Vêem-me essa pergunta a propósito da homenagem pelos 90 anos de Marcelino dos Santos - o nacionalista histórico e temido membro fundador da FRELIMO - celebrados no passado dia 20 de Maio de 2019. Na verdade, não sei bem a razão da pergunta. Também não sei a razão por que escrevo estas linhas. Estarei a homenageá-lo? Não sei!
Na esteira da homenagem, e através dos diversos depoimentos e arquivos audiovisuais passados nos media, não me surpreende a dimensão da sua grandeza, mas fica sempre a interrogação ou a sede de se saber mais e cada vez mais sobre a trajectória política e cultural de Kalungano, Lilinho Micaia ou simplesmente Marcelino dos Santos.
Venho contando em privado os “meus encontros” com Marcelino dos Santos. Agora, tomo este momento para partilhar parte de um desses encontros como meu singelo contributo pelas suas “noventas rosas vermelhas”, palavras de Óscar Monteiro, membro sénior da FRELIMO, no tributo que presta ao seu mentor, que acabo de ler no Jornal Notícias do dia natalício de Kalungano, e que utilizo, como empréstimo, com sua suposta permissão.
Em meados de Dezembro de 2006 fui convocado para participar numa reunião na sede do Partido FRELIMO com Marcelino dos Santos. A convocatória era estendida a toda a equipe de trabalho que coordenou a realização em finais de Outubro de 2006 do primeiro evento do Fórum Social Moçambicano (FSMoç), um espaço alternativo e crítico de debate público organizado por um grupo de organizações da sociedade civil moçambicana. Confesso que, na altura, alguma carga de medo tomou conta de nós e que só foi aliviada por conta da proximidade com o pessoal encarregue de interagir connosco na preparação da reunião cuja agenda seria em torno do evento que organizámos.
Para efeitos do presente texto, não me irei debruçar sobre o conteúdo dessa reunião (ficará para uma outra ocasião, assim como outros episódios dos “meus encontros” com Marcelino dos Santos). Vou apenas partilhar algumas situações ou momentos especiais que me marcaram, nessa reunião. Adianto já que foi muito interessante e que houve direito, por solicitação de Marcelino, a uma segunda rodada, uma semana depois, e a um convite para o pessoal do FSMoç capacitar/interagir com os quadros do partido, no âmbito dos propósitos do FSMoç, que para Marcelino dos Santos eram os mesmos que guiaram a fundação da FRELIMO e que conduziram a luta de libertação nacional.
No dia programado (finais de Dezembro de 2006) e à hora marcada (9h) lá estávamos na sede da Frelimo. Qualquer coisa como estar na toca do lobo. Do lado da comitiva da Frelimo, chefiada por Marcelino dos Santos, prontificava o ora deputado Edson Macuacua, João Bias e Florentino Kassotche para citar alguns dos integrantes. Coube-me, na qualidade de Secretário Executivo, encabeçar a equipe que representava a estrutura de coordenação para a realização do FSMoç, e assinalo, também, as presenças de Ahmad Suca, Thomas Selemane e Silvestre Baessa, companheiros com notável contributo na elevação da cidadania no país.
Marcelino dos Santos tinha na mesa os documentos do FSMoç, destacando o Plano Nacional. Este estava excessivamente sublinhado e com diversas cores e anotações, evidenciando que o tinha lido, como também que vinha “chimoco”. Para a nossa satisfação, Marcelino começa a reunião elogiando a qualidade dos documentos, admitindo que não via há bom tempo algo parecido na pérola do Índico, o que o deixava contente, serenando os nossos corações e receios. Ele ainda perguntou se tínhamos lido os estatutos da fundação da FRELIMO, pois os nossos documentos tinham o mesmo espírito e que ele vislumbrava possíveis pontes que se podiam construir entre o Partido FRELIMO e o FSMoç.
A reunião foi repetidamente interrompida por intervalos de telefonemas de e para Marcelino dos Santos, desculpando-se em seguida pelos transtornos. Por volta das 12 horas e quando pensávamos que se estava prestes a encerrar, mais um telefonema, e Marcelino termina a chamada dizendo ao interlocutor que só teria tempo no final da tarde, pois a reunião que estava a orientar se estenderia até às 16/17 horas. Felizmente não foi um susto para nós, pois conhecíamos a fama das demoradas reuniões da FRELIMO e com a particularidade de entrarem zangados e saírem sempre coesos e unidos.
