Acompanhei na imprensa que esta quarta-feira, 20 de Dezembro de 2023, o Presidente da República (PR) fará, no Parlamento, a habitual comunicação anual denominada o “Estado Geral da Nação”. Uma das televisões foi à rua e questionou aos cidadãos sobre o que eles esperavam da comunicação a ser feita pelo PR.
Enquanto os interpelados respondiam, lembrava-me de uma conversa, no início das conversações do desfecho da II Guerra Mundial (1939-1945), entre o então líder soviético, Joseph Stalin, que respondendo ao líder americano, Franklin Roosevelt, quanto ao futuro da Alemanha, perguntara: “Alemanha? Qual Alemanha?”. Para Stalin, a Alemanha do final da guerra era apenas uma noção geográfica.
Pergunto o mesmo sobre o sujeito da comunicação do PR: “ Estado Geral da Nação? De Moçambique? Qual Moçambique? E tal como o raciocínio de Stalin (talvez a única coisa de bom que aprendera dele), o país do final do dia 11 de Outubro de 2023, a data das sextas eleições autárquicas, é apenas uma noção geográfica.
No final da conversa entre Stalin e Roosevelt, e para o bem das conversações, as partes acordaram que seria a Alemanha do dia anterior à data do início da II Guerra Mundial (data da invasão alemã à Polónia).
E para o bem do entendimento da comunicação do PR sobre o Estado da Nação: que Moçambique será o objecto da comunicação? O país do dia anterior à última comunicação do Estado Geral da Nação? Ou o país do final do dia 11 de Outubro de 2023?
PS: Logo depois do início da Guerra entre a Rússia e a Ucrânia publiquei um texto (Ucrânia? Qual Ucrânia?) do qual extraio uma parte que compõe o ora publicado. Se estiver interessado acesse: https://cartamz.com/index.php/opiniao/carta-de-opiniao/item/10067-ucrania-qual-ucrania
O governo, através do Ministério da Defesa Nacional, submeteu ao Parlamento uma proposta de reforma legislativa do Serviço Militar Obrigatório (SMO), ora aprovada, na qual propõe o aumento do seu tempo mínimo de cumprimento, passando dos actuais dois para cinco anos.
Isto de aumentar o tempo lembra-me uma sugestão de um meu professor finlandês de física, no ensino pré-universitário. Ele, alegando que os alunos repetentes eram bem-sucedidos no ano seguinte, propora o aumento da carga horária semanal das aulas de física, passando de duas (90mn) para quatro (180mn) aulas.
Assim, para o meu professor, o problema estava na carga horária dos alunos que requeriam mais tempo de aprendizagem. Daí, teorizando, subjaz de que “Para um aluno deficitário atingir bons resultados escolares requer a duplicação do padrão da carga horária das aulas”.
Neste contexto, será que a constatação e recomendação do meu professor de física têm enquadramento na proposta avançada pelo governo? Por hipótese: o que não se consegue em dois anos - militares com a compleição física e mental de elevada prontidão – será possível em cinco anos?
Quero acreditar que uma avaliação ou estudo precedeu e alimentou a proposta do governo. Se o problema identificado, e a superar, for o de ter militares nos termos acima, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) deveriam prescindir de aumentar a carga horária, que aliviaria os escassos recursos do Estado, e no lugar que adequassem as formas/estratégias de recrutamento.
Nesta linha de raciocínio, uma proposta para a reforma legislativa do SMO passaria pelo recrutamento nos Gyms (ginásios/academias) que pululam nas cidades moçambicanas. Aqui a matéria-prima, incluindo para reservistas e instrutores, já está trabalhada (e ociosa) e pronta para ser limada e usada na prevenção e combate aos males que afectam a segurança do país, particularmente o combate ao terrorismo.
Em resumo, e se a justificativa for a robustez: o que as FDS projectam alcançar em cinco anos os Gyms têm-lho feito eficientemente em cinco meses. Daí o título: “Atenção FDS: há matéria recrutável nos Gyms da cidade”.
Nando Menete publica às segundas-feiras
PS: Na base da teoria avançada pelo meu professor de física procede a saga de alguns líderes africanos, e não só, por um terceiro mandato fora do padrão constitucional estipulado.
Em 1996, por razões similares as que caracterizam o histórico da gestão das eleições no país, o governo de Moçambique concessionou, por 10 anos, a gestão das alfândegas a uma firma britânica denominada “Crown Agency”.
