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segunda-feira, 21 fevereiro 2022 14:03

Armando Guebuza na "antecâmara de gás"

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Armando Guebuza chegou ao recinto da B.O para ser ouvido por um juiz que tinha toda a liberdade para gozar com o antigo presidente. Até certo ponto, parecia fazê-lo,  quando se dirigiu por exemplo ao declarante e perguntou: percebeu a pergunta? E Guebuza respondeu que sim, como respondem os meninos da escola primária. Mas não foi só isso, nunca ninguém imaginou que o ex-presidente podesse levantar-se em respeito, perante um jovem zambeziano com educação irreverente dos beirenses, capaz de pisar um búfalo ferido.

 

Guebuza foi o último a levantar-se quando o juiz entrou na sala de audiências. A princípio parecia relutante em levantar-se, mas logo a sua consciência disse-lhe que o homem que se fazia à sala, na verdade era uma pessoa vulgar, mas investida de poderes invulgares, e Armando Guebuza sabe disso, por isso levantou-se. A contragosto. E só voltou a sentar-se quando Efigénio Baptista deu ordens para tal.

 

Armando Guebuza já não é um homem livre. O aparato de segurança que lhe acompanhou ao recinto da B.O. testemunha isso. Fora de ser uma manifestação de poder, aqueles homens todos que  se amuralham à volta do ex-presidente, traduzem o medo de uma pessoa que parece estar a ficar sem  chão. Guebuza perdeu a confiança de si próprio.

 

Nunca ninguém imaginou Armando Guebuza - por tudo o que nos mostrou ao longo dos anos - num lugar onde não pode fazer perguntas. Guebuza nunca foi interrompido nas suas intervenções de Estado, mas agora, Sheila Marrengula faz isso a um ídolo que dominava o país e as pessoas, sem que ninguém o impedisse. Porém, ele agora pode estar a sentir o efeito de boomerang.

 

Quando desceu do seu luxuoso Land Cruiser, no recinto da B.O. onde decorre o julgamento das “Dívidas ocultas”, mais parecia um condenado levado a execução numa câmara de gás. Todos queriam filmá-lo, todos desejavam ardentemente fotografá-lo, e fizeram-no profusamente como se aquele fosse o último momento de Guebuza. No fundo já não é o mesmo “Guebas”, nunca mais será. As sirenes que tocavam para anunciar a sua passagem, agora estão mudas, só ele é que as ouve no isolamento do exame da sua consciência.

 

Armando Guebuza era um homem obstinado, que passeava o seu porte nos palanques do país e do mundo. Desbravou matagais, isso é verdade. Era um dirigente com verve, mas todo esse edifício que sonhou e de alguma forma realizou, está agora a desabar sobre ele, já não é ele quem manda. Ele está a atravessar o deserto, e alguém já dizia, “enquanto estiveres a atravessar o inferno, não pára de andar”.  É por isso que o ex-presidente continua a dar cartas. Até onde ele puder.

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