Os Estados Unidos da América investem forte no basquetebol. O bio-tipo dos seus cidadãos, a tradição da bola-ao-cesto, enraizada nos bairros e escolas, garantem-lhes superioridade no Mundo da modalidade. Em África, um bom exemplo é o da Etiópia, que graças à altitude, clima e hábitos centenários, domina as provas de meio-fundo e fundo. Situações análogas permitem ao Japão brilhar no ténis de mesa, Austrália no râguebi, Rússia nos saltos e lançamentos.
O futebol, actualmente, não entra na lista das opções, uma vez que o pontapé-na-bola já “contagiou” o mundo inteiro. Por exemplo: a qualificação a um CAN, mexe mais com os moçambicanos, do que um quarto lugar no Mundial de hóquei em patins!
Estamos a falar de competição, pois desporto de lazer para distrair e melhorar a saúde, está inteiramente ao critério de cada grupo ou cidadão.
Refira-se que o talento dos moçambicanos no desporto, não veio com a declaração da Independência. Antes, éramos o primeiro mercado dos grandes clubes da então metrópole, em várias modalidades. Nomes como Eusébio, Coluna, Matateu, Hilário e muitos outros, figuram nos anais da FIFA, como dos melhores futebolistas mundiais de sempre. Mas não nos ficávamos por aí. No atletismo, tínhamos José Magalhães, que chegou a ser o maior velocista hibérico (Portugal e Espanha), mais os campeões mundiais de hóquei em patins, estrelas lusas em basquetebol e noutras modalidades.
TALENTOS DIVINOS
NÃO NOS DEVEM DISTRAIR
Dos principais erros no pós-Independência, claramente se destacam três: venda da maioria dos recintos desportivos, ocupação dos espaços livres pelos “dumba-nengues” e proibição dos craques poderem demonstrar as suas qualidades além-fronteiras.
Importa salientar que o surgimento de “talentos-divinos”, de geração espontânea como Mutola, Reinildo ou as meninas do boxe, devem ser acarinhados. Porém, isso não nos deve distrair daquele que deverá ser o foco principal: a definição das apostas pelo Estado, no que toca ao investimento nas modalidades prioritárias.
Pois a realidade é esta: se os mais ricos definem apostas e prioridades, após estudos científicos e concretos de algumas realidades atrás citadas, porque é que nós não apontamos – após estudos realistas – em desportos e actividades que nos permitam ser campeões regularmente, ao invés de estarmos à espera dos “talentos-divinos”, que aparecem por geração espontânea?
No último dia que vi Matangalane Boby, personagem de proveniência cabo-verdiana, segundo se dizia por aqui, senti algo que me levou a pensar na iminência do fim de um homem. Parecia um leão exausto pela velhice, incapaz das proezas do tempo em que vibrava na cidade de Inhambane como um verdadeiro felino sem medo de nada, pronto a dormir ao relento nas noites à mercê do frio e dos mosquitos. Poucos podem se gabar de alguma vez o terem ouvido vocalizar seja o que for, e naquelas condições, no fim da jornada, suportando o corpo sobre o braço direito e cabeça pendente, deitado no passeio do lado de trás do mercado central, era mais improvável ainda que o ouvíssemos falar.
Matangalane parece um defunto que entretanto não pode ser sepultado porque os olhos ainda são vitais, brilham como nas noites de caçadas em que os animais ficam paralizados no mato perante o foco das gambiarras. Mais do que isso, ele parece sensurar com o silêncio aos que por ali passam precrutando-o de soslaio. A sua altivez mantem-se, mesmo assim, como se ainda pudesse arrastar-se por uma cidade que jamais lhe deu valor, porém Matangalane está no fim, não pode fazer nada a não ser esperar pelo último suspiro.
Lembro-me perfeitamente do último dia em que vi uma figura que não será propriamente de um demente, ele estava noutras órbitas. Até porque chegou a engravidar uma mulher que vivia também na rua, e as autoridades da saúde tiveram que interromper a gravidez para prevenir algo imprevisível. Então impediram ao Matangalane o direito de ser pai, o sangue dele pode ter desaparecido para sempre.
