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domingo, 22 outubro 2023 13:11

Saudades... sem saudosismos!

Escrito por
Renato Caldeira
 
No pós-Independência, em dia de jogo-grande de futebol, era comum os nossos dirigentes disputarem os lugares na tribuna dos Estádios. Para o público, os bilhetes ficavam esgotados 3-4 dias antes. As populações cantavam e dançavam ao som dos batuques. O chamado mercado negro, funcionava para os assistentes de última hora.
 
Lindo, lindo, lindo, é que, ao contrário do que hoje abunda, a maioria dos adeptos fazia questão de se equipar com as cores dos seus clubes... nacionais!
 
Duas estórias ilustrativas:
 
-    O Presidente Samora Machel, chegou a encurtar o seu discurso no Parlamento, quando se apercebeu da inquietação dos dirigentes, à medida que a hora do jogo Moçambique-Zaire se aproximava.
 
-    Num jogo-grande, o juiz indigitado, vindo das Ilhas Comores, ao fazer a inspecção às 10 da manhã ao Estádio da Machava, acabou apanhando uma diarreia, impressionado com a multidão e as batucadas, cerca de 6 horas antes da responsabilidade que tinha em fazer soar o apito. Se àquela hora era assim...
 
MUDARAM-SE OS TEMPOS...
 
De lá para cá, muita coisa mudou, infelizmente para pior. Vivem-se tempos de facilitismos, apontando-se a fraca qualidade do nosso futebol, como a causa principal do abulicismo.
 
Será? Angola, Tanzania e África do Sul, com um futebol não muito longe do nosso, não vive esse drama, pelo menos nos "derbys"!
 
Diz Mia Couto, de quem sou fã: Nós, moçambicanos, em regra buscamos culpados em todos... menos em nós próprios!
 
Um dos factores principais é o seguidismo. Vejamos: nos Ministérios, e empresas estatais, quando os “chefões” iam aos campos, havia razões para lhes seguir os passos. Se mais não seja, para ver e ser visto. Quando os Presidentes da República iam, mais os seus Ministros, Vices e por aí abaixo, seria uma vergonha não poder partilhar algo que os chefes viram.
 
E como o Estatuto do nosso desporto – com o futebol na “cripta” - funciona em contra-mão ao que se vai passando no planeta, alguns dos Ministros dos Desportos, que interiormente viviam “alheios” ao fenómeno, após o fim do mandato, fizeram com que a “correia de transmissão” se fosse quebrando.
 
E a pergunta é: alguém terá visto a sombra de Mateus Khatupa, Pedrito Caetano ou Janete Mondlane, na Machava ou no Pavilhão do Maxaquene, desde o dia que cessaram funções?
 
Mas porque o seguidismo é contagiante, poucos dos antigos futebolistas e/ou desportistas de outras modalidades, agora apoiam os novos craques, apelidando-os de “matrecos”.
 
Pessoalmente, com alguma mágua mas com realismo, ao contrário dos tempos em que vivi o desporto no sangue, nos nervos e na pele, vejo que hoje, a maioria dos colegas no jornalismo desportivo, só se deslocam quando têm que reportar. Até já aconteceu um repórter fazer-se ao campo após um jogo de basquetebol ter terminado, só para saber o desfecho. Forneceram-lhe um resultado errado, que fez parangonas no jornal!
 
Felizmente, os novos tempos - com o boxe e o futebol na liderança - estão a fornecer indicadores muito positivos para a (re)edificação do “edifício” desportivo que a todos beneficia! 
 

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