Estamos a gastar balúrdios com túneis de desinfecção mesmo sabendo que é uma tecnologia que não foi cientificamente aprovada. Ou seja, estamos a usar o pouco dinheiro que temos, estamos a mobilizar os nossos já falidos empresários e parceiros de cooperação na compra e promoção de um produto que temos a certeza que não funciona. Isto significa que estamos a combater a Covid-19 com um recurso que não teve o "yes!" científico da Ó-Eme-Esse. Eu não entendo!
Afinal, nós não somos, então, os tais meninos finórios que só usam produtos cientificamente testados e autorizados?! Nós não somos os tais que estão na vanguarda da proteção da saúde do povo?! Nós não somos os que não arriscam?! Nós não somos os tais protótipos da qualidade sanitária?! Como é que os túneis escaparam da nossa qualidade científica?!
Os túneis de desinfecção estão a ser diariamente inaugurados por governantes de topo. Ministros, secretários de Estado, governadores, edis e companhia estão a acotovelar-se para "desvirginarem" túneis e aparecerem no ecrã na hora nobre.
Não percebo! Os túneis gastam energia, água e cloro (não tenho certeza se é esse o produto que se usa). Cada casota daquelas custa entre 80 à 200 mil meticais, dependendo do material usado. Portanto, um investimento caro e cientificamente ineficaz. Um produto mais caro do que o xarope de Madagáscar. O xarope de Andry Rajoelina é "mahala" e é fabricado à base de uma erva cuja eficácia no tratamento da malária e outras enfermidades é mundialmente reconhecida. O que significa que, se não cura a Covid-19, pelo menos, não mata. Estou a pensar empiricamente!
Trocando em quinhentas: não podemos usar o xarope GRATUITO porque a ciência não aprovou a sua eficácia, mas podemos usar um túnel ONEROSO, de eficácia duvidosa, sem aprovação da científica!
Se a Ó-Eme-Esse é tão científica e preocupada com a promoção da qualidade sanitária global, por que é que não se pronuncia em relação aos testes contaminados que andam por aí, dos testes positivos feitos em animais e plantas na Tanzânia e das máscaras deliberadamente mal confeccionadas na China? Se há, de facto, interesse por parte da Ó-Eme-Esse em promover a cura global, por que razão, até hoje, não submeteu o xarope malgaxe à testes científicos e dissipar, de uma vez por todas, a dúvida?
O senhor ministro da Saúde pode explicar isso em centavos? Os tais gajos da Ó-Eme-Esse não sabem que estamos a gastar dinheiro com túneis? Disseram alguma coisa?
- Co'licença!
Conforme estruturada, a decisão do Conselho Constitucional de Moçambique é particularmente importante porque pode apoiar o Governo no Supremo Tribunal de Londres, onde está sendo processado pelo Credit Suisse, VTB e Privinvest. Os empréstimos internacionais sempre estabelecem onde as disputas serão dirimidas e, neste caso, é o Supremo Tribunal de Londres, agindo sob a lei inglesa. Tradicionalmente, o Supremo Tribunal deu pouca importância às leis dos países envolvidos. Mas isso mudou num caso em 2018, sobre uma dívida da Ucrânia, em que o juiz William Blair disse que, sob certas circunstâncias, a lei e a constituição nacionais poderiam ser levadas em consideração. O país devedor teve que mostrar que a dívida era inconstitucional e que o Governo nunca a reconheceu como legal. A Ucrânia perdeu a razão porque, embora o empréstimo fosse inconstitucional, o Governo incluiu o dinheiro no seu orçamento. Mas a natureza da decisão do CC é que a dívida é inconstitucional; de acordo com a lei de Moçambique, ela nunca existiu (o que anula a tentativa de um governo de incluí-la no orçamento de 2017, que foi a base deste caso), e o CC enfatiza que tanto a Comissão Parlamentar do Orçamento como o TA rejeitaram o empréstimo e a garantia. Os casos contra Moçambique são amplamente baseados nas garantias do Governo assinadas por Manuel Chang e outros, mas que o CC diz que devem ser tratadas como se nunca existissem. A decisão do CC é tão forte e tão completa que dificultará o Credit Suisse, o VTB e o Proindicus.
