Depois da última visita ocasional ao mercado no passado dia 14 de Fevereiro do ano corrente, contada aqui https://www.cartamz.com/~cartamzc/index.php/opiniao/carta-de-opiniao/item/12973-estou-aqui-amor, voltei ao mesmo no dia da victória, 7 de Setembro, feriado nacional. Desta vez para a compra de fruta da época.
A visita fora na companhia da Luma, a minha filha de uma década. Depois de algumas turísticas voltas a apreciar o mercado e o que este oferecia aos seus visitantes, a par da pressão da companhia, tive que apressar a ida ao sector das frutas.
Ainda o calor não se fazia sentir com intensidade, no lugar o calor melódico de vozes femininas que entre versos e estrofes com rimas sensuais investiam cantadas para atrair a sardinha para a brasa de cada uma.
De repente, e diante da minha calculada surdez, uma voz, na contramão, solta suave, focada e demolidora: “ Amor, a minha é doce!”
Para quem tenha observado o momento certamente que se imaginou num autódromo ao ouvir o chiar de uma brusca travagem. Confesso que não fora tão brusca, mas de que houve uma travagem não tenho dúvida alguma.
- Como vais pagar, amor? A pergunta fazia sentido. Um dos operadores de transações móveis estava temporariamente fora do ar. Enquanto se executava as démarches alternativas para o pagamento da compra feita, que fora acima do planificado, sublinhe-se, a vendedeira foi falando da doçura da sua fruta e de que não me arrependeria.
No protocolo da despedida e solene retirada, a vendedeira oferece uma caixa de morangos a minha filha que se mostrara com sinais de alguma impaciência e irritabilidade. No momento da oferta a vendedeira diz: “Amorzinho estes morangos são para ti. Diga a mãe que foi a tia do mercado que deu”.
A recepcção da oferta não foi nada calorosa. Exigi explicações pelo comportamento e a resposta não tardou: “Não sou sobrinha dessa “tia assanhada”!”
Nando Menete publica às segundas-feiras.
Depois da tia de óculos de ar(co) cinzento o médico é a segunda figura de quem se tem medo em tenra idade. Talvez seja por isso que na idade adulta, diante do médico, este, diferente do juiz no tribunal, não precisa que o seu paciente jure perante a lei ou mesmo que esteja autorizado a mentir a seu favor. Ainda mais: na generalidade, o médico não precisa da intervenção policial para que o seu paciente execute uma sua ordem, incluindo a de ficar tal como o mundo o recebeu.
Salvo melhor informação, o médico é o primeiro a ser recebido pelos detentores de poder como reis e presidentes, antes dos respectivos afazeres diários. Porventura, este seja o único momento em que a verdade é parte do menu diário do alto dirigente, pois o que acontece depois é tudo da esfera da peleja política.
Neste momento, o da visita do médico, o (bom) líder aproveita a ocasião e pergunta ao médico: “Como estão as coisas lá fora?”. Em seguida o médico partilha as dores (sociais, económicas, culturais, etc) da sociedade que as sente e escuta-as dos seus pacientes.
Este introito não tem nada a ver com a greve dos médicos, ora suspensa. Tem a ver com uma minha curiosidade sobre o invulgar interesse ou sensibilidade política dos médicos. O mundo esta cheio de exemplos de médicos que se tornaram grandes políticos e até revolucionários. O exemplo mais à mão é o do argentino-cubano Che Guevara.
Certa vez, perante esta minha curiosidade, alguém disse-me que a tal sensibilidade política dos médicos resulta do seu contacto profissional com os pacientes, no qual estes, fora partilhar os sintomas do que padecem, partilham outros sintomas e dores que enfrentam no seu dia-adia.
A explicação fez-me algum sentido a ponto de pensar se as dores dos médicos não seriam também as dores do povo? Se sim, ou se não, não sei. Por ora, apenas ocorre-me a tia de óculos de ar(co) cinzento: que me lembre ela nunca soube das dores do seu sobrinho.
Nando Menete publica às segundas-feiras.
Tenho ainda presente o dia em que a malta da zona, isto em tempos infanto-juvenil, decidiu estudar em grupo na casa de um dos membros que, na altura, era o único que já frequentava a universidade. Uma escolha (a da casa), determinada, presumo, pelo factor universidade e, quiçá, para efeitos de inspiração dos que ainda estavam a caminho.
