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Actualizado de Segunda a Sexta

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Nando Menete

Nando Menete

terça-feira, 01 outubro 2024 08:37

Burla democrática

Um forasteiro latino que amiúde visita em trabalho o país, numa das suas vindas, pediu ao seu habitual taxista que o arranjasse uma prostituta para o final do seu expediente laboral de serviços de consultoria. Assim feito e sido selado com a entrega do número de telemóvel da requerida ao requerente.

 

Uns dias depois, e já uma sexta-feira, o forasteiro ligou para ela requerendo serviços desde o jantar ao café da manhã. Feito o compromisso e sido cumprido as responsabilidades de cada um, ambos voltaram para os respectivos aposentos. Um detalhe: o forasteiro, por experiência mundana, não usou o hotel em que estava hospedado.

 

Por volta do meio-dia o forasteiro recebeu uma chamada da requerida. Esta depois do ῎adorei a noite῎ e de que fora ῎a primeira vez a sentir o sabor da gastronomia latina῎ expectou-o com um pedido financeiro para a compra de uma garrafa de gás, pois não tinha como cozinhar para as crianças.

 

Um ou dois dias depois, os pedidos não cessaram, desde o Credelec aos gastos do salão de beleza e a mensalidade escolar das crianças, que levaram o forasteiro a ligar para o taxista a reclamar, recordando-o de que ele havia pedido uma prostitua e não uma amante.  

 

Depois de contar este episódio a um amigo, este disse que também estava numa situação semelhante em relação a escolha dos candidatos do processo eleitoral em curso. Ainda disse de que estava com inveja do forasteiro porque este ainda teve a quem reclamar, o que não era o caso dele.  

 

Em resumo o amigo reclamava o facto de não ver nenhuma diferença entre os candidatos, pois todos eles prometem fazer a mesma coisa e do mesmo jeito. Para ele era suposto que fosse o contrário e assim ele pudesse escolher o candidato que achasse que melhor responderia aos seus propósitos e os do país.  

 

Sobre a sorte do forasteiro por ter tido onde reclamar, o amigo concluiu que não sabia a quem telefonar e de que apenas restava-lhe meter uma queixa-crime na Procuradoria-Geral da República contra desconhecidos, alegando de que ele está a ser vítima de uma burla democrática.

sexta-feira, 27 setembro 2024 16:08

Não é o Papai

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(a propósito da nova estátua de Eduardo Mondlane)

 

Quando foi da primeira inauguração da estátua de Eduardo Mondlane, em 1989, estive no local. Lembro-me, ainda adolescente,  ter acenado para os três filhos de Mondlane e sido  correspondido com um sorriso da Chude Mondlane, a filha, ora falecida, do arquitecto da unidade nacional. Lembro-me ainda de ter ouvido na rádio, a propósito da inauguração da estátua,   a Chude Mondlane, em deleite,   dizer: “ É parecido com o Papai”.

 

Uns anos depois, por ai 2012 ou 2013, num encontro ocasional com a Chude Mondlane, no intervalo de uma conferência, fiz questão de lembrar a ela  o aceno de 1989.  Na resposta o mesmo sorriso. Um sorriso que hoje, 25 de Setembro de 2024, veio-me à memória, a propósito da inauguração da nova estátua de Mondlane, e  junto a curiosidade em saber o que a Chude Mondlane, do além, terá dito para a rádio,  depois de ver a nova  estátua do seu pai? 

 

Pelo que deu para ver e acompanhar  da imprensa e  das redes sociais, sobre a nova estátua do arquitecto da unidade nacional, tenho fé de que do além  a Chude Mondlane  terá dito: “Não é o Papai”.  E assim fica sine-die adiado um novo aceno e um novo sorriso.

terça-feira, 20 agosto 2024 11:22

Espíritos na Diáspora

Em um texto do sociólogo Elísio Macamo uma idosa, que em jeito de nota conclusiva da sua preocupante apreciação sobre a real situação e o rumo do país, pergunta: “Afinal quando é que a independência vai acabar?”

 

“O rumo do país é tal que exige o concurso de outras forças e estratégias para enfrentá-lo”. Quem o diz é um amigo que nos meses de Agosto faz sempre questão de passar as suas férias na terra natal, no interior profundo da província de Gaza.  

 

“É para renovar lealdades (com os antepassados) e recarregar baterias”. A justificação quando preguntado sobre a razão dos seus “tours d'agosto” à terra. Uma tradição que contrasta com a matriz e cognição ocidental do honorável amigo.