Num dos telefonemas, apercebemo-nos de que era o Presidente Guebuza ou alguém próximo a confirmar um encontro. Depois de desligar, Marcelino comentou que estava desapontado ou preocupado com a hostilização do Governo de Guebuza ao de Chissano, celebrizada na famosa expressão “combate ao deixa-andar”. Referiu, ainda, que tinha pedido um encontro, creio do Partido, pois era tempo para se pôr termo à situação que até embaraçava o Partido FRELIMO. Um tempinho depois, como se constatou: o combate ao deixa-andar saiu do discurso governamental.
A dado momento, debruçando-se sobre a reacção do povo por qualquer insatisfação, Marcelino recordou as escaramuças na então Cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, depois da assinatura dos Acordos de Lusaka, em Setembro de 1974, entre a FRELIMO e o Governo Português, que selou o processo para a independência de Moçambique. Ele contou que alguns colonos foram assassinados com alguma barbárie numa revolta popular em resposta a atitudes de alguns sectores coloniais que estavam em contramão. Aproveitei a ocasião e informei que tinha um livro (que foi) escrito nesse período e que retravava, em parte, o que ele acabara de contar. Nesse instante, Marcelino olhou-me e franziu a testa como quem estivesse a desconfiar da veracidade do que tinha acabado de ouvir.
Em outro momento, Marcelino dos Santos anotou que acabava de ler o livro “Memórias em Voo Rasante” de Jacinto Veloso, outro membro sénior da FRELIMO, lançado em 2006, e por coincidência eu e o Silvestre Baessa acrescentámos que também o tínhamos lido, por sinal, o mesmo exemplar. Da leitura do livro ou da conversa sobre o mesmo com Jacinto Veloso, Marcelino disse - embora os dois políticos fossem companheiros de jornadas há várias décadas - que se apercebeu de que um dos livros que influenciou o General Veloso foi o “Processo Histórico” de Juan Clemente Zamora que, também para ele, é uma referência e contribuiu grandemente para a sua consciência política.
Ainda sobre o livro de Zamora, Marcelino lamentou que nunca tenha visto o original e que apenas tenha lido fotocópias. Voltei a aproveitar o momento, e disse-lhe que eu tinha o original. Desta vez, interrompendo o gole de água, Marcelino dos Santos abriu mais os olhos, direccionando-me com intensidade. Em seguida, apontou-me o seu dedo indicador, e com o tom de voz mais ríspido e denotando um iminente sorriso exigiu veementemente: Eu quero ver a sua biblioteca!
Cá por mim, pensei: Agora é que me lixei. Desde então, fiquei com uma promessa oculta de passar-lhe o original do “Processo Histórico” de Juan Zamora, e eu ficar com uma fotocópia!
Por onde andas, Kalungano? Agora sei a razão da pergunta. De certeza que não lhe procuro para saldar a minha promessa oculta ou mostrar-lhe a minha biblioteca, mas apenas para beber mais do teu “Processo Histórico”. Acredito que não seja só do meu interesse. É um Imperativo Nacional.
Saravá, Lilinho Micaia!
Entre os recursos que Clifford Geertz usou para vincar o interpretativismo como corrente de reflexão e problematização antropológica, tomo de empréstimo a sua rearticulação de perspectivas ética e émica, através das quais aciona a possibilidade de compreensão, usando noções e conceitos próximos da nossa própria experiência e vivência para alinhavar paramentos de leituras e interpretação de noções e conceitos relativamente distantes da nossa experiência. O que vemos, lemos, ouvimos e/ou experienciamos é passível de ser objecto de apreensão e compreensão, com recurso a uma multiplicidade de lentes. O fascinante é que a consciência disso e a vigilância epistemológica que lhe deve acompanhar amplia a possibilidade de redução do enviesamento interpretativo.
O folclore da "revolução moçambicana" é povoado por expressões e jargões de significação estruturante e profunda densidade simbólica, reflexo de um alto investimento visando formatar, estabelecer fronteiras, vocalizar e dar sentido ao movimento de libertação, posteriormente autointitulado "guia do povo moçambicano", como plasmado naquele hino: " ...viva viva a Frelimo/ guia do povo moçambicano/ povo heroico de armas em punho/ o colonialismo derrubou...".
O celebrado povo de armas em punho, para os desavisados, vide a bandeira nacional que flutua armada e que talvez continue flutuando armada por algum tempo por ser um dos feitos em que muitos se identificam e se sentem representados, especialmente em conjuntura de negações, alheamentos e distanciamentos, alguns dos quais sintetizados em " #hastag's fulano e sicrano, isto e aquilo não me representa", como artifício de reivindicação de outras narrativas.
