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Dino Foi

Dino Foi

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“Totela” é um termo muito interessante lá de Inhassunge, de onde eu venho. A fama das feiticeiras de Inhassunge é de cobertura mundial e usam muito “Totela”.

A “Totela” mais famosa é, possivelmente, a mais pragmática, quando não há pretexto para te matarem. Um dia uma feiticeira está a andar a sua frente e, do nada, deixa cair a capulana. Aqui a “Totela” é: “Filho de Manuel viu-me nua e não avançou, então tem de morrer”. Dias depois você morre mesmo.

Contam os mais velhos à volta da fogueira, com convicção de Arquimedes. Por enquanto, deixemos Inhassunge com as suas maravilhosas histórias.


A “Totela” ou o pretexto mais famoso para mim e não se desenganem, não são as armas de destruição maciça que George W. Bush invocou para invadir Iraque, foi o início da Primeira Guerra Mundial.


No dia 28 de Junho de 1914 morria, vítima de assassinato em Sarajevo, o Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro presumptivo do trono do Império Austro-húngaro. Aquilo que pareceu um simples assassinato encetado por um marginal, o terrorista Gravrillo Princip, foi desenvolver em algo que mudou completamente a humanidade quando, dois meses depois, o Império Austro-húngaro declara Guerra à Servia e já estavam lançados os dados para a Primeira Guerra Mundial como a conhecemos.


É muito fácil fazer uma retórica ecoar, principalmente quando se tem os meios, muitas vezes sem os motivos, e a ladainha actual do branqueamento de capitais é o exemplo concreto.
A corrupção, de que o falecido Presidente Samora Machel muito falou e atacou bem, voltou a ser falada nos anos 90. Procuradores-Gerais da República vão, anualmente, ao Parlamento falar dela, mas até hoje nenhum corrupto é trazido à tona, salvo alguns gatos pingados que só lembram o clássico filme Casablanca, com Humphrey Bogart.


Depois vieram os raptos e, quase que semanalmente, um moçambicano é raptado desde 2013, milhões de dólares pagos em resgates, famílias destruídas, negócios perdidos, mas até hoje as autoridades nunca trouxeram um desfecho de um caso de sequestro e com mandantes, exceptuando encenações que ganhariam Óscares em Hollywood.


Agora a palavra de ordem chama-se “Branqueamento de Capitais”. Todo o mundo em Moçambique é especialista em anti-branqueamento, se não for, tem um amigo ou familiar que é especialista.
Do portal do Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo retiramos a seguinte definição: “O branqueamento de capitais é o processo pelo qual os autores de actividades criminosas encobrem a proveniência dos bens e rendimentos (vantagens) obtidos ilicitamente, transformando a liquidez decorrente dessas actividades em capitais reutilizáveis legalmente, por dissimulação da origem ou do verdadeiro proprietário dos fundos.”


O processo passa por três fases a elencar:


1- Colocação: Os bens e rendimentos são colocados nos circuitos financeiros e não financeiros, através, por exemplo, de depósitos em instituições financeiras ou de investimentos em actividades lucrativas e em bens de elevado valor.


2- Circulação: Os bens e rendimentos são objecto de múltiplas e repetidas operações (por exemplo, transferências de fundos), com o propósito de os distanciar da sua origem criminosa, eliminando qualquer vestígio sobre a sua proveniência e propriedade.


3- Integração: Os bens e rendimentos, já reciclados, são reintroduzidos nos circuitos económicos legítimos, mediante a sua utilização, por exemplo, na aquisição de bens e serviços.


E, finalmente, via os três processos, o dinheiro é devolvido ao Sistema económico.


Quando na década 90 abraçámos a economia de mercado floriram muitos ricos em Moçambique, mesmo que essa riqueza viesse da venda de “chuingas”. A nossa burguesia não tinha problemas em mostrar grandes máquinas e grandes mansões, mesmo vendendo apenas capulana!


