmente de repatriamento e humanitários, operados pela Ethiopian Mozambique Airlines (EMA).
Todavia, segundo De Abreu, nos meses de Abril e Maio, a actividade aérea registou uma queda drástica de movimento de passageiros e carga, de 75% e 90% respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado.
Ao nível interno, o nosso entrevistado lembrou que a empresa Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) e a EMA cancelaram dezenas de voos internos e para o exterior. “A LAM tinha 142 voos por semana, mas baixou para menos de 30. A EMA operava com três aeronaves, mas hoje ficou com apenas uma, reduziu substancialmente os seus voos”, detalhou.
Para além do transporte aéreo, De Abreu disse que os efeitos da crise pandémica se estendem a toda a cadeia de valor da indústria aeronáutica. De entre vários seguimentos, a fonte destacou as gasolineiras, as empresas de heandling, catering, os correios e indústria hoteleira.
Em caso de contínua evolução da pandemia e, por consequência, manutenção das medidas de Estado de Emergência, para além de Junho, o PCA do IACM disse que a indústria aeronáutica irá ter séries dificuldades de se reerguer.
“Se o cenário não mudar, vai ser muito complicado os operadores do sector recuperarem os prejuízos causados pela crise”, afirmou a fonte, dias depois do prolongamento por mais 30 dias e, pela segunda vez, do Estado de Emergência, no país.
Importa referir que dados publicados em Abril passado, pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, sigla em inglês), revelam que Moçambique é um dos 10 países do continente mais afectados pela crise. A organização diz que o sector da aviação nacional poderá perder receitas na ordem de 0,13 bilião de USD, 0,2 bilião de USD em contribuição para a economia e a Covid-19 arrisca 126.400 empregos.
Desde o diagnóstico do primeiro caso, a 22 de Março passado, o novo coronavírus já infectou, no país, 352 pessoas (dos quais 114 recuperadas) e matou duas pessoas. (Evaristo Chilingue)