Buda pôs de castigo dois Monges que haviam cometido uma infracção. O castigo era que os dois Monges fizessem ioga durante todo o dia. Passadas algumas horas de meditação, os dois Monges tiveram vontade de fumar. Decidiram, então, pedir o consentimento do Buda que estava num cantinho do templo fumando o seu cachimbo de bamboo.
Decidiram ir um de cada vez. O primeiro chegou ao Buda e disse: Buda, posso meditar enquanto fumo um cigarro? A resposta foi negativa. Então, foi o segundo e disse: Buda, posso fumar um cigarro enquanto medito? O Buda disse que sim e ofereceu-lhe um dos seus cigarros.
Vendo a sorte do seu colega, o Monge que não foi autorizado a fumar foi ao Buda reclamar do seu azar. Foi daí que o Buda disse: cada pergunta tem a resposta que merece. Fumar enquanto medita é diferente de meditar enquanto fuma, assim como José Maria é diferente de Maria José.
Isto vem a propósito do comunicado do Comando Geral da Polícia em relação ao envolvimento dos seus Agentes no assassinato do respeitado Anastácio Matavele, Delegado do FONGA e Coordenador da SALA DA PAZ na província de Gaza, ocorrido na passada segunda-feira. Na verdade, o comunicado não está claro se o envolvimento dos quatro Agentes da Polícia foi um mero acaso ou foi um trabalho de rotina normal. Ou seja, não ficou claro se aquela emboscada era uma bolada dos Agentes ou era uma missão de serviço normal. Isto é, ainda não percebemos se matar pessoas inocentes é um "part-taimi" dos Agentes ou é o seu trabalho diário normal. Para ser mais directo, os assassinos são Agentes da Polícia ou os Agentes da Polícia são assassinos?
Parece complicado, mas não é. Uma coisa é descobrir que os assassinos do professor Matavele são Agentes da Polícia da República de Moçambique e outra, bem diferente, é revelar que, afinal de contas, os Agentes da Polícia da República de Moçambique são assassinos. Uma coisa é um Agente meter-se no crime por mero circunstancialismo da circunstância ou mero acidente e outra é um assassino meter-se na corporação policial de forma profissional, reconhecida pelo Estado e disfarçado em Agente.
Fiz-me entender? Um assassino que é Agente e um Agente que é assassino não é a mesma coisa. Um assassino Polícia é muito diferente de um Polícia assassino. Uma coisa é um Polícia ser contratado para ser assassino e outra, bem diferente, é um assassino ser contratado para ser Polícia. Assassinos na corporação e corporação de assassinos são coisas bem diferentes.
Faltou este esclarecimento no comunicado. Não ficou claro. Aguardemos que o Comandante em Chefe faça esta 'esclaração'.
- Co'licença!
- Não levas o guarda-chuva?
- Para quê!
Lá fora já se começam a ouvir as primeiras notas daquilo que daqui a pouco pode vir a ser o descer da música da chuva. Há um prenúncio. De longe os trovões ribombam, lembrando enormes tambores metálicos vazios rolando por sobre o asfalto, empurrados pelos operários exaltados por Samora Machel.
- Viva a classe operário-camponesa!
- Vivaaaaaaaa!
Os relâmpagos são o sinal do maestro, e logo a seguir entra em acção a orquestra. Sustentada nos trovões. É bela esta canção. Indepedentemente da tragédia que pode vir depois de todas as claves. Mas enquanto não vem o dilúvio, deixem-me dançar por dentro este rugido de Deus.
O céu está negro. Enclausurado em si mesmo. De quando em quando rasgado em longas fendas pelos raios que depois caem por entre os coqueiros que também dançam como eu, no palco do vento, sem perceberem que toda aquela exuberância pode vir cá abaixo, em derrocada. Eu também, posso sucumbir aqui mesmo. Como todos aqueles que não obedeceram ao Noa. Mas eu quero sair.
- Amor, leva o guarda-chuva!
Sou relutante. Já aconteceram muitas vezes estes sinais, em dias sem memória, e nenhuma gota de chuva caíu. Hoje também pode-se repetir isso. E seria uma grande maçada andar com esse acessório num dia sem chuva. Posso parecer um maluco. Não, eu não levo o guarda-chuva. Não vai chover!
