Quando Mateus Magala deixou a EDM em Novembro de 2018 e regressou ao Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), onde antes fora funcionário sênior, ele foi incumbido por Akinwume Adesina, o Presidente do BAD, para reformar o banco e torná-lo mais visível, actuante e responsivo relativamente a crises, à escala global. Seu mandato era de três anos.
Regressado ao BAD, encontrou um cenário de desalinhamento interno, nomeadamente entre a Direcção Executiva e o Conselho de Administração. Magala resolveu as "makas" que lá encontro.
Sua ida ao BAD, onde assumiu as funções de Vice-Presidente para Recursos Humanos e Relações Institucinais, foi uma escolha pessoal de Adesina, uma verdadeira “head hunting”. As negociações entre Adesina e Filipe Nyusi levaram sete meses. Nyusi libertou-o devido a insistência do BAD...e consciente de que encontrar um substituto para Magala na EDM não seria fácil (e não foi; o sucessor, Aly Sicola Impinja, foi como que um tiro pela culatra).
Magala regressa a casa, mas agora com responsabilidades políticas acrescidas. Ele deverá ser testado, nomeadamente a sua capacidade de lidar com interesses políticos de acumulação na Frelimo.
No plano das comunicações, a questão da taxa de interligação na telefonia móvel, incluindo a abertura da Tmcel a privados, são dois desses assuntos que suplantam o escopo da gestão. O velho problema do “gateway” nas chamadas internacionais deve ser abordado (chamadas internacionais de Moçambique para o exterior vão primeiro para a África do Sul, que as reencaminha para o destino final; é uma questão de infraestrutura de hardware-software, que pode ser implantada internamente, reduzindo custos e protegendo a soberania).
A gestão danosa da antiga Mcel deve ser responsabilizada. Isto depende da Justiça, mas Magala pode mexer seus cordelinhos, se o deixarem. Trata-se de influenciar a Justiça para que esta siga a pista do dinheiro, onde ele foi aplicado, e ressarcir-se o Estado (ou a empresa). A actual gestao da Tmcel tem sido muito comedida a este respeito, carregando, no entanto, o fardo e as consequências da roubalheira consigo
No domínios dos transportes, Magala deverá retomar o desafio da cabotagem e da operacionalização do regulador portuário. A cabotagem morreu porque ela era insustentavel economicamente. Os barcos regressavam do centro e norte sem carga que justificasse o negócio (frete seco) num contexto em que as taxas portuárias foram pensadas para a cabotagem internacional.
A provisão e humanização dos transportes públicos terrestres é uma grande prioridade.
A navegação fluvial, como uma ferramenta para comercialização agrícola, deve ser equacionada, mas certamente a discussão do papel dos CFM, que virou uma empresa rendeira, é incontornável. A empresa deverá investir mais do que fez no recentemente inaugurado Porto Seco de Ressano Garcia, para viabilizar melhor a Linha de Ressano, preterida a favor de um forte “lobbie” de transporte rodoviário de carga, que a par da eficiência na tramitação fronteiriça, coloca pressão sobre auto-estrada N4.
Coisas como a LAM com seu descalabro, e a Aeroportos de Moçambique (com sua gestão tacanha: Mavalane não tem ar-condicionado) são aspectos de mera gestão e Magala saberá como lidar com elas. A expectativa é enorme. A ver vamos, se bem que dois anos de mandato é um horizonte temporal limitado .(M.M.)
O agravar da situação terrorista em Cabo Delgado, nomeadamente a sul de Pemba, faz crer que os chamados insurgentes tencionam atingir a capital provincial. Qualquer que seja a pretensão terrorista, o facto é que os níveis de alerta são elevados. Isso explica a presença na província da Ministra do Interior, Arsénia Massingue, e do Comandante Geral da Polícia, Bernardino Rafael, tendo visitados vários acampamentos militares e policiais, secundarizando o Ministério da Defesa, que continua ausente no plano da comunicação pública.
A tropa continua calada. E a Polícia parece ter voltado a assumir protagonismo neste domínio, embora na última aparição ela (e o seu Comandante Geral) tenha sido prontamente rechaçada pelo Presidente Filipe Nyusi.
Os níveis de alerta são altos, a crer também nas movimentações das forças castrenses nas regiões de Metuge, Ancuabe, Metore e Chiure, seguindo a indicacao de que os insurgentes estão caminhando, dispersamente, em direcção ao sul, e que podem ter, inclusive, intencoes de entrar em Pemba (ontem foram vistos em direcção a Chiure).