Em tempos de (des)encantamentos, e mesmo fora deles, é pertinente não usar, à esmo e acriticamente, expressões prenhes de significações, a maior parte das quais consideravelmente amargas sobre a história política de Moçambique. Sob pretexto de "purificação de fileira", os guardiões do socialismo aspirado científico embarcaram em excessos de verborragia descaracterizante e uso de violência extrema, traduzida em execuções quase sumárias, vilipêndio de desafetos em praça pública e até terrorismo paralisante em que muitas pessoas confrangiam-se no seu potencial criativo e produtivo, reduzindo-se à "mediocridade de massa", para não parecer afrontar o incisivo e escrutinador olhar dos vigilantes da "pureza ideológica" e de "estirpe", semeados nos bairros, aldeias e locais de trabalho.
O excessivo zelo em estabelecer e salvaguardar uma certa "pureza" de "linha ideológica", como parte do processo de definição da "razão da luta", objectivo de construção do quimérico "socialismo científico" e prossecução de "vitórias contra o subdesenvolvimento" foi tão visceralmente pontificado, tendo deixado indeléveis marcas e cicatrizes que caracterizam uma cultura política violenta e fraturante com potencial de ser usado e/ou alimentar os germes das múltiplas vertentes de dissidências e sustentação de argumentos fundacionais que viabilizaram bases ideológicas de contestação aos libertadores (independentemente de ter sido à prior ou posterior, no sempre controverso caso da Renamo, ou mais recentemente no misterioso caso do Podemos).
Pudera! A conversão de movimentos violentamente contestadores, particularmente os que tem experiências de algum tipo de triunfo na sua causa, não tem sido "líquido", e não raras vezes se pensam banhados de áureas de omnipotência acreditando (piamente até) em sinas e capacidades de triunfar sobre qualquer coisa ou agenda. A Frelimo incluso.
"Contra revolucionário", "reacionário", "traidor" e, posteriormente, "inimigo do povo", "xiconhoca", "açambarcador" (gosto desta), "candongueiro" e, mais recentemente, "partidariamente indisciplinado", "agente da mão" externa", "corrupto", "moçambicano da gema" em contraposição a um eventualmente "sem gema(!?)", são alguns dos palavrões que estiveram (estão) activamente presentes nas formas de leitura, classificação e interpretação das circunstâncias e eventos que caracterizam a progressão e o estabelecimento do movimento libertador como partido político e ator político central e com privilegiada posição de estruturação das características e rumos que o país assumiu (e assume), consciente e/ou inconscientemente dos virtuosos e/ou deploráveis resultados. Sem descurar que, in extremis, sociedade é um permanente constructo pelo que, nunca se saberá o desfecho de nada senão um perfilar cumulativo de eventos e tempos. Ainda bem que, como humanos desconfortáveis com o 'caos' inventamos marcos históricos e temporais como artifícios e recursos de apreensão e domesticação da existência.
O mais recorrente e significativo dos chavões é o que alude à "purificação das fileiras", pelo carácter maniqueísta e diádico (que reduz a estruturação da realidade entre pureza e perigo, ou bem e mal) ao mesmo tempo que imprime um sentido dinâmico, associado a ideia de vigilância contínua que, evidentemente denota um permanente alerta no interesse de salvaguarda do que se supõe ser fileiras impolutas, não obstante a transfiguração conjuntural do que isso signifique.
Em tempos, "fileiras puras" incluíam noções de incorrutibilidade, lealdades a presumíveis "interesses do povo", "primeiros nos sacrifícios, últimos nos benefícios" e outros, ainda que nunca tenham sido cuidadosamente esmiuçados. Premissas teleológicas, encorpadas em sentidos messiânicos, aparentemente autoexplicativos, funcionam assim mesmo. Aconchegam-se na força da repetição e na praxe que, sistematicamente esconjura o que não lhe parece abonatório ou conveniente sem precisar expor-se a qualquer desafio de razoabilidade e/ou enquadramento moral ou ético, fora dos limites da grelha totalitária que possibilita que se firme como expressão de consequências fenomenológicas.
