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sexta-feira, 12 junho 2020 05:35

Revitalização do Vale do Limpopo: dois recados para o Ministro Celso Correia

O Super-Ministro Celso Correia (Agricultura e Desenvolvimento Rural) anunciou ontem um programa de relançamento da produção agrícola no Vale do Limpopo.

 

Em pouco menos de um mês, Correia apresentou medidas que comprovam a relevância única do seu pelouro para o sucesso do segundo mandato de Filipe Nyusi na Presidência de Moçambique: prometeu uma injecção financeira numa empresa relevante do sector do Algodão em Nampula e Cabo Delgado (com impacto positivo na produção familiar); fechou um “bom acordo” de preços para a campanha de comercialização do produto; anunciou a criação do Instituto das Amêndoas (matando o Incajú, abraçando outras oleaginosas) e agora acena com 600 milhões de Meticais (cerca de 9 milhões de USD) para a revitalização da produção de comida no grande Vale do Limpopo.

 

Ontem, em Chonguene (Gaza), ele disse que o Governo vai criar a primeira Zona Económica Especial Agrícola do país no Vale do Limpopo. O projecto abrange os distritos de Chókwè, Bilene, Limpopo e Chongoene. O governante disse que serão restruturados os regadios do Vale de modo a potenciar os agricultores dos quatro distritos a aumentarem as áreas de cultivo e a produção de arroz e hortícolas. Os agricultores dos distritos abrangidos pelo projecto querem que o Governo financie a aquisição de insumos agrícolas, a construção de represas e fábricas de agro-processamento.

 

Logo após o anúncio de Celso Correia, feito com pompa e circunstância e com transmissão privilegiada pelos principais canais de TV (o ministro estava vestido de roupas de farmeiro, numa apropriação instrumental dos símbolos do produtor agrícola), “Carta de Moçambique” recebeu comentários de seus leitores apontando para os riscos do super-optimismo e a sugestão de uma abordagem “integrada”. Eis dois desses dos comentários, de especialistas, que reputamos relevantes:

 

Comentário 1: Espero que estejam considerados: investimento em todo o sistema de protecção contra cheias entre Massingir a Xai-Xai; Reabilitação dos canais secundários e terciários e de todo o sistema de drenagem no regadio do Chókwè; Reabilitação das estradas secundárias e vicinais nos regadios do Chókwè e de Xai-Xai, Privatização ou parcerias para gestão dos dois regadios; Melhoria do sistema de aviso prévio de cheias; Aprovação de uma política para a cadeia do arroz que estimule a produção nacional e a compra de produto nacional pelas empresas importadoras/distribuidoras, e respectivos instrumentos de implementação; Designação no MADER de uma equipe que trabalhe e siga a cadeia do arroz ou transformação do ICM numa instituição que supervisione toda a cadeia de todos os cereais (milho, arroz, mapira, mexoeira) e que fique na tutela do MADER.

 

Comentário 2: A edificação num país de um sector agro-pecuário leva no mínimo cinquenta anos. O CC só teria mérito se, ao sair, deixasse um Plano de Médio e Longo prazos, devidamente estruturado, e que priorize a produção de alimentos (incluindo carne e leite), assim como a agro-indústria. A produção para exportação (tabaco, macadâmia, soja, etc) deve vir depois destas. A edificação do sector agro-pecuário da África do Sul levou 200 anos. O do Zimbabwe, 150 anos.

 

Por outras palavras, se a ideia é mesmo mudar o actual “status quo” no Vale do Limpopo, de modo a que essa mudança seja duradoira, 600 milhões de Meticais parecem insuficientes. (Carta)

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