A Renamo, principal partido da oposição moçambicana, acusou ontem o Presidente da República, Filipe Nyusi, de ser pessoalmente “responsável por omissão” pela violência armada em Cabo Delgado.
Elias Dhlakama, irmão do antigo líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama, falava durante a sessão de perguntas ao Governo, dominada pelo combate ao terrorismo.
“Quanto a nós, não restam dúvidas de que o Presidente da República deve ser responsabilizado por omissão, por não ter tomado em tempo útil a decisão de recorrer à ajuda internacional”, apelando a uma investigação para apuramento de responsabilidades na forma como o combate ao terrorismo tem sido conduzido.
O deputado acusou o chefe de Estado de ter optado por “arrastar com a barriga” a decisão sobre o recurso ao auxílio internacional, tomando-a só quando a situação saiu do controlo das forças governamentais.
“O Governo permitiu que parte do território de Moçambique ficasse fora das mãos do Estado” e esta situação revelou “o cúmulo da incompetência”, disse.
Também a bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido, acusou o Governo de incapacidade no combate ao terrorismo.
“O povo de Cabo Delgado está exausto, não tolera mais o sofrimento” provocado por “um quadro de desconcerto e caos ao nível da política de defesa”, afirmou o deputado do MDM Silvério Ronguane.
Ronguane lamentou que, apesar de a segurança ter sido restaurada nas zonas com presença de forças estrangeiras, a violência tenha avançado para áreas que antes tinham sido poupadas.
Noutro tom, a bancada da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, apontou avanços militares nas zonas antes flageladas pela violência armada.
“O combate ao terrorismo está a ser um sucesso”, declarou a deputada Ana Chapo.
Chapo repetiu a posição do Governo de que a população deslocada de distritos mais atingidos pela violência está a regressar e os serviços públicos estão a ser restaurados, como resultado das derrotas que os insurgentes estão a sofrer.
A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada promovida por rebeldes, com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
Em cinco anos, o conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.(Lusa)