A Africâmbios, uma casa de compra e venda de moeda estrangeira, usada para lavagem do dinheiro das “dívidas ocultas”, está em processo de liquidação. A novidade é avançada pelo Centro de Integridade Pública (CIP) no seu mais recente newsletter, publicado esta segunda-feira.
De acordo com o CIP, o processo de liquidação da Africâmbios começou a 11 de Maio de 2022, quando a empresa submeteu uma petição para sua liquidação e dissolução à Conservatória do Registo de Entidades Legais. A petição, diz o CIP, não apresentava quaisquer motivos que levaram os accionaistas a tomarem a referida decisão.
Segundo aquela organização da sociedade civil, o advogado Mohamad Bachir, que defende Mbanda Henning (irmã da Ângela Leão), no caso das “dívidas ocultas”, foi apresentado como o liquidatário. Ao CIP, o advogado garantiu ter sido nomeado para dirigir o processo de liquidação daquela casa de câmbios pelo Governador do Banco de Moçambique.
O processo de liquidação da Africâmbios, refira-se, arrancou dois meses depois de o Banco de Moçambique ter suspendido as actividades daquela casa de câmbio por prática de diversas contravenções. Entre as contravenções estão suspeitas de branqueamento de capitais e de lavagem de dinheiro.
Lembre-se que no caso das “dívidas ocultas”, contratadas pelo Governo de Armando Emílio Guebuza entre 2013 e 2014, a Africâmbios foi usada pelo casal Gregório e Ângela Leão e por Bruno Langa para o recebimento de propinas pagas pelo Grupo Privinvest. Aliás, três dos seus colaboradores (Khessaujee Pulchand, Simione Mahumane e Naimo Quimbine) foram julgados pelo seu alegado envolvimento no caso.
Proprietários ainda em parte incerta
Entretanto, apesar da detenção e posterior julgamento dos colaboradores da Africâmbios, os seus proprietários nunca foram localizados. Aliás, segundo o CIP, Hafiz Taqir Wahaj, que foi citado pelo Tribunal como sendo proprietário daquela casa de câmbios, nunca foi dono da mesma.
O CIP esclarece que a Africâmbios é propriedade de três irmãos moçambicanos, de origem paquistanesa. São eles: Abdul Latif Suleman Walimohammad; Muhammad Amin (também conhecido por Muhammad Arif); e Abdul Karim (igualmente conhecido por Abdul Razak). Os três, garante a organização, residem no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Ao CIP, o liquidatário da Africâmbios explicou que os três irmãos abandonaram o país no ano de 2012, por motivos de segurança, “devido às constantes ameaças, tentativas de rapto e até de ameaça à sua integridade física com recurso a armas de fogo, cujas manifestações até hoje ainda se fazem sentir”.
“Accionistas da Africâmbios realizaram investimentos milionários no sector imobiliário. Os investimentos mais robustos foram realizados após o escândalo das dívidas ocultas”, revela CIP, sublinhando que o sector imobiliário é um dos mais usados para a lavagem de dinheiro do crime organizado.
Segundo o CIP, esta situação revela a “incapacidade crónica” que o Estado tem para investigar e punir crimes de branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo. “A dificuldade do Estado de identificar, investigar e levar ao tribunal os responsáveis da Africâmbios pelo seu alegado envolvimento na lavagem de dinheiro das «dívidas ocultas» é exemplo dessa incapacidade do Estado”, sublinha a fonte.
Refira-se que a sentença do caso das “dívidas ocultas” será conhecida no próximo dia 30 de Novembro. (Carta)