O antigo vice-ministro da Juventude e Desportos, Carlos José Castro de Sousa, também conhecido como Dr. Cazé, volta a acusar o Governo de não estar a assumir as suas responsabilidades na gestão do Complexo Desportivo do Zimpeto, empreendimento que compreende o Estádio Nacional do Zimpeto, a Piscina Olímpica do Zimpeto e a pista de aquecimento.
A posição foi defendida há dias num debate acerca do estado actual do maior e mais moderno empreendimento desportivo do país. Refira-se que, em Setembro de 2020, Carlos de Sousa manifestou a mesma opinião, em entrevista à STV, em reacção à primeira reprovação do Estádio Nacional do Zimpeto para acolher jogos internacionais.
Segundo Dr. Cazé, que foi vice-Ministro da Juventude e Desportos de 2005 a 2015, o Ministério da Economia e Finanças tem a responsabilidade de, anualmente, incluir as verbas de manutenção daquele empreendimento desportivo no Orçamento de Estado.
“Agora, é preciso saber se o Ministério das Finanças está a cumprir com as suas obrigações e, ao que consta, não está a cumprir”, defendeu, sublinhando que, enquanto governante, chegou a chamar atenção ao então Presidente da República pelo facto de Manuel Chang, então Ministro das Finanças, não ter incluído o Fundo de Promoção Desportiva nos mapas orçamentais.
“Tenho dúvidas, se os homens e mulheres que elaboram os Orçamentos de Estado conhecem o Estádio Nacional do Zimpeto. Também tenho dúvidas que os deputados da Assembleia da República, que aprovam os Orçamentos de Estado, também conheçam aquele empreendimento, porque é preciso conhecê-lo para saber as possibilidades que ele tem”, acrescenta, garantindo que o Secretário de Estado do Desporto, Carlos Gilberto Mendes, gere o dinheiro que é canalizado pelo Ministério liderado por Ernesto Max Elias Tonela.
“A culpa não é do Secretário de Estado do Desporto. Ele gere um Orçamento que o Ministério das Finanças lhe atribui. Não é fácil o papel que Carlos Gilberto Mendes aceitou, porque eu lembro-me que, numa discussão sobre o Orçamento de Estado, tive de chamar atenção ao Chefe de Estado porque o Ministro das Finanças tinha posto 0,00 Meticais para o funcionamento do Fundo de Promoção Desportiva. Ele ficou um bocado zangado. Portanto, o Secretário de Estado tem capacidades limitadas, que são limitadas pelo Ministério das Finanças”, explicou Dr. Cazé.
Para Carlos de Sousa, há possibilidades de o Estádio Nacional do Zimpeto ser rentável, apontando os camarotes e os diversos espaços existentes na infra-estrutura, que podem ser transformados em escritórios. Porém, defende, “é preciso que o Governo assuma a responsabilidade assumida em Conselho de Ministros sobre os mecanismos de gestão do Estádio Nacional do Zimpeto e o Ministério das Finanças é obrigado a respeitar essa decisão”.
“Foi contratada uma empresa de consultoria, na altura, que fez inclusivamente visitas à África do Sul para estudar como os sul-africanos estavam a prever fazer a gestão dos estádios construídos para o campeonato do mundo de 2010. Essa empresa fez um estudo junto das famílias das cidades de Maputo e Matola para entender o que cada família gasta mensalmente em cultura, desporto, livros, alimentação, vestuário, etc. e, com base nesse estudo, foram sugeridas diversas alternativas para gestão do Complexo Desportivo do Zimpeto. O estudo existe e foi submetido ao Conselho de Ministros para tomar uma decisão. Essa decisão foi tomada e arquivada”, garante Dr. Cazé, sem, no entanto, avançar detalhes em torno do conteúdo do referido estudo.
Por outro lado, Carlos de Sousa entende que a gestão do Estádio deve ser feita por pessoas especializadas. “Nos anos passados, nós tínhamos, na gestão do Zimpeto, um engenheiro civil que acompanhou todo o processo de edificação daquele complexo, mas hoje já não está lá. Tiraram-no dali e colocaram-no num outro sector. Esta é uma questão séria”, defende Dr. Cazé.
“Aquela relva foi colocada por uma empresa moçambicana e que a deixou cinco estrelas. Agora, se não está bem, significa que não há nenhuma empresa a tratar da relva porque é preciso pagar. Não é admissível que as casas-de-banho estejam como estão”, atira o ex-governante, lançando um apelo às equipas da cidade de Maputo, no sentido de terem seus próprios campos para não contribuírem na degradação do “tapete verde” do Zimpeto.
Refira-se que o Estádio Nacional do Zimpeto foi reprovado pela Confederação Africana de Futebol (CAF) para acolher jogos internacionais, devido à degradação do relvado e outras componentes indispensáveis para a realização do espectáculo desportivo. Como resultado, Moçambique teve de pagar 280.787,50 rands (o equivalente a 1.2 milhão de Meticais) para utilizar o FNB Stadium, de Johannesburg, para acolher o jogo da primeira jornada de qualificação à Copa Africana das Nações de 2023. (Carta)