O ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Luigi di Maio, disse este sábado que começou “a guerra mundial do pão”, com o bloqueio de cereais na Ucrânia e o consequente “risco de novos conflitos em África”.
“A guerra mundial do pão já está em marcha e temos de pará-la. Arriscamo-nos a ter instabilidade política em África, a haver proliferação de organizações terroristas, a ter golpes de estado. É isto que pode produzir a crise dos cereais que estamos a viver”, afirmou o diplomata.
A Ucrânia, país em guerra desde 24 de Fevereiro, quando foi atacado militarmente pela Rússia, é um dos maiores produtores mundiais de cereais e fertilizantes agrícolas, que exportava para todo o planeta, sendo estas produções fundamentais para a segurança alimentar em regiões como o Médio-Oriente e o Norte de África.
O bloqueio dos produtos ucranianos por causa da guerra está a dificultar ou mesmo a impedir o acesso aos cereais por parte de países vulneráveis.
O ministro italiano disse que tem de haver “um acordo de paz o mais depressa possível, que abranja os cereais”. “Há 300 milhões de toneladas de cereais bloqueadas nos portos ucranianos pelos barcos de guerra russos”, disse Luigi di Maio.
“Estamos a trabalhar para que a Rússia desbloqueie a exportação de trigo desde os portos ucranianos porque corremos o risco, neste momento, de emergirem guerras novas em África”, acrescentou.
O chefe da diplomacia italiana lembrou que haverá uma “primeira sessão de diálogo” com os países do Mediterrâneo sobre a segurança alimentar”, depois de amanhã (08), e que a Itália vai trabalhar junto de países como a Alemanha, Turquia, França e “muitos outros” para alcançar o objectivo de desbloquear o trigo que está na Ucrânia.
Itália ofereceu-se há alguns dias para desminar os portos ucranianos e criar “corredores marítimos” para o transporte de trigo.
O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, falou ao telefone com o Presidente russo, Vladimir Putin, para pedir-lhe o desbloqueio da exportação de cereais a partir da Ucrânia, incluindo dos portos do Mar de Azov, como Mariupol, ocupados pela Rússia.
Putin respondeu que haverá exportação de cereais se o Ocidente levantar as sanções que impôs à Rússia pelo ataque à Ucrânia.
A agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) já alertou para as consequências desta guerra na segurança alimentar em todo o mundo, já que tanto a Rússia como a Ucrânia são dos maiores produtores de cereais do planeta.
A Itália, em colaboração com a FAO, que tem sede em Roma, realiza na quarta-feira (08) um encontro ministerial dos países do Mediterrâneo, para fazer um diagnóstico da situação e tentar definir medidas que respondam às consequências da guerra na Ucrânia a nível da alimentação, sobretudo, na região do Mediterrâneo e em África.
E Moçambique diz que há trigo suficiente no país para este ano
Moçambique diz que, apesar da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o país não vai sofrer pela falta de trigo este ano, mas a subida do preço é inadiável. A STEMA, empresa que importa cereais para Moçambique, E-Swatini, Zimbabwe e África do Sul, garante que, para já, há trigo para os países e não há risco de ruptura este ano.
Recorde-se que, durante a recente visita da comissão parlamentar à STEMA, o presidente do Conselho de Administração, Arlindo Chilundo, adiantou que “as importações que estão a ocorrer, agora, não são de produtos deste ano e outros já estavam a caminho” antes da guerra. Apesar disso, os preços do trigo continuam a ser pressionados a subir.
Nesse sentido, e tendo em conta as entradas já asseguradas, a STEMA diz que o país não se vai ressentir da falta este ano. “O nosso maior receio é que se reflicta no próximo ano”, isto porque, neste momento, em que eles deviam estar a produzir, estão focados na guerra. Moçambique gasta anualmente 116 milhões de dólares na importação de trigo. (Carta)