Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quarta-feira, 01 abril 2020 06:48

Carta aberta aos líderes do mundo: Que mundo pretendemos após o COVID-19 ser vencido?

Escrito por

Excelências,

 

Antes de mais, aceitem as minhas cordiais saudações num momento em que o mundo enfrenta uma pandemia que dia-a-dia vem mostrando o quanto somos vulneráveis e desprotegidos.

 

Excelências, chamo-me Omardine Zacarias Omar, de nacionalidade moçambicana, um país sempre exposto ao fogo cruzado global desde as decisões políticas, económicas e de constantes conflitos.

 

Escrevo esta carta num momento em que a humanidade vive um dos maiores testes da era moderna. Escrevo esta mensagem numa altura em que mais de 30 mil pessoas no mundo já perderam a vida devido a esta pandemia que eclodiu nos finais do ano passado e, infelizmente, espera-se que se continue a morrer. Escrevo num momento ímpar em que a humanidade enfrenta um teste de sapiência divina e científica.

 

Excelências, o que esta pandemia nos vem provar é que todos os países e seres humanos são vulneráveis e expostos às adversidades do mundo, porque ninguém conhece os trilhos do seu destino, a não ser o Criador – embora, certas doenças tenham origem laboratorial (onde o homem ensaia o seu saber tanto para o bem quanto para o mal), caso que se verifica com o COVID-19 e outras doenças.

 

Excelências, o COVID-19 vem mostrar que os governos actuais de todo o mundo têm muito por fazer. Começando por transformar os seus sistemas de saúde e permitir acesso a todos os cidadãos independentemente das suas condições de vida. Para os líderes do meu continente, África, esta pandemia deve servir para corrigir tudo que por aqui vivemos.

 

Sabe-se que África é um continente de dependentes e com sistemas de saúde falidos ou viciados, porque todo aquele que é dirigente público ou possui finanças opta em ser tratado em países do primeiro mundo que hoje também choram com os danos da pandemia que paralisou tudo e ameaça alterar toda a ordem mundial em todos os âmbitos e alguns países pobres possam repensar na reforma profunda dos seus sistemas de saúde, educação e finanças.

 

Excelências, é importante que haja respeito pela natureza e todas as suas criaturas. É de vital importância que a humanidade perceba que todos nós somos seres passageiros e continuadores do projecto divino e que não adianta criar epidemias ou pandemias para medir o poder de uma economia em relação a outra. Esta pandemia é fruto da insensibilidade dos políticos e governos poderosos de todo o mundo e disperso do saber de mentes não-alinhadas com os sistemas governativos como aconteceu com o médico chinês Li Wenliang que alertou as autoridades do seu país sobre o surto, mas foi acusado de “espalhar boatos”.

 

Excelências, o nosso mundo está banhado de problemas, entre eles, mudanças climáticas devido ao uso irracional da natureza, corrupção, pobreza, fome, guerras, doenças como AIDS, Tuberculose, Ébola, Malária, Racismo, entre outras. O COVID 19 veio destapar estes problemas e mostrar que não existe um povo melhor ou maior que o outro. Uma pandemia que declarou guerra a todos os governos corruptos e obcecados do mundo.

 

Excelências, o COVID-19 veio mostrar que no mundo todos somos sujos e que termos atribuídos no passado – como “doença de mãos sujas ou de pobres”, a povos africanos, em referência a doenças como a cólera ou a malária – eram definitivamente ofensivos.
Excelências diria muito mais, mas o que eu e outros esperamos que o mundo seja após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar “o fim desta pandemia” é que:

 

ü  Os sistemas de saúde sejam devidamente valorizados e que haja respeito merecido a todos os funcionários e colaboradores dos sectores de saúde a nível do mundo, desde as condições financeiras ao seu habitat;

 

ü  Que se construam unidades sanitárias condignas em todos os locais onde existam populações vivendo;

 

ü  Que os cientistas do bem sejam vistos como propriedades dos Estados e que tenham uma relação contínua e não sirvam apenas para momentos críticos como estes em que estamos a viver;

 

ü  Que os sistemas de educação sirvam para formar “mentes brilhantes” e pessoas com espírito humanista nesta e nas próximas gerações e não mentes débeis e com fome de dogmatismo;

 

ü  Que os governos e governantes deixem de empobrecer os seus povos, acabando com a corrupção, a pobreza, mudando a sua abordagem em relação às reais necessidades do seu povo;

 

ü  Que alguns direitos humanos deixem de ser mera utopia;

 

ü  Que as guerras não sejam contra o povo inocente, mas sim contra pandemias e governos crónicos, ditadores comprovados e misantrópicos;

 

ü  Que haja mais irmandade entre os homens, respeito pelas realidades de cada povo e que a vida entre os homens seja mais altruísta e filantrópica e não como vivemos actualmente;

 

ü  Que haja paz na vida de milhares de pessoas que vivem momentos difíceis devido a certas políticas definidas por vossos governos;s

 

ü  Que as crianças, pessoas portadoras de deficiência e mulheres com dificuldades residentes em “países pobres” tenham uma vida mais condigna e que sejam respeitadas em todos os aspectos;

 

ü  Que as organizações económicas não debilitem os “países pobres” segundo critérios por vós criados;

 

ü  Que tenhamos um mundo mais justo, onde o oportunismo e a selvajaria económica e política não reinem;

 

ü  Que as pessoas possam ser mais próximas umas das outras, que cuidem mais das suas vidas e tenham condições melhores;

 

Excelências, esperamos que o doutoramento em que a pandemia COVID-19 nos submeteu possa servir para que as nossas vidas jamais sejam as mesmas, em todos os aspectos – até porque nos tem provado que as (nossas) mãos que seguram armas, escrevem os tratados, contam o dinheiro e apontam quais os países a sacrificar “são as mesmas mãos que hoje nos estão a infectar e a matar”.

 

Que situação! Afinal somos todos sujos!...

 

Unidos venceremos a COVID-19

 

Omardine Zacarias Omar, jornalista

Sir Motors

Ler 4036 vezes