O Carlos Nazareth Ribeiro que morreu nesta semana era um homem interventivo na sociedade e para isso ele usava sua amizade com jornalistas. Era daqueles seres inconformados, vivia no antípodas do fingimento cúmplice com o status quo. Carlos Cardoso era o jornalista a quem ele mais recorria. Ribeiro frequentava a redacção vezes sem conta ao fim do dia. Para deixar uma cacha. Ele era uma fonte fiel de informação. Cardoso era um cultor de fontes e em Ribeiro ele buscava clareza sobre suas dúvidas relativas à vida comercial de Maputo, as vicissitudes da burocracia estatal, incluindo a tributária. Ribeiro estava sempre solícito do outro lado da linha. Durante anos, ele geriu a Interfranca, quando o centro era o ícone da moda e afins em Maputo. Era um homem de referência.
E com reverência. Discretamente. Era um animal político. Quem lhe seguiu no Facebook mais recentemente deve ter percebido desse seu voluntarismo para o exercício da cidadania. Crítico. Mas um crítico que era anti panfletário, sagaz e mordaz, que apreciava o comentário político e a linguagem viperina do Carlos Cardoso. Houve entre ambos uma cumplicidade urdida na vontade da participação cívica quando o advento da democracia e das autarquias locais bateu as portas e emergiu entre muitos o entusiasmo e a crença de que era possível melhorar a gestão da cidade de Maputo no contexto de um laxismo generalizado e uma gestão caótica da terra urbana.
O JPC, um grupo de cidadãos que se mobilizou e conseguiu formar bancada na Assembleia Municipal de Maputo, gozando da inesgotável energia do Editor bateu se por uma agenda de transparência mas foi vencido pela ortodoxia da Frelimo. Cardoso, Ribeiro e companhia defendiam que a terra urbana podia ser uma fonte de receitas para a edilidade sem se abdicar do pressuposto Constitucional da propriedade estatal. Cardoso era contra a negociata milionária da terra, sobretudo nas barreiras e toda a faixa da Marginal.A terra é do Estado mas era vendida milionariamente para bolsos privados. Uma grande aberração. Carlos Ribeiro participou desses momentos de discussão efervescente sobre a vida da cidade de Maputo, tentando melhorar coisas como a gestão dos mercados e suas receitas, assim como a interacção com um galopante sector informal. Ribeiro foi um cidadão pleno. Eu venero a importância que ele depositava no jornalismo como uma ferramenta de mudança social. Sua cumplicidade com o Carlos Cardoso dá disso conta, sem batota.
O assassinato do jornalista foi uma crueldade sem paralelo. Ribeiro partiu há dias. Eu creio que ele deve ter se encontrado já com o Editor em qualquer reencarnação. Sua primeira novidade será revelar ao Cardoso do unanimismo que se apoderou da sua Frelimo. Pois, a Frelimo do Cardoso. O grupo virou de massa pensante para massa dançante. Quem escreveu que a razão era o que era e a emoção negra...
Um grande abraço Carlos Ribeiro
Marcelo Mosse
Cartamz.com
Dia 4 de Outubro corrente, celebramos o que chamamos de Dia da Paz. É e será sempre um dia especial para os moçambicanos. O dia em que pusemos formalmente fim a hostilidades militares entre nós. É o dia do Acordo Geral da Paz assinado em 1992. Faltou, nesses entendimentos, a componente “e reconciliação”, que só veio a ser acrescentada anos mais tarde. Provavelmente, por não termos acrescentado, logo no começo, esta componente fundamental na vida humana, a reconciliação, é que depois fomos o que Teodato Hunguana chama de “país de acordos”! É que já vão… quatro - Acordo Geral de Paz, Acordo de Cessação das Hostilidades, Acordo de Paz Definitiva e Acordo de Paz e Reconciliação Nacional de Maputo…
Ouvimos, como não deixaria de ser, uma procissão interminável de todo o tipo de discursos, intervenções e ou comunicações, a começar com a comunicação do chefe do Estado na Praça dos Heróis. Foi muito bom ouvir todas aquelas mensagens bastante apelativas - mau grado, não terem deixado, como se queixa ele, o presidente do MDM discursar na cerimónia, ou terem alegadamente invadido o seu espaço no local onde decorria a cerimônia: quem ganha com questiúnculas destas justamente num dia que reputamos de paz, sagrado?
