O rol de evidências que o Departamento de Justiça já apresentou no julgamento de Jean Boustani em Nova Iorque, a maioria das quais relevantes para o processo local das “dívidas ocultas”, pode não ter surpreendido a chefe do nosso Ministério Público, Beatriz Buchile, mas é provável que ela deve ter ficado irritadiça por tais evidências terem vindo à tona depois da acusação final contra os 20 arguidos, exarada em Julho. Menos mal! As evidências estão aí!
Depois da prisão de Manuel Chang em finais de Dezembro, Beatriz Buchile sempre se queixou duma coisa: as autoridades norte-americanas nunca se predispuseram a colaborar com a justiça moçambicana. Às cartas rogatórias que Buchile enviou, Whashington respondeu com um “nim”.
E em Janeiro, quando a acusação contra Chang et al foi divulgada, logo apercebeu-se que parte das evidências coligidas tinha como fonte um documento encomendado justamente pela PGR: o relatório da auditoria forense da Kroll. No julgamento agora em curso, isso ficou mais do que evidente. Em suma, os americanos adiantaram-se à justiça moçambicana, e por razões óbvias, que não importa agora voltar a mencionar. Os antecedentes estão aqui. E agora?
Agora, a PGR não tem como cruzar os braços, assobiando para o lado com suas lamúrias em face do comportamento passado do “gringos”. As evidências foram apresentadas em Tribunal e estão disponíveis a quem se manifeste interessado. São milhares de páginas delas, incluindo transcrições. Tudo relevante para a investigação local, que agora tem material de sobra para ser mais do que compreensiva.
As implicações das evidências reveladas em Brooklyn são várias. Primeiro, em relação ao processo contra os 20. Elas permitirão aprofundar o envolvimento de cada um, alterando-se, se for o caso, para menos ou para mais, o tipo legal de crimes de que são acusados e as respectivas molduras penais. Há evidências que sugerem a abertura de novos processos autónomos, mas, sobretudo, a clarificação do envolvimento criminoso e papéis concretos (no Banco Central) de figuras mencionadas nos EUA, mas que nunca foram constituídas arguidas em Moçambique.
O desafio, portanto, para Beatriz Buchile, é este: tentar obter todas as evidências judicialmente válidas. Por exemplo, as evidências sobre o pagamento de subornos: por que é que a justiça americana apenas apresentou “borderauxs” comprovando a transferência de subornos para o Partido Frelimo e nenhum sobre as restantes figuras mencionadas? Onde estão os restantes “borderauxs?
Contra os Ndambis, Rosários, Nhangulemes e companhia, a PGR conseguiu rastrear contas bancárias e isso está patente na acusação local. Em relação à Frelimo foram exibidos “borderauxs”. E em relação a outros nomes mencionados por que é que não se exibe nada? Mistérios por resolver...
Marcelo Rebelo de Sousa, o ti Celito, foi ter com João Lourenço, em Roma, onde os dois se encontram (vam), cada um com a sua agenda, e disse assim para o presidente angolano, vim te dar um abraço! Ohei para a imagem dos dois estadistas, cada um entregue aos braços do outro, e senti que aquele gesto era profundo. Inolvidável. Arrepiei-me com o reflexo dos dois homens que uniam seus corpos, deixando que toda a alma fluísse, para o calafrio do sentimento. Antes já tinha visto outro abraço, entre o Presidente Nyusi e o líder da Renamo, Ossufo Momade, e o que senti nessa altura, foi o sabor de uma comida temperada com sal insípido. Ou seja, enquanto do lado de Momad ressaltava a euforia, o Presidente conteve as emoções. E isso fez-me recear que podia haver uma pisca-pisca para a esquerda, de um carro que na verdade iria virar para a direita.
Roberto Carlos já cantava, e dizia assim,
quem me dera que as pessoas que se encontram,
se abraçassem como velhos conhecidos
descobrissem que se amam
e se unissem na verdade dos amigos
Roberto Carlos canta a poesia. Pura. Exalta a paixão. O desejo pemanente de paz. E quem me dera, que daquele abraço entre Nyusi e Momad, ressurgisse Louis Armstrong, cantando what a wonderful world?
