Correm o mundo, as imagens de um blindado das Forças Armadas de Defesa de Moçambique a atropelar, de forma fria, brutal e violenta, na manhã desta quarta-feira, uma manifestante em plena Avenida Eduardo Mondlane, no quadro dos protestos populares que decorrem no país há mais de um mês e que entraram, hoje, numa nova fase.
Em comunicado de imprensa divulgado na tarde de hoje, o Estado-Maior General das FADM disse que o atropelamento foi acidental e que o blindado “encontrava-se em missão de protecção de objectos económicos essenciais.
“As Forças Armadas de Defesa de Moçambique comunicam que na manhã desta terça-feira [na verdade, quarta-feira], dia 27 de Novembro de 2024, uma viatura militar devidamente caraterizada, atropelou acidentalmente uma cidadã na Avenida Eduardo Mondlane, próximo à paragem Belita [na verdade, foi próximo à paragem Ponto Final]”, afirma a nota, numa tentativa de “abafa” o crime público testemunhado por centenas de cidadãos.
Imagens gravadas em diversos ângulos mostram um blindado das FADM indo para cima dos manifestantes, numa clara acção criminosa das tropas moçambicanas. “A viatura encontrava-se em missão de protecção de objectos económicos essenciais, limpeza e desbloqueio de vias de circulação, no âmbito da manifestação pós-eleitoral e fazia parte de uma coluna militar devidamente sinalizada”, refere a fonte, sem especificar os “objectos económicos essenciais” que estavam em protecção.
Segundo as Forças Armadas, a vítima foi prontamente socorrida ao Hospital Central de Maputo, porém, sem sublinhar que o socorro foi prestado pelos manifestantes, uma vez que o blindando sequer parou no local do acidente. As FADM dizem lamentar “profundamente o ocorrido” e que vão assumir “total responsabilidade na assistência médica e psicossocial da vítima”.
Este foi o primeiro incidente envolvendo militares desde o início das manifestações a 21 de Outubro último. Na sua primeira aparição pública, a 07 de Novembro, as FADM foram elogiadas pela sua postura dialogante com os manifestantes, uma imagem posta em causa hoje com o atropelamento brutal da jovem de 29 anos de idade, que se encontra entre a vida e a morte.
Refira-se que o incidente causou tumultos na Avenida Eduardo Mondlane, com manifestantes a incendiarem pneus, colocar barricadas e a atirarem pedras e garrafas contra a Polícia e as FADM. Houve tentativas de incêndio de dois blindados, um em marcha e outra “estacionado”. (Carta)