João Madureira para seus colegas de escola e João Louro para os seus colegas da LAM, mais seu co-piloto no cockpit, arrancaram, a dia 26 de Abril, ensurdecedores aplausos dos passageiros que viajavam de Maputo a Nampula num voo TM 150. Ouviram-se também estridentes assobios. Mas tanto os aplausos como as assobiadelas eram de satisfação e, ao mesmo tempo, de alívio.
João Madureira teve de enfrentar todas as adversidades climáticas para poder aterrar em segurança no Aeroporto Internacional de Nampula, depois de ter falhado a primeira aproximação. Falhou e subiu nas alturas com toda a força, embrenhando o avião entre as nuvens, num dia que provavelmente não era bom para navegação aérea. Quiçá?!
Deu uma volta e antes de tentar a segunda aproximação, João avisou os passageiros: se falharmos a segunda só nos resta regressar à Beira. Onde uma hora antes o aparelho fizera uma escala técnica. Lá tentou o João Madureira naquela tarde de "mau tempo" e com sucesso aterrou em segurança. Uff! Choveram os aplausos, que duraram todo o tempo em que a aeronave fez o “taxi” para ir se imobilizar. Era satisfação enorme! No meio de uma tempestade brutal, o Madureira fez aterrar o avião aterrou em segurança e não foi preciso ir à Beira.
A LAM tem motivos para se orgulhar destes seus jovens quadros. Nem só de atrasos e de catering que deixa a desejar vive a LAM. Há boas coisas lá. Aliás, antes de sair de Maputo, João Madureira teve de abortar a descolagem porque uma porta quase abrira. Se não o tivesse feito, talvez acontecesse o pior. (Carta)
Na sequência do ciclone Kenneth que fustigou há dias o distrito de Macomia, em Cabo Delgado, cerca de 80 mil ouvintes estão privados do acesso/direito à informação, em virtude da rádio local, a Rádio Comunitária Nacedje, onde trabalhava o jornalista Amade Abubacar, ter sido danificada. Segundo fontes locais, a rádio já não existe. A infraestrutura foi totalmente danificada depois que uma mangueira caíu sobre ela.
Também foram afectados em Macomia pequenos negócios de cópias, internet-café e uma mini-escola de informática. Deste modo, os ouvintes das zonas mais rurais de Macomia estão longe de saber o que se passa a nível local e além-fronteiras. Devido à dimensão dos danos, tudo indica que a reposição da rádio vai levar tempo. O Instituto de Comunicação Social (ICS), proprietária da rádio, deverá mobilizar fundos para voltar a pôr a rádio no ar. (Carta)
O Banco Mundial garante que vai prestar apoio a Moçambique, sobretudo na procura de soluções sustentáveis com vista a tornar o país mais resiliente aos efeitos das calamidades naturais. O compromisso foi assumido esta quinta-feira em Maputo pelo Presidente do Grupo do Banco Mundial, Davis Malpass, após ter sido recebido em audiência pelo Presidente da República, Filipe Nyusi.
Na ocasião, Davis Malpass disse que o Banco Mundial vai dar assistência aos afectados pelo ciclone Idai e Kenneth nas zonas centro e norte. No encontro com Nysi, o Presidente do Grupo do Banco Mundial, apresentou uma mensagem de condolências às vítimas dos desastres naturais.
"Não iremos fazer a assistência a Moçambique apenas no âmbito logístico devido aos ciclones, mas estenderemos ainda mais o compromisso para apoiar ao longo prazo em termos de desenvolvimento do país”, disse Davis Malpass.
Ele acrescentou que o apoio vai igualmente assegurar uma melhor assistência ao desenvolvimento humano, incluindo a melhoria das rendas das populações. Davis Malpass efectua hoje uma visita à cidade da Beira com objectivo de se inteirar do processo de reconstrução em curso. No regresso anunciará um pacote de medidas de apoio do banco a Moçambique. (Carta)
Está à vista um azedar de relações entre os armadores do banco de Sofala e o Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas (MIMAIP), dirigido por Agostinho Mondlane. Segundo alguns armadores, em conversa com “Carta”, em causa está o facto de, mais de um mês após a passagem do Ciclone Idai, nenhum dirigente de nível central daquele ministério se ter deslocado à província de Sofala, em particular à cidade da Beira, para, no mínimo, solidarizar-se com eles e avaliar os estragos causados pela catástrofe.