Se, por um lado, o Sistema era permissível, por outro, alguém ganhava para fazer vista grossa, pois o Compliance é algo que todo e qualquer banco, via KYC (Conhecer o Teu Cliente), faz. Uma das missões de um banco central, mais do que estabilizar a moeda, é também controlar a circulação da moeda e este exercício não é de ontem.


Quando a política Branqueamento de Capitais é uma medida macroeconómica é onde podemos tirar ilações de que, ao longo dos últimos 50 anos, simplesmente estávamos a fingir controlar a economia. Foi assim quando começou a Guerra em Cabo Delgado, tanto é que mesmo ao M-Pesa chegaram. Portanto, os financiadores da Guerra de Cabo Delgado usam M-pesa. E isto é decidido por gente adulta, que usa fatos escuros e ganha salário do Estado.

Não acordamos para um Moçambique mais transparente e nem é nossa agenda. O certo é que esta aparente iluminação é por conta da inclusão, em Outubro de 2022, na lista cinzenta da FATF, o que para um país como o nosso tem implicações ainda mais intensas, pois dependemos sobremaneira do acesso aos mercados financeiros internacionais.

Uma das maiores lavandarias é o próprio processo das dívidas ocultas que só foram despoletadas no estrangeiro e por estrangeiros. Os gangues vêm usando este país para, entre outros, praticarem produção e distribuição de drogas, extorsão outras práticas abomináveis e ilegais, mas como se não estivesse lá ninguém a zelar por este país.


Mas então de onde vem esta euforia toda por volta de recuperação de activos, congelamentos de contas bancárias com direito a directo na TVM? Alguém descobriu mais uma maneira de fazer dinheiro e estranhamente são os Procuradores.


Sim, exactamente aqueles que eram suposto serem o garante da legalidade são os que estão a facturar e a prática é simples: Alguém tem na conta da sua empresa 100 milhões de meticais, dinheiro que ao longo do tempo foi sendo amealhado, vendas mensalmente declaradas às alfândegas, IVA pago, mas agora com a moda de Branqueamento de Capitais a conta é congelada e o dono da empresa com um mandado de captura numa quinta-feira.


Naquela mesma quinta-feira à noite localiza-se o Procurador do processo, negoceia-se com ele e este pede 14 milhões em luvas e o pagamento de 700,000 Meticais ao Estado de caução, para não entrar nas celas na sexta-feira, pois “se bobear”, vai passar o fim-de-semana nas celas e só sai a segunda-feira.


Quem policia a polícia? Ninguém. Todo o mundo está com medo de continuar a fazer negócios em Moçambique, pois a extorsão foi institucionalizada.
Há branqueamento de capitas? Sim. Tem gente rica ilicitamente? Também sim, estranhamente esses não são tocados. Seria muito bom, se o Sistema quisesse mesmo atacar a riqueza ilícita, ir ao fundo com o assunto e pegar alguns passados e actuais membros do governo para explicarem tamanha riqueza. É que é gente que nunca vimos a gerir uma barraca.


O combate ao branqueamento de capitais é uma luta que todos os Estados que se queiram sérios deveriam encetar e o meu apoio em Moçambique é efusivo, o que sou contra é a extorsão legalizada. Não custa nada a quem de direito dar a cada suspeito 90 dias para em função do que faz, os seus rendimentos, o imposto pago nos últimos anos demonstre por A+B como comprou Mercedes G63!


Resumindo, é “Totela”. Os Procuradores encontraram um meio de ficarem ricos também. Não vejo Moçambique a sair da lista cinzenta este ano, rezo para estar completamente errado, mas o que se vê é uma jogada de marketing.


Felizmente, o bebé bonito que foi difícil nascer quer fazer as coisas de outra maneira e, por mim, passaria também por prender esta gente que suja o Estado.
Em Moçambique, ainda é possível.

quinta-feira, 15 agosto 2024 20:42

A disfuncionalidade das empresas do Estado

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Defendo que o Estado não deveria ser concorrente do privado. Exceptuando, talvez, em áreas críticas como distribuição (a produção pode ser por privados) de energia, água e questões de soberania, mormente controlo, defesa e segurança territorial, o Estado deveria estar longe da gestão de empresas. 