No meio da jornada do estudo em grupo - que era composto por estudantes do secundário, pré-universitário e universitário – um do secundário, que depois de apreciar um teste de um dos finalistas do pré-universitário, em que este tirara uma negativa (3/20), disse que ele teria tirado melhor nota fixando-a até em oito valores (8/20). Em seguida o estudo quase que transitava para o quintal.
“Chumbavas na mesma”. Com esta intervenção, o único estudante universitário do grupo cortou a fanfarronice do puto do secundário que procurava humilhar o amigo finalista.
Conto este episódio a propósito de uma intervenção do mesmo efeito – fecho de papo - numa recente conversa entre um grupo de amigos em que se debatia os ânimos de regozijo pelos sinais do rumo de África com a diminuição ou queda da influência e poder do Ocidente, recentemente exaltados no contexto dos golpes militares na África Ocidental e a expansão dos BRICS.
"Lacaios na Mesma”. Disse o tal amigo em resposta crítica aos que se regozijam pelo rumo das mudanças em curso, sobretudo o comportamento ou posicionamento de parte da liderança africana que, segundo ele, não passava de uma mera troca de patrão ou, dito cruamente, uma troca de exploradores.
Para este amigo, a África tinha que aproveitar e melhor articular ganhos no contexto das mudanças em curso, sobretudo face aos interesses dos que se digladiam pela influência e poder global.
Sobre isto, e para terminar, veem-me a memória um então ministro da Defesa do Irão que nos anos 1996\97, em visita oficial a Moçambique, dera uma palestra a oficias das forças armadas moçambicanas e estudantes do então Instituo Superior de Relações Internacionais (ISRI).
O dito ministro, que respondendo a um estudante que o perguntara o que achava da amizade ou posição pró-iraquiana de Moçambique nas querelas entre o Irão e o Iraque, disse que se admirava que tenha sido um estudante de relações internacionais a fazer tal pergunta, pois este já devia saber que o que move o mundo são interesses e até recordou de que era isso que justificava a sua presença em Moçambique.
Nando Menete publica às segundas-feiras.
Esta manhã, enquanto procedia a démarches de uma transferência electrónica numa das esquinas da cidade, interessou-me um debate que decorria entre um grupo de vendedores informais.
O mote da conversa era a nossa política, e pelo que deu para entender a conversa era na sequência das escaramuças deste fim-de-semana, na cidade da Beira, entre militantes de dois partidos da praça nacional, em vésperas das eleições autárquicas de Outubro próximo.
O meu interesse pela conversa obrigou-me a alongar as démarches da transferência, fingindo que não me lembrava do código. A amnésia durou por aí um quarto de hora, o que foi suficiente para entender o teor da conversa.
Um dos vendedores, e que me pareceu o mais informado, disse, e com visível inconformismo, que a política e os políticos de Moçambique são iguais a “Xiquento”, uma expressão do sul de Moçambique que é empregue para designar o matabicho feito com uma mistura de restos ou sobras de comida, alguma tocada, do(s) dia(s) anterior(es) que são aglutinados e aquecidos numa frigideira.
“Fernando…”? Respondo “Afirmativo”. Em seguida, pego o dinheiro e continuo a caminhada, ora pensativo por conta da alusão ao “Xiquento” que é, na verdade, salvo melhor entendimento, uma solução em resposta à impossibilidade de uma refeição melhor.
Já no destino, conto o episódio e o meu interlocutor conclui: assim nas eleições autárquicas e nacionais, que se avizinham, seremos obsequiados com um mega regabofe de “Xiquento”.
Nando Menete publica às segundas-feiras.
A sensação de ter ido a Roma e não ter visto o Papa foi a que senti depois de ler de raspão a lavra soberba do escritor Nelson Saúte feita em homenagem da já saudosa “Rainha do Rock n´Roll”, a diva Tina Turner (1939-2023). “Tina” é o título da homenagem.
Nesta leitura de raspão, até cogitei a hipótese de que a homenageada não fosse a Tina Turner. Ligo ao meu primo Marutissa, por acaso um conhecido do escritor e que me mandara o texto corrido logo pela manhã do dia da sua publicação no sítio da Carta de Moçambique. Ele não responde. A ideia era a de ele perguntar ao escritor se não teria publicado a versão errada. Deixo uma mensagem.
