A VISA Inc., uma empresa multinacional americana de serviços financeiros, não reconhece a actual taxa de câmbio determinada pelo Banco de Moçambique, enquanto regulador do sistema financeiro nacional. Um economista avança que isso se pode dever ao facto de aquela empresa desconfiar da taxa de câmbio do Banco Central, por ser especulativa após ser manipulada.
Como consequência, a VISA continua a debitar 75 Meticais por cada Dólar norte-americano (USD) em transacções, mesmo com a actual valorização do Metical. Esse facto está a sufocar os moçambicanos que fazem compras online.
O valor do Dólar caiu nos últimos dias por efeitos das políticas monetárias e não só que têm vindo a ser adoptadas pelo Banco de Moçambique. Nesse contexto, 1 USD custa, desde finais de Abril último, 57 Meticais, depois de ter atingido 75 Meticais no pico da pandemia da Covid-19.
A valorização acentuada do Metical (que iniciou em finais de Março passado) face ao Dólar e outras moedas de referência cambial causou interrogações, desde o primeiro dia, porque com a pandemia, insegurança e efeitos climáticos, a actividade económica do país cresce negativamente e isso não favorece a apreciação da moeda nacional.
Mesmo com as crises, o Metical está a fortificar-se, o que é, em certa medida, benéfico para a economia nacional. Todavia, essa apreciação não está a ser reconhecida pela empresa americana VISA, cujas soluções financeiras são usadas em Moçambique e noutros quadrantes do mundo.
A VISA, sublinhe-se, não é obrigada a usar a taxa de câmbio determinada pelo Banco de Moçambique, senão os bancos ou instituições financeiras nacionais. Mas o preocupante é que a diferença das taxas do Banco Central e da VISA é abismal e está a causar enormes prejuízos aos cidadãos moçambicanos.
É que aquela empresa de serviços financeiros, com sede na Califórnia, nos Estados Unidos da América, continua a debitar 75 Meticais por cada USD. “Carta” apurou essa realidade em várias denúncias de cidadãos moçambicanos que sofreram prejuízos após fazerem compras online, usando serviços da VISA.
“Hoje fiz compra online usando o meu cartão de débito do Standard Bank e uma coisa estranha aconteceu. O produto comprado custou 200 USD. Quando fui ver o extracto percebi que o banco debitou 15.891,00 Meticais. Liguei para o custumer care [Linha do Cliente] e fui informado que a empresa VISA, dona do cartão, aplica taxa de câmbio diferente daquela usada no nosso mercado. Por aí tudo bem. Mas não vejo muita racionalidade aqui em Moçambique. O Dólar custa 57 e quando fazemos compra fora, daqui e usando o banco daqui, somos debitados 75 Meticais. Estamos a ser roubados”, relatou a fonte, que a tratámos em anonimato.
Outro cidadão (em anonimato) sofreu o mesmo prejuízo, mas recorrendo a outro banco nacional. Disse ter feito pagamento online com cartão de crédito, através do Millennium Bim. Agastada, a fonte disse ter procurado explicações ao banco, tendo igualmente sido informada que as taxas são da VISA.
“O BIM ligou-me e informou que as taxas e o câmbio são da VISA, não do banco propriamente dito”, relatou a fonte.
Perante essa realidade, contactamos o académico e economista João Mosca. Explicou que a VISA continua a debitar 75 Meticais por cada USD por desconfiar da actual taxa de câmbio determinada pelo Banco de Moçambique, alegadamente, por ser especulativa.
“A VISA pode ter notado que a taxa de câmbio definida pelo Banco Central não reflecte a actual situação económica do país. Apercebeu-se de que possa haver manipulação do mercado, com a injecção de divisas, facto que está a permitir a apreciação do Metical”, disse Mosca.
Refira-se que a VISA não é única instituição financeira mundial que põe em causa a actual apreciação do Metical. Citada recentemente pela Lusa, a Fitch Solutions, uma instituição internacional de notação financeira, admitiu que a moeda nacional está sobrevalorizada, ou seja, o seu valor “não reflecte condições macroeconómicas propícias”. Todavia, os consultores da Fitch antevêem que o Metical se desvalorize e atinja os 74 Meticais até ao final desde ano. (Evaristo Chilingue)