 

Em áreas puramente económicas não só é uma concorrência desleal, pois, na fase mais primária do financiamento, e quando necessário, o Estado pode imprimir papel moeda. 

 

Felizmente, o cidadão “INFLAÇÃO” está lá para subverter tentativas abusivas da máquina de impressão, por um lado. 

 

Por outro lado, temos o factor ineficiência. Ao longo dos anos, o IGEPE foi provando ser um cemitério de empresas públicas, mostrando mais uma vez que não é papel de Estado geri-las. 

 

As receitas do Estado irão para os seus cofres apenas quando houver um ambiente conducente a negócios, em que o sector privado, via um sistema financeiro justo, possa ir buscar dinheiro a um custo justo, e o IVA, o IRPS, o IRPC e mesmo os impostos sobre dividendos e outros sejam transparentemente cobrados e aplicados no bem público. 

 

“Não existe dinheiro público, só existe dinheiro de quem paga impostos”, disse Margaret Thatcher, antiga Primeira-Ministra do Reino Unido. O poder desta frase ecoa até hoje em todos os cantos do mundo e Moçambique não seria excepção, pois, mesmo se o financiamento de uma ponte for via um banco estrangeiro, a dívida será saldada por fundos públicos, estes que tecnicamente não existem, pois são dos contribuintes! 

 

Vindo de uma economia centralizada, houve alguma coragem para se privatizar algumas empresas, privatizações que em algum momento foram um descalabro porque foram induzidas por motivos dúbios e porque as empresas foram abocanhadas por gente cujo único activo que tinha era conhecer quem toma decisão.

 

Ao longo dos anos, empresas que deveriam ser privatizadas não foram e, por desculpas estapafúrdias, essas empresas continuam a mamar da teta do Estado. Uma dessas empresas é a LAM, uma companhia que nos anos 80/90 deu-nos muito orgulho de sermos moçambicanos, pois Madrid, Copenhaga, Sofia, Paris só para citar algumas cidades, eram destinos regulares da nossa companhia de bandeira.

 

Nesta minha idade sei muito bem o que quero, mas, mais importante, o que não quero. Num mundo onde há muitas alternativas, eu atravesso o mundo para chegar a um sítio como Lisboa e chego feliz, definitivamente, com companhias aéreas escolhidas a dedo. Por norma, não aceito abuso se eu estou a pagar, sendo oferta nem contarei os dentes do cavalo! De modo que quando apareceu o voo Maputo-Lisboa da LAM, para mim foi apenas mais uma notícia, até há algumas semanas, quando a minha filha entrou de férias e a mãe por alguma razão insistiu em ir com a LAM. Também nesta idade não discuto, muito menos com a Comandante-em-Chefe da minha casa. Então, o pedido foi uma ordem. E lá fomos. Tenho de reconhecer que foi um bom voo de Maputo a Lisboa.

 

A máxima de “If you can’t buy twice, you can’t afford it” veio à tona: no regresso, quando estávamos no aeroporto para o voo das 16:45, fomos informados que o voo passaria para as 20! De balde! Não tinha havido informação no telefone nem no e-mail. Aqui uma pessoa pergunta: afinal aqueles números de telefone que nos pedem quando compramos bilhetes são para o quê?! É que com uma mensagem atempada, uma pessoa fica a beber café no Pinóquio!

 

Saímos quase às 22h00 e felizmente chegamos bem. Na semana passada, cansei-me de chatear amigos por causa de uma viagem à Beira. Fui à Beira, via Joanesburgo! Pronto. Ontem pedi um bilhete prémio ao Flamingo para uma questão particular. Eu tenho quase que certeza que o número de milhas que acumulei ao longo do tempo dá para ir à lua e voltar na primeira classe.