Por causa da baixa temperatura (22 graus de máxima e 15 de mínima em Inhambane), visto uma gabardina de ganga, forrada por dentro. Na cabeça trago um chapéu, não propriamente à Tomaz Salomão, mas provavelmente à Pablo Neruda, ou à um italiano qualquer da máfia siciliana. Meus pés estão enfiados confortavelmente em duas sapatilhas de marca, que ainda matêm o ritmo. Tudo isso adquirido nas xicalamidade, e a sensação que tenho, vestido assim, é de leveza.
Dou um beijo à minha companheira, que traz um guarda-chuva na mão, insistIndo, e eu volto a recusar amavelmente.
- Não se preocupe, amor, não vai chover.
Voltei a beijá-la, e desta vez não resisti ao impulso de abraçá-la profundamente. Ela também abraçou-me profundamente, no mesmo instante em que trovejava fortemente, agora muito perto de nós, por cima da nossa casa. Senti o amor verdadeiro que vem da parte dela. Dado a um sabujo que sou, que não aceita o protector que vem do carinho de uma mulher mansa.
Largo suavemente o corpo quente de uma criatura cândida, e sinto que ela deseja ainda manter-me no seus braços. Mas eu tenho que ir. Saio sem olhar uma única vez para trás. Meto as mãos nos bolsos do casaco e recebo em retorno uma imensa paz de espírito. Caminho despreocupado. Nem os relâmpagos, nem os trovões me impedem de andar. Livre. Nem o céu negro, que não me assusta, mesmo sabendo que posso ser executado pelo mínimo sopro.
Passo pela licheira da Mafurreira e vejo um homem na gandaia, também desinteressado como eu. Quer lá saber dos relâmpagos e dos trovões! Mesmo que chova, qual é o problema? Deixa chover. A chuva não vem de Deus? E eu, não venho de Deus? Então, eu e a chuva somos irmãos do mesmo sangue. Vamos nos abraçar.
Não passam cinco minutos desde que saí de casa e lá está a descarga. Forte. O céu negro liberta em catadupa todo aquele vapor cumulado. Sou apanhado em cheio. Nem para trás, nem para frente. E em menos de trinta segundos já estou ensopado. Danado. E não me resta mais nada senão voltar para casa, onde a minha mulher, vendo-me entrar no quintal como um pintainho por demais molhado, vem a correr ao meu encontro, sem o guarda-chuva. Abraçou-me, ali mesmo, debaixo das fortes bátegas, e disse-me assim, és maluco, meu amor!
Se o mais velho Anastácio Matavele foi considerado "persona non grata" pelo sistema a ponto de ser mapeado e fuzilado em plena luz do dia, imagina, então, malta nós. Quem conheceu o Matavele sabe do que falo: um homem de discurso pacífico, moderado e reconciliador; um homem moderado e humilde. Na verdade, uma das pessoas mais coerentes e coerentes que conheci durante este tempo todo que estou na SALA DA PAZ.
Se uma pessoa assim está na lista negra do sistema, então, em que lista estou eu com meus bradas malta Mutoua, Zefanias, Ferreira, Quitéria, Frei Manhiça, etecetera?! Em que lista está a SALA DA PAZ toda?! É que o cota Matavele era a pessoa que conseguia baixar os nossos ânimos. Que conseguia nos lembrar que estávamos na SALA DA PAZ.
Então, não seria melhor o sistema enviar-nos cartas de pré-aviso do nosso assassinato?! Não seria melhor o sistema enviar-nos em carta fechada os itinerários das nossas mortes uns dias antes?! Para facilitar o trabalho, não seria melhor o sistema lançar uma bomba atómica para o local onde vamos reunir na próxima sessão da SALA DA PAZ?! Para não morrermos espalhados pelas ruas, não seria melhor o sistema mandar fazer sobremesas de pudins fosfóricos e todos darmos os nossos últimos suspiros no "cofi-brequi" de uma sessão?!
Está mais do que claro que em Moçambique, hoje em dia, já não é mais Deus que manda nos nossos destinos. É o sistema. Já não podemos mais dizer "seja feita a vontade de Deus!" porque Deus já tem um gabinete sucursal aqui na banda que é gerido pelo sistema - o Governo. Agora é o sistema que traça os nossos destinos. Agora, é só esperarmos ansiosamente pelo itinerário das nossas mortes sentados. Seja feita a vontade do sistema! Tudo depende do sistema. Mas se depender de nós, o sistema pode cair.
- Co'licença!