Eu oiço bebés chorando, eu os vejo crescer
Eles vão aprender nuito mais que eu jamais vou saber
E eu penso comigo, que mundo maravilhoso!
Sim, eu penso comigo, que mundo maravilhoso!
Mas essa dádiva é-nos recusada pelos graúdos do meu país, onde as mulheres não sabem o que será dos meninos que gestam nas barrigas insufladas de violação,
Mulher barriguda que vai ter menino
Qual o destino que ele vai ter?
Haverá guerra ainda?
Tomara que não!
Secos e Molhados (conjunto musical brasileiro)
São essas mulheres vagueando nos atalhos e nas ruas empoeiradas, sem destino, arrastando para o mato as crianças que perguntam, mamã, vamos para onde? E elas respondem, cala, meu filho, não faz barulho, amanhã voltaremos para casa.
Estás a ver a lua que disponta dos céus?
Hoje há luar
Vamos brincar à thumbelelwana (brincadeira de crianças)
Mingas
Qual brincadeira, qual quê! Qual lua que disponta dos céus! Aqui são as balas que sibilam, e as facas, e as catanas. Essa é a música do diabo que se ouve nestes lugares, onde o coro sai das nossas jugulares decapitadas. É esta a verdade que prevalece, e triunfa, enquanto do outro lado explodem garrafas de champanhe e cheiros de fígados estufados para regar os banquetes.
Xantima e bodlela (salve-se quem puder)
Salimo Mohamed
Voltou a sinfonia de Lúcifer, com todas as claves da desgraça. E lá estamos nós, correndo de um lado para outro, desconhecendo o que nos espera. Somos as cobaias aprovadas nos exames de sangue. E da ganância. Por isso a morte dança na estrada e nas cubatas onde já não podemos amar as nossas mulheres, onde as nossas mulheres já não podem afagar-nos os corpos cansados das jornadas incessantes. Somos essas reses estúpidas, encurraladas para abate.
A estrada já não é nossa. É da morte. A reverberante Muxúngwè voltou a perder o entusiasmo. O sossego e a certeza de que amanhã vamos acordar, e cotinuar a libertar os balões dos nossos sonhos. Estamos com medo. Ninguém sabe nada a partir de agora. Aliás, a única certeza que existe, é de que há uma música que ainda não cantamos, todos nós moçambicanos, em únissono: Tiendi pamodzi! (Vamos juntos)
Se calhar o bom do nosso
A 13 de Abril de 1981, com 11 anos de idade, Mariano Nhongo Chissingue foi capturado pelos "combatentes pela democracia". Uns meses depois, o puto aprendeu a disparar e virou menino-soldado.
A RENAMO levou a infância de Nhongo. Não jogou a cabra-cega como os outros miúdos da sua idade. Sofreu muito. Combateu muito. Era criança. Cresceu a lutar muito. Tornou-se adolescente. Tornou-se rapaz. Tornou-se homem. Tornou-se Mariano Nhongo Chissingue, o tenente-general da RENAMO.
Veio a paz. Em 1992, no tempo de desmobilização da ONUMOZ, a RENAMO decidiu não desmobilizar o tenente-general Mariano Nhongo. Não lhe foi dada a oportunidade de esquecer o peso da farda e da arma.
Nhongo não teve um bom descanso. Malta dois-mil-e-qualquer-coisa, Nhongo voltou a combater "de novo". Lutou, lutou, lutou. Voltou a matar mais pessoas. Voltou a assaltar mais quartéis. Voltou a furar mais camiões.
Acabou a guerra. Veio uma outra paz. Nhongo continuou fardado e armado. Continuou nas matas. Foi uma rapidinha de paz, tipo na baixa. Começou um outro combate. Nhongo não descansou. Voltou a combater. Voltou a lutar. Voltou a cavar estradas. Sempre nas matas.
