Anteontem, no Dia Mundial dos Museus, pensei sugerir aqui uma ideia para marcar a data, uma ideia “museulógica” mas, atarefado, perdi a engrenagem. Contudo, a ideia ainda me atravessa a garganta. Duvido, no entanto, do seu consenso. Trata-se de um museu nacional do agreste, no sentido bucólico do termo.
Uma coisa para documentar os aspectos mais negros da nossa história recente. Temos a preguiçosa mania de escrever pouco, em livro, sobre o presente. No Brasil, a lava-jato deu dezenas de livros. Imagino agora a matéria-prima bolsonara. Na RAS, o Guptagate encheu as prateleiras da Exclusive Books.
Aqui, as Dívidas Ocultas ainda não fizeram um livro, mesmo pejadas de personagens romanescas como os Nhangumeles, o meu ndriyango. De modo que um museu faria sentido. Caberia lá tudo de pária que domina nossa sociedade. O crime organizado. Os raptos. A corrupção desenfreada. As próprias dúvidas ocultas.
Exporíamos os raptores usando os bichos recorrentes do Idasse Tembe. Dos algozes do Carlos Cardoso existem imagens à catadupa. Da dívida sinistra tão muita. Seria um museu de imagens e memórias negras das vítimas, do povo sofrido. A ideia é que nossa sociedade se textura entre enredos negros, tenebrosos. O sangue dos nhongos a centro, adiando vidas. E o horror fétido a norte, que nos despedaça como nação. Um museu não serve também para estas coisas?
Um Museu dos Algozes? (Marcelo Mosse)
O empresário Juneid Lalgy mostrou que não é um paraquedista no futebol. Ele não está para se servir do futebol; está servindo o futebol. Desde Fernando Gomes, do Nova Aliança da Maxixe, que eu não via um verdadeiro empresário devotado ao desporto-rei, abnegado, sem interesses obscuros. Um carola como havia antigamente.
Juneid levou o Chibuto ao "Moçambola". Imaginem! Agora quer fazer história com o ABB (Associação Black Bulls), da Matola. Deve ter percebido que estar no grande Maputo é um trampolim para voos mais altos. Sua academia de formação é das melhores do país. Ninguém apostou tanto na formação como ele. E ontem apresentou um cheirinho do Estádio de Futebol que está a erguer, um complexo desportivo.
Quem é o empresário que fez igual em Moçambique, depois da independência, construindo um campo de raiz? Nem o Estado! Zimpeto foi uma boleia chinoca. Aliás, ao longo dos anos, ao invés de construir, destruímos nosso parque desportivo, algum vendido ao desbarato e depois queremos o futebol em lugares que não merecemos.
Empresários de verdade como Juneid Lalgy são necessários no nosso desporto. E devem ser acarinhados. Este texto é minha maneira de tirar o chapéu diante de uma obra ainda em curso, mas que dá conta, sem batota, da presença de um homem erguendo uma história de sucesso no nosso futebol.
Era uma daquelas terríveis noites dos quaren (tena) ta e dois graus Celcius. Baltazar Delgado dedica parte do seu tempo à tela empoeirada da “TV corcunda”, de apenas 12 polegadas, que há anos reivindica o eterno descanso. Ao seu lado, Ndole, uma das herdeiras daquelas paredes cruzadas por teias de arranha, de 13 anitos de idade, disputa o comando do maltratado aparelho para seleccionar o canal apetecível. É de loucos – murmura avó Ndali, a sempre prestativa secretária familiar, ante aquele “puxa-puxa” que quase fazia rolar terra abaixo uma das pilhas do “espatifado” comando. Enquanto a pequena insiste em percorrer a lista de opções de entretenimento, Delgado teima em permanecer num dos canais informativos nacionais. Afinal o debate, que mal começara, prometia. Aquela estrela do filme “laundering” estava à solta lá, do outro lado do hemisfério, e era preciso discutir as suas implicações na macroeconomia doméstica. Mal os painelistas, tradicionalmente críticos, desenvolvem seus raciocínios, a pequenota solta-se: Vão-te m*tar!
O tom, carregado de ar sabichão de quem tem ainda muita “poeira por comer” nestas estradas da vida, deixa claro que a mensagem direciona-se ao titios do debate. Silêncio e perplexidade invadem a alma de Baltazar. Aquilo era demais para uma criança! E como que para aclarar as suas razões, ei-la (Ndali) embrulhada num manto de justificativas baseadas em factos acidentalmente vistos em noticiários televisivos. Segundos depois, Delgado entretém-se a exorcizar aquela ideia que insinuava a existência, na terra das tulipas, de caminhos cobertos, não de rosas como se podia esperar, mas de cacos herdados dos seus ancestrais. Irredutível, Ndole socorre-se de uma data de “sortes” daqueles que ousaram “dizer das suas” para alimentar a sua ingénua posição. Enfim, o curto diálogo gera, teimosamente, uma espécie de auto coibição da lucidez opinativa. Afinal, os factos não davam mesmo azo a qualquer argumento.
Atónito, Delgado mergulha, por instantes, num monólogo inusitado, a matutar, a juntar as peças daquela afirmação, para depois concluir: “Bom…o alerta em si não deve ser chocante. Mas a idade de quem o profere, sim. Não gostaria que estes petizes aprendessem que o preço para esquivar-se da cólera de quem resiste ao debate informado seja esta ensurdecedora mordaça. Mas os estribados martírios envolvendo os “homens da pena”, algures em Cabo, não deixam dúvidas de que este parece ser o caminho escolhido por uns e outros, cujas atrocidades são premiadas com astronómicos saltos ao cume do monte real. Se a moda pega, não tardam, tal como as tendências sugerem, a reproduzir-se nichos de adeptos do “corta-mato” ávidos em chegar-se ao mel, sem jamais sujeitar-se às picadas das abelhas. E o receio de que esta seja a semente desse paganismo democrático, do prenúncio de uma sociedade do “salve-se quem poder”, interrompe o monólogo. Num gesto de rendição, termina pensando: Este repto ao silêncio parece preste a dar os seus frutos – a propagação de gerações mergulhadas na hipnose dessa visão letal e obcecada pelo desfalque da tão propalada democracia.
