Trabalhadores da extinta empresa pública Correios de Moçambique entraram em greve na passada quinta-feira, em protesto às demissões em massa e, sobretudo, à ausência de indemnizações.
Segundo Leonardo Júlio, trabalhador da empresa, desde sexta-feira passada que os trabalhadores estão a receber cartas de demissão, porém, sem qualquer informação sobre o pagamento do subsídio de férias referente a 2021, do décimo terceiro vencimento do ano passado, assim como das devidas indemnizações.
“Quando vamos ao Instituto Nacional de Segurança Social, mandam-nos aguardar dois meses para começarmos a receber e, durante esse período em que estaremos em casa, o que será de nós? Todos aqui temos filhos e o que lhes daremos para comer? Esta empresa não colabora com os funcionários, cada dia falam coisas diferentes. Até ao dia 30 não seremos funcionários da empresa, o vamos fazer?”, questiona aquele trabalhador.
“Eu auferia aqui 22.000 Meticais, mas no documento que recebi vou passar a auferir 10.000 Meticais, o que farei com esse valor. A empresa disse-nos para fazermos empréstimos no banco, quase todos nós temos dívidas nos bancos, mas daquilo que a empresa vai passar a nos pagar apenas cabe para pagar a dívida com o banco e não vai sobrar nada para alimentar nossas famílias. Se não nos derem uma solução hoje, amanhã estaremos aqui novamente e vamos criar mais barulho e não vamos trabalhar”, explicou.
Outro trabalhador, que preferiu falar em anonimato, disse existirem, no grupo dos grevistas, pessoas que estão a receber documentos de reforma, muitos com apenas 15 anos de serviço, facto que leva os trabalhadores a questionarem os critérios usados para o cálculo das referidas reformas.
“Eu trabalho nesta empresa há 33 anos e, quando fui admitido, ocupava a função de distribuidor, onde auferia um ordenado de 24.000 Meticais, contando com os subsídios. Mas, no documento de reforma vou com a mesma categoria, mas para receber 17.000 Meticais, o que me inquieta bastante, porque não foi fixado nenhum subsídio que tinha sido prometido”, disse.
“Fomos enganados pelo Instituto de Gestão e Participação do Estado (IGEPE). Até hoje, tudo que nos prometeram aquando da extinção da empresa não está a ser cumprido. Eles só nos estão a dar as cartas de demissão e dizem que vão pagar os salários no fim do mês e quanto às indemnizações não dizem nada”, lamentou.
“Carta” tentou sem sucesso falar com o Director dos Recursos Humanos da empresa, mas ao ver a nossa reportagem desapareceu do local da greve sem deixar rastos.
Lembre-se que a empresa Correios de Moçambique foi extinta em Maio do ano passado, alegadamente por não se enquadrar na categoria de companhias estratégicas e estruturantes do Estado em que o IGEPE foi encarregue a missão de tratar de todo o processo de liquidação da empresa. (Marta Afonso)