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segunda-feira, 10 dezembro 2018 03:03

Bernardino Rafael entre os raptos e a insurgência: uma musculatura ineficaz

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Quando tomou posse a 30  de Outubro de 2017, o Comandante Geral da Polícia, Bernardino Rafael, deu numa de campeão da repressão. Para dentro da corporação, lançou um discurso de tolerância zero contra desvios de comportamento, que fazem escola na nossa polícia. Numa parada com seus correligionários em Maputo, tentou impor a circulação zero de mensagens nas redes sociais entre colegas. Mas isso era como fazer parar o vento com as mãos. Por causa do seu tom e estilo ele foi percebido na sociedade como tendo sido a escolha certa para moralizar a polícia e torná-la atuante. Essa perceção estava afinal errada.

 

Em Dezembro de 2017, Rafael foi a Cabo Delgado tratar dos insurgentes que, em poucas semanas, já tinham feito dezenas de mortos, incluindo assaltos a unidades policiais em Mocímboa da Praia. E o que ele fez? Incrustou-se nesse registo que em tão pouco tempo habituara à opinião pública: uma musculada mas esvaziada retórica. A habitual declaração do ultimato. Ele disse assim: todos os insurgentes tinha 7 dias para se entregarem à PRM. Quem não se entregasse haveria de ser caçado e preso. 

 

A ameaça teve o efeito contrário. Ao invés de dissuadir os atacantes, eles recrudesceram sua sanha assassina. Mais civis foram mortos, alguns decapitados. Centenas de casas foram queimadas. Nas últimas semanas, os ataques acontecem quase todos os dias. E onde está Bernardino Rafael? Ele encafuou-se num silêncio tedioso. Mas os mortos se amontoam em Cabo Delgado. E ele nesse silêncio. Não pode ser! Quase um ano depois de ter feito aquela ameaça, é urgente que ele venha a público prestar contas sobre suas promessas vãs, sobretudo agora que as coisas se agravaram no terreno e a população decidiu fazer justiça por mãos próprias. Mas, é preciso que fique registado, Bernardino Rafael gosta de promessas vãs. Há poucos meses, ele prometeu acabar com os raptos, mas nada! O drama continua afetando famílias. Pior: cada vez mais o fluxo de informação é exíguo, sugerindo que os raptores controlam a gestão da comunicação da corporação.

 

O Estado parece ter cedido ao terror. Capturado por dentro pelas gangs do rapto. E o comandante encostado à parede.  Ninguém sabe o que se passa com os mais recentes raptos. Há quem ache que o silêncio é de ouro e só isso protege as vitimas. Em suma, cedemos ao terrorismo dos raptores em Moçambique. Mas Bernardino Rafael deve dizer o que se passa. (M.M.)

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