Ontem também, ficou claro que, apesar da tentativa de desmentidos oficiais, foram organizadas escoltas militares para proteger quem quisesse entrar ou sair de Pemba, num percurso de 50 km. Mas, apurou "Carta", localmente, as escoltas não implicavam revistas. Sem revistas, os militares podem “escoltar” também os terroristas, que têm feito incursões, em grupinhos disfarçados, em aldeias a 100 km de Pemba.
Os terroristas usam agora as armas da decapitação, da desinformação e do pânico, confundindo as populações e alimentando receios em Pemba. O cenário é o de confusão total, terreno fértil para o ISIS introduzir armas em Pemba, disfarçados de deslocados, tal como aconteceu na véspera do ataque a Palma, em Março de 2021, quando meteram armas em malas e colchões, etc.
Para controlar a desinformação, e evitar a repetição da mesma táctica de Palma, as FDS têm de deixar de fazer segredo destas movimentações e incursões terroristas em Ancuabe e explicar o que está realmente a acontecer no teatro das operações. É preciso explicar qual é a dimensão do fluxo a sul dos terroristas e o papel das forças do Ruanda e da SADC na sua contenção.
A história do caso já fazia manchetes nos jornais, rádios e televisões. Os nossos olhos e ouvidos eram inundados com informações cabeludas e nebulosas sobre o caso, embora hoje nos mostrem que estavam erradas. Portanto, como meros consumidores, mesmo sem saber de todo o enredo, a sociedade já havia julgado, condenado, acorrentado e linchado o arguido.
Na mente, todos que viam e liam aquelas tenebrosas notícias já haviam sentenciado que a mesma não teria salvação, mesmo se o anjo Arcanjo, Pedro, Gabriel, Profeta Maomé ou mesmo Jesus Cristo voltassem e interviessem, ela já estava queimada. Mas, como sempre, estas personalidades religiosas estão do lado da justiça – do lado bom da história da humanidade a versão do enredo acabou sendo outra.
O caricato é que o dono da acção penal carregava papéis de um processo que chegou ao julgamento sem a investigação aprofundada e exigida em casos do género. A mídia ia gastando papel, lábia, fotos e imagens, mas, no fim de tudo, os detalhes do caso não passavam de fofocas de esquina e mau olhar que constantemente têm abalado a nossa casa dos passaportes!
E foi o que se viu há dias numa das salas do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM) com o arranque de um dos casos que colocou o nome de Moçambique nas manchetes de diversos órgãos de comunicação social nacional e estrangeiros – até que quatro anos depois do caso chegar às salas do TJCM e um colectivo de juízes ter ouvido os argumentos da acusação, representada pela Procuradora em questão, tudo acabou ficando claro. A feijoada preparada nas cozinhas escriturárias da casa dos passaportes, lá nas bandas da Ho Chi Minh, na Cidade de Maputo, não tinha os condimentos culinários requisitados para que os críticos da culinária dissessem: estamos diante de uma boa feijoada!
Foi neste âmbito que a Juíza do processo solicitou que fossem arrolados os declarantes do caso e, chamados a depor, parte dos declarantes negou suas próprias afirmações proferidas na Procuradoria e que antes alimentaram a convicção e o dedo acusador da Procuradora, que mais do que repor a legalidade, enquanto garante da mesma, apenas investe na condenação como se fosse condição sine quo non para a promoção ou o respeito a nível daquela importante instituição – o Ministério Público!
Quando o "declarante mor" que levou o caso para o Ministério Público (MP) e este para imprensa, abriu a boca e percebeu-se logo que o mesmo tinha uma paixonite ou tusa mal resolvida talvez pela acusada. Deixou o MP com um camião enorme e sem chaves e combustível, mas repleto de produtos diversos numa zona de guerra onde todos querem algo para comer ou matar a fome!
Com uma kalashnikov nas mãos e apontada para o inimigo, mas com balas de pipoca, o MP ficou sem meios e acabou ridicularizado. Já no dia das alegações finais, a Procuradora zarpou da sala sem deixar rastros, não dando alternativas ao colectivo de juízes de uma das secções daquele Tribunal de ilibar a vítima que por quatro anos foi chicoteada e viu o seu rosto estampado em murais de jornais e tabloides como se de uma vilã se tratasse. A vítima foi violentada pela opinião pública na altura, curiosamente com o aval do representante do Estado!
Hoje, todos que acompanharam o caso aguardam que o Estado, através do MP e quem sabe do seu local de trabalho, possa emitir um pedido de desculpas públicas. Se puderem massagear as contas da pessoa e talvez ser promovida a posto que lhe mereça. Entretanto, não sei se depois dessa furada da Procuradora, ela não será colocada como servente do distrito onde ela era Digníssima Procuradora Distrital… e por azar aquém pode vir a pagar uma choruda indemnização por fazer mal o seu serviço!
