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terça-feira, 13 agosto 2019 13:09

“Dívidas Ocultas”: Ndambi Guebuza gastou milhões de USD na compra de viaturas de luxos e imóveis na RSA

Foram precisos quase cinco meses para o Ministério Público desvendar os gastos de Armando Ndambi Guebuza, primogénito do ex-Chefe de Estado, com os 33 milhões de USD que recebera de subornos da Privinvest por ter viabilizado a contratação das “dívidas ocultas” pelas empresas EMATUM, ProÍndicus e MAM, com garantias do Estado.

 

 

De acordo com o jornal “Notícias” desta terça-feira (13), Ndambi Guebuza gastou o valor na compra de 15 viaturas de luxo, residências em zonas nobres da vizinha África do Sul, bem como no pagamento de viagens faustosas, parte delas com aeronaves fretadas.

 

Segundo o “matutino”, citando fontes judiciais ligadas ao processo, o primeiro filho de Armando Guebuza teria recebido seus subornos através de empresas por si identificadas na “terra do Rand” e por via de uma conta bancária aberta em seu nome, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, usando um visto de trabalho constante falso.

 

Conforme escreve o “Notícias”, tudo teria começado a 26 de Março de 2013, quando aquele arguido recebeu 14 milhões de USD do Grupo Privinvest, na sua conta 10045906311001, domiciliada no Abu Dhabi Comercial Bank. Outros valores terão sido recebidos através da Jouberts Attorneys e Pam Golding Properties, todas da África do Sul, contratadas por Ndambi para não despertar a atenção do sistema financeiro.

 

 A 18 de Junho de 2013, a Privinvest transferiu 25.512.500 Randes para a conta da Jouberts Attorneys, sediada no FNB da África do Sul, via Foreign Exchange (Forex) e, por se tratar de uma operação incomum, segundo o “Notícias”, o banco quis saber da proveniência do valor, assim como da relação entre Ndambi Guebuza e a Privinvest, como condição para disponibilizar o dinheiro. Entretanto, não clarifica o que terá dito o arguido ao FNB para poder receber suas “galinhas”.

 

“Na sequência, por contratos de 23 de Maio de 2013, Ndambi Guebuza adquiriu de Grant Richard e Anri Parker, sob intermediação da imobiliária sul-africana Pam Golding Properties, um imóvel na África do Sul ao preço de 10.800 mil Randes. Os custos totais das taxas devidas pela aquisição, incluindo transferências de propriedade do imóvel, foram orçados em mais de 844 Randes perfazendo um total de 11.644.855 Randes”, revela o “Notícias”, acrescentando que a reabilitação e apetrechamento custaram 4.200 mil randes.

 

A acusação definitiva, que já se encontra na 6ª secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo desde a última quinta-feira, refere ainda que o primogénito de Armando Guebuza (que diz haver “muito boato” e “muita poeira” neste assunto) mandou transferir 2.900 mil Randes para a empresa sul-africana Imperial Collection, vocacionada na comercialização de viaturas de luxo. O arguido ordenou ainda a transferência de 3.722 mil Randes para Viglietti Motors, outros 2.750 Randes à empresa Plessis Anociets e 130 mil Rands à Dom Civilis.

 

A 17 de Junho, a Privinvest transferiu outros 700 mil USD para a Jouberts Attorneys, valor que Ndambi Guebuza investiu na compra de uma viatura da marca Ferrari. A empresa sul-africana ainda pagou 244.690 Randes a um amigo de Ndambi Guebuza, de nome Nuno Simião Sofar Mucavele. A Jouberts Attorneys ainda procedeu ao pagamento de outros 400 mil Rands para a hospedagem do arguido e sua “delegação” naquele país vizinho.

 

De acordo com a acusação, para além desses valores, Ndambi Guebuza recebeu 10.499.853 Randes, através da conta bancária da Pam Golding Properties, valor investido na aquisição de pelo menos 15 viaturas, algumas para uso pessoal e outras para oferecer.