A Fundação Galp acaba de lançar uma campanha denominada “Vamos Juntar Energias pela Beira”, que se realiza até o dia 31 de Maio, em Moçambique e Portugal. O objectivo é angariar bens para as vítimas do ciclone IDAI, que afectou a região centro do país. Em Moçambique, esta acção solidária vai decorrer em cerca de 30 postos de combustível nas províncias de Maputo, Nampula, Gaza e Inhambane, em parceria com a Cruz Vermelha de Moçambique e a Associação Helpo.
Com a campanha, espera-se recolher bens alimentares não perecíveis (feijão, arroz, massa, frutos secos, óleo, aveia, açúcar e enlatados de abertura fácil), produtos de higiene (sabão, sabonete e pasta dentífrica), calçado, utensílios de cozinha, materiais de abrigo (lonas), sementes e material para a prática da agricultura.
A acção insere-se no plano de apoio que a Fundação Galp está a implementar na sequência do ciclone que devastou a região centro de Moçambique. Lembre-se que, logo após o desastre, a Fundação Galp mobilizou apoio humanitário, disponibilizando bens de emergência no valor de 150.000 Euros para apoiar as operações de socorro às vítimas do ciclone, com foco na província de Sofala. (Carta)
Um novo estudo, publicado recentemente na revista PLOS ONE, documenta pela primeira vez a trajectória das populações de fauna bravia no Parque Nacional da Gorongosa em Moçambique ao longo de meio século. Intitulado War-induced collapse and asymmetric recovery of large-mammal populations in Gorongosa National Park, Mozambique”, o estudo baseia-se em 18 levantamentos aéreos de animais selvagens realizados com aeronaves de asa fixa e helicópteros entre os anos de 1969 e 2018.
O estudo foi escrito por uma equipa composta por cientistas da Gorongosa, da Universidade de Princeton nos EUA e do Conselho de Pesquisa Agrícola da África do Sul. Na década de 1960, o Parque Nacional da Gorongosa foi considerado um dos parques nacionais mais espectaculares da África, com enormes manadas de fauna bravia percorrendo as planícies e florestas do Vale do Rift. As densidades de grandes herbívoros da Gorongosa estavam no mesmo nível de áreas de alta abundância de vida selvagem, como a Cratera de Ngorongoro e o Parque Nacional do Serengeti.
Durante a guerra civil pós-colonial de Moçambique (1977-1992), na qual centenas de milhares de pessoas foram mortas, as hostilidades grassaram em torno do parque. Este conflito e a pobreza que persistiu após o término da luta reduziram severamente os grandes mamíferos do parque.
As populações de animais selvagens diminuíram 90-99% desde meados da década de 1970 até o final dos anos 90. Esta conclusão das contagens aéreas de fauna bravia foi reforçada por relatos de observadores familiarizados com as condições do pré-guerra, que transmitem uma eliminação quase total da vida selvagem.
Após os primeiros esforços de restauração, a recuperação da fauna bravia acelerou desde 2004, coincidindo com a co-gestão público-privada do Projecto da Gorongosa com o Governo de Moçambique. O Projecto da Gorongosa segue uma estratégia dupla de conservação e desenvolvimento humano para a Gorongosa e a Zona Tampão circundante e os seus habitantes.
A infra-estrutura do Parque foi reconstruída e ampliada, o corpo de fiscais foi re-treinado, expandido e equipado, enquanto os programas de desenvolvimento humano têm-se concentrado simultaneamente em projectos de saúde, agricultura e educação.
Houve uma recuperação acentuada da biomassa total da vida selvagem e da maioria das populações individuais. Isso reflecte em grande parte o crescimento populacional natural das populações remanescentes. Translocações de vida selvagem de outras áreas protegidas foram limitadas a menos de 500 animais, principalmente búfalos e bois-cavalos para suplementar o pequeno número de sobreviventes da guerra.
Dentro da área central do Vale do Rift do Parque, a biomassa da vida selvagem já se recuperou para mais de 80% da biomassa pré-guerra. No entanto, a recuperação foi assimétrica. O Inhacoso (ou Piva) emergiu como a espécie predominantemente dominante do pós-guerra, enquanto animais maiores, como o Búfalo, estão a recuperar mais lentamente, provavelmente por causa de suas taxas de crescimento intrinsecamente mais baixas.
