Volvidos dois meses após a entrada em funcionamento do Sistema de Bilhética Electrónica, introduzido pela Agência Metropolitana de Transportes de Maputo (AMTM), com objectivo de modernizar o processo de cobrança nos transportes urbanos de passageiros, há utentes que já abandonam o serviço devido a falhas no seu funcionamento. As constantes “faltas de sistema” e a duplicação ou mesmo triplicação de cobranças das tarifas são algumas das razões que levam alguns utentes a abandonar o serviço.
Lembre-se que o sistema de bilhética electrónica foi introduzido no passado dia 01 de Fevereiro em quatro corredores (6, 5, 3 e 4), abrangendo 46 rotas. O sistema está sendo operado pela empresa tanzaniana Maxcom e é avaliado em mais de 1.4 bilião de Meticais.
“Carta” visitou, há dias, o maior terminal de transportes públicos da cidade de Maputo (o da Praça dos Trabalhadores), de modo a ver in loco a operacionalização do projecto, assim como “medir” a satisfação dos clientes em torno do mesmo. Essencialmente, queríamos saber que mudanças o sistema trouxe na vida dos utentes e se o mesmo corresponde às expectativas.
Durante o período em que a nossa reportagem esteve no local foi possível contar a dedo os passageiros que passavam o seu cartão para efeitos de pagamento da tarifa referente às suas viagens. Dos autocarros que pudemos testemunhar a chegar a partir, menos de 10 pessoas recorreram ao famoso “cartão FAMBA” para pagar as suas viagens.
Claúdia Nhamposse, de 33 anos de idade e residente no Distrito Municipal KaTembe, é uma das citadinas da capital do país que parou de recorrer ao Sistema de Bilhética Electrónica para efectuar o pagamento das suas viagens.
Explica que desistiu do serviço pelo facto de não ter conseguido, por duas vezes, passar o cartão na saída devido à enchente que se registava na porta de saída do autocarro (que lhe obrigou a usar a porta de entrada) e nas viagens seguintes constatar que o valor havia sumido. Sublinhar que o passageiro é obrigado a passar o cartão na máquina à entrada e à saída do autocarro.
“Quando comecei a usar este cartão, convidei a minha família a aderir, porque pensei nos vários benefícios que teria. Mas parei de usar por várias irregularidades. Por vezes entrava no autocarro e não tinha sistema e quando eu não tivesse valor no bolso o cobrador mandava descer”, revela a fonte.
Quem também irá parar de usar o “cartão FAMBA” é Elisa Tembe, de 27 anos de idade. À “Carta” afirmou que irá cessar o seu contrato com o serviço pelo facto de ter “gasto” o dinheiro reservado ao mês em apenas 15 dias, devido às constantes falhas do sistema.
“Eu já atrasei ao serviço por não ter dinheiro para pagar o transporte. Confiei no meu cartão e quando entrei no autocarro havia falha de sistema e tive de pedir a uma vizinha pagar para mim. Outra situação que me deixou constrangida foi por conta de uma viagem que me esqueci de passar o cartão na saída e quando fui viajar dia seguinte, me retiraram um valor a mais”, referiu.
Já João Muchanga, de 49 anos de idade, também residente em KaTembe, admite ainda estar a usar o cartão, mas garante não se sentir satisfeito pelos serviços oferecidos. “Já tive várias situações em que desci e, ao invés de me cobrarem a tarifa correspondente, cobravam valores exagerados. Por exemplo, já fui cobrado 12 Meticais, numa viagem que devia pagar 10 Meticais e fui retirado 15, onde devia pagar 12 Meticais”, conta o utente, sublinhando já ter reclamado junto aos provedores do serviço, mas sem solução.
AMTM admite falhas, mas fala de erros dos passageiros
“Carta” conversou com a Agência Metropolitana de Transportes de Maputo (AMTM), na pessoa do Gestor do projecto, José Nhavotso, que admitiu as falhas de ambas partes (do sistema e dos passageiros), justificando com o facto de o sistema ainda ser novo para os passageiros e operadores.
Segundo Nhavotso, o passageiro paga pela viagem realizada, através da marcação na entrada e na saída, pelo que, nos casos em que os passageiros se esquecem de passar o cartão na saída, a Agência não se responsabiliza pelos danos. “Os passageiros têm de se lembrar sempre de fazer a marcação na saída para que não sofram as consequências de descontos frequentes”, afirmou.
Questionado sobre a duplicação/triplicação na cobrança de tarifas, a fonte respondeu: “já tivemos várias reclamações de sumiço de valores nos cartões, entretanto, nós procuramos explicar aos passageiros que é por não terem feito a marcação na saída no local onde desceram. Mas também já tivemos casos de erros operacionais, onde os nossos operadores fazem desvio ou encurtamento de rota e, neste caso, a consequência directa disso recai para o passageiro”.
Relativamente ao famoso “não há sistema”, José Nhavotso recomenda os passageiros a levarem consigo o dinheiro, de modo a não serem retirados dos autocarros pelas falhas no sistema de pagamento electrónico. Porém, revela haver situações em que os próprios operadores desligam as máquinas.
“Em relação às desistências, na nossa interpretação podem ser por falta de confiança no sistema por ser novo ou porque podem ter passado por uma situação de ter um erro operacional e os passageiros já não acreditam muito que estes erros sejam temporários. Outros passageiros desistem de usar o cartão porque acham que não é conveniente ir à cabine para recarregar, pois, em toda a área metropolitana, existem apenas 49 cabines de recarregamento e outros passageiros não sabem que podem fazer o recarregamento via Mpesa”, acrescentou Nhavotso.
Refira-se que a Maxcom venceu a concorrência do consórcio moçambicano Sir Comércio Internacional e BCI; da CC Investimento, SA; do Consórcio ITC-Works; e da SA Transit Connect. (Marta Afonso)