Eu insisto: Nhangumele é um génio. Não sei o que falta para tirarmos aquele miúdo da "djela" e condecorarmos o gajo como o clímax da inteligência moçambicana. Não sei de que estamos a espera. Só depois de ouvirmos que o puto Teo já tem uma estátua numa universidade de Nova Iorque é que vamo-nos preocupar em entender a sua obra.
Veja: depois de vários estudos científicos, em 2017, a Pê-Gê-Ere concluiu que devia codificar os gatunos do relatório da Kroll para que fossem melhor percebidos. O que a Buchili e sua equipa de cientistas não sabia era de que o puto Teo já havia codificado os mesmos gatunos há uns bons anos "atrás". Malta 2012-2013, o puto Teo já chamava Guebas de "HoS" ou "Head of State". Poxa!!! Mas que toque de genialidade!!!
Eu não aguento com esse jovem. O zénite da sua prodigiosidade foi o "Chopstick". "Chopstick" são aqueles palitos que os chineses usam para comer. E como o Chang é de origem chinesa, o nome caiu-lhe como uma luva. Agora me diz se tem dois Nhangumeles neste mundo?
Na tabela de gatunos de Nhangumele tem Ros, tem Isalt, tem Dê-Gê, tem Prof, tem Eug, etecetera. Diferentemente do abecedário da Buchili, que não tem critério nenhum, os acrónimos de Nhangumele se encaixam perfeitamente nas pessoas e nas suas funções no calote.
Assim como o químico Dmitri Mendeleev, que em 1869 já previa, na tabela periódica, lacunas para elementos químicos que ainda não tinham sido descobertos, a tabela de gatunos de Nhangumele também tem gatunos que ainda estão por descobrir. Um desses gatunos é um tal de "Nuy". Tudo o que se sabe é que "Nuy" é um gatuno que não era gatuno, mas que passou a ser gatuno a partir de 2014 quando ascendeu à uma posição de relevo no governo.
A tabela de Teo, como também pode ser chamada, tem espaços para elementos compostos, ou seja, conjunto de gatunos aglutinados em organizações económicas, sociais ou políticas que tenham mamado o tako das dívidas ocultas. Há espaço para todo tipo e feitio de gatuno cujo "valor atómico" ainda não é conhecido. Tal como o Gálio e o Germánio (elementos químicos cujas propriedades foram descobertas mais tarde), o "Nuy" e demais larápios também serão descobertos na devida oportunidade.
A tabela de Nhangumele já existia mesmo antes da chegada da Kroll e antes da encriptação da Buchili. A tabela de Teo é antiga, só que não sabíamos. Devíamos decretar o próximo ano - 2020 - como o Ano Nhangumele, em homenagem à sua generosa e patriótica contribuição para a nomenclatura do nosso tabuleiro de gatunos de estimação e para a nossa estupidificação colectiva. Que o ministro da ciência e tecnologia fique atento a essas invenções! Que a Pê-Gê-Ere ajude a preencher as lacunas da tabela deste grande cientista! Cada ciência tem o seu começo.
- Co'licença!
A sensação que tenho é de que já estou a chegar ao fim. Perdi o entusiasmo. O engajamento às causas da música. Amiúde tenho colocado o telefone no silêncio, para que ninguém me perturbe, na dor de velejar por dentro de um território imaginário que criei e fortifico todos os dias. Acumulam-se as chamadas e as sms, e só ao fim do dia é que as cedo, para logo a seguir voltar ao mutismo, depois de ver os noticiários na TV. Mas isso contraria o ritmo dos meus tempos de juventude, altura em que passava a vida com o ouvido colado ao celular, e os dedos nas pequenas teclas, escrevendo mensagens de paródia.
Geralmente durmo sozinho, e não pode ser verdade se eu disser que sou feliz assim. O que me safa é que o sono não demora, mesmo que eu queira ouvir, durante alguns instantes – depois de desligar o aparelho e deixar a luz ténue do candeeiro dissimulado na mesinha de cabeceira - a música serena da noite, antes de entrar em black out, e deixar que alma se aparte do corpo para as suas viagens de levitação.
Sou um homem solitário. Pior do que isso, já não consigo fazer parte das multidões em épocas de folia. Sofro de parafobia. É por isso que estou constantemente a remar numa nau que nunca sai do lugar, ou melhor, que corre o risco de ser levada cascata abaixo, e partir-se toda no rochego, antes de atingir a almofada das águas, que depois irão prosseguir no seu curso com o meu corpo flutuando. Despedaçado. E eu tenho medo disso.