Em 2006, volvidos os 10 anos da concessão, o governo retomou o controlo da gestão das alfândegas, tendo ainda avaliado positivamente os resultados obtidos. Concorreram para tal as reformas e melhorias feitas a ponto de os britânicos terem conseguido ampliar, consideravelmente, as receitas alfandegárias.
Lembrada a solução “Crown Agency”, e face ao caótico histórico da gestão eleitoral em Moçambique, tal exige que se active o modo concessão, desta vez para o processo de gestão eleitoral nos termos e condições a serem definidos. Urge!
De contrário - mantendo o modus faciendi - vai o aviso à navegação: esperar por eleições, livres, justas e transparente em Moçambique será o mesmo que “Esperar que um rio corra ao contrário” (i).
_______
(i) Entre aspas as palavras de um antigo chefe tribal índio que em discurso de resistência, diante de mais uma invasão das suas terras pela colonização branca, disse ao seu povo: “Esperar que quem nasceu livre se contente em ser aprisionado e que lhe seja negada a liberdade de ir para onde quiser, é como esperar que um rio corra ao contrário.” (In Público, Domingo, 10 de Dezembro de 2023, P.2, Crónica de Graça Castanheira).
Li algures de que a Última Ceia é a derradeira refeicção tomada por Jesus Cristo e os seus apóstolos antes da sua morte.
Numa outra ceia, esta em sede da discussão governamental de uma proposta do Orçamento de Estado (OE) português, Salazar, nesse momento o primeiro-ministro luso, teve que intervir para acabar um tête-à-tête acalorado entre o seu ministro da justiça – que pretendia aplicar fundos adicionais na melhoria das condições das infraestruturas prisionais – e o da educação – que pretendia aplicá-los na melhoria das condições das infraestruturas escolares.
Salazar decidiu atribuir a verba ao Ministério da Justiça, encerrando também a discussão da proposta do orçamento. De seguida, olhando para o ministro da educação, disse audível de que era mais provável que a cadeia, e não um banco de uma escola, fosse o destino dele ou de um outro alto governante depois que cesse as funções.
Lembro-me disto a propósito da proposta do OE 2024 do país, ora em debate na Assembleia da República (AR), o último do presente mandato. No menu da última ceia mais de 500 mil milhões de meticais para serem abocanhados.
Porque um OE é vital para a vida pública de qualquer nação, suponho que em sede da sessão do governo moçambicano (a única com a audiência completa), que aprovara a proposta do OE 2024, tenha havido discussões acesas sobre prioridades, quiçá uma similar ao caso relatado acima.
Uma vez que escasseia informação que tal tenha acontecido e do que se sabe do debate na AR, que se lavre em acta o seguinte: do destino da distribuição feita pelos membros do governo na derradeira ceia, a certeza de que a primeira cela não será o destino de nenhum deles depois de 2024.
Nando Menete publica às segundas-feiras
A subida de Jacob Zuma como presidente da África do Sul apanhou desprevenida a constituição deste país. Esta não estava preparada (e creio que ainda não) para um presidente polígamo. Tenho consciência de que não fora fácil para a constituição sul-africana. Quem diz isto não é gago. Falo em causa própria (risos), pois… (conto abaixo).
Já com uma cara de adulto tive uma experiência similar a da constituição sul-africana. E tal como esta, eu também não estava preparado para gerir mais do que um amor em simultâneo, e no meu caso eram três amores. Por sinal irmãs gémeas. Para piorar, ainda nem conhecia a escriba Paulina Chiziane, senão a teria aproximado para aconselhamento.
Foram tempos difíceis de gestão tripartida, mas interessantes. Elas eram inseparáveis: a Mãe Grande, a Escurinha e a Caçula. Nas casas de pasto era normal que conhecidos, e não conhecidos, sempre que nos vissem juntos e felizes, se dirigissem a nós com vénia e as infalíveis palavras: “Sempre bem acompanhado”. Gestos que agradecia e em seguida beijava, profundo e demorado, os meus amores.
De todas, o meu grande amor era a Mãe Grande. Infelizmente fiquei viúvo dela. Desde a sua partida, tenho passado temporadas de banzo (nostalgia mortal). Até que na altura da sua partida eu fora avisado que lhe restavam poucos meses de vida, mas nunca as causas. Nos exames médicos e na certidão de óbito nada consta.
Desde então saio com a Escurinha e a Caçula. E como antes, se juntam duas primas. Uma até agora aparece e a outra anda desaparecida. Não é igual, pois não preenchem na plenitude a ausência da mana e primosa.