Quando Mary Douglas dissertou sobre pureza e perigo, mais do que enunciar a coexistência cosmologicamente significativa de teses e antíteses, prenunciou as linearidades dualistas e multifacetadas da vida em sociedade, eventualmente aprisionados em quadros de maniqueísmos funcionalistas e de instrumentalização de noções e conceitos socialmente estruturantes.
Para além desse olhar cético e pouco complacente com o qual entretenho-vos, inclino-me a pensar que o "perigo" é tão maestro da orquestra da vida como a própria "pureza" e, nessas circunstâncias, importa sempre questionar e aferir a significação conjuntural dos jargões e palavrões da moda, levianamente adotados e/ou readaptados como chaves-mestras para abrir portões de duvidosos universos de imaginação sociopolítica e até totalitária.
Alinhamento, coesão e unidade são parte de um repertório político discursivo relativamente familiar no contexto moçambicano, especialmente quando a significação que pretendem emprestar alude à importância de convergência de ditames e prioridades político ideológico; agregação de esforços na prossecução de interesses político-partidários e promoção da integridade territorial em contexto de diversidade socio cultural.
Embora os jargões tenham sido cunhados, aplicados em outros contextos e circunstâncias, na conjuntura actual, quando tais jargões são forçados de empréstimo não transportam somente as eventuais virtudes de significação ou desejadas purezas mas também conteúdos subliminares e aparentes impurezas que os torna termos e expressões que pretendem representar e significar coisas que nos dizem respeito como sociedade.
Na domesticação das teses e antíteses que palavras politizadas veiculam, conjunturalmente falando, não se pode aludir ao alinhamento das fileiras sem perguntar-nos se estão a falar dos "nossos" ou daqueles que "não são nossos"; dos de "dentro ou de fora", não se pode falar de unidade sem se questionar se a discussão desemboca em criticismos de "alas", "regionalismos" ou "tribalismos". Dificilmente se pode entender coesão fora das possibilidades de fissuras e "caça às bruxas" potenciadas pelo extrapolar das capacidades de gestão partidarizada do Estado e do minguar de subterfúgios materiais, lúdicos e simbólicos que concorrem para a manutenção de lealdades grupais.
Não obstante as infindáveis possibilidades de significações que jargões politicamente instrumentalizados apesentam, o mote deste texto está nas diferentes formas de apropriação e instrumentalização político pragmática de termos e conceitos, aparentemente óbvios e inocentes, mas que prenunciam a introdução de zarabatanas novas que escamoteiam e, simultaneamente, evidenciam a persistência de tendências e posturas governativas de cunho totalitarista.
O esmero em demostrar a importância da "compactação" de fileiras, mais do que sinal de eventual bloqueio ou deficit lexiológico de ocasião da parte do emitente (quem não os tem!?), pode ser lido como um alarmante sinal de reafirmação da negação da diferenciação, numa conjuntura em que os sentidos identitários andam minados pelos escândalos financeiros de proporções mundiais e continuadas revelações de nichos de mal versasão da coisa pública.
Semanticamente falando, "compactar fileiras" significa passar um rolo compressor capaz de amalgamar as diferenças de ideias, perspectivas e abordagens dos dilemas e desafios que caracterizam o país, nivelando, literalmente, por baixo os diferentes actores (políticos, intelectuais, jornalistas, fazedores de opinião e outros) e, em última instância, a sociedade como um todo.
Antes de amarar e apertar sacos de laranjas ou batatas em que algumas estão podres, importa separar o que se salva e, das putrefactas, aproveitar as sementes com potencial germinativo e voltar a plantar. A revitalização política, assim como a regenerescência orgânica é um processo de selecção e não uma mera compactação constritiva que impede o fluxo construtivo e inovador da diversidade e do direito à diferença e divergência.
A "compactação das fileiras", enquanto sintoma da ebulição de um partido particular, mal nos diria respeito, não fosse pelo facto de tal partido também ser o que monopoliza o poder de Estado. Com palavras aparentemente inocentes e gestos fugazes estabelecem-se os déspotas e não tarda que seguidistas inebriados adotem o jargão e praxe intrínseca, numa cultura política que privilegia a premeia grandiloquentes gestos de lealdades incondicionais.
Há bem pouco tempo, em nome da "pureza ideológica" e de similares barbaridades, à esta distância histórica reavaliados sem nexo, ostracizamo-nos, aprisionamos uns aos outros em "campos de reeducação", combatemos nossas próprias culturas e línguas, apregoamos a forja do "homem novo", essa descaracterizada e irreconhecível figura que se esmera em tomar o lugar do tateante e quase sempre desengonçado "criador".