 

O meu cartão do Bim/LAM diz Gold e no check-in acho que é Blue (abaixo do Silver). O Flamingo nunca te manda extrato, o único e-mail que recebes deles é no dia do teu aniversário, portanto nunca sabes quanto tens em milhas. Falava do bilhete prémio. A resposta do Flamingo é de eu dirigir-me para uma das lojas da LAM pelo menos dois dias antes da viagem.

 

Quer dizer, um pai que vive na Ucrânia e quer que a filha viaje com suas as milhas para Lichinga, esse pai deve voltar para Moçambique para fazer essa operação! Senhores, Daniel Chapo está a dizer no seu manifesto para reduzirmos o contacto entre os utentes e funcionários públicos, para reduzirmos a corrupção, a LAM é a primeira companhia a levantar o dedo e remar em direcção contrária.

 

Não interessa quantas vezes vamos mudar os Conselhos de Administração ali, a solução é privatizar, os aeroportos também. Eswatini e Tanzânia em algum momento ficaram sem companhia de bandeira, há cancros cuja única solução é amputar o membro. Em Moçambique, ainda é possível.

quinta-feira, 23 maio 2024 07:22

Milli Vanilli

Alguns de vocês que nasceram agora, e com acesso à internet que já não é barata, devem pensar que o maior engodo se chama Ematum. Algo que até o autor destas linhas e em canal aberto avisou a quem de direito que NUNCA avançaria, pelo menos nos moldes propostos. Mas, como se diz, a voz do pobre não chega ao céu: hoje temos chefe da nossa secreta, filho de Chefe de Estado e outros na cadeia. Nunca uso o “ Ex Presidente” GUEBUZA. Para mim é Presidente, e Nyusi também será Presidente depois de Março de 2025. 

 

Milli Vanilli foi a pior mentira que eu vi. Dois jovens sarados, numa altura em que as duas Alemanhas estão se a juntar, e com isso o fim da Guerra Fria, portanto o desmoronamento dos blocos, pelo menos o Tratado de Varsóvia pois, a NATO está muito viva e activa. 

 

O engodo Milli Vanilli...Fab Morvan e Rob Pilatus engendraram um plano lixado com o produtor do Boney M. Frank Farian, em 1988: trazer gajos bonitos para o palco, só que não cantavam! Sim, tipo assim eu Dino Foi cantar “My number one” no palco, enquanto lá atrás na verdade quem canta é o não menos conhecido King Bawito! 

 

Nos fizeram dançar em todo país aqueles filhos de uma árvore até a verdade vir à tona: nunca cantaram. Quando tentaram cantar foi um fiasco que entraram em drogas até o grupo morrer. Na verdade houve mesmo morte de pessoas por overdose. 

 

Mas não é sobre música que estou aqui a chamar à colação. É sobre a mentira que estamos a construir como país. Temos de parar, antes que forças estrangeiras nos parem, não no interesse dos moçambicanos, possivelmente no interesse delas! 

 

Numa altura em que ficou claro que quem tentou derrubar um governo democraticamente eleito na RDC é alguém que esteve e muito bem neste país e a conversar com as elites políticas deste país, estamos a autorizar a entrada de mais 2,500 militares estrangeiros, que queiramos ou não, estão directa ou indirectamente ligadas à aquela operação, enquanto um bebé bonito, nascido em dificuldades, o CHAPO, que daqui a 6 meses deve ser o Comandante-em-Chefe das nossas forças armadas, se prepara para ser o nosso líder supremo! 

 

Quem é do meu círculo privado sabe que em função do que sairia daquele Comité Central na Matola eu ia entregar o meu cartão ao Partido Frelimo em Julho deste ano, possivelmente ninguém ia notar porque sou um membro júnior mas, quando se chega a minha idade temos de ver o que entra na boca e, principalmente onde enterramos outras coisas . 

