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quinta-feira, 16 julho 2020 08:42

Análise: Eis porque os dividendos da HCB são irrisórios

A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) comunicou, há dias, que a partir de 20 de Julho de 2020, irá distribuir um dividendo de 0,064 Meticais por acção aos seus mais de 16 mil accionistas.

 

A notícia não foi bem recebida por alguns accionistas e não só, que logo mostraram sua revolta, alegadamente porque receber 0,064 Meticais (dos quais deveriam subtrair pelo menos 10% de IRPC ou IRPS) por cada acção, adquirida por 3 Meticais, é deveras irrisório, tendo em conta que a HCB é uma empresa financeiramente robusta e muito lucrativa.

 

Entretanto, há razões matematicamente aceitáveis que levaram a HCB a pagar 0,064 Meticais aos seus accionistas:

  1. Antes, importa contextualizar que, no exercício económico findo a 31 de Dezembro de 2019, a HCB embolsou um lucro líquido de 6.062.916.944.34 de Meticais, valor que é cerca de 30,5% superior ao de 2018, mesmo tendo sido afectada pelo ciclone Idai, que causou a queda de torres de transporte de energia. Isto prova que, de facto, é lucrativa.
  2. Como manda a legislação, a HCB viu-se obrigada a subtrair 28% (embora a Código Comercial e os Estatutos Orgânicos da sociedade, determinem 25%), do referido lucro para pagar aos seus accionistas. Com os remanescentes 72%, a empresa pretende investir para a prossecução do seu negócio no futuro.
  3. Feitos os cálculos (lucros totais menos 28%), a sociedade chegou à conclusão que deve, por obrigação, pagar 1.697.600.000,00 de Meticais em dividendos, aos seus accionistas.
  4. No passo seguinte, a HCB dividiu os referidos dividendos por 26.513.851.000,00 de acções. Refira-se que, em termos de estrutura accionista, 85% de acções pertencem à Companhia Eléctrica do Zambeze (Estado), 3.5% acções próprias da HCB, 7.5% a Redes Eléctricas Nacionais (capitais portugueses), 4.0% aos diversos Investidores nacionais, que chegaram à HCB no ano passado, no âmbito da Oferta Pública de Venda (OPV) de 4%, dos 7.5% que a empresa pretende oferecer a cidadãos, empresas e instituições moçambicanos.
  5. Em última análise, a HCB dividiu os já mencionados 1.697.600.000,00 milhões de Meticais (de dividendos) por 26.513.851.000,00 milhões de acções (também acima referenciados) e chegou à conclusão que deveria pagar aos accionistas, por cada acção, 0.064269118 Meticais (arredondados para 0.064 Meticais), um valor que, na verdade, é superior a 0,051 Meticais por acção, que a HCB pagou, em 2018, em dividendos aos seus accionistas.

 

Constatação: Se o valor do dividendo é irrisório, é que o número de accionistas também é elevado. Portanto, a lição que se pode tirar no negócio de acções e, olhando para esse caso específico, é que os accionistas devem pensar no ganho como um compósito que resulta dos dividendos distribuídos (0.064 Meticais por acção) e da valorização bolsista de suas acções em 16,67%, desde o seu lançamento (se assumirmos o preço actual de 3,50 Meticais por acção). Se conjugarmos ambos ganhos, a taxa ascende a 18,8%. E, vendendo hoje, o accionista (investidor) arrecadaria mais 0,50 Meticais por acção. (Evaristo Chilingue)

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