 

E por ser Agosto, o mês das suas religiosas férias anuais, não me surpreendem os registos audiovisuais da época que desfilam diariamente no seu “status”.

 

Entretanto, desta vez salta à vista o local das férias por não ser o habitual, mas algures pelo continente europeu. Questionado o detalhe, a pronta resposta: “Os espíritos emigraram e tive que vir ao encontro deles”.

 

A ser verdade - que os espíritos estão também a emigrar - é caso para secundar a pergunta da idosa ou, no mínimo, que a questão levantada seja o ponto de partida para uma profunda reflexão nacional sobre o real “Estado Geral da Nação”.

 

PS: Por conta da intensa onda de calor que abala a Europa neste verão, leva-me a colocar a possibilidade de os espíritos/ancestrais africanos estarem mesmo a emigrarem para a Europa. Agora resta saber se emigram em busca de melhores condições de “vida” ou apenas atrás dos seus mais novos descendentes que para lá têm rumado em debandada nos últimos anos.

segunda-feira, 12 agosto 2024 12:40

O Último Grito

O último informe sobre o “Estado Geral da Nação” teve o condão de avivar na minha mente o pai de uma colega de escola - tempos da 11ª classe do antigo sistema - que se aproveitando da presença, em sua casa, de colegas da sua filha caçula, convocou-os à parte para um informe sobre os seus feitos ao longo do seu então longo mandato em terra.   

 

No quintal, à volta da fogueira e apenas com a ala masculina, o informe foi feito. Dos dois informes ressalta o número 10: o 10 do décimo informe sobre o “Estado Geral da Nação” do ora timoneiro, e o 10 da décima lavra de descendentes do pai da colega.

 

Uma outra e segunda coincidência: o pai da colega terminava a fala sobre os seus feitos de ganharão no nascimento de cada um dos seus dez rebentos com uma frase da classe que se tem selado, desde o anterior presidente, os informes anuais sobre o “Estado Geral da Nação”.

 

No entanto, no fecho sobre o seu décimo rebento, o pai da colega foi um pouco mais além do que uma frase ao dar um forte safanão no instrumento co-responsável pelos seus rebentos, ao mesmo tempo que dizia: a vossa colega foi o último grito deste gajo! 

 

Hoje, três décadas de separação entre os dois informes, ocorre-me o senão do safanão: o fim lamentável de uma gloriosa narrativa. Quiçá a terceira e conclusiva coincidência entre o histórico informe do pai da colega e o ora recente, décimo e último sucessivo informe anual par(a)lamentar sobre o “Estado Geral da Nação”.    

terça-feira, 06 agosto 2024 14:11

Já cá não mora ninguém

De que o país vive momentos conturbados da sua história ninguém duvida. Eu ainda tinha alguma esperança, mas neste final de semana ela despencou. E foi num Chapa (transporte público) na rota Baixa-Facim.  

 

O Chapa, que depois de partir da terminal da Baixa com todos assentos ocupados, parou no cruzamento da “Brigada” para levar novos passageiros. Um destes passageiros era um senhor já de idade e com uma vestimenta solene que denunciava que vinha de mais uma jornada dominical com o divino.

 

Depois de ele subir o Chapa, este arranca, e o cota se posiciona no corredor central ao mesmo tempo que passava lentamente o olhar a procura de um assento vago ou de uma alma caridosa que o cedesse.

 

“Pai está com a braguilha aberta”. Era a voz de um dos passageiros que o alertava, na língua ronga, que tinha o zipe das calças aberto. Em seguida, enquanto o cota sentava no lugar cedido pelo passageiro que o alertara, ele responde: “ Não te preocupes meu neto, já cá não mora ninguém!” 

 

Esta tirada do cota foi seguida de uma gargalhada dos restantes passageiros, que até então seguiam o trajecto num silêncio religioso.  Em seguida, e em jeito de uma contra-resposta solidária, o jovem disse que o cota ficasse sossegado, pois a actual situação do país era igual a do seu antigo inquilino.   

quarta-feira, 10 julho 2024 13:43

As viagens dos candidatos presidenciais

No preâmbulo de qualquer eleição presidencial é normal que os candidatos façam viagens, incluindo internacionais, umas divulgadas e outras ocultadas, que me fazem lembrar despedidas de solteiro nas vésperas do casamento. 

 

Historicamente, os ingredientes de despedidas de solteiro, sobretudo os ocultos, quando vêm à superfície têm sido o prenúncio da perturbação e até do desfecho da relação entre o casal e com consequências na família e amigos, tudo por conta de um e outro ingrediente tóxico da despedida de solteiro.