Todos os discursos convergindo na pregação da e pela paz, enfatizando que precisamos da paz como do ar para respirarmos, vivermos. Ouvimos muito bem de todos os grandes actores da nossa sociedade que é imperioso regar a paz todos os dias com temperos tipo tolerância, inclusão, aceitação do outro, respeito pelas liberdades fundamentais; precisamos cultivar uma convivência social sã e justa. Outrossim, ouvimos não poucos discursos denunciando, em tom grave, factores que perigam (ou que podem perigar) a paz, os aspectos que devem ser bem acautelados para que tenhamos uma sociedade sadia, justa e harmônica.
Falaram autoridades políticas de toda a jaez - autoridades políticas, autoridades religiosas e figuras de proa da nossa sociedade. Não apenas nas cerimónias havidas à extensão do país, mas em entrevistas a vários órgãos de comunicação social - foi tanto palavreado no jornal, tanto, tanto! Falaram e disseram: paz, paz e paz!
Afinal, sabemos bem o que devemos fazer para preservar a paz! Sabemos muito bem. Então, por quê não fazemos? Por quê não preservamos? Por quê a perdemos e tivemos que assinar mais do que um acordo?
É que, terminados e arrumados os discursos para só voltarem a ser retirados e relidos no próximo 4 de Outubro, voltamos ao nosso dia a dia, ao nosso modus vivendi. E o nosso dia-a-dia é aquela realidade que todos nós conhecemos e muito bem: uma sociedade ainda não inclusiva, uma sociedade ainda discriminatória, uma sociedade ainda não muito democrática, uma sociedade ainda não muito tolerante. Sabemos das queixas sobre a não inclusão, discriminação e intolerância. E ficamos à espera do outro dia da paz e reconciliação… para voltarmos a apresentar as mesmas mensagens!
Olhando à nossa volta, que acções concretas fazemos para verdadeiramente promovermos a paz e reconciliação? Temos algum plano ou estratégia de reconciliação nacional? Fazemos? Fazemos o suficiente? Se fizéssemos o suficiente, não teríamos reclamações de exclusão, de intolerância ou de atitudes antidemocráticas!
É algo hipócrita gritar “paz, paz, paz” e o que deve ser feito para sua preservação e, logo a seguir, voltar às mesmas atitudes e práticas nocivas que atentam contra uma convivência sadia!
ME Mabunda
A ideia inicial era levar as pessoas ao estravazamento das emoções. Havia uma necessidade urgente de valorizar, não só um lugar histórico-cultural como é a Praia do Tofo, por tudo que representa no tecido social dos manhambanas, mas era importante dar oportunidade à gente daqui, ansiosa de se juntar e festejar a sua terra ao som da música ao vivo, em grandes espectáculos. Isso conseguiu-se ao longo de várias edições que, mesmo assim, podem não ter deixado boas recordações.
Qualquer festival tem como base fundamental - para que ele triunfe - a organização meticulosa, criando condições no sentido de os utentes do mesmo sintirem-se confortáveis e seguros. E nos eventos passados pode ter havido falhas que precisam ser corrijidas, se o objectivo é estarmos em patamares de referência, não só a nível da cidade e do País inteiro, mas sobretudo ao nível do Mundo, onde o Festival do Tofo já é por demais mencionado e esperado todos os anos.
Há várias perguntas que se podem colocar, se quisermos qualidade, e se também cobiçarmos ser uma boa referência para o turismo em Inhambane: como é que estamos a nível dos acessos ao local onde o grande palco vai ser montado? Como é que é feito o controlo das pessoas no recinto do show de modo a que haja segurança? Mas mais do que estes aspectos, é necessário pensar nas crianças que provavelmente não terão idade de serem admitidas num evento desta magnitude que se prolonga noite a dentro até madrugada, ou mesmo até ao raiar do sol.
Até que ponto estão protegidas estas crianças? Quem as controla? É muito preocupante ainda ao chegarmos à conclusão de que as bebidas alcoólica são um grande mal para esta faixa etária, e já em estado de embriaguês, o descontrolo é total de tal forma que vai facilita a acção dos oportunistas, que podem abusar dessas mesmas crianças. Então, precisamos agir urgentemente em defesa dos nossos meninos e meninos, colocando restrições rígidas.