Na verdade, esta relutância em sair e andar por aí, na esperança de encontrar alguém para um dedo de conversa, só pode signicar que estou a ser devastado. Já não sou eu por inteiro. Dentro de mim só ficaram as sobras da euforia. Até a minha laringe, enrouquecida pelo blues desregrado, tecido nos delírios da canabis e da sura, está a definhar. Recusa-se a cantar, mesmo por debaixo do choveiro, onde me entrego todo os dias, nas manhãs, à liberdade dos solvejos.
A minha guitarra jaz num dos cantos do quarto, desafinada. Empoeirada. Tento abraça-la para reforçar a nossa cumplicidade, e ela repele-me. Tento outra vez... nada! E já não me resta outra coisa senão resignar-me. Sem poder cantar, sem poder dedilhar nas cordas que conhecem muito bem as emoções dos meus sentidos mais profundos. Quer dizer, fui despromovido, de andarilho inundado de claves, para uma bóia apagada. Incapaz de dar direcção aos barcos à vela, que um a um, estão se esbatendo dentro de mim.
Mas o que aumenta mesmo as minhas dores, é perceber que afinal o cesto das intermináveis colheitas a minha mercê, esteve sempre furado desde o começo. Não amealhei nada. Ou melhor, as poucas coisas que tenho, juntei-as por coincidência, num ciclo de vida por demais desorientado. E hoje, nem livros – também cheios de poeira como eu própio - consigo ler. Nem nada. Sou o último passageiro na viagem das hienas, que não sabe bem aonde vai descer. E mesmo que eu soubesse, não posso falar porque todas as minhas palavras estão amordaçadas. Os braços – dilacerados pela luta vã na conquista do amor - são incapazes de gesticular. As pálpebras mantêm-se inamovíveis, deixando livres os olhos que entretanto não vêm nada. Daí que só me resta continuar neste dique falso, que daqui a pouco será varrido... juntamente comigo.
Na senda das recentes eleições dei por mim a pensar no que um amigo sindicalista disse-me uma vez – e passam anos - sobre a maldade da democracia. A tal malvadez era a própria democracia traduzida na alternância governativa, sobretudo, a decorrente da limitação de mandatos.
“O meu antigo chefe é uma vítima da democracia”. Com estas palavras e enquanto indicava para mim o seu antigo chefe, o meu amigo sindicalista dava por concluída a narração do historial da exemplar governação do seu ex-superior que se viu na contingência estatutária de abandonar o cargo depois de cumprir o limite de dois mandatos.
“Um bom chefe e o melhor que a instituição conheceu, mas, infelizmente, a democracia impediu a sua continuidade”. Foram as outras palavras do meu amigo sindicalista e ditas com profunda e dolorosa amargura. Para ele a democracia devia ser como no futebol: em equipa que ganha não se mexe (e nem se põe à prova).
Este episódio veio-me à memória à corrente das reflexões corriqueiras atinentes às últimas eleições, notadamente os seus contornos a ponto dos mesmos terem ditado - eventualmente - a goleada infringida pela Frelimo aos seus opositores. Em resultado desse desfecho, tenho ouvido - amiúde e com algum desassossego - que o país devia abandonar a democracia pluralista e voltar à democracia de partido único e terceiro-mundista das pós-independências.
Sendo assim – face aos resultados retumbantes e aos subsequentes prognósticos do “back to the past” - quem seria(m) a(s) vítima(s) da democracia? A oposição que não se impôs? Os eleitores (que votaram na oposição e/ou que não tenham ido às urnas)?O Ocidente (os patronos da democracia)? Ou os vencedores das eleições (os candidatos e os respectivos votantes)?
Procurei pelo meu amigo sindicalista (hoje um devoto democrata) que para o caso em apreço disse bem alto e em bom-tom: “Os vencedores é que são as vítimas da democracia”. Em defesa da sua posição argumentou que uma equipa que sempre ganha cansa. E por perto - não alheio à conversa - um outro amigo e das hostes dos vencedores, questiona: “Cansa ou dança?” E o primeiro – com uma dose de sarcasmo - retruca: “Um dia desses, dança!”
E cá entre nós - a fechar - e bem na pele das metamorfoses democráticas do amigo sindicalista: o ser ou não ser uma “vítima da democracia” é uma questão que retumba a um dilema shakespeariano. Ademais e à luz das adaptações “workshopistas” do Doutor Fofa (um militante e consultor-turbo dos meandros da sociedade civil): dançar ou indagar, eis a questão.
A vidraça cristalina permitia descobri-la a partir do lugar onde me encontrava sentado, também alguns subsídios luminosos na ordem de uns tantos luxes faziam com que ela cintilasse.