Não consegui até aqui que o Presidente da República (PR) tomasse alguma decisão dentro das minhas expectativas. Conclui que a culpa é minha por não agir em tempo útil e a não recorrer ao ponto fraco do PR: o futebol. Aliás, melhor do que ninguém, o pessoal do futebol usa, até a exaustação, esta fragilidade emocional do PR. É anual, e com requintes a roçar à chantagem, assistir dirigentes do futebol a vociferarem ameaças do tipo “Se não há dinheiro, o Moçambola não arranca” ou “Se não entrar X até ao dia Y, seremos obrigados a interromper a prova”. Dito e feito: segundos depois o PR, tal bombeiro, entra em cena e com a ajuda de um seu pupilo que, pelos vistos, entende, e muito bem, de (a)pagar incêndios.
Por estes dias de quarentena em que me encontro a escrever uma proposta de governação pós-pandemia farei o uso dessa fraqueza. E como o adjunto do PR, o Primeiro-Ministro (PM), é também um aficionado de futebol será uma grande jogada de mestre. A ideia é simples e passa por montar a estrutura do Governo como se fosse uma equipe de futebol. Os Jogadores (guarda-redes, defesas, meio-campistas e avançados) serão os sectores, aglutinados por objecto e afinidades e ainda por objectivos e estratégia de jogo/governação. A equipe técnica será composta por um treinador, o adjunto e o preparador-físico.
A equipe. O treinador será o PR, o PM o seu adjunto e o sector da Saúde o preparador-físico. Com base no clássico sistema táctico 4X4X2 a proposta do “11 nacional” é a seguinte: Guarda-redes e capitão (1. Economia e Finanças); Defesas ( 2. Terra, Mar e Ambiente; 3. Negócios Estrangeiros e Cooperação, 4. Defesa, Segurança e Justiça, e 5. Administração Estatal e Função Pública); Meio-Campo (6. Agricultura e Desenvolvimento Rural, 7.Infra-estruturas, Transportes e Comunicações, 8. Recursos Minerais e Energia, 9. Educação, Tecnologia e Inovação); e Avançados (10. Turismo, Cultura e Desporto, 11. Indústria e Comércio).
A opção “Economia e Finanças” para guarda-redes e capitã, justifica-se porque assegura uma melhor leitura de jogo e ainda para capitanear o combate contra recorrentes autogolos. A defensiva é justificada pela própria característica dos jogadores que são pujantes sectores-chave na afirmação do Estado moçambicano quer da soberania quer da integridade territorial. O meio-campo, justifica-se por ser composto de jogadores com talento natural e sobre os quais recaem responsabilidades na criação de condições para alimentar o sector ofensivo. E por último, os avançados, apurados pelo facto de a sociedade depositar neles a solução para inverter a crónica situação de baixa performance e de maus resultados da equipe.
O que o leitor acha? O PR topará a ideia? Já imagino as variações da disposição dos jogadores. Por exemplo, no actual contexto em que se encontra o país (pandemia, insurgentes, Renamo-Nhongo), aposto que o PR optaria por uma estratégia e táctica muito mais defensiva ao que é proposto. Uma vez ultrapassado o contexto actual o sistema será mais ofensivo e sem descurar, claro, o sector defensivo. A bola rola do lado do PR.
E do PR, fazendo jus ao seu conhecimento e a sua desmedida paixão pelo futebol, espero que tome uma decisão em defesa da unidade nacional como o tem feito em socorro repetido ao futebol. Assim, nada melhor, encorajador e desafiante que o recurso ao futebol como metodologia de estruturação do Governo e de escolha do “11 nacional” e daí a equipe melhore o desempenho e produza bons resultados em tempos da Liga (mandato) pós-pandemia.