Infelizmente há pessoas que já não vão ao Festival do Tofo, por má memória. É por isso que nesta edição, tudo deverá ser feito para que se melhore a questão de segurança nos pontos cruciais, a partir do cruzamento de Babalaza, para que todos se sintam bem e com vontade – depois de tudo terminar – de voltar na próxima edição.
Inhambane é esse pedaço de terra peculiar. Um alfobre inesgotável, que acolheu ao longo do tempo, figuras inexcedíveis, as quais funcionaram, e outras ainda funcionam, como fundamentos de uma cidade elegida para ser pacata. São esses actores que o Festival do Tofo, nesta edição - segundio informações que temos - quer resgatar e homenagear em público, para que a história não se esqueça deles. São nomes fortes, inculcados em pessoas humildes e lúcidas, e outras, como Matangalane Boby, Bernabé, Bernardo Wonani, Fernando Guipatwane, que poderáo ter sido tratados como dementes. Mas se calhar nós é que não entediamos a grandeza da sua loucura. E ainda bem que o Festibval do Tofo vai nos trazer essas memórias.
Pretende-se com tudo isto, transformar o Festival do Tofo em verdadeiro escaparate, onde os amantes da literartura e das artes plásticas, terão um espaço e um tempo para as lucubrações e vivências de autores daqui desta terra. Porém, Inhambane não é uma terra fechada, ela escancara-se para o mundo através de uma culinária particular, a ser exibida através de mãos esmeradas de mulheres bitongas.
É isto e muito mais, que se propõe, levando a que o Festival do Tofo vá para além da música. Bem hajam os organizadores.
“A minha primeira constatação, naquilo que o MIC – Ministério da Indústria e Comércio pretende ao baixar a margem de lucro nos produtos da primeira necessidade, é a adição de Cimento e Chapas de Zinco, mas o mais estranho é que o Cimento e Chapas de Zinco entram no grupo de produtos perecíveis em termos de margens máximas, o que, na minha opinião, constitui uma aberração e um autêntico absurdo comparar as margens do Tomate e Cebola com as margens de Zinco e Cimento. Mas vamos olhar para a pretensão do Governo no seu todo”
AB
No Decreto 56/2011 de 04 de Novembro, que fixa as margens máximas na Comercialização de produtos básicos, com vista a proteger o consumidor, o Governo de Moçambique socorre-se da alínea f) do nº 1 do artigo 204 da Constituição da República e elenca como sendo produtos básicos os seguintes: frango congelado, peixe cavala, sardinha e carapau, feijão comum, arroz, farinha de milho, farinha de trigo, óleo alimentar, açúcar, tomate, cebola, batata e ovos.
Destes produtos, no frango congelado, peixe carapau, cavala e sardinha e ovos, a margem do grossista é de 12% e do retalhista 25%. Na Batata, cebola e tomate a margem é de 10% para o grossista e 25% para o retalhista e os restantes variam de 10% para o grossista e 20% para o retalhista. Digamos que este é o quadro jurídico actual que o Governo de Moçambique pretende ver revisto por baixo, com a introdução de Cimento e Chapas de Zinco que, como faço um reparo acima, apesar de serem produtos industrializados, que não perdem peso e nem diminuem de tamanho, as suas margens estão no grupo de perecíveis!
Fazendo fé ao que escreve a “Carta de Moçambique”, na edição de 30 de Setembro de 2022, com o título “Governo pretende reduzir as margens de Lucro nos produtos de primeira necessidade” sendo de 01 a 08 que compreende Frango, peixe, feijão comum, arroz, farinha de milho, de trigo, óleo alimentar e açúcar, baixa de 12 e 10% no grossista para 5% e ao retalhista 20 a 25% para 10% e os restantes, incluindo cimento e chapas de zinco baixam de 10% para 8% no grossista e de 25% para 12% no retalhista.