Ode à igualdade e diversidade e que não voltemos a sucumbir à homogeneização que destitui indivíduos e grupos das liberdades partilháveis, que nos são ou deveriam ser, igualmente caras.
Não à "compactação de fileiras" que prenunciam o recrudescer de apetites totalitaristas, onde já estivemos, e de cujos vestígios e implicações mal conseguimos desenvincilhar-nos.
Nós não estamos a perceber, mas é muito bem provável que Abel Xavier esteja preso nos Mambas. Acho que o pobre homem está de castigo por ter afirmado que era "treina-a-dor" e "seleciona-a-dor" de Moçambique. Parece que algum "big-boss" da Federação Moçambicana de Futebol não entendeu bem a ironia e não gostou nada da brincadeira do mister e colocou-o de castigo na seleção. Aquilo só pode ser prisão.
Abel Xavier está a sofrer muito, irmãos. Não é possível que um homem daquela idade não queira se livrar da vergonha que tem estado a passar a cada jogo. Não é possível que um cidadão como o Abel dispa da sua dignidade desta maneira. Não há dinheiro que pague tamanha cara-de-pau. Eu tenho pena dele... Está a sofrer o homenzinho.
Abel Xavier quer ir embora, mas alguém insiste em mantê-lo ali só por capricho ou sei-lá-mais-o-quê. O rapaz já deu o que devia dar. Até penteados já fez de todos os tipos e tamanhos e já não tem mais ideias. Deixem o homem ir embora, meus senhores! Deixem o Abel ir treinar e selecionar dores doutras pessoas noutras paragens! Deixem o Abel fazer os seus penteados noutros salões! Libertem o homem desta pouca vergonha! Afinal, o que querem que o Abel faça para mostrar que já não quer mais estar nos Mambas?
Coitado do Abel! Está preso e não pode fazer nada. O jovem precisa de um advogado - desses fosfóricos que andam por aí - para lhe fazer um pedido de "habeas corpus" para que ele possa treinar os Mambas em liberdade... Bem longe daqui. Libertem o pobre homem!
#ChegaDeVergonha
#FreeAbelXavier
- Co'licença!
Seja bem-vindo à casa, amigo Chang! Deus ouviu as nossas preces. Oramos muito pelo teu regresso, irmão. Fizemos correntes de energias positivas por ti. E no fundo no fundo sabíamos que Deus ia ouvir o nosso pedido. O que é que Deus não faz para crentes como nós que suplicam pela saúde e bem-estar do seu irmão do "CUração".
Aleluia! Jeová é o maior! Temos muitas saudades tuas, irmão, camarada e grande compatriota. Sem ti nós não vivemos. Sem ti as nossas vidas são um grande vazio. Sem ti as nossas vidas não fazem sentido. És o nosso amuleto.
Jeová seja louvado! O que seria de Moçambique sem ti? O que seria dos moçambicanos sem ti? Graças a ti nos tornamos conhecidos, reconhecidos, respeitados e famosos. Graças a ti entramos no mapa-mundo. Graças a tua "engenharia" a comunidade internacional colocou-nos no nosso devido e merecido lugar. Agora todos tremem quando nós vêem. Até o Efe-Eme-I tem medo de nos dar dinheiro. Todos sabem que quando a gente pega dinheiro não brinca... É só arrasar!
Esse tempo todo ficamos aqui a chorar e a orar por ti, irmão. Perguntavamo-nos todos os dias: mas, afinal de contas, o que é que esses americanos querem com o nosso irmão? E esses nossos cunhados invejosos, por quê fazem isso connosco? Aquelas procuradoras, aquelas juízas, afinal qual é o problema?
Chang, nosso querido irmão, nós te amamos maninguemente! Estamos muito gratos pelo que fizeste por esta pátria que tanto amas. A nação está rendida aos teus pés. És um génio, compatriota. Só tu mesmo! Mereces uma praça dos heróis só tua. Mereces uma estátua também... Bem big.
Yuuu, nunca falamos mal de ti nós! Nunca publicamos nada de maldade... Só orações e orações. Nunca desejamos que fosses longe daqui. Afinal, és o nosso Messias. O que fizeste por nós não tem galinhas... digo, dinheiro que pague.
- Co'licença!
Sobre DDR – Desarmamento, desmobilização e reintegração e o que mais se pode dizer acerca dele para salvar a segunda morte de Dhlakama.