O assassinato Anastácio Matavele, em Gaza, é se calhar o indicador mais tenebroso de que a Frelimo ainda se retroalimenta numa narrativa de intolerância política, e, como controla o aparato securitário, num certo banditismo de Estado. As pedradas e pauladas com que militantes impunes da Frelimo se fazem a opositores desarmados em Gaza e por aí além podem não ser o corolário de uma cartilha centralmente redigida, mas o silêncio da cúpula ao mais alto nível, incluindo o silêncio do seu Director de Campanha, o Ministro Celso Correia, mostra que há um certo grau de anuência tácita que protege assassinos a soldo em nome da sua perpetuação no poder.
Uma cumplicidade atroz! E assim a Frelimo se mostra alinhada na barbárie.
Anastácio Matavele era um senhor activo na sociedade civil em Gaza, um veterano do Fórum Local de ONGs. Apesar de controverso às vezes, nomeadamente nas guerrinhas de “posicionamentos” das ONGs em temas diversos como nos debates recorrentes sobre o “combate à pobreza a la PARPA II”, Matavele era no fim do dia um homem coerente e focado na sua luta. Seu lugar era o da sociedade civil, a partir donde fazia uma “oposição” não partidária ao Governo, com centro na capital do Frelimistão, Xai-Xai. Era um homem incómodo para quem governasse uma província considerada lugar de passeata.
A presença de Matavele como coordenador da Sala da Paz, representando o conglomerado de ONGs que fazem a monitoria eleitoral, assustou os mais indefectíveis cultores de uma Gaza onde a oposição não tem espaço. Com Matavele (a Sala da Paz, o CIP e outros actores) a observação eleitoral estava a ser incisiva, com toda a sujeira das pedradas e pauladas e o tom sanguinário da campanha da Frelimo contra a oposição vindo ao de cima.
Ele foi assassinado por 4 homens armados até aos dentes. Os relatos apontam que dois morreram logo a seguir; o carro do assalto se despistou. Os outros dois deviam ser os derradeiros confessos autores de um crime político que mais uma vez vai ficar impune. Sua confissão, como sempre, não vai acontecer. Como em Cistak, os esquadrões da morte são instrumentos de um Estado penetrado pelo crime organizado. E por isso, todos os operacionais que actuam nesse expediente macabro gozam da vil protecção desse banditismo de Estado que nos Governa. Na ressaca de 27 anos de uma paz indizível, a política em Moçambique ainda derrama sangue para vingar!
Quatro Pontos de Ordem
Aqui escolho olhar para campanha eleitoral moçambicana, mais uma vez, como dialética, como debate, como troca, como fluidez, como um momento não exclusivo dos partidos, como um momento não adquirido dos partidos, mas como um momento do povo, dos vários seguimentos da nossa sociedade, onde juntos na diversidade, se diga o que se almeja e o que se espera para o próximo mandato, que mais uma vez irá impactar e imperar nas nossas vidas.
Tendo passado os meus últimos dezanove anos dentro da academia moçambicana, a saber: Universidade Pedagógica - Delegação de Nampula, Universidade Pedagógica Delegação de Quelimane[2], e outras fora do país, como estudante, depois como 'docente', assim por diante, e agora de forma feliz como estudante, irei com este manifesto com base nesta pequena experiência, e com base num viés naive, começar por esta área.
Meus senhores[3], Daviz Simango, Filipe Nyusi, Mário Muquissinse e Ussufo Momade e demais partidos, prestem atenção:
Estudante Sem Bolsa Familiar
Em Moçambique não existe esta coisa que muitas tratam como se de lepra e doença contagiosa se tratasse, ou seja, quando procuras saber, as testas das pessoas mudam de formato, olham para ti como se fosses uma extraterrestre e estivesses a falar de coisas de outro mundo, como se tu já estivesses no futuro e nas entrelinhas te dizem, ‘não'.
Pois é, num país assimétrico nas questðes de paridade quantitativa entre mulheres e homens, num país desigual e sem equidade de género, num país past and copy das questões de género e feminismo, num país carente uma uma abordagem e prática '‘local’' das questões de ser mulher e ser homem, num país de calças versus capulanas[4], num país de DHABUNO MUTHABWA[5], ou seja, ' vocês mulheres agora estão a piorar (quando estas ficam fartas de estar na condição do silêncio), num país onde as narrativas ' formais ' falam de políticas de género, falam de fosso entre as calças e as capulanas perante os níveis de Mestrado e Doutoramento. Neste país, existe uma prática tóxica e nociva para aquelas mulheres que depois de venceram as barreiras de ordem estrutural e social, são confrontadas com um Estado, com uma instituição pública, que concede como bolsa para tu e tua '‘família’ irem estudar fora, se for para Europa (aqui o nosso Estado entende Europa como sendo um único país, ou seja, não importa o país, o valor é o mesmo), um valor mensal de 769 euros, ou seja, ao câmbio de dia 67,2 (compra) e 68,54 (venda), seriam 52.707,26 mt[6].