Aqui, na minha modesta opinião, um dos graves erros que se comete, se quisermos assim classificar, é estabelecer a igualdade entre as margens de produtos biologicamente vivos, que é o caso de Tomate, Cebola e Batata, com produtos industrializados e que, por conseguinte, não sofrem alterações ao longo do tempo, sendo que o máximo que pode acontecer é o tempo de vida determinado pelo fabricante. No caso de Cimento, penso que este erro deveria ser revisto imediatamente e não merece sequer debate, porque não merecido!
O outro aspecto interessante é o seguinte: a Batata, Cebola e Tomate sujeitam-se, ao longo do tempo, à perda de peso por desidratação e também se sujeitam à revisão de escolha devido à probabilidade de apodrecimento. Equivale dizer que, se tu compras 2 kg de tomate hoje, amanhã, esse peso pode baixar para 1,90kg e depois de amanhã muito menos ainda devido à hipotética existência de algum produto tocado e sujeito à selecção. Ora, uma margem de 8% num produto perecível é um autêntico absurdo.
No caso de tomate, batata e cebola, seria importante determinar-se o tempo de vida dos produtos, em seguida, ver o grau de perda de peso por produto e, com base nisso, considerar, antes da margem de lucro, a margem de quebras por produto que, na minha opinião, pode ultrapassar os 8% que o Governo pretende atribuir como margem máxima. De seguida, olhar para a margem de lucro subtraída à margem de quebra, no caso de tomate, ao retalhista, não pode estar abaixo de 40%, sendo na Batata e Cebola aceitável ao retalhista 20 a 25%.
Repare caro amigo que, ao estabelecer as margens que sugere, o nosso Governo parece legislar para o mercado informal, um mercado que não possui despesas fixas resultante dos colaboradores, conservação, renda e outras obrigações fiscais e taxas municipais! Seria possível, ao nosso Governo, discriminar a margem máxima de lucro por obrigações particulares?! Se fizer esse exercício e sair-se bem, daria os meus parabéns!
O que estou a dizer é o seguinte: pegar nos 5% da margem máxima do grossista e dizer assim, 0,5% para os colaboradores, 0,5% para as despesas com as instalações, 1,0% para a conservação, 1,0% água e energia de entre outras despesas como as taxas municipais que não são poucas e outras obrigações de Lei. Numa primeira abordagem, julgo que a revisão deste Decreto nº 56/2011 de 04 de Novembro deveria merecer maior reflexão, sobretudo, no que respeita aos produtos perecíveis e, mesmo com relação a outros produtos, porque deixar em aberto significaria, na minha opinião, deixar as forças de mercado funcionarem, ou seja, procura e oferta.
Muitas vezes, ao determinar as margens de lucro “amarra-se” o agente económico a uma estrutura de preços que não corresponde a sua real actividade. Mesmo na actividade formal, existem operadores cujas margens são baixas porque não contrata pessoas de fora, sendo negócio de família e de fácil gestão, ou seja, cada unidade económica é uma unidade económica e sem comparação.
A terminar, julgo este trabalho interessante porque eu, Adelino Buque, na qualidade de Presidente da ACM, orientei um trabalho de contestação do Decreto 56/2011 e com apoio de alguém que hoje é dirigente do Ministério da Economia e Finanças e tudo indicava que teríamos sucesso. Esta reviravolta para rever em baixa e causa-me estranheza. Vamos a tempo de rever a proposta de revisão.
Adelino Buque
O antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, desafiou Filipe Nyusi, ao empossá-lo para mais um mandato como Presidente do Partido, no último Congresso, para promover a reconciliação nacional não apenas no seio da Frelimo como também entre todos os moçambicanos. Boa coincidência esta. Nesta semana, celebramos, no dia 4 de Outubro, o que se consagrou na História Moçambicana Contemporânea como Acordo Geral de Paz. Foi nesta data que, em 1992, o Governo e a Renamo assinaram, em Roma, capital italiana, este entendimento que viria a pôr ponto final a uma guerra fratricida que Afonso Dhlakama e seus séquitos impunham aos moçambicanos faziam, então, 16 anos.