Estou agora a reler a citada homenagem. Estou no 3º parágrafo: “Creio, aliás, que seria na televisão (TVM, a TVE na altura, anos 80 do séc. XX) com imagens trêmulas – porque era difícil acertar com a antena e o sinal – que vi, pela primeira vez, deslumbrado e arrebatado, Tina Turner. Era brutal no palco, tinha uma poderosa presença. A sua voz...”
Volto a ligar para o primo Marutissa. Falta qualquer coisa neste parágrafo que me desassossega. Ele novamente não atende. Ainda com fortes dúvidas de quem seria a homenageada deixo esta mensagem: “Não estará o Nelson Saúte a homenagear uma outra Tina?”
S Apreensivo, volto ao texto. Estou no 7 º parágrafo: “ Foi assim que Tina Turner entrou estrondosamente nas nossas vidas, com aquele seu vozeirão, com aquelas pernas míticas, aquela cabeleira inadjectivável e o mais belo sorriso do mundo. Aquela sua beleza exuberante….”
Neste parágrafo, o 7º parágrafo, e tal como no sétimo dia Deus descansou da criação do mundo, também descanso. Um parágrafo que me sossega. Finalmente tiro as dúvidas: é de facto a Tina Turner que Nelson Saúte homenageia.
Na mensagem que deixei na primeira ligação ao primo Marutissa, em seguimento a leitura de raspão, dizia: “Ir a Roma e não ver o Papa. Lembrar da Tina e não falar das suas fabulosas pernas não tem diferença (risos) ”.
Foram seis penosos parágrafos até ver a arrebatante Tina Turner. Aliás, a própria finada, em vida, disse: “Às vezes, acho que sou tão famosa pelas minhas pernas quanto pela minha voz”.
Saravá, Tina Turner!
Nando Menete publica às segundas-feiras.
Um sénior citadino da capital do país foi interpelado, na esquina das avenidas 24 de Julho e Guerra Popular, por jovens estudantes que discutiam sobre uma obra que decorre bem próximo e em pleno passeio central da Av.24 de Julho.
Pelo que pude apurar os jovens são estudantes de um instituto que leciona matérias sobre transportes e discutiam se a obra acima referida era ou não uma estação (paragem) do BRT (Bus Rapid Transit), o retomado projecto de faixas/corredores exclusivos de transporte público urbano, recentemente anunciado pelo titular do Ministério dos Transportes e Comunicações
Porque o consenso roçava a impossibilidade os jovens decidiram solicitar a opinião do citado citadino, que por ali ganha o pão. Este, um velho ardina e engraxador da esquina, que depois de (supostamente) reflectir – os sinais do exercício não deixavam dúvidas – respondeu com sotaque de José Maria Relvas: “Se é uma estação do BRT? Não, é uma retrete pública!”.
O sotaque e o termo “Retrete Pública” deixaram-me com alguma curiosidade a ponto de deslocar-me até a dita obra a fim de conferir a placa. Entre outros dados, constava que a obra é do Município de Maputo e de que era um sanitário público. Confesso que enquanto aproximava-me da placa rezava para que a obra fosse uma estação-modelo do BRT.
Prontos: a obra é de facto uma “Retrete Pública” localizada no coração da cidade entre quatro faixas de rodagem (duas de cada lado) da movimentada Av. 24 de Julho. Imagino que aliviar por ali o número dois não será fácil. A cada buzinadela, uma interrupção. E esta pode até ser divina e como causa da morte: “Acidente fatal de viação em posição fecal”. Assim constará na certidão de óbito.
Decerto que alguém pensou, alguém decidiu, alguém financiou e a obra decorre. Igualmente decorrem inquietações cidadãs quer sobre a localização e segurança quer as de ordem estética, sociológica e antropológica, quer ainda da ligação desta obra com o BRT, uma vez que se encontra postada no percurso de uma potencial via BRT.
Em retirada, solene e fúnebre do local, e diante dos jovens estudantes, que se haviam também aproximado da placa, disse-os de que temia que esta retrete pública fosse o retrato público do destino a ser dado ao projecto do BRT. Na verdade, o endereço final de anteriores projectos similares e afins.
Por ora, e a fechar, que se espere pelo dia da inauguração, principalmente pelos discursos e outros actos da ocasião, um momento que aguardo ansioso, pois nunca vi e não sei como é que se inaugura um sanitário público, sobretudo quando a M… já está, previamente, feita.
Nando Menete publica às segundas-feiras.
