A história do caso já fazia manchetes nos jornais, rádios e televisões. Os nossos olhos e ouvidos eram inundados com informações cabeludas e nebulosas sobre o caso, embora hoje nos mostrem que estavam erradas. Portanto, como meros consumidores, mesmo sem saber de todo o enredo, a sociedade já havia julgado, condenado, acorrentado e linchado o arguido.
Na mente, todos que viam e liam aquelas tenebrosas notícias já haviam sentenciado que a mesma não teria salvação, mesmo se o anjo Arcanjo, Pedro, Gabriel, Profeta Maomé ou mesmo Jesus Cristo voltassem e interviessem, ela já estava queimada. Mas, como sempre, estas personalidades religiosas estão do lado da justiça – do lado bom da história da humanidade a versão do enredo acabou sendo outra.
O caricato é que o dono da acção penal carregava papéis de um processo que chegou ao julgamento sem a investigação aprofundada e exigida em casos do género. A mídia ia gastando papel, lábia, fotos e imagens, mas, no fim de tudo, os detalhes do caso não passavam de fofocas de esquina e mau olhar que constantemente têm abalado a nossa casa dos passaportes!
E foi o que se viu há dias numa das salas do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo (TJCM) com o arranque de um dos casos que colocou o nome de Moçambique nas manchetes de diversos órgãos de comunicação social nacional e estrangeiros – até que quatro anos depois do caso chegar às salas do TJCM e um colectivo de juízes ter ouvido os argumentos da acusação, representada pela Procuradora em questão, tudo acabou ficando claro. A feijoada preparada nas cozinhas escriturárias da casa dos passaportes, lá nas bandas da Ho Chi Minh, na Cidade de Maputo, não tinha os condimentos culinários requisitados para que os críticos da culinária dissessem: estamos diante de uma boa feijoada!
Foi neste âmbito que a Juíza do processo solicitou que fossem arrolados os declarantes do caso e, chamados a depor, parte dos declarantes negou suas próprias afirmações proferidas na Procuradoria e que antes alimentaram a convicção e o dedo acusador da Procuradora, que mais do que repor a legalidade, enquanto garante da mesma, apenas investe na condenação como se fosse condição sine quo non para a promoção ou o respeito a nível daquela importante instituição – o Ministério Público!
Quando o "declarante mor" que levou o caso para o Ministério Público (MP) e este para imprensa, abriu a boca e percebeu-se logo que o mesmo tinha uma paixonite ou tusa mal resolvida talvez pela acusada. Deixou o MP com um camião enorme e sem chaves e combustível, mas repleto de produtos diversos numa zona de guerra onde todos querem algo para comer ou matar a fome!
Com uma kalashnikov nas mãos e apontada para o inimigo, mas com balas de pipoca, o MP ficou sem meios e acabou ridicularizado. Já no dia das alegações finais, a Procuradora zarpou da sala sem deixar rastros, não dando alternativas ao colectivo de juízes de uma das secções daquele Tribunal de ilibar a vítima que por quatro anos foi chicoteada e viu o seu rosto estampado em murais de jornais e tabloides como se de uma vilã se tratasse. A vítima foi violentada pela opinião pública na altura, curiosamente com o aval do representante do Estado!
Hoje, todos que acompanharam o caso aguardam que o Estado, através do MP e quem sabe do seu local de trabalho, possa emitir um pedido de desculpas públicas. Se puderem massagear as contas da pessoa e talvez ser promovida a posto que lhe mereça. Entretanto, não sei se depois dessa furada da Procuradora, ela não será colocada como servente do distrito onde ela era Digníssima Procuradora Distrital… e por azar aquém pode vir a pagar uma choruda indemnização por fazer mal o seu serviço!