Defendo que o Estado não deveria ser concorrente do privado. Exceptuando, talvez, em áreas críticas como distribuição (a produção pode ser por privados) de energia, água e questões de soberania, mormente controlo, defesa e segurança territorial, o Estado deveria estar longe da gestão de empresas.
Em áreas puramente económicas não só é uma concorrência desleal, pois, na fase mais primária do financiamento, e quando necessário, o Estado pode imprimir papel moeda.
Felizmente, o cidadão “INFLAÇÃO” está lá para subverter tentativas abusivas da máquina de impressão, por um lado.
Por outro lado, temos o factor ineficiência. Ao longo dos anos, o IGEPE foi provando ser um cemitério de empresas públicas, mostrando mais uma vez que não é papel de Estado geri-las.
As receitas do Estado irão para os seus cofres apenas quando houver um ambiente conducente a negócios, em que o sector privado, via um sistema financeiro justo, possa ir buscar dinheiro a um custo justo, e o IVA, o IRPS, o IRPC e mesmo os impostos sobre dividendos e outros sejam transparentemente cobrados e aplicados no bem público.
“Não existe dinheiro público, só existe dinheiro de quem paga impostos”, disse Margaret Thatcher, antiga Primeira-Ministra do Reino Unido. O poder desta frase ecoa até hoje em todos os cantos do mundo e Moçambique não seria excepção, pois, mesmo se o financiamento de uma ponte for via um banco estrangeiro, a dívida será saldada por fundos públicos, estes que tecnicamente não existem, pois são dos contribuintes!
Vindo de uma economia centralizada, houve alguma coragem para se privatizar algumas empresas, privatizações que em algum momento foram um descalabro porque foram induzidas por motivos dúbios e porque as empresas foram abocanhadas por gente cujo único activo que tinha era conhecer quem toma decisão.
Ao longo dos anos, empresas que deveriam ser privatizadas não foram e, por desculpas estapafúrdias, essas empresas continuam a mamar da teta do Estado. Uma dessas empresas é a LAM, uma companhia que nos anos 80/90 deu-nos muito orgulho de sermos moçambicanos, pois Madrid, Copenhaga, Sofia, Paris só para citar algumas cidades, eram destinos regulares da nossa companhia de bandeira.
Nesta minha idade sei muito bem o que quero, mas, mais importante, o que não quero. Num mundo onde há muitas alternativas, eu atravesso o mundo para chegar a um sítio como Lisboa e chego feliz, definitivamente, com companhias aéreas escolhidas a dedo. Por norma, não aceito abuso se eu estou a pagar, sendo oferta nem contarei os dentes do cavalo! De modo que quando apareceu o voo Maputo-Lisboa da LAM, para mim foi apenas mais uma notícia, até há algumas semanas, quando a minha filha entrou de férias e a mãe por alguma razão insistiu em ir com a LAM. Também nesta idade não discuto, muito menos com a Comandante-em-Chefe da minha casa. Então, o pedido foi uma ordem. E lá fomos. Tenho de reconhecer que foi um bom voo de Maputo a Lisboa.
A máxima de “If you can’t buy twice, you can’t afford it” veio à tona: no regresso, quando estávamos no aeroporto para o voo das 16:45, fomos informados que o voo passaria para as 20! De balde! Não tinha havido informação no telefone nem no e-mail. Aqui uma pessoa pergunta: afinal aqueles números de telefone que nos pedem quando compramos bilhetes são para o quê?! É que com uma mensagem atempada, uma pessoa fica a beber café no Pinóquio!
Saímos quase às 22h00 e felizmente chegamos bem. Na semana passada, cansei-me de chatear amigos por causa de uma viagem à Beira. Fui à Beira, via Joanesburgo! Pronto. Ontem pedi um bilhete prémio ao Flamingo para uma questão particular. Eu tenho quase que certeza que o número de milhas que acumulei ao longo do tempo dá para ir à lua e voltar na primeira classe.
O meu cartão do Bim/LAM diz Gold e no check-in acho que é Blue (abaixo do Silver). O Flamingo nunca te manda extrato, o único e-mail que recebes deles é no dia do teu aniversário, portanto nunca sabes quanto tens em milhas. Falava do bilhete prémio. A resposta do Flamingo é de eu dirigir-me para uma das lojas da LAM pelo menos dois dias antes da viagem.
Quer dizer, um pai que vive na Ucrânia e quer que a filha viaje com suas as milhas para Lichinga, esse pai deve voltar para Moçambique para fazer essa operação! Senhores, Daniel Chapo está a dizer no seu manifesto para reduzirmos o contacto entre os utentes e funcionários públicos, para reduzirmos a corrupção, a LAM é a primeira companhia a levantar o dedo e remar em direcção contrária.
Não interessa quantas vezes vamos mudar os Conselhos de Administração ali, a solução é privatizar, os aeroportos também. Eswatini e Tanzânia em algum momento ficaram sem companhia de bandeira, há cancros cuja única solução é amputar o membro. Em Moçambique, ainda é possível.