 

É que nesta idade sabemos muito bem o que queremos, mas mais do que isso, o que não queremos. Definitivamente Milli Vanilli outra vez não! Os meus filhos, quando todos nós falharmos, devem ir buscar a posição do pai quando os bons se calaram. Em Moçambique, ainda é possível. Dino Foi

É recorrente e, desta vez, não muda: quando se chega ao fim de um consulado, a palavra de ordem ser “O Candidato”. Aqui, o Candidato na verdade ainda nem sequer é candidato; está-se a falar do Candidato a Candidato do Partido Frelimo. As outras formações políticas têm a sua maneira de chegar ao Candidato, mas nesta nesta missiva o sujeito é o Candidato do Partido Frelimo.

 

Se o Dia da Vitória é 7 de Setembro de 1974, então para mim somos independentes desde 1974. O Dia 25 de Junho de 1975 é apenas a data da proclamação da Independência Nacional, então o Partido Frelimo governa Moçambique há 50 anos!

 

Pela característica específica da nossa jovem Nação, o Partido Frelimo instrui o governo como deve governar, passe o pleonasmo, e isso sempre foi assim. É sabido que um Primeiro Secretário do Partido tem mais poder do que um Governador da Província e, claramente, sempre será impossível ter-se um Presidente do Partido que não seja Presidente da República, pelo menos em governos do Partido Frelimo.

 

Isto às vezes me faz confusão, de um lado por eu ser apenas um membro júnior do Partido Frelimo, mas de outro lado, talvez porque eu não tenha tido uma educação política, per si. É que, numa democracia, quando vamos às eleições, embora os empates sejam coisas que acontecem, normalmente há uma vitória e uma derrota. Simples como isso.

 

A minha confusão costuma surgir quando, neste debate da sucessão, mais do que se olhar para o perfil do futuro candidato à Presidência da República, as pessoas estão preocupadas com o candidato a candidato. Eu não concordo. Eu penso que o que estamos à procura é de uma pessoa que não só nos garanta uma vitória no pleito que se avizinha, mas também garanta a sua reeleição, e isso ultrapassa a vontade de menos de 20 pessoas e em menos de três meses.

 

O racional acima é a antítese de todo este processo. Parece haver garantias que para ser Presidente deste Moçambique é só garantir que dos outros candidatos você seja “O Candidato”.

 

Estas assunpções é que nos fazem ter Beira e Quelimane nas mãos da oposição, o que para mim não é necessariamente um problema, afinal, a finalidade da democracia é exactamente garantir a alternância, havendo. Estas cidades deveriam ser estudadas para se perceber primeiro porque passaram para lá e, segundo, porque já não estão a passar para cá?

 

Pode parecer um clichê, mas é nas derrotas que devemos fazer uma introspecção sob pena de termos surpresas que, até o mais intelectual dos intelectuais não disponha de uma explicação racional. O certo é que não há vitórias garantidas antes do embate, se a história recente valer de alguma coisa; pelo menos vejamos a questão da Rússia e Ucrânia.

 

É preciso pensar que a Frelimo não governará eternamente Moçambique e não interessa o quão membros ardentes sejamos, o trinômio Partido-Governo-Estado um dia pode ser dissolvido. E o que vai acontecer?!

 

A minha pergunta acima é retórica e não precisa ser liminarmente respondida, mas podemos divagar em torno disso.

 

Estamos a pouco menos de oito meses das eleições e tudo o que foi veiculado até agora é boato. O Partido Frelimo não tem candidatos nem candidatos a candidatos.

 

Já foi instruído que “…Não é você querer, é preciso que nós queiramos, para você se querer”; portanto, se seguirmos à risca, mesmo os candidatos a candidatos devem ser queridos por um círculo pequeno de pessoas, para que um outro número de pessoas, um pouco maior que o primeiro, chancele o candidato.

 

A pergunta que não se quer calar: “Se este grupo errar na escolha?”.

 

Eu até acredito que os meus chefes na Comissão Política têm olho de lince quando se trata destas coisas de ver aquela pessoa que nos vai guiar para as eleições, mas e o Comité Central?