Por: Egídio Vaz
Neste pequeno texto, aponto uma série de iniciativas com potencial de desbloquearem o embaraço em que nos encontramos. Uma iniciativa que pode ser levada a cabo pelo General Ossufo Momade, Presidente da Renamo; outra iniciativa que pode ser levada a cabo pelo Grupo de Contacto e ainda outra, que pode ser levada a cabo pelos 10 nomes (via rápida) e ainda outra de mobilização popular.
Ao que tudo indica, parece que o processo de desarmamento, desmobilização e reintegração das forças residuais da Renamo chegou a um impasse. Desde que há um mês a Renamo submeteu a lista de seus homens para integração na Polícia como núcleo inicial, o governo não reagiu. Aliás, reagiu, afirmando que não tinha “a moral suficiente para incluir os homens já na reserva e outros na reforma ou desmobilizados, em detrimento daqueles que se encontram ainda nas fileiras da Renamo, aqueles pelo qual o diálogo com o falecido Dhlakama visava abranger” – palavras do Presidente Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República de Moçambique. “Os que fazem parte da lista já estiveram nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique, uns passaram à reserva com subsídios de integração atribuídos e auferem salários ou pensões como outros seus colegas que são da proveniência do Governo”, Presidente Filipe Nyusi.
Aqui, dois aspectos realçam. Primeiro aspecto, o Presidente da República deixa muito claro que as pessoas pelo qual o diálogo com o falecido Dhlakama visava abranger não são os dez sugeridos pela nova liderança da Renamo, nomeadamente: Major-general Arlindo Maquivale
Essa declaração, tem dois suportes. O primeiro é de que todas conversas entre o falecido Presidente da Renamo e Presidente da República foram gravadas e, havendo necessidade, podem ser divulgadas. Nelas, o sentido de nomear representantes para a Polícia está claro bem como os nomes avançados ou no mínimo, a natureza dos indivíduos que deveriam fazer parte da lista inicial. O segundo suporte é o facto de a nova liderança da Renamo ter jurado de pés juntos não contrariar o rumo dos consensos alcançados entre o Presidente Nyusi e falecido Afonso Dhlakama. Para ser claro, a nova liderança da Renamo jurou não TRAIR a memória e legado de Afonso Dhlakama. Ora, felizmente, e pelo menos ao nível teórico, quem neste momento não está a trair a memória de Dhlakama é o Presidente Nyusi, ao recusar aceitar a integração de pessoas que não preenchem nem os requisitos formais muito menos os quesitos etários para os postos a que se propõem. Pior, nem eram essas, as pessoas pelo qual o diálogo com o falecido Dhlakama visava abranger.
Alegra-me, no entanto, constatar que sobre este ponto, nem a própria Renamo contesta ou desmente. O seu principal Porta-voz, Dr. José Manteigas apenas cinge-se em afirmar que à luz do Memorando de Entendimento, é prerrogativa da Renamo indicar os seus homens. Sem querer lhe desmentir ou retirar o mérito, julgo que SIM, a prerrogativa é da Renamo, mas ela DEVE conformar-se com o espírito e a letra dos termos do Memorando do Entendimento bem como o grupo-alvo sobre o qual o diálogo com o falecido Dhlakama visava abranger. Seguramente e a todos pontos de vista, não é esse grupo sobre o qual o diálogo com o falecido Dhlakama visava abranger.
Ora, que fazer para evitar a segunda morte de Afonso Dhlakama?
Essencialmente sugiro três iniciativas:
PRIMEIRA
O Presidente da Renamo deve compreender que neste momento está sendo alvo de manipulação por parte de alguns caudilhos de guerra instalados em Maputo, que tiram benefício da sua ausência física para continuar a debochar o seu próprio partido e a carcomer o poder de liderança DO SEU Presidente, Ossufo Momade. Fizeram o mesmo com falecido Dhlakama, encorajando-o a viver longe da família, sozinho e rodeado pelos mesmos homens cujas oportunidades de reinserção e enquadramento são hoje desviadas em benefício dos reformados e reservistas, situação juridicamente incompatível com qualquer possibilidade de reintegração pelo facto de estes já fazerem parte do Estado; reformados ou reservistas.
Efectivamente, o Genral Ossufo Momade não é o único Presidente da Renamo. Ele possui muitos Co-Presidentes que o ajudam a manter no caminho do impasse e da incerteza; longe da Paz e da concórdia e reconciliação com os moçambicanos, enquanto se apressam em assegurar os seus interesses.
