Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
sexta-feira, 10 setembro 2021 03:08

Combate ao terrorismo em Cabo Delgado: Malawi presta apoio técnico e logístico

Num artigo de opinião, Lazarus Chakwera, actual presidente do Malawi, recorda que assumiu, recentemente, a presidência da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral numa altura em que muitos membros do bloco regional de 16 nações estavam a destacar tropas para ajudar Moçambique na luta contra o terrorismo na província de Cabo Delgado. Além da SADC, diz o estadista malawiano, parceiros continentais, incluindo Ruanda e Uganda, também enviaram tropas a Moçambique - criando uma operação militar multinacional, mas exclusivamente africana, contra o terrorismo.  "Como consequência, o porto de Mocímboa da Praia foi liberto. Os residentes estão voltando e os terroristas fugiram"- refere o presidente do Malawi. Chakwera reforça a tese de que essas tendências mostram o que podemos alcançar através das nossas próprias mãos, mesmo que as melhorias na democracia e na segurança estejam claramente muito longe do continente, elas devem desafiar constantemente as percepções de que a África e os africanos são meramente recipientes de ajuda. O líder malawiano refere, no seu artigo de opinião, que quaisquer que sejam os imensos desafios que enfrentamos como continente, a melhor maneira de enfrentá-los é construindo sobre essa base e fortalecer a nossa própria capacidade de resolvê-los. "Nossa ideia de auto-suficiência não é aquela que visualiza uma África autónoma e isolada do mundo, mas sim um continente forte e próspero, o suficiente para ser um parceiro confiável na abordagem dos desafios globais", anota o presidente malawiano.

 

Democracia permanece forte em África

 

Tomando como exemplo as recentes eleições na Zâmbia, que desafiaram as expectativas de violência e contestação com uma transferência pacífica do poder, Chakwera destaca que, num mundo assolado pela Covid-19, mudanças climáticas, medo e crise, é muito fácil ver a escuridão e perder a luz.

 

"Esse marco é importante quando desafia o afro-pessimismo que espera que nossas disputas políticas sejam marcadas pela violência e pela fraude. A história ensinou-nos que os votos depositados e contados, mesmo em disputas multipartidárias, por si só não tornam nenhum país democrático. Em vez disso, a democracia é uma escolha ancorada pelo Estado de Direito, mantida por tribunais livres e independentes e realizada por funcionários eleitorais com o apoio de um serviço público imparcial", vincou o líder do Malawi e presidente em exercício da SADAC. "Aqui em África, o retrocesso democrático foi revertido quando os votos a favor da mudança na Zâmbia foram respeitados e as eleições consideradas fraudulentas são rejeitadas pelos tribunais e disputadas novamente tal como aconteceu no Quénia em 2017 e aqui no Malawi no ano passado", recordou aquele estadista.

 

Na sua abordagem, Chakwera sinaliza que o mais importante é que este crescimento democrático seja regado e alimentado pelos africanos. "Nenhuma potência estrangeira pressionou os tribunais do Malawi para anular a eleição quando os resultados foram descaradamente adulterados para favorecer o então presidente Peter Mutharika.

 

Em vez disso, foi o povo do Malawi que protestou pacificamente e os tribunais nacionais que decidiram, independentemente que os resultados anunciados eram ilegítimos e a votação foi realizada mais uma vez.

 

A nova votação foi sem dúvida a melhor da nossa história, apesar da ausência de observadores internacionais", diz Lazarus Chakwera, apontando que, na Zâmbia, os observadores foram mais uma vez numerosos e as embaixadas ocidentais fizeram seus apelos por uma eleição livre e justa, mas no fim do dia foi o presidente-cessante Edgar Lungu que se dirigiu à nação por sua própria vontade e reconheceu a derrota.

 

Desafios à segurança

 

Para Lazarus Chakwera, o mesmo pode ser visto com os desafios à segurança, em que a dependência da intervenção ocidental está diminuindo. "Em vez disso, os países africanos associam-se e protegem-se uns aos outros como vizinhos e por meio da força colectiva. Afinal, existem algumas coisas que nenhuma nação ou continente pode resolver sozinho. A África precisa de parcerias fortes com outras regiões para desenvolver capacidade nos campos da ciência e tecnologia, como a produção de vacinas contra a Covid-19", observa.

 

Explica ainda que os acordos de fabricação no Senegal e na África do Sul demonstram que já temos capacidade para a produção de vacinas. A proposta da Organização Mundial da Saúde de uma isenção temporária de propriedade intelectual e um centro de transferência de tecnologia é um mecanismo visando reforçar ainda mais a manufactura africana - a única ponte viável entre as vastas disparidades nas taxas de vacinação.

 

Para isso, Chakwera assinala: "precisamos da cooperação internacional, mas de um tipo novo que pressupõe que a África é um parceiro de confiança com suas próprias capacidades para oferecer. "A assistência internacional não é mais a única história a ser contada sobre a África - e nem deve ser a parte mais importante da história que estamos escrevendo para nós mesmos", concluiu. (F.I)

Sir Motors

Ler 3216 vezes