Mas é o último dia que me vai ficar profundamente na parede da memória. Uma força puxou-me àquele lugar sem saber que seria para me despedir de alguém com quem nunca falara antes, jamais ouvira sua voz. Na verdade durante o escasso tempo que deu para nos olharmos olhos nos olhos, senti uma convulção no espírito, apesar disso tornei-me incapaz de arvorar palavra, dizer algo. Parecia um leão velho. Derrotado pelo tempo.
Matangalane Boby ressurge-me na memória em novos tempos de uma cidade completamente descaracterizada, cada vez com menos pessoas de proa, Matangalane esteve sempre na proa sem que se importasse com o lugar que ocupava. Foi sepultado sem flores no túmulo, sem canções da bíblia como se não fosse filho do Altíssimo. Mas estou aqui hoje para lembrar um homem cuja dignidade foi vituperada pelos humanos. Se calhar serão essas as palavras que lhe quis dizer naquele último encontro e não consegui. Por incompetência.
“Sem muito rigor técnico, o “Debate Eleitoral” promovido pelo Grupo SOICO, através da STV, STV Notícias e STV Play, a ter de se classificar os seus intervenientes, em primeiro lugar estaria Augusto Banzo do MDM, seguido de Eunice Andrade da ND, em terceiro lugar Armindo Chembane da ASTIMO e, no último lugar, Venâncio Mondlane da Renamo. Note que Venâncio Mondlane não conseguiu, nos dois momentos, esgotar o seu raciocínio e, na minha opinião, o cronómetro e a natureza das perguntas não lhe foram favoráveis. Para todos, há muito TPC por fazer”
AB
A televisão privada do grupo SOICO organizou e difundiu para o mundo o que se chama de “Debate Eleitoral”. Na minha opinião, foi uma oportunidade para os cabeças-de-lista fazerem-se conhecer ao grande público e à Cidade de Maputo, em particular. Com este programa, o grupo SOICO mostrou, claramente, estar atento à agenda nacional e, mais do que isso, mostrou que é possível trazer, de forma atempada, as ideias dos partidos políticos sobre a governação autárquica.
O moderador esteve à altura, o sistema de contagem de tempo mostrou, de forma objectiva, que é possível fazer-se um trabalho sério sem recurso à “batota”, embora alguns dos representantes dos partidos políticos se tenham mostrado um pouco desconfortados com o sistema, habituados a falar de forma interminável. Mais uma vez, o grupo SOICO mostrou que, para o debate público, com vários intervenientes, é importante o controlo do tempo de forma a não praticar “injustiça” contra alguns e “favorecer” outros. Neste particular, devo manifestar a minha gratidão ao grupo SOICO e seus colaboradores que estão atentos à vida nacional.
Eu acompanhei o programa através da STV Generalista e quando passou para a STV Notícias e STV Play não mais acompanhei, devido à necessidade que tenho de descansar um pouco mais cedo. Contudo, até onde assisti, notei o à-vontade do cabeça-de-Lista do MDM, Augusto Banzo. Na sua primeira intervenção, facilitou o moderador, elencando exclusivamente as três grandes prioridades que nortearão a sua governação, caso ganhe as Autárquicas. Já não se pode dizer o mesmo em relação ao cabeça-de-lista da Renamo, Venâncio Mondlane, que, mostrando o domínio de alguns problemas de Maputo, não estava preparado para o tipo de perguntas do jornalista. Na sua primeira intervenção, divagou sobre a actual Gestão Municipal e, diga-se, não era a pergunta do jornalista.
A representante da ND, Eunice Andrade, também se mostrou à altura das perguntas e respondeu em tempo útil, tendo poupado alguns segundos que não chegou a usá-los. Já Armindo Chembane, cabeça-de-lista da ASTIMO, mostrou que a actividade informal tem futuro e o futuro reside na evolução do comércio informal na perspectiva de formalização, contudo, a formalização que se pretende nada tem que ver com a governação actual. Foi interessante ouvir este membro da Sociedade Civil, vindo do negócio informal, a falar com a eloquência com que o fez, mostrando, de forma clara e objectiva que se pode buscar a solução do mercado informal nos seus actores.