Vieram outras pazes e outras guerras da RENAMO. Nhongo - o menino Marito, esteve sempre na dianteira. Nunca descansou. Foi sempre o confiado. Salvou Afonso Dhlakama na emboscada de Zimpinga e esteve no resgate de da Beira.
Era o mais confiado, mas hoje malta Momade não querem saber dele. Aquele ponta-de-lança astuto hoje está sozinho. Hoje dizem que Nhongo é criação da FRELIMO e da imprensa de direita. O braço direito do líder hoje está a ser amputado. Aquele que deu a sua infância, a sua vida e a sua alma à uma causa quando ninguém acreditava nela hoje é o traidor. O justiceiro hoje virou forasteiro. Ninguém lhe dirige a palavra. Passou de bestial à besta. Hoje, Nhongo é um problema simplesmente da FRELIMO e quem deve conversar com ele é unicamente Filipe Nyusi. Quem diria! Pode ser que Nyusi seja o Messias que lhe trará uma reforma condigna e o merecido descanso.
Na RENAMO, Nhongo sofreu muito [mais que Mazamera]. De resto, fazer confusão é o que Nhongo sabe fazer de melhor. Não está a querer destruir bens, mas é o que ele tem para dar. É tudo o que a vida [a RENAMO] lhe ensinou. Nhongo podia ter tido um outro futuro. Podia ter sido uma boa pessoa. Nhongo teve uma educação atrofiada. Não levou tau-tau quando criança.
Na verdade, Nhongo é mais vítima do que vilão. É vítima da própria RENAMO. É vítima da falta de agenda. É vítima do hábito da força. É vítima da política intestinal.
"Je suis Nhongo". Não gosto do que ele faz, mas, ao mesmo tempo, sinto pena dele, mas também não gosto como a RENAMO está a tratar este assunto. Infelizmente, de uma pessoa que não teve infância, que cresceu na floresta e que apenas foi ensinada a disparar e a saquear por tudo e por nada não podemos esperar grandes virtudes.
- Co'licença!
Iniciou ontem, em Sandton, na RAS, o African Investment Fórum. Trata-se de uma plataforma criada pelo Banco Africano de Desenvolvimentos (BAD) para mobilização de fundos públicos e privados para investimentos, sobretudo privados, no âmbito da sua estratégia designada Transforming África. O fundo foi este ano capitalizado em cerca de 150 bilhões USD. Moçambique, representado no Fórum pelo Primeiro-Ministro Carlos Agostinho do Rosário, anunciou como projectos estratégicos a reactivação das fábricas têxteis de Marracuene (RioPele, para o que precisa de cerca de 40 milhões de USD) e de Manica (Textáfrica).
O Primeiro-Ministro desperdiçou uma soberba oportunidade de falar de projectos verdadeiramente estruturantes para o país. E ignorou certamente os factos de: i) a RioPele ser uma Unidade de Curtumes e não uma fábrica têxtil propriamente. Foi implantada para o processamento de pele de animais bovinos que abundavam na baixa do Incomati; a Textáfrica, em Manica, tem as terras outrora usadas para a produção de algodão absorvidas pelos refugiados da guerra dos 16 anos, que nelas construíram habitações e fazem agricultura de subsistência.
Se a estratégia é a produção têxtil, esperava-se, sim, que o PM se referisse à Téxtil de Mocuba. Esta, sim. com infra-estrutura no lugar, terras abundantes para produção de algodão (50 mil hectares) e das melhores do país, um projecto com potencial de gerar mais de 750 mil postos de trabalho. Mas, mais uma vez, a Zambézia foi esquecida. Até quando?
Das diversas incursões efectuadas à estação de comboio de Mapai com o intuito de adquirir um bilhete de passagem na segunda classe fracassaram. O bilheteiro alegava que não conseguia falar via rádio com os seus colegas em Chicualacuala para saber se existiam vagas.
Olhei para o relógio analógico aparafusado numa das paredes, eram 13h30min, o comboio só chegaria às 14h30min segundo o chefe da estação.
O princípio da tarde dominical era típico de um povoado do interior de Moçambique, completamente dormente.