Para o contexto moçambicano este valor é muito, ou seja, 52.707,26 mt, para os contextos onde se a pessoa estuda fora de Moçambique este valor é aquele cinto super apertado, ora vejamos, para pagares as tuas contas básicas, que naturalmente 'mamam' a bolsa toda, isto é, para pagares a renda da casa, a água, a luz, o gás e a internet, tens que ir ao ATM e levantar o valor para poderes pagar.
Levantas o valor com o teu cartão multibanco da tua conta moçambicana, ou seja, cartão moçambicano, assim como a conta moçambicana, aqui fora não tem expressão, olha que em termos estéticos são cartões idênticos, (Millennium BIM ou Millenium BCP ou BCI ou BPI ). O que significa isto para o bolso do estudante bolseiro que recebe a bolsa em Metical, pois é, em Metical para pagar contas em Euro?
Não sei em que ano e em que contexto esta tabela de bolsas de estudo foi definida, mas ela não tem mais a cara e o rosto para o século XXI, ou seja, se a bolsa individual o estudante vive stressado (stress negativo), pelo facto do valor apertar e bem a sua cintura e cinto, como acham que fazem os estudantes que ousam em estar fora do país com as famílias, geralmente com menores?
Quando falas e negoceias a bolsa familiar na instituição, olham como se de um capricho se tratasse, porque tal Fulano e tal Fulana, já passaram por isso, ou seja, já sofreram, porque 'ela/e(s)' não pode(m) sofrer, ou melhor, '‘no nosso tempo nós sofremos, porque eles não podem sofrer’'. E mais estudar dentro ou fora de país tratasse de opção, ora vejamos;
Quando a pessoa termina os estudos, dentro ou fora do país, engrossa os dados estatísticos de Moçambique, isso se não tiveres a sorte de aparecer um Boisse (Chefe), que vai te dizer o seguinte, ‘você só estudou graças ao partido’, nas entrelinhas você pensa ‘possas, este tipo está a dizer o que’.
Sobre este assunto, senhores candidatos e partidos, vamos parar de ter pesos e medidas, ou seja;
Que tal, senhores candidatos e partidos, lutarem e lutarmos para:
Pensão de Sobrevivência
Pensão de Sobrevivência na função pública perante o cenário onde o funcionário tenha perdido a vida, os menores só terão direito, caso o falecido tenha descontando 5 anos, não tendo descontando cinco anos, os seus dependentes não tê direito. Porque gostamos de complicar? Acham mesmo que o falecido escolheu a morte? Acham que ele devia ter dito a morte para esperar nove meses ou um ano de um mês para ele completar os cinco anos de desconto? Acham que os menores merecem não ter apoio do Estado na ausência do seu progenitor?
Senhores candidatos e partidos, porque não dar o direito automático a Pensão de Sobrevivência a quem de direito, ou seja, a partir do Visto do Tribunal Administrativo, visto que a pessoa não escolhe morrer e muito menos quando de uma morte precoce se trata. Stélio Gadaga, esta é a pensar em ti, para que a Alicia, Tessália, e mais crianças, possam ter a Pensão de Sobrevivência até aos 18 anos.
Academia without the box
Prezados candidatos, vamos nos próximos cinco anos, e assim por diante pensar e sonhar com uma academia moçambicana emancipada. Como se faz isso?
Com base na libertação das mesmas das entranhas políticos partidários. As academias são instituições ‘autônomas’, como fica esta autonomia sem liberdade?
Uma academia que toma as decisões a pensar no seu colectivo, nos seus órgãos colegiais, na comunidade universitária, uma academia naturalmente aberta para o debate de ideias, onde todos cabem nela, com ou sem cores. Uma academia de portas abertas para a política, para os partidos políticos e para os políticos, caso estes queiram vir debater com ela. Que o capital político não venha dar ordens, não venha mandar, não venha dizer em que deve e o que não deve estar no debate académico, mas que venha na condição de participante. Uma academia onde o reitor saiba que as decisões por ele tomadas devem refletir o colectivo não o individualismo.
