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BCI
sexta-feira, 21 setembro 2018 17:33

Não há razão para pânico no Viaduto

Em Fevereiro deste ano, uma mensagem alarmista viralizou nas redes sociais: o viaduto da Ponta Vermelha, nomeado em homenagem ao Eng. Alcântara Santos, um ferroviário perecido com Samora Machel em Mbuzini em 1986, estava ruindo. A razão do alarme tinha uma base, movediça: uma chapa metálica de revestimento da junta de dilatação cimeira, ali onde um dos tabuleiros se une à massa de betão incrustada na terra, tinha sido removida. A chapa metálica escondia uma “fissura” no topo da estrutura, um espaçamento de cerca de 10 cm deixado propositadamente aquando da construção da obra (entre 1971 e 1974) para permitir o movimento esperado das peças do tabuleiro (6 peças).


A mensagem alarmista caiu como uma bomba entre os incautos. Os maputenses que usam todos dias o viaduto começaram a segurar o coração. Um jornal local reportou que a morte estava à espreita. A qualquer momento aquilo podia cair. Sem a chapa removida, o baque das rodas dos carros e da tração automóvel sobre a junta era mais audível.

Entre os entendidos, no entanto, aquele era um medo infundado. O alarme falsário. Baseado no senso comum. Mas esse alarme mentiroso acabou sendo um mal que veio por bem. A reabilitação do viaduto era uma necessidade antiga, uma intervenção necessária como rotina. Em 2016, a obra foi adjudicada a empreiteira moçambicana Nadhari Opway (a Opway vem da antiga Opca) mas só em Abril deste ano é que o primeiro adiantamento de fundos foi feito. A razão do atraso é a mesma que se tem invocado amiúde para o atraso na execução de muitas empreitadas do Estado: falta de visto do Tribunal Administrativo [existe uma percepção muito partilhada entre construtoras de que a secção de Vistos deste Tribunal virou um centro de cobrança de rendas; uma investigação terá de ser aprofundada, trazendo evidências para dar corpo a essas suspeitas].


Então, essa mensagem alarmista fez com que o visto do TA fosse concedido quase uma semana depois que ela circulou nas redes. As comadres se preocuparam... uma obra que devia ser mantida rotineiramente de tempos a tempos esteve na gaveta sem razões de fundo. No viaduto, na placa afixada diz-se que a obra devia ser realizada em quatro meses. Mas já estamos quase em Outubro. Quem por lá passa, vê mãos trabalhando a meio gás. Redes e andaimes para apoiarem uma intervenção na base e nos pilares, alguns já descascados pela corrosão, fazendo mostrar a sua armadura de pele. A lentidão da empreitada decorre de um problema: tal como a generalidade das grandes obras públicas construídas no tempo colonial, o projecto de engenharia do viaduto sumiu [depois da Independência, algum arquivo da mucipalidade foi transferido para um lugar na Matola e muita papelada foi desaparecendo com o tempo em amiguismo com o...laxismo. Recentemente já se recorreu ao arquivo da Torre do Tombo em Lisboa para se buscar projetos de engenharia de obras antigas].


E como não há projecto, a empreitada está sendo feita às apalpadelas. Surgem aqui e ali novas necessidades de intervenção, como acontecerá com os guardas-corpos na bermas (escreveria corrimãos, em linguagem corriqueira). Mas, afinal o que é central na reabilitação do viaduto? A obra consiste de seis tabuleiros suportados nos 5 pilares onde eles se apoiam. Alguns pilares, sobretudo dos seus lados do mar, estão corroídos e precisam de um novo revestimento. Os seis tabuleiros estão assentes sobre os pilares mas entre eles existem 24 aparelhos de apoio (4 por pilar), que precisam de ser substituídos. Estes aparelhos servem para distribuir a carga dos tabuleiros pelos pilares e permitem também que as peças se movam em função do uso e das condições de clima (dilatação).


Para se substituir os aparelhos de apoio, vão ser usados macacos para levantar os tabuleiros. Isso acontecerá dentro de poucas semanas. Nessa altura, a circulação no viaduto vai ser interrompida, nalguns momentos, ou condicionada, noutros. Os técnicos envolvidos dizem que a intervenção no viaduto era necessária mas a obra não está demasiado degradada. A coisa não vai cair não! E quando terminar, aquele buraco agora visível, que possibilita o movimento dos tabuleiros nas extremidades, vai ser tapado com chapa metálica. E também haverá asfalto novo. Não há razão para pánico...

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