Durante a última contagem aérea que foi realizada em Outubro de 2018, mais de 100.000 grandes herbívoros foram contados no Parque, tornando-se, mais uma vez, um destino verdadeiramente espectacular, testemunhando a resiliência da natureza, quando existe boa protecção e apoio. Sobre o Parque Nacional da Gorongosa e o Projecto da Gorongosa O Parque Nacional da Gorongosa é o principal parque nacional de vida selvagem de Moçambique, localizado na extremidade sul do Grande Vale do Rift do Leste Africano. É o lar de alguns dos ecossistemas biologicamente mais ricos e geologicamente mais diversos do continente africano. As suas fronteiras abrangem as grutas e desfiladeiros do planalto de Cheringoma, as vastas savanas do Vale do Rift, e a preciosa floresta tropical da Serra da Gorongosa. (Carta)
A empresa que atua no segmento de engenharia da construtora brasileira Odebrecht mudou o nome e adotou a sigla OEC, assim como uma nova identidade visual, anunciou ontem o grupo Odebrecht em comunicado. "A Odebrecht Engenharia e Construção anuncia a renovação de sua marca ao adotar as iniciais OEC", segundo a nota hoje divulgada. A mudança faz parte de uma reestruturação e transformação que começou em 2017, quando a companhia reconheceu oficialmente o seu envolvimento nos escândalos de corrupção descobertos na empresa estatal brasileira Petrobras.
A nova identidade visual, desenvolvida com o apoio da consultoria Keenwork, será utilizada a partir deste mês em todas as comunicações da empresa, que trocou a cor vermelha de sua marca pelas cores verde, azul e cinza. Em 2018 o grupo Odebrecht já havia realizado uma mudança semelhante na sua subsidiária que atua no segmento de petróleo e gás, a Odebrecht Óleo e Gás, que passou a chamar-se Ocyan.
O Grupo Odebrecht protagonizou, juntamente com outras empresas brasileiras, o maior escândalo de corrupção da história do país, que foi revelado pela Operação Lava Jato. A investigação iniciada em 2014, e que ainda está em andamento, descobriu uma rede que desviou milhares de reais por meio de licitações fraudulentas e contratos inflacionados da petrolífera estatal Petrobras e também em outros órgãos públicos do país. A Lava Jato levou à prisão empresários e políticos importantes, incluindo o herdeiro e ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e o ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Os atos de corrupção promovidos pela Odebrecht não se limitaram ao Brasil: a empresa é investigada em dez países da América Latina e África, onde autoridades apuram pagamentos de subornos a políticos e funcionários públicos. (Lusa)
Uma das figuras escolhidas pelo Governador do Banco Moçambique, Rogério Zandamela, para as três vagas no Conselho de Administração abertas pelas saídas dos administradores Waldemar de Sousa, Alberto Bila e Paulo Maculuve (duas das vagas entretanto já ocupadas por Benedita Guimino e por Jamal Omar) era a actual directora do Gabinete de Comunicação e Imagem, Silvina de Abreu.
Na sexta-feira, Silvina de Abreu não tomou posse. Seu nome aparentemente não passou junto do Governo. Porquê? Duas razões são apontadas por fontes bem colocadas.
A primeira relaciona-se directamente com a saída de Waldemar de Sousa, que tinha ainda dois anos de mandato. A razão central alegadamente apontada por Zandamela ao Governo para a saída de Waldemar foi a de que ele estava prestes a completar 60 anos, idade para reforma compulsiva no aparelho do Estado – embora o posto de administrador do BM seja de confiança política e, portanto, o preceito não se aplicar no seu caso.
Mas a justificação usada para a saída de Waldemar foi esgrimida pelo Governo para impedir a ascensão de Silvina de Abreu. Ela está em vias de completar 55 anos, idade para a reforma de funcionárias no aparelho de Estado. Silvana de Abreu parece estar diante doutro “handicap”: o facto de ter assinado parte significativa do expediente do banco central relativo à homologação dos pedidos de empréstimos das empresas ligadas ao calote. Seu nome consta do processo-crime das dívidas ocultas nessa qualidade. (Carta)
A oitava edição do Lioness Lean in Breakfast que teve lugar, recentemente, na Incubadora de Negócios do Standard Bank, foi marcada pela apresentação do percurso e história da Minimal Living Box, uma startup moçambicana que se propõe a minimizar o problema de habitação em Moçambique.