PS: A proposta apresentada, uma vez aceite e aprovada pelo PR, fora as vantagens, também fará vítimas, destacando os habituais analistas políticos/económicos. Estes serão substituídos pelos comentadores desportivos, ora em situação de “desemprego retórico” ou de defeso forçado por conta da pandemia Covid-19 que impôs a paragem sine-die do desporto, em particular do futebol.
A pandemia do coronavírus (COVID-19) obrigou as autoridades mundiais no geral, e as moçambicanas em particular, a tomarem medidas como forma de controlar, conter e combater a propagação da doença, medidas essas que afectaram vários sectores de actividades, dentre eles, o sector cultural do qual o desporto faz parte. Neste contexto, os cuidados contra o avanço e os impactos negativos do vírus mudaram o mundo. Assim, como uma das consequências a pandemia do COVID-19 causou uma interrupção no calendário desportivo mundial de 2020.
A maior parte dos eventos desportivos mundiais, senão todos, foram cancelados ou adiados, tais como: os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Atletismo de 2020, o EURO 2020, o Campeonato de Meia Maratona Mundial de 2020, A Wanda Diamond League de 2020, a Fórmula 1 de 2020, o Campeonato Mundial de Moto GP e a Liga Africana de Basquetebol, entre outros eventos desportivos.
Diante deste cenário, paira uma incerteza em relação a realização da maior prova de futebol do continente africano de 2021 prevista para decorrer entre os dias 9 de Janeiro e 6 de Fevereiro de 2021, sendo que a mesma pode vir a ser adiada para 2022 caso a crise do COVID-19 prevaleça, devido as incertezas no que se refere à viabilidade de sua realização devido aos riscos decorrentes da pandemia.
Em Moçambique o desporto é, como se sabe, um fenómeno polissémico e uma realidade polimórfica, por isso a indústria do desporto é o mercado no qual os produtos oferecidos aos compradores relacionam-se ao desporto fitness, de recreação ou lazer. Igualmente, como se sucede na esfera mundial, a época desportiva no país foi adiada, e algumas actividades suspensas devido ao Estado de Emergência decretado pelo Presidente da República, como forma de mitigar a evolução do vírus a nível nacional.
Como o desporto sobreviverá?
O TPC para as federações desportivas, ligas de clubes e clubes desportivos
Conforme referido, a época desportiva moçambicana está paralisada, isso afecta directamente aos clubes, jogadores e treinadores, pois a maioria dos clubes dependem da receita das bilheteiras para suprir algumas necessidades do seu funcionamento, como por exemplo, o pagamento dos salários, subsídios aos colaboradores, manutenção das infraestruturas, entre outras despesas. Os clubes com menor dimensão e expressão financeira, maior parte destes do Centro e Norte do país, são os mais afectados. Assim, a sobrevivência destes clubes e de todos os envolvidos dependerá da:
Que oportunidade o COVID-19 pode nos dar?
Como é sabido o calendário desportivo nacional, do ponto de vista organizacional não está alinhado com o de muitos outros países africanos em particular, e do mundo no geral, que muitas das vezes tem sido associado aos maus resultados internacionais e a fraca competitividade.
Deste modo, a nível organizacional o COVID-19 pode dar-nos a oportunidade da transição ou mudança da época desportiva, o que vai possibilitar o alinhamento com os outros campeonatos e a exploração das datas oficiais dos jogos das selecções nacionais estabelecidas pelas respectivas federações desportivas internacionais (FDI).
Do ponto de vista técnico, a nossa época desportiva tem a duração de 7 à 8 meses e com férias desportivas de 3 à 5 meses, diante da pandemia teríamos a possibilidade de arrancar com a época em Agosto de 2020 e terminar em Maio de 2021, tendo 10 meses de competições, 1 mês de férias, e 2 meses de pré-época, o que se configura como uma chance para a migração e profissionalização do desporto em Moçambique.