Na abordagem feita pelos cabeças-de-lista do MDM, Renamo, ND e ASTIMO, se fosse a avaliar, daria como nota mais alta ao representante do MDM, de seguida à representante da ND e da ASTIMO e, finalmente, com o valor mais baixo o representante da Renamo. Devo ressalvar aqui e agora que o representante da Renamo pode ter sido traído por dois aspectos essenciais: primeiro, excesso de confiança e, segundo, a natureza das perguntas e o tempo cronometrado. Entretanto, de acordo com o grupo SOICO, haverá muito mais!
Adelino Buque
Razaque Manhique tem o direito de não comparecer aos debates televisivos mas também tem a obrigação moral de dizer o que pensa. Trump gazetou o primeiro debate para a nomeação republicana nos EUA e anunciou que não vai participar no segundo debate, agendado para 27 de Setembro em Simi Valley, na Califórnia.
Mas nesse dia, ele estará em Detroit cortejando os membros do sindicato United Auto Union, em greve, e em horário nobre ele vai continuar a mostrar, falando para a TV, que o candidato republicano é ele, e não os seus pares que estão debatendo também TV. Ele não debate, mas fala e diz o que pensa.
A directoria de campanha da Frelimo tem de pôr o Manhique a falar, nem que seja por teleponto. Não falar é um erro crasso. O eleitorado de Maputo já é demasiado adulto para votar nesse silêncio só por uma questão de manutenção do status quo!
Em tempos frequentei a área de lobby (uma maneira chique de dizer “bar”) de uma unidade hoteleira da praça laurentina (também uma maneira chique para dizer “praça maputense) e apercebi-me, através do barman, de que o bar fora tomado por uma certa etnia/tribo que “derrubara” uma anterior, incluindo a língua de comunicação do bar. Coisas do “Agora é a nossa vez”.
E por falar no “Agora é a nossa vez”, enquanto conceito sobre a emergência de uma nova ordem, acho de que ele não derruba ou toma tudo do que existia. É o caso do sobrenome das famílias. Há famílias que podem até perder o poder do dia ou financeiro, mas nunca o sobrenome que as identificam, incluindo até, e sobretudo, certas características ou qualidades como as de uma família tradicional ou chique.
Sobre isto lembro-me de uma novela brasileira em que uma família despencou financeiramente, mas fazia questão de manter a pose e a áurea identitária de ser uma família tradicional ∕clássica, a que domina a arte da fala, da cortesia e das boas maneiras.
Estou a falar disto a propósito de uma recente conferência de imprensa da empresa Tmcel onde ela, praticamente, anunciou que estava de volta ao mercado. Um mercado que já fora a área de lobby sob seu total e completo domínio, em concreto das duas extintas empresas que a geraram: as defuntas Mcel e TDM.
Este final de semana voltei a unidade hoteleira citada acima, talvez por conta da notícia da empresa Tmcel que me animara bastante. Estava curioso em saber se a onda da retoma chegara também a área de lobby do hotel. Perante a minha curiosidade, o barman perguntou-me se já se haviam realizado as eleições locais e nacionais. Trocamos sorrisos.
“Deixe o seu número e ligo logo que se registarem mudanças”. Prontamente acedi e deixei o meu 82 com o barman. Este, depois de apontar, com ar estupefacto, o número no seu dispositivo, remata: “82, o sobrenome chique das telecomunicações em Moçambique”.
Nando Menete publica às segundas-feiras.
“População jovem cresce rápido e analfabeta, tendo passado de 5.3 milhões para 9.4 milhões entre 1997 e 2017. Trata-se de pessoas entre os 15 e 35 anos de idade e as províncias de Nampula e Zambézia são as que contribuem com maior natalidade e, no sentido oposto, encontram-se Niassa e Província de Maputo”.
Fonte: Carta de Moçambique, estudo do INE – Instituto Nacional de Estatística
“O estudo publicado pelo INE – Instituto Nacional de Estatística, sendo oportuno, revela o quanto não se tem pensado no país real, hoje. Moçambique importa desde a caixilharia para os imoveis, mobiliário de casa e de escritório, produtos de origem agrícola, carteiras para os estudantes, num país com potencialidades agrícolas de invejar, com a silvicultura e florestas nativas para a produção de madeira a dar com o “pau”. Ainda que houvesse formação profissional massiva, quem seria o comprador dessa produção dos jovens, se tudo importamos sem nos preocuparmos com a produção nacional. Importamos até roupa interior usada! Meu Deus, Moçambique precisa de ultrapassar certas atitudes e pensar no bem-estar do seu povo, em especial para a Juventude”.