A propósito das empresas (LAM e TMCEL) recentemente alvos de intervenção, e que há anos são a imagem da asfixia em que se encontram as empresas públicas participadas e superiormente orientadas pelo Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), conto abaixo dois episódios e as respectivas lições para a devida consideração de quem de direito.
Episódio 1: há uns anitos eu estava em casa da “Avó Maria”, por sinal a minha mãe, e na TV passava uma entrevista à então presidente do Fundo de Fomento de Habitação em que se queixava do facto da principal fonte financeira do fundo ter secado. E nesse instante ouço a “Avó Maria” dizer: “Quando a fonte estava a jorrar não veio informar”.
Episódio 2: no lançamento recente do livro “Crónicas dum Insubmisso” do médico Hélder Martins, o comentador do livro, o escritor Luís Bernardo Honwana, abriu um parenteses e contou que em miúdo, na Moamba, os seus pais apontavam para o Hélder Martins como um miúdo e aluno exemplar e de que eles, o Luís e companhia, deveriam seguir as peugadas dele, o ora “insubmisso”.
Agora o ponto: à luz de todo o enredo que culminou com a intervenção na LAM e na TMCEL, chego a conclusão de que destes dois episódios, no mínimo, duas lições podem ser extraídas para o futuro.
A primeira lição: que a tutela das empresas públicas não venha a terreiro apenas quando a fonte seca. Espera-se dela que também venha, alto e em bom-tom, anunciar que as torneiras estão a jorrar. Certamente que a “Avó Maria” agradeceria bastante.
A segunda lição: seria igualmente de bom-tom que os governantes da tutela quando viessem a público aos gritos, por conta da crise de uma e outra empresa, também fizessem o mesmo que o pais de Luís Bernardo Honwana, apontando a essas empresas uma e outra de sucesso como bons exemplos a seguir. Pelo menos o Luís Bernardo Honwana não se arrepende.
Dito isto, o ponto de fundo: já se sabe de tudo sobre as empresas públicas sufocadas e algumas já estão em fase de medicação. O que ainda não se sabe de tudo é sobre as empresas públicas que (ainda) respiram. Existem? Se sim, quais são? Quanto custam e jorram para o Estado?
Em jeito de fecho, o ministro dos transportes e comunicações até que podia dar o pontapé de saída, anunciando as empresas do seu sector que se encontram de boa saúde e que se recomenda. A seguir o dos recursos minerais e energia e assim sucessivamente. Quiçá o IGEPE faça por todos.
PS: por falar do IGEPE - que é quem assegura as boas práticas de gestão e a assistência técnica necessária ao denominado sector empresarial do Estado - certamente que lhe cabe um quinhão de responsabilidade no estado geral de asfixia em que se encontra o sector. Sendo assim, quem a priori deveria merecer uma intervenção (internacional), e para o bem de todo o sector, não seria o próprio IGEPE? Ou estarei equivocado?
Nutro simpatia por Lula da Silva, o Presidente do Brasil. Porém, tenho algumas reticências sobre uma e outra fala dele. Dois exemplos.
O primeiro foi na outra leva presidencial. Lula veio a Maputo e numa palestra disse que sob a sua batuta o Brasil pagou a totalidade da dívida que tinha com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Até disse, com certa pinta exibicionista, que o Brasil já emprestava dinheiro ao FMI, figurando inclusive entre os países que mais emprestavam a esta instituição.
O facto de ter pronunciado esta notável façanha na capital de um país sob a égide do FMI - uma instituição que Lula combate e considera um instrumento da dominação dos mais fortes contra os mais fracos - não deixa de ser caricato. E ainda mais caricato, embora não tenha a precisão do momento, foi o facto da plateia doméstica ter irrompido em palmas.
O segundo exemplo, ainda fresco, decorre das últimas declarações de Lula, no corolário da sua visita a China, ao afirmar que a União Europeia e a NATO, que fornecem armas a Ucrânia, estimulavam a guerra Rússia-Ucrânia.
Poucos dias depois, em Brasília, ao receber o presidente da Roménia, por sinal um país membro da NATO, Lula condenou a invasão da Rússia a Ucrânia. Foi a primeira vez. Assim foi o seu pronunciamento na visita feita há pouco a Portugal.
Em Portugal – e é o ponto - foi interessante observar que Lula participou, na companhia do Primeiro-ministro português, no voo inaugural de um avião militar português de fabrico brasileiro e que o Brasil adaptou-o aos requisitos da NATO para que seja vendido aos países desta Aliança.
