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quinta-feira, 13 setembro 2018 17:05

A crua verdade sobre Cambridge Certificate, International Baccaurelate e Currículo Sul-Africano em Moçambique

Na semana passada, aquando da “exposé” sobre a selva (ou paraíso) fiscal no sector privado da Educação em Moçambique prometi trazer também os contornos da “mafia” curricular vigente. A revelação carecia ainda de um trabalho de campo, para evitar mencionar escolas em concreto sem dar-lhes a oportunidade soberana do contraditório. Não queria apontar o dedo acusador sem que elas se pronunciassem. Esse trabalho de campo estava a ser feito.


Duas das principais escolas privadas que leccionam do ensino primário ao pré-universitário na Matola e Maputo, cobrando propinas astronómicas, confirmaram a minha suspeita construída depois de aturado desk research: elas não leccionam na base de um currículo estrangeiro específico, como alegam nos seus panfletos.

Do universo das escolas que informam usar currículo estrangeiro, as únicas realmente certificadas são a nossa Internacional, a Americana, a Portuguesa e a Francesa. Todas as restantes estão em falta. Meu trabalho de pesquisa não terminou. Mas, hoje 13 de Setembro (e amanhã), a Ministra Conceita Sortane (Educação e Desenvolvimento Humano) reúne-se com todas as escolas privadas e particulares que operam em Maputo. Uma das questões centrais do debate será essa vertente curricular. O Ministério acusou o toque e quer agora agir. O evento terá o carácter de auscultação. É esperado que depois se estabeleça um road map visando a correção de vários problemas (este ensino que se diz de currículo estrangeiro virou um autêntico bazar; para além de venderem gato por lebre e de delapidarem orçamentos das famílias de classe média, as escolas encerram para férias em períodos distintos, numa desarmonia total).


Mas então qual é a verdade? A verdade é que Cambridge Certificate não é um currículo. Todo o mundo sabe que Cambridge é uma localidade britânica onde se localiza uma das mais antigas universidades do Reino Unido. Nessa instituição foi estabelecido um centro denominado Cambridge International Examinations (CIE). O CIE oferece qualificações internacionais em mais de 160 países. Estas incluem o Cambridge IGCSE, o Cambridge Internacional AS e A Level e o Cambridge Pre-U. Não existe um currículo Cambridge replicável noutros países. Tudo o que este CIE faz tem a ver com examinações; na verdade ele apenas produz e certifica matrizes de examinação. No Reino Unido, o ensino geral usa um único currículo, britânico. Só o currículo britânico para o ensino primário tem 221 páginas.


Um currículo nāo se resume apenas a um conjunto de tópicos de aprendizagem; ele terá de conter muito mais, nomeadamente as metas para cada nível, ou seja, o que é que se espera que os estudam aprendam e as condiçōes para se atingir esse desiderato. As condiçōes envolvem docentes capacitados, bibliotecas e laboratórios. A maior parte das escolas privadas de Maputo que alegam usar currículo estrangeiro não reúne essas condiçōes. Alegar que usam Certificado Cambridge não é propriamente uma mentira. O problema é que as escolas não explicam devidamente o que é isso de Certificado Cambridge; ou seja, não explicam que o que fazem ao longo do ano é nada mais nada menos que preparar um aluno para um exame. Uma coisa que se pode fazer em quarto semanas.


O mesmo se passa com o famigerado International Baccaurelate (IB). Também não é um currículo, como muitos moçambicanos acreditam. É igualmente e apenas uma matriz de examinação. O IB é usado nalguns países da Europa para certificar se um estudante que tenha feito o ensino secundário está em condições de entrar para o ensino terciário. É um processo transitório entre as duas etapas, uma espécie de exame propedêutico. De modo que só se pode preparar um aluno para ser examinado com os standards do IB se este estiver a frequentar o equivalente às nossas décima primeira e décima segunda classes. Dizer que alunos de níveis inferiores a estes estão a estudar com base no “currículo IB” é mentiroso.


Outras escolas em Maputo alegam usar o “currículo sul-africano”. Isso também é incorrecto. Não existe um tal currículo sul-africano. A RAS tem 9 províncias e cada uma o seu currículo. A única coisa em comum entre as 9 províncias é a leccionação do Inglês e do Afrikaans. A reunião de hoje e amanhã sob moderação da própria Ministra Conceita Sortane promete. O grande problema até pode não ser a qualidade do ensino nalguns desses estabelecimentos de elite. Sua qualidade supera em muitos casos a qualidade do nosso ensino público. O problema é que elas vendem gato por lebre. Cobrando valores exorbitantes para coisas que não fazem. Agora trata-se de pôr o guizo ao gato.

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