Desafio oportuno, inadiável e imperioso. Não apenas a Filipe Jacinto Nyusi, mas a todos os almoviventes desta pérola do Índico. Estão desafiados todos os membros e simpatizantes da Frelimo a se reconciliarem consigo mesmos; primordialmente, cada um deles individualmente, consigo próprio; segundo, entre eles e, terceiramente, mas não menos importante, entre eles e a sociedade moçambicana em geral, incluindo com indivíduos, formações ou institutos de ideologias ou orientações políticas diversas. O reverso também é uma imperiosidade. Os membros de outras formações e ou institutos devem promover a reconciliação intra e entre eles, mas também para com os “outros” que não fazem parte “deles”, que os excluem, mas que pertencem à mesma sociedade.
Não se está aqui a convocar uma comissão nacional de verdade e reconciliação à moda sul-africana ou outra coisa do mesmo índole. Não. Entendo que não há nenhum manual ou modelo de reconciliação a seguir… há a inclusão, a participação, o envolvimento do outro, a convivência sã e a chamada diplomacia silenciosa que faz com que o cidadão se sinta pertença de uma nação. E cada país segue (ou não) o caminho que acha melhor!
Está difícil este passo de reconciliação intra, inter e nacional. Basta ver que o antigo Presidente Armando Guebuza não fez por estar nas celebrações e empossamento de Nyusi por ocasião da sua reeleição para Presidente do Partido Frelimo e, até hoje, não consta que tenha endereçado uma mensagem de felicitações sequer.
Laivos de ausência de paz de espírito, de reconciliação, de desarmonia total, de exclusões econômicas e sociais e de violências de toda a índole são reportados em vários pontos do nosso querido Moçambique e de diferentes manifestações.
Reconciliação é grandemente enformada de paz interior, a paz de espírito, a harmonia, de inclusão e convívio social, de compaixão e de empatia. Tudo menos o que se nos tem dado a ouvir. Ultimamente, muito estranhamente, estão na moda os suicídios, expoente mais alto da ausência de paz espiritual interior! Muito temos ouvido, e bastantemente, sobre casais ou ex-casais que se tiram a vida, ou um ao outro; ou ainda, a de outros, inocentes, filhos ou enteados! Pais que matam filhos, ou filhos que matam os pais por razões que jamais serão plausíveis. Comunidades que matam e ou sepultam vivos outros seres sociais; incendeiam-lhes pneus, ou detonam-lhes inflamáveis. Tudo isto. Televisões e jornais nacionais vivem e abusam destas notícias e reportagens, semana sim, semana sim! Em todas as províncias do país!
Na arena social, vemos o que nunca ninguém esperou ver. Escaramuças dentro de igrejas! Violências, psicológica, verbal e física, dentro de um local bastante sagrado! Igreja praticando ou instigando violências contra outras igrejas e ou outros institutos sociais. No lugar de prosseguirem a sua nobilíssima vocação, a promoção da palavra de Deus, digladiam-se feroz e mortalmente! E os pequenos ecrans são onde se julga a autenticidade da palavra divina, não a mente das pessoas que frequentam a igreja!
Politicamente, também não estamos a “dormir sono”, descansados tipo khasaa!...
Está-nos difícil ultrapassar as guilhotinas impostas do e no passado. Continuamos com dificuldades de aceitar o outro, com ele viver e conviver sãmente; o nosso passado resiste tenazmente. Aceitar, promover, conviver e partilhar todas as oportunidades com o outro continua difícil! Persistimos em encarar o ‘outro’ como estando ao serviço de interesses estrangeiros e/ou estranhos a nós - e, no entanto e não raras vezes, nós mesmos estamos concatenados com institutos nacionais e estrangeiros não tão sagrados e nem dedicados a causas comuns e ou colectivos nacionais. Trinta anos depois, continuamos a ouvir que instituições hoteleiras recusam ceder instalações para que formações políticas nacionais (ainda que fossem estrangeiras) realizem suas actividades. Oportunidades de negócios conhecem cores e famílias!
Muito tristemente, e impotentes, acompanhamos as violências verbais e quase agressões físicas nas assembleias, sobretudo as provinciais e municipais. Mas também ao nível mais alto! Nalgumas municipais, por vezes, só falta pancadaria, em pleno século XXI, já que violência verbal e psicológica é o pão de cada dia.