Voltei para a residencial onde havia passado a noite, e aí fiquei na esplanada a berma da única estrada asfaltada. Perscrutava o lugarejo que por vezes era visitado por um carro que passava velozmente em direcção a Chicualacuala; viajantes caminhavam com as suas trouxas para a estação, das minhas averiguações fiquei a saber que vinham de Massangena, Páfuri e outros lugares.
O apito do comboio soou, duas vezes, arrepanhei a minha mochila, chamei pela servente, saldei a minha conta e rumei apressado para a estação.
O bilheteiro disse-me que poderia embarcar na carruagem de segunda classe e averiguar com o revisor se havia lugar.
A carruagem que buscava não havia parado na plataforma, perscrutei e a vi; apressado alcancei-a, segurei o corrimão, quando balançava para subir, o assistente de bordo, um homem grandalhão, indicou-me a carruagem de 3ª classe, julgando que eu me enganara na escolha.
“Não há lugares?”
“Há” – respondeu
“Então!”
Afastou-se da porta da carruagem e embarquei.
Pelo julgamento precipitado do assistente de bordo este concluíra, pelo meu aspecto meio desmazelado, que eu não tinha como pagar para usufruir das comodidades da classe.
Esperei no corredor pelo revisor enquanto apreciava a movimentação dos passageiros que corriam para embarcar maioritariamente na 3ª classe, este chegou e indicou-me um compartimento com seis beliches ocupada por três mamanas, atirei a minha trouxa para a beliche de cima e voltei para o corredor.
O comboio voltou a apitar e depois um abanão sacudiu a carruagem, as grandes rodas de ferro rolaram na via-férrea, continuei debruçado na janela desfrutando da paisagem que se oferecia. A locomotiva circulava vagarosamente paralela a estrada asfaltada. Depois de dez minutos parou!
Desconfiei da demora neste apeadeiro e então apercebi-me que se procedia ao carregamento de estacas no vagão para esse fim.
Voltamos a rolar, agora com mais velocidade, ainda debruçado na janela da carruagem sentia a brisa beijar-me o rosto.
Decidi explorar a locomotiva, foi então quando escalei a carruagem contígua, “eureka!” celebração introspectiva, acabava de encontrar o melhor lugar no comboio, a carruagem- restaurante e bar.
Clientes hospedados nas mesas desfrutavam de suas bebidas, engoli um seco a cada vez que eles enjeriam o precioso líquido, busquei por uma mesa vaga, mas não encontrei, então fui apreciando ora o movimento do restaurante-bar ora a paisagem, esperando uma mesa ficar livre.
Uma espevitada senhorita, que eu conhecera aquando da viagem Maputo-Mapai, irrompeu carruagem adentro, saudamo-nos como amigos de longa data, trajava uma saia curta, as pernas grossas lhe ficavam salientes, era baixinha e tinha a carapinha curta que enaltecia a sua tez clara.
Vagou uma mesa e sentamo-nos, eu meio carrancudo porque estava desprovido de niqueis para usufruir de uma bebida enquanto ela gaba-se eloquentemente das suas proezas de vendedeira ambulante da rota Chókwè-Chicualacula, continuou armada de sua oratória desarmando seus ouvintes que tentavam expor um e outro facto do seu quotidiano.
Um desconhecido juntou-se-nos na mesa, arrancou uma cerveja que guardava no seu alforge, e prontamente ofereceu-me uma, engoli um seco só de ter a lata na mão.
Um processo de mercantilização tácita foi celebrado quando cedo a minha atenção para o desabafo dos seus dissabores e ela faz com que não me falte cerveja, chego mesmo a pensar que ela gasta os lucros do seu negócio para ganhar a minha atenção.
A intromissão repentina de um indivíduo desarmando-a de algo que ela falara deixou-lhe momentaneamente perplexa, até processar o reconhecimento do senhor septuagenário que é mecânico de Chókwè, seu amigo, que também é viajante assíduo do trajecto Chókwè-Mapai-Chókwè. A nova personagem que se juntara a mesa era também cheia de retórica.