O seu brilho foi o grande chamamento, despertou-me, fui arrebatado pela beleza que ela emanava, venci a timidez que me era característica e pedi para que o servente a chamasse.
A vontade de tê-la por perto medrava a medida que ela se aproximava acompanhada pelo servente.
Quando chegou olhei-a mumificado, sem saber o que dizer, ela trajava uma saia branca com fundo vermelho e adornos dourados e na parte superior tinha um véu branco que lhe cobria o rosto. Exalava uma beleza peculiar que a distinguia das demais.
A apreciação unilateral durou o tempo suficiente de perceber que ela era humilde e este sentimento conferiu-me a ousadia de descobrir-lhe o semblante.
Beleza sublime que me convocou para um êxtase sem igual, divaguei perdidamente por um mundo onírico onde ela era a minha princesa.
Era de origem belga e estava em Moçambique há pouco tempo e já tinha um grandíssimo grupo de admiradores e pretendentes.
A cara dela não me era estranha já a tinha visto amiúde em muitos lugares da cidade de Maputo, sempre impondo seu charme em cada lugar que habitava.
Não demorei a confirmar que eu era seu novo apaixonado e que lhe seria eternamente fiel, pisquei-lhe o olho e ela continuou serena.
Senti que uma tácita relação de intimidade surgira entre nós, segurei-a com a mão direita senti a frescura do seu corpo serpenteando o meu ser, fiquei domado pela sua sumptuosidade. Prontos ela acabava que me possuir sem dizer uma única palavra.
Era a primeira vez que eu me enamorava por uma estrangeira, fora sempre fiel às cá da terra, mas esta forasteira usurpava minha alma.
Depois de confirmada à vontade mútua de nos possuirmos, levei-a aos meus lábios e beijei-a profusamente, toda a minha paixão ficou selada naquele acto. A continuidade amorosa ia-se cimentando com beijo atrás de beijo.
A música que se fazia ouvir metamorfoseou-se com a minha embriagues e solícito levei-a a pista, evoluímos na dança, sempre a segurando firme com a mão direita por vezes a beijava e experimentava uma nova frescura dos seus lábios, e assim ia sucando a essência áqueo do seu magnifico ser.
Voltamos à mesa e as diligências para nos conhecermos melhor aumentava, eu com o meu olhar usurpador e ela ali sempre fresca para mim.
Os meus comparsas de paródia que estavam nas proximidades acompanhadas de duas nativas falavam animados. O ruído das suas gargalhadas por vezes roubava o conluio que se operava entre eu e ela.
Quando me levantei para ir aos lavabos tropecei e logo os meus companheiros anularam a queda.
- Temos que ir embora – conferiram quando se aperceberam da minha embriaguez.
- Não, preciso ficar com ela – disse convicto.
Quando voltei dos lavabos ziguezagueando eles ficaram convencidos que precisavam de me acompanhar à casa.
Ainda vociferei para desencoraja-los, mas eles não se deixaram intimidar, ampararam-me lado a lado e forçaram-me a sair.
Mas antes de abandonar o local gritei:
- Amo-te Stella.
A relutância do Governo com o anúncio do início do pagamento de parte da dívida aos credores da Ematum (cerca de 40 milhões de USD), e contra um veredicto do Conselho Constitucional, é sintoma de que há ainda muitos detalhes perniciosos e ocultados nesta trama do calote. Não há explicação plausível e convincente que justifique o pagamento desta dívida, sobretudo agora que, com o julgamento de Jean Boustani em Brooklyn, avultam evidências de que o Credit Suisse (CS) teve um papel fulcral nas omissões que nortearam a aquisição por parte de credores americanos das Ematum-Bonds.
O mesmo papel de omissão atribuído ao Ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, ao não revelar a esses credores e ao FMI a existência dos empréstimos da MAM e da Prondicus também foi jogado, perversamente, pelo Credit Suisse. Ou seja, o Credit Suisse está mergulhado no calote até ao pescoço, como boa parte da nossa classe política. O CS é um dos primeiros responsáveis pela transferência de parte significativa do PIB moçambicano para os bandidos da Privinvest, encabeçados por Iskandar Safa e Jean Boustani.
E ao invés de declarar que este processo de endividamento foi odioso e, portanto, não há espaço para pagar nada até que sejam apuradas, em sede judicial, as evidentes responsabilidades do CS, o Governo, aconselhado pela Lazard Fréres (financial consulting), optou pelo pagamento sob a alegação de que isso vai restituir a Moçambique alguma confiança nos mercados financeiros internacionais. Uma falácia! Nosso país vai continuar em “default” em relação às dívidas da Ematum e da Proindicus (faltando pouco para que o VTB russo também considere o mesmo no que toca à divida da MAM).