Do ponto de vista financeiro, as entidades desportivas no país, demonstram grandes problemas de autossustentabilidade e transparência na gestão de fundos devido à falta de disciplina financeira, que resulta no atraso de pagamento dos salários de jogadores, treinadores e funcionários não desportistas e dívidas com fornecedores, assim a pandemia pode abrir espaços para a busca de outras formas de financiamentos para as actividades nas diversas entidades desportivas nacionais.
Portanto, o COVID-19 pode abrir espaços, neste período de confinamento, para a modernização e profissionalização do desporto, o que possibilitaria a abertura para exploração das diversas formas de financiamento, contribuindo desta forma para maior adesão aos recintos desportivos e na melhoria da competitividade desportiva.
Saudações desportivas
Bernardino “Guy” Armindo. Maio, 2020
Os velhos mais conhecidos da cidade de Inhambane sucumbiram ao tempo. Já não nos cuzamos com eles nas ruas, ou nos mercados, onde os cumprimentávamos, e deles recebíamos em troca ou o sorriso, ou a frieza cínica de quem já não espera nada, ou melhor, tem como passo seguinte a inevitável morte, para que a lei da vida se cumpra. São raríssimos, quase inexistentes, os casos de pessoas idosas com a espinha penosamente vergada e descompensada, andando por aí, obrigando a que o suporte do corpo careça de bengala. Eles já não se acham nos bancos da marginal – onde jamais estiveram - de uma cidade que se recusa às transformações.
A urbe é dos jovens - alguns definhando à custa da bebida da frustração - e dos poucos idosos que vão perdendo o entusiasmo. Aliás, estamos num lugar onde as probabilidades de voltarmos a ter anciãos que se vão arrastar até a loucura por velhice, são por demais ténues. Os sexagenários que andam por aqui, provavelmente não atingirão a meta. Cairão a meio da pista, e a evidência dessa fraqueza está nas queixas constantes. Há sempre um lugar que lhes dói. Mas a dor que mais os fustiga é a do espírito. Perderam a esperança, e têm medo do escuro.
Porém, não obstante este cenário de penumbra, que interfere fortemente nos sexagenários que também podem ser os últimos, sobressai um homem que se recusa a degenerar. Na verdade ele está na corda bamba. Não pode cair nem para um lado, nem para o outro. Então o que ele faz, é cingir o lombo para se manter por de cima da calçada, fazendo um jogo de cintura para continuar vivo. E uma das formas que encontrou para fazer esse exercício, é passear regularmente nas ruas do seu quarteirão, onde saúda a toda gente.
Dizem, os que lhe conhecem, e os que lhe vaticinam o futuro sem saberem muito dele, que este é o último símio da cidade. Ele pode estar onde há muita gente, mas nota-se facilmente que está sozinho. É um homem solitário. Saúda as pessoas mas não abre alas para a conversa. Tem um sorriso jovial, que nos mostra duas filas de dentes que parecem de um jovem. É um indivíduo que apesar de estar a caminho do centenário, ainda mantem a espinha dorsal na vertical. Não precisa de cajado como Moisés, na pastorícia do gado do seu sogro, Jetro. E o que mais espanta, é a memória de elefante que se descobre nos poucos contactos verbais que oferece aos privilegiados que chegam perto dele.
É um animal elegido, de rara preciosidade, cujos filhos morreram todos por velhice, e enterrados no cemitério familiar que fica à ilharga da casa modesta onde mora o admirável velho. Muitos netos dele também despiram a carne, alguns por entrega inveterada ao álcool, e ele resiste tenazmente aos temporais. Não cai, nem mesmo perante os terramotos mais violentos que fustigaram a terra ao longo dos tempos. Ele restabelece-se sempre.
No fundo é uma pessoa que pode ter cartas importantes escondidas na memória, e nas mãos. Ninguém lhe conhece o segredo de tamanha longevidade, no meio de guerras inúmeras onde muitos foram abatidos, sendo o únco da sua geração que ainda respira. E ele vai continuar a viver no subúrbio até ao fim. É lá onde nasceu e que se sente bem, ao ponto de dizer aos netos e bisnetos e tetranetos, não quero lágrimas no meu funeral.