Felizmente, existe uma boa experiência, caso Ossufo Momade queira romper com o cerco. Que o General Ossufo Momade aprenda com o Presidente Filipe Jacinto Nyusi que, contra todas expectativas; contra todos os riscos à sua vida; à socapa dos veto players da Frelimo, foi por mais de duas vezes a Gorongosa encontrar-se com Afonso Dhlakama e em consequência disso, logrou os progressos de que hoje somos todos usufrutuários.
O General Ossufo Momade tem o poder e controlo sobre o seu exército. Pode surpreender os caudilhos de guerra instalados em Maputo, enviando outra lista directamente ao Comandante-em-chefe das Forças de Defesa e Segurança, Presidente Filipe Jacinto Nyusi, para imediata integração e, ao mesmo tempo, anunciar a indicação de locais para o acantonamento das suas forças e ser ele próprio a liderar o processo.
Se quiser ser o inquestionável discípulo de Afonso Dhlakama, intérprete dos seus ideais e guardião da sua moral, a melhor saída consiste igualmente em evitar cair em erros por ele próprio cometidos. E um destes erros foi o de ter dado demasiado ouvidos aos mesmos que hoje o mantem nas grutas da Gorongosa. O que estou a dizer não é mentira. Tomem por exemplo, a velocidade com que os processos negociais e a consolidação da confiança entre Afonso Dhlakama e o Presidente Nyusi. Tal só foi possível a partir do momento em que os dois começaram a discutir os assuntos directamente. E foi daí que Afonso Dhlakama entendeu que em alguns temas e assuntos, estava a ser vítima de agendas egocêntricas de alguns mediadores e emissários. O arrojo de Afonso Dhlakama em flexibilizar alguns aspectos, a começar pela declaração da trégua militar sem fim não foi fruto do acaso ou de alguma distração. Foi resultado de alguma revelação e clareza sobre os mesmos, zelosamente mantidos longe do seu alcance pelos caudilhos de guerra que o queriam ver confinado nas serras para que continuassem a cuidar dos seus interesses.
SEGUNDA
No âmbito desse processo negocial, o chamado Grupo de Contacto também tem um papel a desempenhar. Integram o Grupo de Contacto sete personalidades, designadamente, os Embaixadores da Federação Suíça, dos Estados Unidos da América, da República Popular da China, do Reino da Noruega bem como o Alto-Comissário da República do Botswana, a Alta Comissária do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e o Chefe da Missão da União Europeia em Moçambique. O grupo tem, entre outras tarefas, prestar assistência financeira e técnica coordenada, bem como realizar outras tarefas indicadas nos seus Termos de Referência.
Da mesma forma que emitem comunicados elogiosos quando há progressos no processo de Paz ou quando o processo emperra, julgo ser oportuno que ele também se pronuncie e use das mesmas prerrogativas para persuadir a Renamo a rapidamente conformar-se com o espírito e letra do Memorando de Entendimento. E mais, parte dos países envolvidos no Grupo de Contacto são igualmente altos patrocinadores do processo eleitoral moçambicano. Seria um enorme malogro que esses vissem seus esforços gorados aos joelhos da Renamo, não conseguindo desmilitarizá-la antes das eleições de Outubro próximo. Por isso, também podem exercer a terceira via, influenciando um pequeno, porém, vibrante grupo de organizações da Sociedade Civil nacionais para que, também se mobilize em torno da paz, chamando à razão a Renamo, de modo a que ela se reconcilie com a verdade, com o espírito de Afonso Dhlakama.
Ora, para que tal seja possível, é preciso que estes países sejam comprometidos com a Paz dos moçambicanos, seja comprometido com o desenvolvimento de Moçambique e não comprometidos com agendas contraproducentes à agenda nacional. Eu estou convicto que eles estejam comprometidos com Moçambique. Caso contrário não iria apoiar.
TERCEIRA
Os moçambicanos, que todos os dias clamam pela paz, precisam de melhor conhecer a narrativa deste processo para que também tomem parte do diálogo e das decisões. Agora, mais do que em qualquer outro momento, devem levantar a sua voz e estarem do lado da verdade e do que lhes mais interessa. Por causa disso, é importante que agucem a sua atenção e reajam aos primeiros sinais de manobras dilatórias.