Dois exemplos que me trazem à memória Ronald Reagan, o 40º presidente norte-americano, que certa vez disse: "Sabe, foi dito que a política é a segunda profissão mais antiga, e eu percebi nos últimos anos que ela tem uma grande semelhança com a primeira".
Para reforçar o dito de Reagan, e porque Lula é brasileiro, nada melhor que lembrar a novela brasileira “O Bem-amado, sobretudo uma expressão célebre de Odorico Paraguaçu, o Perfeito de Sucupira, que, repetidamente, perante a estupefacção do seu assistente pessoal face a mais um seu dito por não dito, professoralmente dizia: “A política, Sô Dirceu!”.
A vizinha África do Sul está a abraços com uma crise energética – e já faz algum tempo – penalizando, segundo fontes avulsas, a sua economia em dois biliões de rands por dia. Isto por conta dos cortes programados decorrentes da gestão da energia eléctrica disponível.
É muita massa e que me levou a reflectir sobre a possibilidade de Moçambique fazer uma renda extra. Mas antes uma pergunta: como vai a energia eléctrica do país? É suficiente? Sobra? Alguma crise iminente?
Não tendo por enquanto a resposta, arrisco um palpite: que se tem o suficiente e que até deve sobrar. O palpite resulta da aposta do país na expansão doméstica (territorial e de consumidores) da energia elétrica. Quem assim opta, sinaliza alguma gordura.
Um outro facto – talvez o principal - que contribui para o palpite decorre da seguinte pergunta: o que o país produz por dia com a energia eléctrica disponível supera os dois biliões de rands de perdas diárias da economia sul-africana?
Dito isto – e com a mira nos suculentos dois biliões de rands - uma dica para mais uma reflexão (e mais uma comissão?): da energia eléctrica que sobra não dá para o país aumentar a venda de energia eléctrica aos sul-africanos?
Acredito de que não e no caso, uma outra dica para reflexão: se se juntar a energia que sobra a apagões controlados aos fornecimentos a outros países consumidores regionais de Cahora-Bassa também não dá?
Em último caso: partindo do facto de que o país depende dos esforços económicos do vizinho para a sua sobrevivência, não justificaria um apagão geral na Pérola do Índico?
Toda esta ladainha, e talvez sem sentido, seria dispensada se o MIREM (Ministério dos Recursos Minerais e Energia), a HCB (Hidroeléctrica de Cahora-Bassa) ou mesmo a EDM (Electricidade de Moçambique) já tivessem vindo a terreiro e respondido se da actual crise energética na África do Sul o país poderia tirar ou não alguma vantagem?
De outro modo, o silêncio que se assiste sobre o assunto dita que por cá, felizmente, o apagão não é o da energia eléctrica, mas é mais profundo: é estrictamente do fórum da energia cinzenta.
Há pouco menos de seis meses recebi de um amigo um “save the date”. Há três meses o “save the date” foi materializado em forma de um convite para o casamento desse amigo a ter lugar no próximo dia 25 de Junho do ano em curso, por sinal o dia da independência. Curiosa data para um evento em que a independência das partes perde terreno.
Hoje o meu espanto: esta manhã, enquanto lia o matutino oficioso, recebi do mesmo amigo um outro convite. Na verdade uma convocatória para que participasse numa comissão multifamiliar de reflexão sobre a pertinência da realização ou não do seu casamento.
Ainda atónico liguei para o dito amigo. Na conversa ele disse que ulteriores desenvolvimentos saberia na fundamentação da criação da comissão e que me enviaria em seguida os respectivos TORs (Termos de Referência).
Não tardou e em segundos caiu no meu “Whatsapp” os aguardados TORs. Na fundamentação dizia que a reflexão encontrava conforto jurídico no inovador procedimento legislativo-constitucional denominado “Decisão tomada, decisão por reflectir!” que serviu de base para a criação da Comissão de Reflexão sobre as Eleições Distritais (CRED).
Por coincidência, enquanto prosseguia com a leitura dos TORs, um outro convite de casamento, e de um outro amigo, aterrou no meu “Whatsapp”. Por cautela, e para não entrar em gastos antecipados, liguei para ele a perguntar se o evento já fora precedido da reflexão sobre a pertinência ou não da sua realização.
Assim já estou em duas comissões de reflexão. Isto parece que promete, incluindo a de jorrar renda extra com subsídios e senhas de reuniões.