A morte de um procurador não é uma morte qualquer. Trata-se de alguém investido de poderes estatais (neste caso conferidos pelo Presidente da República) para trabalhar na defesa da legalidade. Em condições normais, a causa da sua morte já devia ter sido divulgada. Essa revelação não atrapalha as investigações, mesmo no caso de haver indícios provados em sede de autópsia de que a morte foi violenta.
Por isso, a opinião pública deve saber do seu conteúdo.
No caso vertente, a autópsia ao corpo do procurador deve ter sido de carácter médico-legal em virtude da sua aparente morte violenta. Esse tipo de autópsia, diferente da autópsia patológica (que visa apurar a causa da morte de um doente ou estudar uma dada doença), é geralmente solicitada pelo SERNIC, pela PGR ou por um juiz de instrução, quando se está em presença de uma morte súbita (ou violenta)de um não doente, como foi o caso.
Aquando da sua morte, foi reportado que Januário Necas estava a espumar pela boca, levando meio mundo a conjecturar que ele foi envenenado. Mas espuma na boca em si não é indicio acabado de envenenamento, embora represente uma grande probabilidade para isso. Só um exame pericial pode apontar-nos o caminho certo.
E isso não é só do interesse da opinião pública.
A PGR também, onde ele trabalhava, deveria estar interessada em que essas suspeitas de envenenamento fossem clarificadas, sacudindo para longe qualquer tentativa de se relacionar a morte do procurador a eventuais lutas dentro da instituição. A própria família de Januário Necas seria uma das primeiras interessadas em garantir que a causa da morte fosse comunicada publicamente, sacudindo, também ela, alegações de que o suspeito “envenenamento” tenha ocorrido dentro da família. Afinal quem tem medo que se divulgue o conteúdo da autópsia? Januário Necas morreu de morte natural ou de morte violenta? A espuma na boca representa o quê?