Discursos instigados pelo álcool animam a viajem, a nossa mesa tornou-se o cerne da atenção da carruagem, ela espevitada expõe seus dotes femininos e quando confisca a atenção masculina, levanta-se pousa a perna direita no banco, puxa a diminuta saia, e numa posse expõe a coxa torneada, não queria deixar seus dotes femininos nas palavras que pronunciara a esse respeito.
Uma pequena turba vai-se acercando do pequeno palco onde a nossa actriz vai dando seu espectáculo, contracenando com o velho mecânico de Chókwè que procura contraria-la sempre que ela fala dos seus atractivos femininos.
Um toque de emoção leviana assaltou-lhe a mente e ela pula para o banco onde antes pousara as pernas, ginga o rabo para esquerda depois para direita, bate a nádega majestosamente, é ovacionada com ululos e assobios que combinados com o som produzido pela locomotiva dão ritmo a viajem.
Buscou-a de relance e percebo que ela procura dissipar o seu sofrimento, depois de tudo que me contara não passa de uma infeliz que encontrou uma oportunidade de afugentar o mal.
Olhos masculinos, endiabrados pelo álcool fustigam a dançarina que vai marrabentando ao ritmo da cantiga que ela mesmo entoa, auxiliado pelo coro popular.
O afrouxamento seguido de apitadelas dá-nos conta que estamos próximos de um apeadeiro, os ânimos amainam à medida que o comboio vai parando.
“Mabalane” – comunica um dos espectadores.
Este anúncio desarma a nossa bailarina, um cavalheiro auxilia-a a descer do palco, continuamos a nossa cavaqueira enquanto o público vai-se retirando gradualmente.
Ela conta muitas estórias “da árvore magica que expele uma luz” no troço Cungumuni-Mabalane, e o velho mecânico gaba-se também de seus dotes de reparador de motores daquelas bandas, “sou o melhor mecânico de Gaza”.
São 19h30 min quando a locomotiva se imobiliza por completo na estação de Mabalane.
O papo começa a frear, peço licença e desembarco rumo a estação, a minha amiga dançarina incube-me de adquirir umas cervejas no bar da estação pois garante-nos que são relativamente mais baratas que as da carruagem-bar.
Reembarco antes do comboio apitar e apercebo-me que estou meio ébrio, divagamos ainda no papo enquanto terminamos de beber as cervejas, a locomotiva reinicia a marcha.
Combalidos pelo cansaço, despedimo-nos depois de trocarmos os números de telefone, convidam-me a vir a Chókwè onde desembarcariam e residem.
Cada um ruma para a sua carruagem quando entro na minha, encontro as minhas colegas de viajem dormindo, trepo para a beliche evitando produzir qualquer ruído, então lembro-me que as senhoras são zimbabueanas e se dirigem à Maputo em negócios. Resgatei da mente uma estória que se contava nas grandes cidades sobre os vendedores zimbabueanos que não se importavam de deixar ficar o seu produto mesmo sem o conhecer o domicílio do cliente, prometiam vir buscar o dinheiro no dia prometido. E, assim faziam. As mentes mais férteis garantiam que eles eram fantasmas a serviço do seu senhorio.
O embalo da locomotiva e os mililitros de cerveja mesclados combinam um perfeito sonífero. Horas depois acordo assustado pelo efeito da luz do crepúsculo matinal que entra pela janela do compartimento e a vozearia das senhoras que se arrumam. O comboio experimentava um novo afrouxamento, espreito para averiguar em que estação estamos, “Manhiça”. Espreito o relógio de pulso para descobrir as horas, são 5h00 da manhã.
Depois de esfregar os olhos com as mãos, redescubro as minhas companheiras de viajem, um alento sossega meu espírito, afinal de fantasmas elas não têm nada. Elas desembarcam sem despedir, pelo menos sei que são antipáticas é única coisa que sei até ao momento.
O comboio volta a apitar e as rodas de ferro abraçam a linha, a locomotiva geme, o destino esta próximo, lembro-me da bailarina com saudades.