 

O segundo órgão é extremamente importante e extenso, e cada pessoa com suas aspirações! Infelizmente, às vezes, estas aspirações são pessoais e não necessariamente voltadas para o povo. O que acontecerá no dia em que o Comité Central escolher um candidato que não consiga renovar o mandato ou, na pior das hipóteses, nem consiga um mandato?!

 

É aqui onde trago a parábola das três refeições: “Até muitos as têm, mas apenas um pequeno grupo de pessoas neste Moçambique é que tem carboidratos, vitaminas, lípidos, água, proteínas e minerais na mesa, portanto uma refeição balanceada.”

 

Tem-se visto no Parlamento a votação efusiva por uma peça de legislação para depois descobrirmos que afinal não devia ter sido aquilo e Ematum é um exemplo concreto: temos pessoas no Língamo, mas o voto dos deputados do nosso partido foi para a prossecução daquela empreitada. Então ficamos como?

 

O que acontece é que os melhores filhos do Partido Frelimo definitivamente não estão naquele parlamento, salvo poucas excepções. O grosso que está ali são camaradas que não têm ocupação e a única coisa que se encontrou foi um assento no parlamento para, pelo menos, garantir uma refeição condigna no fim do dia, mas que de legislação pouco ou nada entendem, de economia nem se fala, e a lista é extensa. Mas, estão ali no Parlamento e, aparentemente, me representam enquanto membro e cidadão! É que foram nomeados e depois eleitos pelos pares na base e chancelados no topo e, até renovam, então o processo foi democrático!

 

Alguém já pensou num modelo em que os parlamentares são distribuídos pelos distritos deste país e serem eleitos lá mesmo no distrito?! É que em vez da manta do Partido estes deputados só chegariam ao Parlamento se convencessem os seus constituintes que na verdade podem ali estar, pois defendem os seus interesses. Com a manta do Partido, as pessoas simplesmente corrompem o sistema para estarem numa boa posição na lista do Partido e depois é aquilo que temos visto.

 

O próximo Candidato do Partido Frelimo e futuro Presidente da República precisa, para além de muitas outras coisas, olhar para:

 

1 - Raptos

 

Este fenómeno já dilacerou a sociedade e, quando começou, foram exactamente membros seniores do Partido Frelimo que, em canal aberto, disseram que era um processo normal numa economia em franco desenvolvimento. Disseram que era um acerto de contas entre monhês, um termo não corrente e até certo ponto pejorativo para com os nossos irmãos de origem asiática, especificamente no subcontinente. O certo é que estamos há mais de 10 anos nesta ladainha, muitas movimentações na polícia a nível de topo e até na máquina securitária, mas os raptos não têm rosto, acontecem quase que semanalmente, milhões de dólares estão a ser pagos e famílias destruídas. Moçambicanos e estrangeiros abandonaram o país, o investimento estrangeiro retraiu e não há negócios.

 

2 - Cabo Delgado

 

Enquanto os especialistas se digladiam na imprensa sobre a definição do fenómeno que está a acontecer em Cabo Delgado, no terreno, população civil e Forças de Defesa e Segurança estão a perder a vida diariamente por causa de algo que primeiro se chamou de garimpeiros ilegais, depois bandidos, mais tarde insurgentes e, finalmente, terroristas. Nos escritórios, estamos à procura de definição. O certo é que enquanto estas definições não se traduzirem em acções concretas no terreno, aqueles 60 biliões que sempre se falaram em investimento na área de hidrocarbonetos vão-se esfumar, para não falar em ouro, grafite e rubis! O certo é que, desde Outubro de 2017 para cá, mais de 100 pessoas perderam a vida, milhares de irmãos deslocados e muitos investimentos paralisados.