AB
O estudo publicado, recentemente, pelo INE – Instituto Nacional de Estatística é bastante assustador. Avisa que, nos últimos 20 anos, a população jovem moçambicana cresceu na ordem de 4.1 milhões de pessoas, saindo de 5.3 milhões em 1997 para 9.4 milhões em 2017. Trata-se de jovens com idade entre 15 a 35 anos e, destes números, 9.4 milhões de jovens, 5 milhões são mulheres, ou seja, a população feminina continua a crescer de forma desproporcional em relação à masculina. O estudo indica que as províncias com maior fertilidade são as de Nampula e Zambézia e, de seguida, alerta:
“Esta situação sugere que existe um contingente de jovens com potencial, que não tem sido aproveitado através de investimentos na sua educação, formação e enquadramento profissional. Dado que uma parte considerável dos jovens são pouco educados, não estão envolvidos em nenhum tipo de formação profissional e nem enquadrados em nenhum sector produtivo da sociedade, estes têm o potencial elevado para se tornar numa fonte de instabilidade social”.
Estudo do INE. Publicado no Jornal electrónico “Carta de Moçambique”
Segundo o mesmo estudo, as províncias de Maputo e Niassa são menos férteis em termos de crescimento da Juventude, passaram de 200 mil em 1997 para 600 mil em 2017. Ora, os números, embora não se comparem com as províncias de Nampula e Zambézia, em termos quantitativos, são, na minha opinião, bastante elevados quando comparados com os investimentos necessários nas áreas de Educação no geral e na formação profissional em particular. Mas se os números são assustadores, a realidade é pior ainda porque, em abono da verdade, o inquérito refere-se a 2017, sendo que passam cinco anos e a realidade piorou. Espero estar errado.
Por outro lado, os dados aqui publicados pelo INE vêm mostrar que as escolas de formação profissional existentes em Moçambique, sobretudo, as tuteladas pela Secretaria de Estado da Juventude e Emprego, não têm estado à altura da demanda juvenil. Mostram ainda que o ingresso a essas formações constitui um grande privilégio aos beneficiários, sendo urgente a mudança desse estado de coisas. Este estudo foi feito em 2017, sendo que passam cinco anos e não me parece que tenha mudado muita coisa no terreno. Ou seja, não me parece que o estudo tenha colocado à reflexão o sector de educação e formação profissional, pois, deveria ter melhorado alguma coisa.
É urgente a massificação da formação profissional, mas, acima de tudo, é urgente a mudança do nosso mercado de economia, que privilegia muita importação de bens que podem ser produzidos localmente. Por exemplo, importamos carteiras, num país produtor de madeira, as caixilharias para a construção civil, hoje, são predominantemente importadas, as mobílias de casa e de escritórios são importadas e, diga-se, com belos acabamentos, mas de consistência duvidosa. Trata-se de mercadorias que poderiam ser produzidas em Moçambique.
Ainda que se abram muitas escolas de formação profissional para as pessoas cursarem, se não puderem produzir para abastecer o mercado, o paradigma não irá mudar. A importação de bens agrícolas, da vizinha África do Sul, é também exemplo de que, mesmo formando técnicos agrícolas em quantidade, se a concorrência continuar desleal com a importação de bens do vizinho, essa gente ficará sem trabalho.
O anúncio do estudo é oportuno, mas as coisas não podem ser vistas na perspectiva de educação e formação profissional apenas, a análise deve ser vista na perspectiva de mudança do nosso paradigma económico, o que deve vir de fora e o que devemos produzir internamente. Muito recentemente, por ocasião da CASP – Conferência Anual do Sector Privado, o lema foi sobre a Industrialização, mas foi uma corrente de lamentações, com destaque para a Indústria Gráfica, em que o livro é importado com isenção e a matéria-prima para alimentar a indústria gráfica local tem impostos a pagar. É urgente pensar-se na economia como um todo, incluindo o processamento de parte das commodities produzidas na agricultura, na indústria extractiva e outros sectores da economia.
Adelino Buque