De acordo com Marta Uetela, fundadora da startup de design e construção modular, a falta de habitação no País, principalmente para os jovens, e os altos preços praticados no mercado imobiliário constituíram motivos para a criação do seu estúdio de design e construção baseada em contentores.
Com este conceito, a jovem, estudante de engenharia mecânica, com uma curta passagem pelo curso de arquitectura, pretende trazer ao mercado nacional uma solução de habitação acessível, flexível, móvel e que esteja ao alcance da capacidade financeira dos jovens, que constituem a maioria da população.
Prova disso é o facto do preço do menor módulo (T1), feito a partir de um contentor de 20 pés revestido de isopor e gesso para absorção de calor, que comporta um dormitório, um espaço para lazer, uma banca de trabalho e casa de banho, estar estimado em 380 mil meticais.
“Trata-se da maior e melhor oportunidade de os jovens terem acesso à habitação e acredito que o mercado está sedento por uma solução do género”, considera Marta Uetela.
Para o Standard Bank, a estória de Uetela, que recentemente participou no #ideate Bootcamp, um programa de imersão empresarial promovido pela Incubadora de Negócios do banco, é uma demonstração clara do seu trabalho para impulsionar as pequenas e médias empresas e promover o empreendedorismo feminino.
“Acreditamos que a actividade económica é uma das formas de colocar em prática a paridade do género e de promover a inclusão financeira, por isso apoiamos a criação de condições para que as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens e ocupem o seu lugar no mundo dos negócios”, referiu Mónica Macamo, representante do Standard Bank na oitava edição do Lioness Lean In Breakfast.
Comentando sobre a motivação do banco para organizar este evento, Mónica Macamo referiu que estas iniciativas (Lioness Lean in Breakfast e Young Lionesses) constituem uma plataforma de projecção nacional e internacional que visa dar visibilidade às mulheres e alargar o seu acesso ao mercado, daí terem sido convidadas oradoras que tiveram a coragem de empreender (e hoje são uma referência) para partilharem as suas experiências e melhores práticas.
Para além do Standard Bank, o Lioness Lean in Breakfast organizado pela Lionesses of Africa, conta com o apoio da Embaixada do Reino dos Países Baixos, e da Eni Rovuma Basin.
A oitava edição do evento de partilha de experiências e criação de uma rede de contactos esteve dividida em duas sessões. A primeira, destinada a empresárias já estabelecidas teve comooradoras Shaida Seni (Prativa), Lubaina Momade (Luza Microcrédito), Alieça Ferreira (Link) e Epifânia Gove (Pifa Gove Millinery); sendo que a segunda (Young Lionesses), com foco em jovens estudantes universitárias que pretendem abraçar o empreendedorismo, teve como oradoras Marta Taquidir (Muthiana Orera), Marta Uetela (Minimal Living Box) e Paula Matsinhe (Uzuri Creations).
Ao avaliar as duas sessões, Melanie Hawken, fundadora e directora executiva da Lionesses of Africa, mostrou-se impressionada com o crescimento da comunidade de empreendedoras moçambicanas criada a partir desta iniciativa, que se situa em torno de duas mil mulheres.
“Criou-se uma forte rede de negócios a partir do Lioness Lean in Breakfast e do Young Lionesses, que permite a interacção entre as mulheres. Hoje, os produtos e serviços estão a ganhar espaço no mercado externo, e isso é muito importante”, justificou Melanie Hawken.
A propósito, a fundadora e directora executiva na Lionesses of Africa, anunciou para breve o lançamento de uma fundação que se vai dedicar à divulgação de histórias de sucesso de empreendedoras de diversos países, incluindo Moçambique, o que vai facilitar o acesso a vários mercados europeus.
Tânia Manhiça, fundadora da Leap Consulting (consultoria em gestão), foi uma das participantes do Lioness Lean in Breakfast e disse ter sido uma sessão de inspiração pois pôde ouvir histórias de sucesso e saber mais do percurso de diferentes mulheres.