Senhores candidatos, para tal o capital político precisa primeiro libertar-se da academia, para depois poder libertar ou ajudar a academia a liberta-se. A voz político partidária não pode ser o status quo na academia, o status quo na academia deve ser a liberdade e autonomia.
O académico não pode sentir medo, o académico deve sim ter respeito, chega a ser deprimente e surreal quando chegamos ao nível tão baixo onde o académico, pensa que a solução para seus problemas e vergar-se ao som e as batidas do partido. Não pode ser normal no seio académico a venda de consciência por um cargo e depois colocar-se numa posição onde de forma recorrente será recordado o seguinte que depois o partido vai dizer você ‘cuidado com tua boca’, a boca não é para ser controlada na academia, na academia a boca é para liberta-se e se possível para cantar ao ritmo das demandas da sociedade.
Os académicos que quiserem fazer a vida política, que estão na vida política, que o façam, mas que não caiam na política por desespero, a nossa política não pode ser um bastião de desesperados. A nossa política deve ser um lugar de salutar e com pessoas e visões progressistas, pessoas de qualidade. Mas não caiam na política por acharem que a política é a escada, não façam isso, isso é deprimente, academia deve significar liberté, a verdadeira emancipação quotidiana.
Caros candidatos, o que podem fazer como estadistas, e os partidos que são influentes na assembleia da república é políticas públicas (não como um favor) bem robustas e estruturais no que toca a política de ensino, pesquisa, publicação e extensão, antes de nos internacionalizarmos, vamos organizar bem a casa. Sem deixar de lado a formação de quadros, se queremos no ensino superior o nível de Mestrado e Doutoramento como requisito para lecionar, que o façamos a pensar em mulheres e homens, como bolsas familiares.
O que também podem fazer é incentivar que a nossa academia pense no lugar na cultura dentro dela. Para que possamos ter uma academia glocal, onde o saber local é valorizado, mas, que ela não deixe de comunicar com o saber global.
Política como Ética
Prezados candidatos e distintos partidos, a sociedade precisa acreditar na política e nos políticos. Para tal, vós tereis que trabalhar para existência de partidos com narrativas frescas e refrescantes, com narrativas progressistas, com estórias e história sim, como referências, mas não como dogma, partido que não deia ordens na academia, partido que não deia ordens no povo, mas sim uma relação social entre ambos, com respeito no lugar do medo e silêncio. Partidos naturalmente tolerantes.
Uma política que usa com peúgas e botas, e não uma política que usa as botas e depois procura pelas peúgas. Como seguimento social precisamos muito da política, assim como o político precisa deste seguimento, ou seja, são os dois lados da mesma moeda. Isto é, não só precisamos do político, como também precisamos do cidadão, da cidadania, da liberdade, e de todo aquele que se prestar ao serviço da política que o faça sobre um juramento ético e não materialista, empatia, alteridade e tolerância. O político não pode ser o status quo da sociedade, status quo é o cidadão, o povo, as mulheres, os homens, o político vem ao reboque destes e muito bem-disposto a servi-los. Os benefícios devem estar mais próximo possível do povo e não o inverso.
Bilhete Jovem (até aos 25 anos)
Nos pouquíssimos dias que faltam de campanha, vamos juntos pensar num Moçambique melhor para os adolescentes e jovens. Por exemplo, Podemos começar pelo bilhete jovem. Quer seja por via aérea, via terrestre, dentro e fora da província. Não falo de promoções, mas sim de uma prática com um grupo de políticas pro-jovens.
Prezados candidatos presidenciáveis, Daviz Simango, Filipe Nyusi, Mário Muquissinse e Ussufo Momade, e demais partidos extra-parlamentares, os manifestos eleitorais, a campanha, os candidatos, os partidos precisam aprender a Pensar Moçambique como prioridade, como status quo, como pilar, antes e depois das cores, ou seja, Pensar Moçambique without the box.
Homo oeconomicus e Homo politicus
Prezados Candidatos
A radiogradia actual moçambicana não deve ser percebida e analisada fora do ethos comportamental e percepcional do povo. Ou melhor,
As massas funcionam como um barómetro relevante nas questões de governamentabilidade.
O novo por excelência nas memórias colectivas causa estranheza, resistência, e pode causar falta de percepção, mas precisamos entender e aceitar esta nova forma de ser e estar em Moçambique, ou melhor, precisamos perceber este Moçambique pluridimensional, rico pela diversidade e não pelo consenso.