O Presidente Filipe Nyusi, o governo e nós moçambicanos fizemos muito. O parlamento demonstrou que, quando o interesse nacional chama por eles, são capazes de acelerar o passo: aprovou-se uma revisão pontual da constituição, um pacote de descentralização e outros dispositivos associados para permitir o aprofundamento da democracia, da descentralização e da reconciliação nacional.
Agora o governo e parceiros estão de mãos atadas porque não podem ir desmobilizar a força o exército residual da Renamo, até porque não se conhece onde ele está; não se podem avançar com a integração de oficiais da Polícia da República de Moçambique, porque a Renamo quer meter os que já estão a beneficiar de regalias do estado desde 1992; não podem avançar com desmobilização, reintegração e ou reinserção social do exército residual pois para tal, é preciso que esse núcleo inicial da Renamo seja integrado.
É agora chegado o momento de a voz do povo fazer-se ouvir. O Presidente já se pronunciou três vezes sobre o mesmo assunto; a liderança da Renamo está já notificada sobre as incompatibilidades. O próprio Presidente conhece os visados de cara, pois foi também Ministro da Defesa entre 2008-2014.
Será que vamos deitar tudo abaixo por causa de 10 reformados? Será que eles próprios não podem ajudar o embaraço em que colocaram o Presidente da Renamo? Como? Surpreendendo-nos também com uma declaração à imprensa em que anunciam a sua retirada voluntária das candidaturas, para o bem da Paz, dos seus filhos, netos e pela salvaguarda da memória e visão de Afonso Dhlakama.
Neste pequeno texto, apontei uma série de iniciativas com potencial de desbloquear o embaraço em que nos encontramos. Uma iniciativa que pode ser levada a cabo pelo General Ossufo Momade, Presidente da Renamo; outra iniciativa que pode ser levada a cabo pelo Grupo de Contacto e ainda outra, que pode ser levada a cabo pelos 10 nomes (via rápida) e ainda outra de mobilização popular.
Cada uma dessas iniciativas, implementadas a eito ou individualmente tem o potencial de resultar em um grande passo rumo ao desencadear da seguinte fase do processo de DDR.
Custa acreditar que a reparação e manutenção daquela viatura Ford-Ranger do Í-Cê-Esse de Nampula cujo orçamento era de dois milhões e meio de meticais, na semana passada, passou para quase trezentos mil meticais esta semana. Quer dizer, a mesma viatura, a mesma avaria, a mesma reparação e na mesma oficina, mas mesmo assim o preço baixou em quase noventa por cento. Ou seja, o orçamento da semana passada dava para fazer assistência a dez viaturas com quase mesma avaria.
Isto parece bolada de vendedores ambulantes da baixa, onde se anuncia mil meticais para um relógio Rolex chinês e acabas levando a oitenta meticais. Como se explica que um mesmo serviço e na mesma agência baixe cerca de noventa por cento? É que dois milhões e quinhentos mil meticais é o preço do mesmo carro zero-quilómetro na mesma agência. Que reparação seria feita, então? Dá a impressão - como dizia um amigo desta plataforma - que iam trocar o chassi, o volante, as portas, a cabine, os vidros, as rodas, a buzina, as cadeiras, as luzes, as piscas, e até, se calhar, iam colocar um motorista novinho-em-folha. Até parece que a única coisa que funcionava bem era a chapa-de-matrícula.
Infelizmente, estes são os circuitos de adjudicação no nosso país. Isto está repleto de EMATUMs em miniatura. Cada concurso público lançado tem os seus Nhangumeles, Ndambis, Inêses, Changs, Renatos, Antónios, etecetera. Só não tem Elivera Dreyers, Sagra Subroyens e Interpols do mesmo tamanho. É tudo EMATUM, mas sem África do Sul nem Estados Unidos.
E quem pensa que os dois milhões e duzentos mil meticais remanescentes da Ford-Ranger foram salvos está muito bem enganado. Enquanto estamos aqui em júbilo pela vitória, o mesmo dinheiro está a sair dos cofres do Estado por outras portas.
Esta guerra é séria. Se o dinheiro não saiu via Ford-Ranger, vai sair via apetrechamento de casa ou via fornecimento de material de escritório ou via fornecimento de badgias e gulabos no workshop ou via construção de hospital ou via reabilitação de fossas de qualquer coisa.
Temos de estar atentos. Este país é nosso. Temos de amá-lo. Como dizia Samora Machel, "aqui trava-se um combate... é duro, mas temos de vencer". E estamos quase a vencer... Muito quase mesmo.
- Co'licença!