A Caçula é mais uma acompanhante, sempre presente, inculta e bela. A Escurinha é louca, desvarada e provocadora. As primas gostam de estrangeiros. A Mãe Grande, de origem helénica, era única, a última flor da “Varanda do Índico”: madura, leve e recatada.
Por ser verão, as saudades das três juntas são imensas. Fico banzo. A Escurinha, que é a do meio, sempre que me vê assim, sugere que eu preencha o vazio da mana com uma outra, uma expatriada e cidadã do mundo. Ela vive pelas cercanias da área metropolitana de Maputo, um pouco depois da nova casa dos pais e primas dos meus três amores.
No próximo dia 10 de Dezembro, a data de celebração do Dia Internacional dos Direitos Humanos, será realizada uma missa privada em memória da Mãe Grande, Sua Majestade, pois o amor dela era também um direito fundamental. Outrossim, o seu desaparecimento físico, e o silêncio de quem de direto sobre as respectivas razões, representam uma flagrante violação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para celebrar a data, e em sua homenagem, mandei fazer uma lápide doirada, contorno avermelhado, com a seguinte inscrição cravada: “Eternas saudades meus três amores: Laura, Tina e Clara (a Mãe Grande). Saravá!
PS: Este texto é dedicado a todos os lesados pelo desaparecimento físico da cerveja Laurentina Clara sem consulta pública. Urge uma agremiação dos lesados (vendedores, consumidores e simpatizantes) que advogue pela informação dos motivos do seu desaparecimento, responsabilização dos autores e mandantes bem como para o seu resgate.
Certamente que o leitor esteja a pensar que o título tem a ver com o vencedor das sextas eleições autárquicas de 11 de Outubro. É possível, mas o que me ocorre é a vitória de um certo general da história universal que eu lera, salvo erro, em um escrito do sociólogo Elísio Macamo.
No citado escrito, que já não me lembro com detalhe o conteúdo, é relatado que algures no mundo, e em tempos idos, um chefe militar quis oferecer uma vitória ao seu rei, conquistando a ferro e fogo a terra de um homólogo e arqui-inimigo do seu rei.
Quando do reporte (fatídico) da vitória, que se saldara na perca de mais de ¾ do efectivo do exército, incluindo reservistas, e na incapacidade do grosso que restara, o rei disse ao seu general: “Mais uma vitória igual a esta será o nosso fim”.
No lugar da celebração, um aviso à navegação. Por sinal, um aviso que atesta que a suspeita inicial do leitor não fora por mera coincidência.
Nando Menete publica às segundas-feiras
Um amigo, por sinal de infância, que esteve na proclamação dos resultados das sextas eleições autárquicas segredou-me que a sensação que tivera à saída da sala onde decorrera o evento, na UEM, foi igual a que tivera à saída do jogo dos “Mambas” contra a Argélia, no Zimpeto, no pretérito final de semana. Para ele, nas duas situações, o país merecia ter ganho.
De toda a maneira, a esperança de que nos próximos jogos os “Mambas” a sorte será outra, pois ficou demonstrado contra a Argélia de que é possível. Quanto aos pleitos eleitorais, a unanimidade de que nos próximos pleitos a sorte será a mesma, pois ficou demonstrado nestas sextas eleições autárquicas de que não basta meter golos.
Quando o perguntei “E agora?”, respondeu-me de que a solução para este país passava pelo recurso ao método do “Zero a Zero” que o invocávamos na infância quando a confusão se instalava durante uma partida de futebol ou de qualquer outra modalidade ou brincadeira.
O método era simples: na falta de consenso, a unanimidade pelo recurso ao “Zero a Zero” que consistia em recuar tudo às condições existentes no início da partida, incluindo o resultado. No caso em apreço – o rescaldo das sextas eleições autárquicas - o que consistiria o “Zero a Zero”?
A pergunta esta no ar, mas vai uma proposta de partida: no mínimo que se levantassem/interditassem os nomes e símbolos da FRELIMO, RENAMO e MDM. Que estes partidos para os próximos pleitos eleitorais procurassem novos nomes e símbolos. Que tal?
Nando Menete publica às segundas-feiras
PS: Para quem viu a novela brasileira “O Clone”: é de doer ver o nome que trouxe a independência do país “a ser arrastado na Medina”.
