Trezentos e cinquenta combatentes da Renamo, parte dos quais mulheres, serão desmobilizados hoje (19), na região da Gorongosa, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração, anunciou o Enviado Pessoal do Secretário-Geral das Nações Unidas para Moçambique e Presidente do Grupo de Contacto, Mirko Manzoni.
A desmobilização deste grupo marca o encerramento da última base militar da Renamo no país, de um total de 16 da antiga guerrilha, significando a desmobilização de 5,221 ex-combatentes daquele partido político.
O Enviado Pessoal do Secretário-Geral das Nações Unidas para Moçambique e Presidente do Grupo de Contacto, Mirko Manzoni, já se encontra desde há dias na Gorongosa, província de Sofala, para acompanhar o encerramento da última base militar da Renamo.
Para testemunhar o acto, estará presente o Presidente da Renamo, Ossufo Momade, numa cerimónia oficial que vai contar com a presença de outros convidados. A cerimónia tem lugar em Panga-Panga, região da Gorongosa, local onde decorreram os primeiros contactos com o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
Para Manzoni, a desactivação da última base é um bom resultado porque o compromisso era de que todos os combatentes passassem o Natal em casa junto das suas famílias.
Manzoni reagiu também sobre a insatisfação dos beneficiários do DDR, que reclamam a sua integração na Polícia da República de Moçambique, argumentando que é "uma polêmica sem fundamento porque não podem ser integradas na polícia pessoas que têm sessenta anos e muitos combatentes da Renamo não reúnem o critério mínimo de idade".
Lembre-se que o Líder da Renamo, Ossufo Momade, acusou o Governo de continuar a violar o acordo sobre o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) dos seus guerrilheiros.
Segundo o dirigente, os primeiros dez oficiais desarmados ainda aguardam a integração no Comando-Geral da Polícia. Além disso, “os combatentes já desmobilizados continuam a aguardar a fixação das pensões, apesar da nossa permanente exigência ao Governo, que se remete ao silêncio maquiavélico”, partilhou.
As declarações foram feitas no passado 12 de Dezembro, dia em que decorreu a quarta sessão ordinária do Conselho Nacional do maior partido da oposição em Moçambique. No discurso de abertura do encontro, Momade reafirmou o compromisso da Renamo em manter a paz, através do processo de DDR, acordado a 06 de Agosto de 2019.
No entanto, desse total, apenas 46 combatentes foram enquadrados na Polícia da República de Moçambique. O presidente daquela formação política considera assim que existe uma “manifesta falta de vontade do Governo em prosseguir com o processo de paz”.
“Sabemos que todas estas artimanhas e manobras dilatórias têm o objectivo de nos distrair e fazer-nos perder a paciência para, depois, nos atribuir a culpa dos fracassos da governação. Cientes disso, não iremos embarcar nessa onda, nem iremos demonstrar musculatura e posição de força, apesar de não nos faltar, em respeito aos moçambicanos e à nossa palavra de honra”.
No entanto, o Enviado Pessoal do Secretário-Geral das Nações Unidas para Moçambique e Presidente do Grupo de Contacto faz um balanço positivo do processo, acreditando que todas as armas estão a ser entregues.
"O balanço é positivo porque existe vontade de busca de uma paz definitiva. Não é um processo fácil. O processo tem muitos aspectos complexos e ambas as partes devem ser ouvidas, mas depois de três anos de desmobilização estamos felizes e as pessoas que trabalham neste processo estão orgulhosas do resultado".
O Acordo de Paz e Reconciliação Nacional de Maputo foi assinado em Agosto de 2019 pelo Chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e pelo presidente da Renamo, Ossufo Momade, prevendo, entre outros aspectos, o Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado do principal partido da oposição.
O acordo foi o terceiro entre o Governo e a Renamo, tendo os três sido assinados após ciclos de violência armada, principalmente no centro do país. No âmbito do acordo do DDR, foram desactivadas as bases de Savane, Muxúnguè, Inhaminga, Chemba, Marínguè, em Sofala; Mabote, em Inhambane; Tambara, Mossurize, Báruè, em Manica; Zóbuè em Tete; Murrupula, na província de Nampula, entre outras. (Carta)