E a relutância mantém-se, não se sabe por ordens de quem. Analistas de diversos quadrantes em Maputo consideram que o Governo devia era imitar a Malásia, que passou por um calote idêntico, aqui envolvendo o banco Goldman Sachs, num valor acima de 7 bilhões de USD, dívida contratada pelo fundo 1 Malaysia Development Berhad (1MDB), com recurso a obrigações do Estado malaio. O montante acabou todo parando num esquema de lavagem de dinheiro. A Malásia considerou que o Goldman Sachs tinha sua quota de responsabilidade no calote e processou o banco. O escândalo corre há vários meses.
No início, o Goldman Sachs ainda tentou isentar-se de responsabilidades. Mas a Malásia bateu-se de forma intransigente. Como consequência, na semana passada, o banco americano ofereceu 2 bilhões de USD para terminar o imbróglio. A Malásia recusou: quer todos o 7 bilhões. Essa intransigência da Malásia contra a corrupção e a improbidade da banca global em conluio com políticos e tecnocratas locais (todos processados judicialmente) está, isso sim, a devolver à Malásia alguma credibilidade internacional.
A pergunta que não quer calar é: porquê Maputo não aprende com Kuala Lumpur?
Nessa altura, Maputo era a minha fortaleza (entre 2000 e 2007). E eu vivia intensamente esse tempo, sem saber que daqui a pouco iria ser levado por outros ventos. Na verdade eu já trazia muitos retalhos, que até hoje não consegui recozê-los para reestruturar a minha espinha dorsal, que entretanto está a vacilar. Eram as noites que me fascinavam, debaixo do néon, e o iluminar psicadélico dos clubes nocturnos, onde passei muitas fatias da minha vida. Entregando-me por inteiro.
Também andei por aí, na gandaia dos livros, misturando-me com os poetas sempre prontos a oferecerm-me palavras que me aquecem até hoje. E eu não me canso de usá-las para me sentir livre. Faço isso amiúde, sobretudo quando a angústia me fustiga. Aliás ainda ontem servi-me de um desses versos para enviar uma sms a uma mulher que nunca mais chega, e eu permaneço nesta longa espera, não me aguarde, basta que penses em mim. É esta poesia que disfarsa as minhas dores.
Em Maputo, como já disse, eu deixava-me conquistar pelas noites. Embrenhava-me nelas a procura de refúgio, e uma das grutas a que sempre recorri, é o Cinema Gil Vicente, ali em frente ao Jardim Tunduro, na Avenida Samora Machel. Lembro de um dia em que o Dua apareceu naquele lugar e cantou a música do Wilson Paulo, o filho do blues man João Paulo, e o título desse tema é, Ainda és meu irmão.
Dá-me a mão
Dá-me um abraço
Dá um passo
Faz um laço
Ainda és meu irmão
Poxa! Senti o corpo todo cedendo, como se logo a seguir as nuvens fossem abrir-se para dar espaço ao sol. Até porque foi isso mesmo que aconteceu. A sala toda ficou em silêncio, ouvindo o Dua. E eu fazia parte desse silêncio, sentado à mesa do João Paulo, o JP, mesmo em frente ao palco, sem me preocupar com o tempo.
É confortável estar ao lado do João Paulo, que bebe jack daniels honey, para catalizar a voz. Uma voz por demais rouca. Bela. Única. Inexistente em Maputo. Ele acaricia o meu braço e diz assim, este gajo canta muito bem, pa! Referia-se ao Dua. Eu disse assim para o JP, vocês os dois cantam muito, caramba! Bebeu num trago mais um duplo e disse-me assim, vai-te lixar!
Esses pedaços da vida ficaram-me na memória, de um tempo em que os meus passos eram uma verdadeira anarquia. A bebida era o meu capuz, para fechar a vergonha de urinar na alma das acácias e fingir que não me importo com nada, quando no fundo doía-me as entranhas. Mas hoje estou aqui, gozando com tudo isso. Inventado um novo futuro que me mata de ansiedade.
Sou um sobrivente desse cataclismo, por isso passo a vida a rir-me do meu passado, e faço um esforço tremendo para me lembrar apenas das coisas mais bonitas que eu passei, como esta de estar na mesa do João Paulo, no Cinema Gil Vicente, ouvindo Ainda és meu irmão, na voz do Dua. Que é uma verdadeira catarse.