 

E tal como reza o registo histórico das despedidas de solteiro, a par da máxima de que a história repete-se, receio por ingredientes tóxicos nas viagens dos candidatos presidenciais nas vésperas de eleições.   

 

De toda a maneira, e entre portas, tenho fé na prudência e sentido de Estado de qualquer um dos candidatos presidenciais para as eleições de 09 de Outubro de 2024, que me levam a acreditar que nenhum deles, nas suas viagens e não só, tenha feito compromissos ou actos que possam lesar o bem-estar e a integridade do país.    

Por estes dias paira um certo entusiasmo e apoio popular em defesa da renovação do contracto de Chiquinho Conde, actual seleccionador nacional dos “Mambas”. O mesmo frenesim em torno da candidatura presidencial do político oposicionista Venâncio Mondlane. Ambos com um histórico recente de turbulência institucional com as respectivas chefias.

 

Estes dois concidadãos partilham uma titânica semelhança: o espírito de rebeldia. Cada um deles um “Enfant-terrible”. Uma expressão utilizada para designar uma pessoa por acharem-na inoportuna, contestatária e de difícil trato, mas que por conta disso, a par da sua inteligência, idealismo, inovação e ousadia, também atrai o fascínio e admiração da sociedade.

 

Feitas as apresentações fica a pergunta: será que o entusiasmo e apoio popular em prol de Chiquinho Conde e de Venâncio Mondlane correm por conta dos seus bons resultados? Quer os desportivos do primeiro, quer os políticos/eleitorais do segundo? Ou decorrem da rebeldia que emanam?

 

Pessoalmente tenho a nítida impressão de que os bons resultados são o pretexto e a rebeldia a causa do entusiasmo e apoio popular que Chiquinho Conde e Venâncio Mondlane granjeiam.

 

Em jeito de fecho, um bom exemplo para suster esta asserção é o caso do antigo presidente dos assuntos tributários e das estatísticas nacionais, o “Capim Alto”, que é corrente ser lembrado, admirado e querido mais pelo seu legado de um “Enfant-terrible” do que pelos seus bons e comprovados resultados institucionais.

sábado, 22 junho 2024 08:43

Amarra-se o burro à vontade do dono

(a propósito da conferência de imprensa do presidente da FMF)

 

Na senda da conferência de imprensa do presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF) ocorrida no passado dia 19 de Junho de 2024 alguém mandou para a minha caixa esta notícia https://lance.co.mz/artigo/chiquinho-conde_-amarra-se-o-burro-a-vontade-do-dono-e-quem-dita-as-regras-sou-eu_ que reporta uma entrevista concedida pelo actual seleccionador nacional de futebol, vulgo “Mambas”, ao canal desportivo da Rádio Moçambique, em meados do ano passado (2023).

 

Na citada entrevista foram abordados assuntos correntes da altura como a renovação do contracto do seleccionador, que findaria a 31 de Julho de 2023; a presença dos “Mambas” na Taça COSAFA; e ainda a polémica sobre a não convocatória de Zainadine Júnior e Lau King para a jornada frente ao Ruanda. Da notícia, e cruzando-a com a conferência de imprensa, ressaltou-me um ponto de convergência entre o presidente da FMF e o seleccionador nacional que exponho-o mais abaixo.

 

O seleccionador, debruçando na entrevista sobre a não convocatória de Zainadine Júnior, afirmou que diz sempre aos seus jogadores, e cito: “…para não se esquecerem que eu sou o treinador e quem dita quem toma as decisões relacionadas com a parte técnica e táctica sou eu. Há um velho ditado alentejano que diz assim: amarra-se o burro à vontade do dono. Isto para dizer que enquanto estiver na selecção as regras vão ser estabelecidas por mim, o jogador tem espaço para opinar dentro das balizas, mas com limites. Eu decido em conformidade, o individual nunca pode sobrepor ao colectivo”. Fim da citação.

 

Nestes termos, e decorrente das entrelinhas da fala do presidente da FMF na conferência de imprensa, depreende-se o tal ponto de convergência entre o presidente da FMF e o seleccionador nacional: ambos partilham o mesmo princípio de gestão, ancorado no ditado alentejano que diz “Amarra-se o burro à vontade do dono”. Em outras palavras: que se deve obedecer ou fazer as coisas conforme as regras do chefe/patrão. O emblemático “Patrão é Patrão” do cantor MC Roger.  

segunda-feira, 17 junho 2024 12:12

Bons resultados não garantem inamovibilidade

Por estes dias uma corrente nacional da opinião pública desportiva, e não só, está a pressionar para que a Federação Moçambicana de Futebol (FMF) renove o contrato com o actual selecionador nacional, alegando que a selecção moçambicana está a conseguir bons resultados. O próprio selecionador assim procede e acusa a FMF de tudo fazer para que ele não continue. 