Urge, então, mudar o estado das coisas, não no silêncio, pois e tal como já dizia o famoso pedagogo Paulo Freire, não é por aí (silêncio) que os Homens se fazem. Mas na palavra, no trabalho, na acção-reflexão”, conclui Delgado, mal recomposto da soneca à cesta que o mergulhou naquele sonho, interrompido pelo canto de Frederico, seu galo de estimação.
O acto de cumprir uma recomendação e o de abrir uma encomenda são da alçada do destinatário. Este é livre de decidir se cumpre ou não uma recomendação e se abre ou não uma encomenda. Por conta disto e quando se trate de entidades públicas é aconselhável o resguardo de expectativas quanto ao cumprimento de recomendações de relatórios oficiais. Um exemplo: o relatório geral das contas públicas nacionais, adiante laudo médico, sempre prescreve recomendações e o executivo continuamente estupra-as. Um vício que preocupa a sociedade e é também par(a)lamentar.
Foi assim na semana passada. O laudo médico foi levado à polícia par(a)lamentar. Da perícia, depreende-se de que houve, mais uma vez, um delito. Desta vez, fora as escoriações de anteriores estupros e por sarar, o corpo apresentava queimaduras de nível 4. E a propósito, um reformado par(a)lamentar foi chamado a tecer algumas observações sobre a contínua e abominável violação. Este, fazendo jus da sua experiência, disse aos prantos de que já não se estava perante a figura de “espontânea vontade” mas a de “deliberada vontade”. Ainda disse que o assunto “fora grave é desagradável” e que o autor carregava nas costas outros delitos similares, levando-o a concluir que tal comportamento é compatível com a “delinquência por tendência”.
Do enredo as recomendações para Boris Johnson, Primeiro-Ministro (PM) inglês. Por ser inglês e PM, preenche convenientemente o lugar da famosa expressão “Para inglês ver” que significa algo feito apenas para preservar as aparências. Não seria também o caso das recomendações do relatório das contas públicas? Também, por estes dias e por mais que o Boris Johnson quisesse ver, não lhe sobraria tempo por estar em recuperação da recente enfermidade viral que lhe apoquentara e ainda andar ocupadíssimo na gestão pública da pandémica Covid-19, a responsável da moléstia do PM inglês.
Por outra e para terminar: a expressão “Para inglês ver” remonta aos tempos da abolição da escravatura, sobretudo, em referência de esclavagistas que a fingiam cumprir, temendo sanções da Inglaterra que, na altura, era a principal potência (e polícia) mundial e quem financiava o grosso do comércio internacional. E em tempos de moderna democracia para quem se aparenta? Para os que financiam ou para os que definham? O laudo médico não diz, mas aparenta que a conta sobra para o último.
Estamos a gastar balúrdios com túneis de desinfecção mesmo sabendo que é uma tecnologia que não foi cientificamente aprovada. Ou seja, estamos a usar o pouco dinheiro que temos, estamos a mobilizar os nossos já falidos empresários e parceiros de cooperação na compra e promoção de um produto que temos a certeza que não funciona. Isto significa que estamos a combater a Covid-19 com um recurso que não teve o "yes!" científico da Ó-Eme-Esse. Eu não entendo!
Afinal, nós não somos, então, os tais meninos finórios que só usam produtos cientificamente testados e autorizados?! Nós não somos os tais que estão na vanguarda da proteção da saúde do povo?! Nós não somos os que não arriscam?! Nós não somos os tais protótipos da qualidade sanitária?! Como é que os túneis escaparam da nossa qualidade científica?!
Os túneis de desinfecção estão a ser diariamente inaugurados por governantes de topo. Ministros, secretários de Estado, governadores, edis e companhia estão a acotovelar-se para "desvirginarem" túneis e aparecerem no ecrã na hora nobre.
Não percebo! Os túneis gastam energia, água e cloro (não tenho certeza se é esse o produto que se usa). Cada casota daquelas custa entre 80 à 200 mil meticais, dependendo do material usado. Portanto, um investimento caro e cientificamente ineficaz. Um produto mais caro do que o xarope de Madagáscar. O xarope de Andry Rajoelina é "mahala" e é fabricado à base de uma erva cuja eficácia no tratamento da malária e outras enfermidades é mundialmente reconhecida. O que significa que, se não cura a Covid-19, pelo menos, não mata. Estou a pensar empiricamente!
Trocando em quinhentas: não podemos usar o xarope GRATUITO porque a ciência não aprovou a sua eficácia, mas podemos usar um túnel ONEROSO, de eficácia duvidosa, sem aprovação da científica!
Se a Ó-Eme-Esse é tão científica e preocupada com a promoção da qualidade sanitária global, por que é que não se pronuncia em relação aos testes contaminados que andam por aí, dos testes positivos feitos em animais e plantas na Tanzânia e das máscaras deliberadamente mal confeccionadas na China? Se há, de facto, interesse por parte da Ó-Eme-Esse em promover a cura global, por que razão, até hoje, não submeteu o xarope malgaxe à testes científicos e dissipar, de uma vez por todas, a dúvida?
O senhor ministro da Saúde pode explicar isso em centavos? Os tais gajos da Ó-Eme-Esse não sabem que estamos a gastar dinheiro com túneis? Disseram alguma coisa?
- Co'licença!