A tudo isto pode dar-se o melhor nome que um dicionário pode consagrar, mas menos o que se designa de reconciliação, concórdia ou harmonia social, inclusão ou convivência. Precisamos de nos reconciliarmos, tratarmo-nos como verdadeiros irmãos, vizinhos, concidadãos e pertencentes a uma mesma nação e, por conseguinte, prosseguimos os mesmos objectivos e anseios. Doutro modo, jamais seremos uma nação reconciliada, harmónica e a dançar a mesma música, seja ela tocada em Nampula, Cabo Delgado, Niassa ou Inhambane ou Maputo!
A tarefa/desafio colossal que não está apenas à espera da inspiração de Filipe Jacinto Nyusi, mas de todos os moçambicanos, do Rovuma ao Maputo, confissões religiosas, formações políticas e tudo, é esta!
A promoção da reconciliação nacional, inclusão e harmonia é dever de todos nós!
ME Mabunda
Bebe-se em todo o lado, a toda a hora, por gente de todas as idades, homens e mulheres das camadas desfavorecidas. É a loucura em si que está a levar jovens e adolescentes, ao abismo sem volta. Os velhos também estão nessa senda, vergaram ante um veneno chamado xivothxongo, e já existem queixas vindas das mulheres, os homens estão a perder erecção por causa dessa porcaria. Há casos de internamentos nos hospitais, com fortes sinais de esquizofrenia, e parece não haver capacidade para travar o caos.
Muitos rostos, outrora frescos e saudáveis, hoje estão tumefatos, flagelados pelo xivithxongo. São miúdos que logo às primeiras horas da manhã, dirigem-se às barracas cheios de babalaza, com o corpo a tremer de alto a baixo, sem vontade comer. Eles pensam que, bebendo mais uma, restabelecem o metabolismo, enganam-se. Cada maldita garrafinha que consomem, é um degrau que descem para o precipício, e nunca páram de se esfrangalhar porque estão viciados, e o vício de xivothxongo é imediato.
Muitos deles não bebem água, se bebem, é muito pouco. Ignoram que a bebida seca desidracta facilmente. É por isso que, no lugar de tirarem a babalaza com muita água e chá com açúcar, tomam mais pinga para voltarem a esborrachar-se e apodrecerem pouco a pouco. Aliás, grande número de jovens e adolescentes, e velhos também que alinham com os putos, na verdade já estão obsoletos, nem força para estarem em cima de uma mulher têm.
Houve tempos em que a bebida mais consumida aqui na cidade de Inhambane, era a sura e um pouco a aguerdente de caju ou citrinos ou ainda cana-de-açucar, e os danos não eram tão fulminantes. Também havia petisco de marisco, o que contribuia para minimizar os prejuízos no corpo. Hoje, não! O que triunfa é a mixórdia do xiviothxongo, com todas as consequências nefastas que ela acarreta.
Xivithxongo é um veneno, não nos cansaremos de dizer isso, di-lo-emos até que amanheça, para ver se alguém nos ouve e toma medidas que retirem esse perigo para a saúde, dos lugares onde é vendido com o fim de destruir as pessoas. Não se difere muito de uma droga pesada do tipo heroína e outras drogas sintéticas que incluem misturas de canabis com diesel. Então, as instituições do Estado devem mover-se no sentido de proteger a juventude e os velhos que nos dão a impressão de desespero e frustração.
O piior é que as crianças entraram na carruagem, repetem o refrão dos mais velhos que sorriem com os lábios queimados. Elas – as crianças - bebem também essa poção de morte e sentem-se adultos, sem terem a noção de que estão a deslizar para o buraco onde serão recebidos por espigas de aço. As farmácias, por outro lado, estão a fazer dinheiro com a venda de estimulantes sexuais para os consumidores de xivothxongo, que estão a minguar todos os dias, mas há muitos outros que, mesmo com estimulantes, não irão fazer nada porque não se alimentam. E existem outros ainda, que pura e simplesmente abdicaram das mulheres. Mulher para eles é o xivotxongo.
Onde se bebe xivotxongo não há barulho, não há grandes vozearias como nos bares de cerveja. O silêncio é provocado pela falta de energia no corpo dilacerado diariamente, sem que o Estado faça algo para proteger as crianças e os jovens, cujo futuro parece comandado pelo xivotxongo.
**Bebida alcoólica – seca, vendida nos mercados e barracas e lojas, em pequenas garrafas de vidro ou de plástico, cuja agressividade não lembra o diabo.