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terça-feira, 23 março 2021 07:33

Economista diz que Banco Central tem tomado decisões de políticas monetárias incongruentes

O académico e economista João Mosca diz que o Banco de Moçambique tem tomado decisões de política monetária incongruentes. Antes Mosca explica que a política monetária, em Moçambique, tem como objectivo primeiro, e talvez último, o controlo da inflação e, através da inflação, procura-se os equilíbrios macroeconómicos, sobretudo os equilíbrios do sector externo e alguns indicadores da economia interna.

 

Nesse contexto, o académico nota, numa análise apresentada recentemente num seminário sobre as decisões do Banco Central, fortes incoerências na política monetária e na utilização e prática dos instrumentos da aplicação dessas políticas. Por exemplo, diz que, simultaneamente, se mantêm elevadas as taxas de juro, faz-se depreciar a moeda nacional, sabendo que uma parte significativa da inflação é provocada pelas importações dos bens alimentares, que é o grupo de produtos que mais sofreu com a inflação nos últimos anos.

 

“A incongruência está no facto de, por um lado, procurar-se conter a inflação, através do aumento da taxa de juro e, por outro, faz-se deslizar a taxa de câmbio, provocando inflação. Por outro lado, querer-se travar a taxa de juro e o crédito através das Reservas Obrigatórias e taxas de juro que tem de pagar ao Banco Central, dificultando o crédito à economia”, aponta a fonte.

 

Indo mais longe, o economista sublinha que a manutenção em alta da taxa de juro não beneficia o crescimento económico, mas certamente que aumentaria as dificuldades financeiras que muitas empresas possuem neste momento, pois, o Banco Central é o principal financiador, assim como alguns bancos comerciais, da dívida pública interna, que cresce rapidamente, particularmente nos últimos dois anos.

 

“Este financiamento retira a disponibilidade de dinheiro à economia (empresas e famílias), fazendo, simultaneamente, aumentar as taxas de juro. Com essas políticas, o BC reduz a capacidade de investimento das empresas e das famílias, gera desemprego e reduz o consumo das famílias. Financiando, com elevados volumes monetários, um Estado ineficiente e ineficaz, compromete-se a eficiência, a competitividade da economia e o bem-estar dos cidadãos”, aponta Mosca.

 

Analisando a actuação do regulador do sistema financeiro nacional, o académico reafirma ser muito discutível travar a inflação ao nível em que está, numa economia em recessão, com crescimento negativo. Mosca insiste que o Banco Central faz exactamente o contrário do que a teoria económica diz. “Em recessão, a política monetária deve ser expansiva e não recessiva, como o Banco Central está fazendo. Inversamente, em momento da expansão económica, o Banco de Moçambique deveria tomar medidas restritivas” afirma a fonte.

 

Por fim, o economista afirma que o Banco de Moçambique está actuando em pró-ciclo, isto é, em crise económica, pratica políticas recessivas, dificultando a recuperação económica (mais produção, investimento, emprego e níveis salariais, com redução dos gastos públicos), ou mesmo agravando a crise, na expectativa de, primeiro, estabilizar os indicadores económicos e, depois, crescer, conforme reza um dos mandamentos da política monetária do Fundo Monetário Internacional. (Evaristo Chilingue)

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