No filme Invictus (2009), do cineasta Clint Eastwood, Nelson Mandela, o então recém-eleito presidente da África do Sul em 1994, recorre ao campeonato do mundo de rugby, realizado em 1995, na sua terra e ganho pelo seu país, como uma ferramenta política do seu governo (1994-1999) para promover a reconciliação racial entre brancos e negros no pós-apartheid, evitando assim o agudizar do conflito que, na altura, esteve à beira de uma guerra civil.
Por alto, retenho uma das passagens do filme, em que a ala dura do partido de Mandela pressionava-o para que se retirassem os símbolos – como a cor do equipamento - que a selecção sul-africana de rugby usava, pois tais símbolos representavam a era do Apartheid.
Mandela defendeu para que assim não fosse, acautelando de que não se podia tirar aos compatriotas brancos o pouco que os restava. Deste pronunciamento, subentende-se a preocupação por consequências imprevisíveis por tal acto. Lembrar que o rugby, o desporto-rei da população branca, é praticado na sua maioria por esta franja da sociedade sul-africana e é um seu símbolo identitário.
Intramuros, e no âmbito dos acontecimentos ligados ao 11 de Outubro, o dia da votação das sextas eleições autárquicas, acirrados com a divulgação dos resultados pela Comissão Nacional de Eleições, venho pensando neste filme, sobretudo na mensagem de Mandela.
Diante dos dados, ora no Conselho Constitucional, penso que Mandela teria feito semelhante intervenção, evitando assim este escaldante calor social que temo que esteja, por estes dias, disfarçado ou em fermentação, se fazendo passar pelo calor natural que também tem abalado o grosso do país.
E porque Mandela esteve ausente na resolução de apresentação e divulgação dos resultados, que haja Mandela no acórdão de validação e proclamação mais esperado de sempre.
Nando Menete publica às segundas-feiras
Por ocasião dos 136 anos de Maputo, a cidade capital de Moçambique, vulgo a cidade das acácias, que foram celebrados no passado dia 10 de Novembro, o Jardim Zoológico de Maputo (JZM) foi um dos locais que mereceu a visita de alguns citadinos maputenses, das cidades e vilas circunvizinhas.
Na qualidade de anfitrião acompanhei uma família-viente na visita ao JZM. De regresso, já em casa, foi interessante ouvir a criançada a dar o relatório aos que não foram ao JZM. Em uníssono só se ouvia: “Vimos onde ficava Leão”; “Vimos onde ficavam elefantes”; Vimos onde ficavam girafas”, e por ai mata adentro.
No dia seguinte levei os petizes a conhecerem o centro da cidade. De regresso, eis alguns excertos do reporte: “Vimos onde ficavam as árvores”; “Vimos onde tinha parque das crianças”; “Vimos onde tinha passeios e onde passavam comboios”.
Depois do jantar, e no momento da planificação do programa de visita para o dia seguinte, um dos petizes pergunta: “Tio, amanhã podemos visitar a cidade das acácias?”
Nando Menete publica às segundas-feiras
Numa madrugada de final de semana, caminhava desinteressado com um grupo de amigos quando um pouco depois da esquina das avenidas Eduardo Mondlane e a Tomás Nduda, na direção norte e junto a uma árvore, deparamos, na escuridão, com um casal (comercial) em plena intimidade. Diante da nossa interpelação, o interpelado pediu que o deixássemos acabar o processo, que depois tomaria tempo para se pronunciar.
Na TV, acabo de ouvir algo parecido. Da boca do ex-presidente da República, Joaquim Chissano, ouvi que ele falará sobre o “11 de Outubro” logo que o Conselho Constitucional se pronunciar sobre a validação dos resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições. Uma posição que até que faz jus ao seu estilo de governação presidencial, tendo, por isso, sido apelidado de “deixa-andar”.
Estes dois casos, lembram o que um dia dissera o então e falecido presidente norte-americano, Ronald Reagan, sobre a política e a prostituição: "… a política é a segunda profissão mais antiga, e eu percebi nos últimos anos que ela tem uma grande semelhança com a primeira”
Nos dois casos, o “deixa-andar” e o “deixa-…”, e diante de flagrantes acontecimentos na esfera pública, a semelhança da resposta é gritante: ambos -os interpelados - remetem os respectivos pronunciamentos para o fim do jogo.
“A política, Seu Dirceu!”. Já ensinara o perfeito Odorico Paraguaçu, da novela brasileira “O Bem-Amado”, quando questionado - pelo seu secretário, Dirceu Borboleta - sobre a ética e a moral das suas ações.
Nando Menete publica às segundas-feiras