 

Isto lembra-me as eleições autárquicas de 2008 quando o então edil de Maputo e candidato a candidato pela FRELIMO, Eneas Comiche, e o seu então homólogo da Beira, também um candidato a candidato pela RENAMO, Deviz Simango, foram preteridos nos respectivos partidos. Na altura os dois partilhavam bons resultados na gestão dos respectivos municípios e gozavam de pleno apoio popular e que até extrapolava as fronteiras partidárias e municipais de cada um.  

 

Neste final de semana, no intervalo de um dos jogos do Euro 2024, contava a um amigo este e outros exemplos de situações similares, incluindo a do super ganhador e ora ex-presidente do FC Porto, quando ele, o amigo, no mesmo diapasão, acrescentou que provavelmente acontecerá o mesmo com o ora seleccionador dos Mambas. Ou seja: ele será mais um exemplo de que bons resultados não garantem inamovibilidade.   

 

Se assim for, a não renovação, creio que o mundo não vai desabar como não desabou quando Comiche e Simango foram preteridos. E tal como Comiche, que 10 anos depois voltou a merecer confiança, regressando ao cargo de edil de Maputo, o actual selecionador poderá também um dia regressar ou ainda apostar em novos desafios, tal como Simango que continuou a sua veia ganhadora na Beira e num outro partido.  

 

De toda a maneira, o selecionador nacional, que diante do silêncio da FMF que reclama, devia aproveitar a boa maré dos seus bons resultados e da corrente popular de apoio e apresentasse à FMF as condições necessárias para a renovação do seu contrato, acautelando que a FMF não contasse com ele depois do dia 31 de Julho de 2024, a data do términus do contrato, sem as tais condições e as garantias para o devido cumprimento.  

 

PS: o interessante neste enredo é o facto de o selecionador nacional reclamar que está a ser sabotado, mas, em simultâneo, e olhando para os bons resultados da selecção e que são chamados para suportar a renovação, depreende-se que a tal sabotagem não tem surtido efeito. Havendo efeitos, será que ela é que é a culpada por não se ter ganho ou feito muito melhor prestação nos últimos CHAN e CAN? Competições que a selecção não se qualificava nos últimos dez anos. Ou ainda, que por estas alturas, a selecção estaria muito melhor classificada no seu grupo de qualificação para o Mundial 2026, estando até em risco a própria qualificação.

quinta-feira, 06 junho 2024 11:33

Se vou de Chapa? Não, vou com Chapo!

Quando o então presidente americano Barack Obama foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz (2009), ainda no primeiro ano do seu também primeiro mandato, houve quem se interrogou sobre a justeza da atribuição. No debate da altura, e em socorro dos que o atribuíram o prémio, alguém defendeu que a atribuição foi uma forma de comprometer Obama com a paz nos anos que se seguiam, sobretudo, e determinante, pelo facto de ele suceder o presidente George W. Bush com o seu legado letal. 

 

Para os que assim entendiam a Academia de Oslo aproveitou a juventude e a áurea de esperança que Obama exalava, na américa e no mundo, para atingir fins como a paz mundial depois dos pós acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, particularmente com as guerras do Iraque e do Afeganistão. 

 

Lembrei-me disto, e vejo semelhança com o que poderá acontecer com Daniel Francisco Chapo, candidato presidencial da Frelimo, no próximo pleito eleitoral. No fundo, e tal como o entendimento para a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Obama, sem que até a altura ele justificasse merecê-lo, nas eleições de 9 de Outubro os eleitores moçambicanos poderão fazer o mesmo com Chapo o que a Academia de Oslo fez com Obama.

 

Esta manhã dei-me ainda conta desta possibilidade, escutando conversa alheia entre dois vizinhos da mesa do café matinal. A dada altura, um dos interlocutores, respondendo ao outro sobre se ia a Matola de Chapa (denominação de transporte público semi-colectivo de passageiros), disse: “Se vou de Chapa? Não, vou com Chapo!”. Depois de uma ténue reflexão, o outro retorquiu concluindo: “Se vais com Chapo, então vais de Metro!”.

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