“Percebi que do nada é possível criar algo notável. Muitas vezes o que nos trava é a nossa mentalidade. Enfrentamos muitas barreiras criadas por nós mesmas e que podemos ultrapassá-las facilmente e esta iniciativa ajuda as mulheres a ganharem coragem para empreender”, enfatizou Tânia Manhiça. (FDS)
Para reflectir sobre o processo histórico de construção do sistema de administração da Justiça, fazer o balanço dos avanços e recuos registados, identificar as principais alterações e perspectivar o futuro, decorre, desde quinta-feira, 2 de Maio, em Maputo, o 1º congresso dos juízes moçambicanos.
No evento, promovido pela Associação Moçambicana de Juízes (AMJ), sob o lema “O poder Judicial em tempos de crise: estatuto e modernização da Justiça”, serão abordados vários temas como “Os tribunais e a defesa do Estado de Direito”, “O retrato do juiz moçambicano: entre o ideal e o possível”, “O estatuto do juiz em tempos de crise”, “O papel da mulher na Justiça”, entre outros.
Para o presidente da AMJ Carlos Mondlane, o congresso decorre num momento em que os tribunais estão no epicentro dos problemas políticos, mas também económicos e sociais no País: “A crise económica, a corrupção a criminalidade transnacional e outros desvalores jurídicos impõem uma intervenção dos tribunais”.
“Tornar a Justiça mais célere é o apanágio perseguido pelo Estado. Muitas vezes, as pessoas não entendem que a velocidade da vida social não se compadece com a tendência estática do Direito. O tempo de Justiça não corresponde ao tempo idealizado pela sociedade, muito menos ao esperado pela Comunicação Social ou pelas redes sociais”, referiu.
O tempo da justiça, segundo sustentou, deve permitir uma leitura não emotiva da realidade e conduzir a uma decisão de qualidade. “Reconhecemos ainda assim a crítica que, muitas vezes, é feita à nossa Justiça, tendo a sua razão de ser”, ressalvou.
Num outro desenvolvimento, Carlos Mondlane defendeu que, sem fazer muito esforço, percebe-se que as razões que levam aos atrasos na Justiça têm a ver, em primeiro lugar, com a explosão da litigiosidade.
“Mas também têm a ver com a legislação processual, que foi concebida para um tempo e um lugar histórico diferentes. Um tempo em que não havia, praticamente, máquinas de escrever, muito menos computadores. Os telefones eram bem escassos, as estradas eram de má qualidade e as comunicações faziam-se por carta registada”, destacou.
Por outro lado, considerou que muitas reformas processuais que têm estado a multiplicar-se em Moçambique permitem o uso abusivo de meios de obstrução do próprio processo pelos actores jurídicos e judiciários.
No congresso de dois dias, que termina esta sexta-feira, usou, igualmente, da palavra, João Beirão, vice presidente do Tribunal Supremo, tendo considerado que o prestígio e a qualidade dos protagonistas do congresso, nomeadamente oradores, magistrados, participantes e os temas a serem abordados dão alento e confiança de que inicia mais uma etapa de reflexão sobre os grandes desafios que a magistratura enfrenta, perspectivando o futuro.
“Este congresso acontece num momento de transformações na história e num contexto de inúmeras tribulações que o País e o mundo atravessam, pondo à prova o sistema judicial, o que exigirá de cada um de nós capacidade de ponderação entre a adversidade e complexidade de situações que se nos impuserem, olhando sempre no respeito pelos direitos fundamentais, fundamento da dignidade do Homem num estado de direito democrático”, enfatizou.
Por sua vez, o secretário Permanente do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Didier Malunga, disse que no processo da construção da moçambicanidade todos são chamados a aprofundar os temas relacionados com a organização judiciária, compreendida como um pilar fundamental na construção e consolidação do Estado de Direito em Moçambique.
“A AMJ, ao promover o debate jurídico e judiciário em torno dessas temáticas, é um bom começo, um caminho a seguir na consolidação das várias vertentes que permitem compreender melhor o estágio em que nos encontramos e perspectivar o que pretendemos deixar como herança para as gerações vindouras de carreira jurídica”, concluiu.(FDS)