Penso como a actual conjuntura social, económica, política, ou se aceitarem homo oeconomicus e homo politicus, (re)socializaram ou mudaram o ethos do cidadão moçambicano. O desafio reside na maneira como o homo politicus reage a esta mudança e social change (culture change).
O questionar o binómio homo oeconomicus e homo politicus pelas moçambicanas e pelos moçambicanos, fazem parte de uma evolução social, histórica, política, ideologia e cultural normal na actual conjuntura do país.
Em nome do povo precisamos agir de forma cristalina e nobre, pois o povo merece, não só pela bio-política e pelo bio-poder, mas porque sem o povo não seremos nada
Por uma Posição (nós) e Oposição (outros) Tolerantes
Prezados candidatos, vamos fazer um pequeno exercício
Em política e na política, existem duas figuras o Eu (nós) e o Outro (eles), ambos com uma comunicação, com um comportamento, com uma tradição, com uma 'disciplina', com uma cultura do eu perante o outro, alicerçada na percepção do outro como diferente. Procede? Sim. Deveria? Não.
Pois, o eu na teoria, na sociedade, na política, no governo, deveria ter uma obrigação moral com o outro e o outro deveria ter a mesma obrigação com o eu ( Martha Nussbaum). Mas a prática social e cultural entre e o eu e o outro no lugar de ser eu-outro, persiste em ser eu e outro.
O eu e o outro pressupõem uma comunicação ética e empática, enquanto categorias das nossas relações inter-grupais, pois só somos eu e eles porque existe uma relação com o outro, mas, o que acontece quando:
Mas, em política é importante perceber que o lugar do eu e do outro não são tácitos, o eu de hoje pode fluir para o outro e o outro pode fluir para o eu.
A origem do totalitarismo numa sociedade pode estar associado ao emergir de uma política no seio de uma pequena elite, à uma forma de degradação dos direitos dos cidadãos e ao emergir de uma forma de governação associada a uma ideologia de medo, de terror e de silêncio. Direitos humanos, direito a ter direito, liberdade para ser e estar na sociedade e a liberdade de expressão são alguns dos cavalos-de-batalha num cenário de crise de valores e cidadania (Hannah Arendt,).
Sem deixar de lado the psychology of dictatorship, (Fathali M. Moghadam), chama a atenção para esta forma de psicologia com a qual podemos conviver sem ganharmos consciência da mesma, pois, os comportamentos, as atitudes e as práticas que emergem no seio da política e da sociedade em momento de crise e de social change, são responsáveis pelas reacçðes das elites políticas às mudanças e às pressões.
Pode a Posição (nós) e e Oposição (outros) estabelecer uma relação inter-grupal nos diferentes partidos, no parlamento e no governo, baseada num continnuum?
Chamo aqui atenção para a Psicologia do Silêncio instaurada no seio da nossa sociedade. Se falas, és do contra, se falas, és da oposição, se pensas diferente, não és patriota, não és nacionalista, e as redes sociais aparecem neste contexto como uma contra-cultura onde as pessoas encontraram uma fuga ou um espaço de liberdade. Pois, para a Psicologia, é importante que as pessoas tenham um espaço para falar, para serem livres, mesmo que seja no espelho da casa de banho, ainda que este seja aquele espaço único onde podes dar um grito de liberdade.
Que realmente possamos ter um verdadeiro governo inclusivo e sem cores, onde o que deve contar não são as ideologias, mas sim a taxonomia de Bloom, ou seja, saber ser, saber estar e saber fazer com pilares na nossa plural cultura e nossa elástica moçambicanidade.
E mais, não tenham medo de trabalhar com 'vosso inimigo', visto que o importante é o encontro de ideias que ele tem para desenvolver Moçambique, a tal 'construção do consenso'.
[1]O Engraxanço e o Culambismo Português in http://www.citador.pt/textos/o-engraxanco-e-o-culambismo-portugues-miguel-esteves-cardoso
[2] Falar destas duas casas é nostálgico
[3] Infelizmente aqui não há como escrever 'Senhoras e Senhores'
[4] Género, Poder e Gestão do Ensino Superior: os gestores usam calças (masculinidade) e as gestoras usam capulanas (feminidade), 2013.
[5]DHABUNO MUTHABWA: (re)definindo o papel das mulheres no campo político
“As donas da Zambézia, as donas da campanha, as donas das eleições! E donas do pós-15 de Outubro?”
[6] https://ind.millenniumbim.co.mz/pt/Paginas/homepage.aspx