 

3 - Economia

 

É muito comum falar-se do potencial de Moçambique. Myanmar também tem potencial, só que eles investem na produção de heroína. Moçambique tem uma costa de 2,800 quilómetros; a Somália também tem costa. Para que serve essa tal costa se o turista é extorquido quando chega (migração e polícia), quando está na estrada (migração, polícia, polícia de trânsito), quando sai (polícia e alfândegas)? Moçambique “já não é bom terra”, diz qualquer turista que por aqui tenha passado nos últimos anos. Por que vou comprar castanhas ali no Feima para depois ser stressado nos aeroportos porque “deveria trazer um documento do ministério do Turismo”? São coisas simples que matam uma economia e chutam à irrelevância o Ministério de Turismo e Cultura, instituição que já deveria ter sido extinta há muito tempo.

 

4- Agricultura

 

A nossa constituição diz claramente que a agricultura é a base do desenvolvimento. Era, possivelmente nos tempos dos libertadores; esse dogma não serve e não precisa de um doutoramento em economia, simplesmente olha-se para a estrutura do nosso PIB e fica claro como água da Praia do WIMBI. Sim, não se come carvão e nem se bebe gás liquefeito, mas talvez seja altura de se retirar esse slogan, agricultura é incipiente. A comercial não avança e a de subsistência, como o nome diz, é mesmo de subsistência.

 

Nada contra a agricultura, mas talvez o próximo que reveja não só o slogan, mas também que entenda que, como base de desenvolvimento, a agricultura já foi ultrapassada. Ensinemos as melhores práticas aos nossos camponeses, tiremo-los de camponeses e os façamos de pequenos e médios agricultores, mas agricultura ser a base de desenvolvimento neste Moçambique do século XXI é heresia, é falácia; na verdade, é conversa para boi dormir. Enquanto o mundo está a avançar para a Quarta Revolução Industrial, mais do que agricultura já é altura de começarmos a implementar e não falar, da industrialização!

 

5 - Educação

 

Não há investimento que não tenha retorno na educação. O líder que não quer ver isso definitivamente quer um povo analfabeto. Temos um déficit de mais de 30,000 salas de aula neste país, o que quer dizer que crianças estão a estudar em condições precárias e, na pior das hipóteses, até debaixo das árvores.

 

Pode parecer um insólito, mas a província de Maputo é que lidera esta posição de maior número de crianças sem salas de aulas. Cada governo que entra não só troca o Ministro, mas também o nome do ministério, e isto não é sintomático apenas naquele ministério, penso que os ministérios da Defesa Nacional e do Interior devem ser os únicos que ainda mantêm os seus nomes.

 

A educação é a base de desenvolvimento, mas ao fim de 50 anos temos um pouco menos de 1000 doutores e as universidades vão nascendo tipo cogumelos. No fim, temos gente que faz Direito ou Economia para ir trabalhar para o Estado e garantir a reforma. Escolas técnicas não temos e, como consequência, ninguém sabe sujar as mãos desde o primeiro dia que entra no mercado de trabalho.

 

Eu estudei com “A Lila pula, o Tito ata o pato” e se há alguma coisa que deveria ser adicionada naqueles livros é mesmo adição. O que temos visto é matar uma literatura inteira a ser aplicada na primária ou secundária, colocar o Estado do Zimbabwe a se delimitar a norte com o Mar Vermelho e o Golfo de Aden é o ponto mais alto da heresia.

 

6 - Forças de Defesa e Segurança

 

Há uma necessidade premente de uma reorientação geral nas nossas FDS, principalmente a polícia. Pode parecer uma anedota, mas há vezes em que não se sabe se a única coisa que separa agente do malfeitor não é apenas a farda, pois armas os bandidos também têm, e até mais sofisticadas.

 

Quando o ponto 1 acima acontece, primeiro o “modus operandi” é que se trata de  gente que “trata de arma por tu”, como se diz em linguagem popular, logo depois aparece a polícia para pedir gravações de CCTV privadas!

 

Afinal, os 148 milhões de dólares que o Estado investiu na Rede Nacional de Segurança foram para onde? Quando o meu melhor amigo foi raptado há quatro anos, sou chamado ao SERNIC para prestar declarações e estão a perguntar-me pela estrutura accionista da empresa em que eu era o Director Geral. Mesmo?!! O fim foi aquele que se viu e o meu amigo teve de abandonar o país. É que por ele ser de origem asiática, os donos deste país, sim, esses mesmos que já sequestraram o Estado, acharam que ele era rico, não sendo, mesmo assim foi extorquido.

