Três pessoas foram assassinadas e sete ficaram feridas esta quarta-feira, na cidade de Nampula, província com mesmo nome, no arranque da quarta e última etapa das manifestações populares, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio António Bila Mondlane. Para além de óbitos e feridos, a Polícia deteve outras 22 pessoas, de acordo com o balanço da corporação.
As vítimas, dois homens e uma mulher, foram assassinadas nas suas residências no populoso e famoso bairro de Namicopo. Vídeos amadores postos a circular ontem nas redes sociais mostram agentes da Unidade de Intervenção Rápida a disparar balas reais e a lançarem gás lacrimogéneo para as residências e contra manifestantes, que se encontravam a fazer uma marcha pacífica.
Como resultado da acção policial, um agente da Polícia escapou à morte por apedrejamento após perseguição popular e a sede do Posto Administrativo de Namicopo foi incendiada. O polícia só não morreu devido à intervenção de uma família, onde se havia refugiado.
Já em Quelimane, província da Zambézia, a Polícia foi, mais uma vez, protagonista de actos de violência. Quase que incomodada com a falta de tumultos naquela autarquia durante os 11 dias das manifestações populares, a Polícia impediu a realização de uma marcha pacífica de recepção de Manuel de Araújo, Edil de Quelimane, comunicada atempadamente às autoridades.
Com recurso ao gás lacrimogénio e balas reais, tal como em outras partes do país, a Polícia impediu a marcha, uma atitude prontamente respondida pela população, colocando barricadas na via pública e queimando pneus. Tal como em Maputo, no dia 21 de Outubro, os jornalistas e o Edil de Quelimane não escaparam ao gás lacrimogénio da Polícia, que tentava impor-se à força.
Já em Maputo, diferentemente dos primeiros 11 dias das manifestações, marcados por tumultos e troca de mimos entre a Polícia e os manifestantes em resultado da violência policial, ontem não houve registo de casos de violência e nem a presença de manifestantes na rua. Apenas houve registo de bloqueio da estrada no Município da Matola, província de Maputo, concretamente no quilómetro 18, da Avenida Josina Machel.
A circulação de pessoas e bens também esteve tímida, tal como o comércio. Grande parte dos estabelecimentos comerciais estavam encerrados, enquanto os informais “desocuparam” os passeios. Os transportadores também se fizeram à estrada com alguma timidez.
Situação contrária verificou-se nas fronteiras e portos moçambicanos, onde houve um fraco movimento de pessoas e viaturas. Os Portos de Maputo, Matola e Nacala estavam quase encerrados, enquanto o da Beira registou um fraco movimento de camiões. Aliás, o cenário se repetia esta manhã, pelo menos no Porto da Matola.
Estiveram também quase encerradas as fronteiras de Ressano Garcia e de Machipanda, as duas maiores fronteiras terrestres do país, que se localizam nas províncias de Maputo e Manica, respectivamente. Nas duas fronteiras, não houve registo de entrada e nem saída de viajantes e muito menos de viaturas particulares e de transporte de passageiros.
No caso da fronteira de Ressano Garcia, incendiada pelos manifestantes na semana finda, o acesso estava bloqueado pelos manifestantes, que formaram uma barricada humana em plena Estrada Nacional Nº 4. Igualmente, verificou-se uma fila de centenas de camiões sul-africanos de transporte de minérios, estacionados antes do famoso quilómetro quatro, local destinado ao desembaraço aduaneiro.
A Polícia de Fronteira e os militares do Ramo do Exército das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, munidos de armas de fogo e BTR, encontravam-se acampados em Ressano Garcia, mas não houve registo de tumultos. Aliás, a atitude diplomática do exército continua a ser elogiada pelos manifestantes que vêem nas FADM um aliado e não um inimigo.
Em geral, informações colhidas pela “Carta” apontam para um ambiente “calmo” em quase todas as cidades do país. Anunciadas na última segunda-feira, as manifestações visam a ocupação de fronteiras, capitais provinciais e portos, com vista à paralisação da actividade económica.
Refira-se que a quarta e última etapa das manifestações populares convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, em protesto contra os resultados eleitorais do escrutínio de 09 de Outubro último, que dão vitória à Frelimo e seu candidato Daniel Chapo, termina amanhã, na sua primeira fase, sendo que as subsequentes serão anunciadas nos próximos dias. (Carta)