 

“Trata-se de um Ferrari (4.105.500 rands); um Rolls Royc; um BMW X5 para o seu amigo Marcelino Fanquene Nhambire; um BMW X6 para sua companheira Anouuk Fumane; um Ferrari F12 ao preço de 6.140.500 Rands; um Land Rover Discover ao preço de 886.910 Randes e oferecida ao Joaquim Viagem; um Land Rover Discover no valor de aproximadamente 800 mil Randes, em 2015, presenteada a Nuno Simião Sofar Mucavele; um Land Rover, modelo Range Rover, oferecida a Deotílio Almeida Zefanias, em 2015; um Aston Martin Vanquisn, no valor de 4.400 000 Randes; um Mclarem no valor de 950 000 Randes; um Rolls Royce ao preço de sete milhões de Randes e um Maserrati ao preço de 1.790.240 Randes”.  

 

Vivenda para Valentina Guebuza

 

A lista de gastos de Ndami Guebuza inclui ainda a compra de uma vivenda para sua falecida irmã Valentina Guebuza. Segundo o “Notícias”, a 9 de Dezembro de 2013, Armando Ndambi Guebuza ordenou a transferência de 800 mil USD do Grupo Privinvest para um conta da empresa sul-africana Pam Golding Properties, domiciliada no Standard Bank. Do valor, 7.053.000 Randes seriam posteriormente transferidos para a Apple Creek Real Estate Trust que, por sua vez, aplicou 3 milhões de Randes na Nochumsoth Teper Attorneys para a compra de uma propriedade a favor de Valentina Guebuza. Para não despertar o sistema financeiro, o valor foi fraccionado em três parcelas iguais de um milhão de randes.

 

Segundo o “Notícias”, Ndambi Guebuza ainda orientou a Apple Creek Real a efectuar as seguintes transações: MJ Tutti (84.500 Randes), Clee (30 mil Randes), Rivonia Toyota (726.201 Randes), Daytona Group (300 mil Randes), B. Gilbert Refound Paymet (11.360 mil Rands), Eskon (10.332 Randes), City of Joburg (27.810 Randes), Tokologo Legwale (180 mil Randes), Vigliette Motors (350 mil Randes) e Delacovis Interior Desing (300 mil randes).

 

A acusação do Ministério Público, segundo o “Notícias”, revela ainda que a Jouberts Attorneys recebeu da Privinvest um total de 18.966 mil Randes, a 23 de Dezembro de 2014, que foram prontamente transferidos para Justin Devaris (10 milhões de Randes), Delacovios Interior Desing (5 milhões), Mike Tutti (230 mil de Randes), Saxou Hotel (420 mil Randes) e Imperial (um milhão de Randes).

 

Ainda dos 18.966 000 Randes, a Jouberts Attorneys transferiu, a mando de Armando Ndambi Guebuza, 100 mil Randes à Salva Dembele e, pelos serviços prestados, a empresa sul-africana deduziu do valor 94.830 Randes.

 

Já no dia 30 de Dezembro, Jouberts Attorneys recebeu 31.611.446 Randes, que foram pagos à Justin Devaris (20.150 mil Randes), Delacovios Interior Desing (5.401.733 Randes), Imperial Collection (929.400 Randes) e Rani Resorts (366.800 Randes). Ainda foram pagos 515.222 Randes a FlyJests Tream Aviation para fretar uma aeronave do tipo “challenger”, por quatro dias, da África do Sul para a praia de Vilanculo, onde Ndambi Guebuza deslocara-se acompanhado de oito pessoas das suas relações.

 

Da conta da empresa sul-africana, Ndambi Guebuza ordenou a transferência de outros valores, destacando-se os 445.706 Randes para o Hotel Marion – Nichol, 200 mil Randes para Justin Devaris, 15 mil Randes para Premium Insurence e 47 mil Randes para Loius Vuitton.

 

Refira-se que o Ministério Público fixou em 2.902.500 USD o valor de indeminização solidária ao Estado, a ser pago pelos 20 co-arguidos acusados no Processo Querela n° 18/2019-C, relativa às “dívidas ocultas”, contratadas pelas três empresas criadas no âmbito da concepção do suposto Projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva de Moçambique. (Abílio Maolela)

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