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segunda-feira, 21 fevereiro 2022 09:18

Rico por um dia, pobre para sempre!

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Corria o ano de 2009 quando, em plena tarde de sol intenso, um explorador de espécies valiosas de madeira radicado nas matas de Mwiriti, no distrito de Montepuez, província de Cabo Delgado, deparou-se com uma variedade especial e rara de pedra preciosa no subsolo. Admirado com o que acabava de ver, o homem continuou cavando como se de pedras de construção se tratasse, mas dado o brilho e a luz das mesmas, os seus companheiros acabaram aconselhando que o mesmo procurasse pessoas especializadas no assunto para saber do que se tratava.

 

Acatada a ideia, o jovem contactou dois cidadãos estrangeiros, que se dedicavam à venda de minérios diversos na vila, sendo que um era senegalês e o outro tanzaniano. Entregou as pedras aos visados – uma semana depois, os mesmos traziam a boa nova, tratava-se de rubis – com um peso e qualidade inestimáveis no mercado internacional das pedras preciosas. Alegre e convencido pelos dois patrões estrangeiros, Célio - o explorador de espécies valiosas de madeira em Mwiriti - começou a escavar a terra juntamente com seus parentes e amigos da zona de Namanhumbir. O negócio seguia de vento e pompa, quando certo dia os dois cidadãos estrangeiros tiveram uma desavença que culminou com o incêndio de uma viatura!

 

Foi através das chamas do incêndio da viatura e dos tiros que se fizeram sentir no local que as autoridades locais tomaram o conhecimento de que afinal naquelas matas donde saíam variedades valiosas de madeira, havia pedras preciosas e super-valiosas que poderiam animar e impulsionar a economia da província e do país. O incidente abriu espaço para que a população local, a polícia, empresários locais, políticos e generais altamente patenteados tivessem "olhos gordos".

 

Mas os nacionais não conheciam realmente qual era o valor daquelas pedras, informação detida pelos estrangeiros que não paravam de chegar em Montepuez. Estes, sim, conheciam todo o circuito e quanto vale no mercado tailandês, de Singapura e outros. Em pouco tempo, a vila municipal estava infestada de bengalis, somalianos, malianos, chineses e entre outros. O nível de vida subiu. O Metical foi substituído pelo Dólar. O crescimento económico já era visível – nesta época começavam as detenções e condenações dos locais e apelidados de garimpeiros ilegais – legalmente!

 

Com tanto dinheiro em circulação, também diferentes gangues começaram a instalar-se no local e fazendo emboscadas caso vazasse a informação de que alguém encontrou os rubis. Na vila, viaturas de alta cilindrada inundavam os quintais de palha e casas de zinco. As moçoilas andavam espalhadas por tudo que era canto em busca de um ndengue sortudo do dia e que num piscar de olho poderia ter quatro milhões em mão e dia seguinte estar em apuros!

 

Tudo porque o chefe máximo da nação na altura acabava de fazer uma viagem para as terras do tio Sam em busca de ajuda. Chegando lá, eis que os gringos, sem papas na língua, dizem para o homem na cara: “sabes que o vosso país tem recursos naturais e minerais superiores aos nossos e que bem explorados podem vos colocar acima de muitas nações. Exemplo disso são os contentores de rubis identificados no mercado asiático que saíram ilegalmente!

 

Apavorado com a informação, o Maximus da Pérola do Índico pegou no voo para o país visado e, chegando lá, encontrou cerca de 34 contentores com o precioso minério. Indignado pela tamanha perda, principalmente pelos sinais de corrupção alfandegária, o homem regressou ao país e no mesmo dia pegou um jato privado para Cabo Delgado.

 

- Em reunião com as autoridades locais sobre o valor económico dos minérios por ali explorados, o Big man quis que as terras fossem atribuídas a si ou seus próximos, mas como doutro lado estava um potente general que detinha a área para exploração da madeira, acabou tratando a licença de exploração dos minérios e, no vuku vuku partidário, acabou se levantando a questão do tribalismo em voga na altura, tendo assim retraído o debate e a exploração do produto tão desejado (…).

 

– Hoje a luta está em Mavago, no Niassa, onde dentro de uma Reserva abriram-se coutadas, tudo porque o diamante vermelho está cheio no subsolo e os donos da terra, ar, água e armas não vêem a hora de começarem a operar. Mas quem responde pela área encontra-se de mãos atadas e a tremer caso faça uma asneira com o business!

 

Neste todo emaranhado, o Tales dos Rubis de Montepuez que teria os privilégios de viver uma vida condigna para sempre foi transformado num indigente e entregue às masmorras da pobreza. Hoje o homem tinha tudo para ser rico, mas acabou sendo atirado para o buraco escuro da fome e da injúria social – nos quadrantes serviria para outros fins sobre a descoberta – talvez até uma vida subsidiada – pelo menos é assim que outras nações fazem, quando prestamos um serviço importante e duradouro.

 

A história do Tales dos Rubis de Montepuez demonstra que podes um dia acordar rico e num zás perderes tudo e te tornares num necessitado eterno. Mas em terras onde se valoriza a descoberta, o tratamento teria sido outro e com uma riqueza eterna. Só que na terra do faz de conta, o importante é ser o primeiro a levantar o muro, agora se burlaste ou usurpaste, isto já ninguém realça, porque o eterno síndrome do fingimento de ter esquecido tudo logo que dormimos e acordamos mina que os filhos da terra também possam usufruir dos frutos que as árvores plantadas no seu quintal produziram!

 

Daí que todos nós um dia fomos ricos, mas a forma como somos tratados faz com que vivamos eternamente pobres! (I)

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