No pós-Independência, cometeram-se erros na área desportiva, cuja factura está a ser paga, muito particularmente pela juventude! Será que ainda vamos a tempo de acertar o passo com o mundo, nesta área claramente secundarizada pelo Estado?
Alguns dos erros:
MUDANÇA DE NOMES
Num discurso largamente aplaudido, o Presidente Samora Machel aboliu as designações que tinham ligação com a colonização, religiões e regionalização.
Exemplos: Benficas e Sportings, teriam que usar novas designações. Mahafil, Atlético Muçulmano, Atlético zambeziano e Inhambanense, idem. A partir daí, Benfica passou a Costa do Sol, Sporting a Maxaquene, Mahafil a Flamingos (depois regressou à antiga designação). Muitos outros clubes, pura e simplesmente sumiram. Porquê? A razão-base que motivava os adeptos e as lideranças, deixou de existir.
Integração em empresas foi a orientação para compensar a desmotivação dos sócios e simpatizantes que pagavam quotas e afluíam aos estádios. Funcionou (ou disfarçou) nalguns casos. Noutros – o Desportivo de Maputo é um deles - foi uma autêntica catástrofe de que até hoje nos ressentimos.
Basta recordar que à altura da Independência, na capital do país, o futebol era jogado nas 1.a, 2.a e 3.a divisões, em seniores, juniores e infantis. A isso juntavam-se os campeonatos militares, de bairros, escolas e empresas. Além dos jogos de muda aos 5 e termina aos 10, nos inúmeros espaços vazios, que rapidamente foram “bisnados,” com autorização e/ou conivência dos municípios.
NÃO À EXPORTAÇÃO
DAS ESTRELAS
No final de cada época, os grandes clubes portugueses apontavam a contratação dos futebolistas moçambicanos como primeiro mercado. Angola e Brasil vinham depois. Eles é que dariam seguimento ao desempenho de Eusébio, Coluna, Shéu, Matateu e centenas de outros craques. Quando veio a Independência, viramo-nos para África e para os países comunistas.
Pessoalmente, tive o privilégio de acompanhar clubes e selecções ao estrangeiro. Várias estrelas que sentiam que já “não cabiam” na competição interna, acabaram “saltando o arame”. Após a revogação da proibição, foi permitida a primeira transferência legal para o estrangeiro. O felizardo foi Chiquinho Conde. Para trás, ficaram muitos outros jogadores de classe, que perdendo a motivação pela subalternização da área, passaram a dedicar-se a sectores que lhes permitiriam melhor sobrevivência.
Enquanto isso, em direção totalmente oposta, África e o Mundo, colocam o desporto em geral e o futebol em particular, como um dos mais importantes investimentos.
Nos dias de hoje, não nos espanta que a compra do passe de uma estrela pelos grandes do futebol mundial, corresponda ao empréstimo que Moçambique recebe do FMI, Banco Mundial ou outros parceiros, para ser restituído em dez ou mais anos!
Com o estatuto de menoridade que reservamos ao nosso desporto, o que nos deve admirar, são as conquistas que os resilientes atletas e dirigentes nacionais ainda vão conseguindo, num painel claramente em contra-mão com o que os números e a realidade internacional nos demonstram!