“Esta é uma reflexão que deve ser feita de cabeça fria e com os pés no chão, para que seja tomada a decisão mais adequada para o nosso País”
Na tradição tsonga (não tenho como dizer bantu, as breves pesquisas que fiz não me ajudaram muito, quase nada), há uma entidade chamada nkulungwani. Alguns escrevem nkulungwane, outros nkulungwana; outros ainda sem o ‘n’ inicial, ou seja kulungwane; ou, aportuguesadamente, kulunguana!… Bom, deixemo-nos da forma e vamos ao conceito, mas eu adopto a grafia nkulungwani, que julgo ser a mais próxima da correcta na ortografia das línguas bantu!
O nosso Google também não ajudou absolutamente nada quanto à definição, seja de que natureza fosse, de nkulungwani, pelo que vou é tentar descrever esta entidade, esta manifestação cultural tsonga e depois veremos sobre a sua definição. Em cerimônias de diversa índole, de manifestação de alegria, de lobolo ou casamento, de enaltecimento de um feito de uma individualidade, ou de uma colectividade, geralmente as senhoras, ou uma senhora (os homens também emitem, mas não é muito frequente), emitem/emite um som, tipo lê-lê-lê-lê-lê-lê-lê-lê-lêêêééé…, demorando o tempo que a pessoa que emite consegue ficar sem aspirar, uma vez que ao longo do acto está a expirar. Cinco, dez a quinze segundos. A língua tem um papel muito importante, encolhe um pouco e bate em cima e em baixo da boca. Esta ‘entidade’ (o som) pode ser emitida no meio de uma intervenção de um dos participantes, ou no fim dela; pode também ser emitida no meio de uma canção, ou no fim dela. Pode ser emitida por uma pessoa, geralmente senhora, mas pode ser também por várias, em sincronia, ou em sequência. Não há rigor nisso. É um acto que confere mais profundidade à tal manifestação, à tal celebração. De tal sorte que se nela (a cerimônia) não houve , afere-se que não houve profundidade, faltou um sentir profundo, interno, genuíno.
Geralmente, “bate-se” minkulungwani (no Xi-Changana, é assim como se diz: ku ba minkulungwani) - num bom português, diríamos que ‘emite-se’, ‘enuncia-se’, ‘entoa-se’, ‘pronúncia-se’, ‘faz-se’, ou ‘canta-se’ nkulungwani, em ocasiões de alegria, de muita satisfação. Mas há quem afirme que em ocasiões de tristezas, também, se ‘canta’/‘bate’ nkulungwani! Como disse e repito, é um acto que confere muita profundidade a uma cerimónia. Expressa um sentimento profundo, muito interior, seja de alegria, seja de tristeza, para com determinada ocorrência, acto ou comportamento.
Isto dito, vamos à razão deste intróito. Um amigo desafiou-me a dar um ‘nome’ genérico às crónicas que tenho escrito e publicado todas as semanas. Meti-me no exercício. Não foi fácil encontrar um título que me agradasse. Ainda não encontrei. A reflexão até trouxe à memória, da qual nunca se ausentou, com efeito, o Canto do Amor Natural, título de poema e de livro de um dos nossos grandes poetas, o Kalungano, ou Marcelino dos Santos. Ainda pensei em puxar para o genérico esta extraordinária, belíssima formulação de Marcelino dos Santos, até como forma de o evocar e fazer lembrá-lo como um dos nossos grandes patrimônios cultural e social.
Não me fiquei pelo título de Kalungano mais porque ele celebra, canta, enaltece o seu “amor natural”, o seu afecto genuíno, interior, profundo ao seu/nosso Moçambique. ‘Bate’ nkulungwani de alegria, de amor, de fraternidade, de paz à sua pátria, à sua nação. Enquanto eu quero, também, ‘bater’ nkulungwani - e tenho batido - sobre ocorrências de tristezas que igualmente fazem parte do nosso quotidiano, exactamente como o tenho feito em cada texto. Não faz bem à consciência ficar pelos nkulungwanis/elogios de… amor, de alegria, do faz de conta.
E, assim, vou continuar a ‘bater’ nkulungwani ao nosso dia-a-dia, seja para com ocorrências de alegria, de paz, de amor e fraternidade; e seja, também, com as de tristeza, vergonha, corrupção e falta de respeito e desconsideração para com os compatriotas moçambicanos! Eis então o título genérico das minhas crónicas!
Lê-lê-lê-lê-lê-lê-lê-lêêéééé!…
ME Mabunda