 

O Ministério do Interior não precisa de um ministro polícia e isto não é falácia. O que o ministério do Interior precisa é de um gestor, coadjuvado por um Comandante-Geral implacável. É que os generais já descobriram que qualquer um deles pode ser ministro naquela casa e daí, mais do que estancar o crime, se estão a apunhalar para um dia chegar ao posto cimeiro!

 

7 - SISE

 

Herdou-se uma máquina operacional extraordinária do SNASP, formada pela STASI, e, ao longo do tempo, aquilo que se queria como Serviços de Informação e Segurança de Estado parece mais uma extensão do departamento de segurança do meu Partido Frelimo.

 

É mais fácil ter gente destacada para controlar movimentos de elementos da oposição ou do Partido Frelimo que tenham alguma relação de amizade ou familiaridade com elementos da oposição, do que na verdade se fazer o serviço que se quer. Estes não são inimigos do Estado, são adversários políticos do Partido Frelimo!

 

O comum é estares num bar e alguém gritar que é do SISE. Ser do SISE, e às vezes nem são, pode-te conseguir uma boa donzela neste Moçambique!

 

Sendo um órgão central, o SISE tem delegações provinciais e quem tem delegação provincial definitivamente tem um delegado distrital! Onde estava o SISE em Palma, Mocímboa da Praia, Muidumbe, Quissanga e outros distritos onde estes terroristas foram fazendo e desfazendo como se não tivéssemos inteligência?!

 

Não é para uma resposta, mas se SISE também está infiltrado, então estamos entregues, pois para mim este é o último flanco de defesa da nossa soberania.

 

Parem de ir aos comícios políticos, um dos pontos onde está o nosso inimigo chama-se Cabo Delgado.

 

8 - Corrupção

 

É muito comum falarmos da corrupção e o seu combate, mas é mesmo discurso. É que enquanto a corrupção existe, o seu combate é inexistente. O Juiz é corrupto, o Procurador é corrupto, o Advogado é corrupto, o Polícia é corrupto, o Político é corrupto, até o empregado de mesa de um restaurante é corrupto.

 

A inoperância é visível a olho nu. Diz-se que justiça tardia é justiça não servida e aqui em Moçambique qualquer bandido apanhado em flagrante quer ser levado à esquadra. Uma semana depois está a passear nas mesmas ruas.

 

Um bandido ludibriou a minha empresa em Caia em 2015. O caso ainda não foi a julgamento e ele é uma espécie de estrela nas redes sociais! Não era melhor ir ter com aquele rapaz do Estrela Vermelha que, por 35,000 meticais, pode partir-te as duas pernas?!

 

A justiça pelas próprias mãos não é porque o povo ficou selvagem, é que quem de direito não faz o seu trabalho.

 

9 - Vice-Ministros

 

Figuras de que definitivamente não precisamos. Autênticos fardos para o nosso minguado Orçamento Geral do Estado e não têm função. Fica-se com um ministro que sabe porque se está ali e um Secretário Permanente para as questões administrativas. Ponto final.

 

10 - Governo

 

Tem de se trazer um governo funcional. Que pague bem aos ministros para poderem comprar os seus carros e arrendar as suas casas e que tenham dinheiro para a sua vida social. Chega de engordar um sistema já falido com benesses infinitas para os nossos dirigentes. Para começar, até a aprovação do orçamento de funcionamento, cada ministro deveria ir do seu próprio carro e estar a viver na própria casa.

 

É que mais do que querer ser querido, é preciso saber como será, quando for querido, pois este país está cheio de gente de boa vontade, mas o que está a precisar é de gente que, para além de carregar o estandarte, possa sentir-se comprometida com a Nação Moçambicana e as suas nuances, antes de qualquer outra coisa. Ponto Final.