As cerimónias fúnebres do rapper Edson da Luz, mais conhecido por AZAGAIA, não foram marcadas apenas por momentos comoventes e de exaltação à obra do artista, mas também por episódios tristes e caricatos, que só são vistos em países ditatoriais.
O principal momento caricato foi protagonizado pela Polícia da República de Moçambique (PRM), através da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), que inviabilizou o cortejo fúnebre do rapper, que partia do Paços do Conselho Municipal da Cidade de Maputo até ao Cemitério de Michafutene, no distrito de Marracuene.
O caso aconteceu por volta das 12:00 horas, na rua do Farol, nas proximidades do Palácio da Ponta Vermelha, a residência oficial do Chefe de Estado e sua família. O cortejo fúnebre partia da avenida 25 de Setembro, com destino à Avenida Julius Nyerere, para depois seguir pelas avenidas Eduardo Mondlane, da Tanzânia, 24 de Julho e, por fim, de Moçambique.
No entanto, quando a viatura que transportava os restos mortais do AZAGAIA, ladeada por centenas de fãs e admiradores do rapper, deslocava-se à Avenida Julius Nyerere, através da Rua do Farol, foi barrada por três carros blindados e mais de duas dezenas de agentes da UIR, munidos de armas de fogo e gás lacrimogénio.
O caricato momento durou mais de 30 minutos e levou a viúva de AZAGAIA e suas filhas a descerem do carro para negociar com os “implacáveis” agentes da UIR. Porém, nem com os pedidos da família enlutada, a Polícia mudou a sua opinião, tendo ordenado o cortejo fúnebre a regressar à Avenida 25 de Setembro para tomar um novo trajecto.
A ordem foi acatada pela família de AZAGAIA, mas não foi bem acolhida pelos seus fãs, que insistiam em continuar com o trajecto previamente definido. A UIR usou da sua musculatura e lançou gás lacrimogêneo para dispersar as pessoas. As razões daquele episódio caricato não foram explicadas à comunicação social.
Entretanto, depois de demonstrar musculatura, os mesmos agentes viram-se na obrigação de garantir segurança aos restos mortais de AZAGAIA e da sua família, tendo chamado para si a responsabilidade de escoltar o cortejo fúnebre, embora não se tratasse de uma cerimónia de Estado.
Três carros ligeiros da marca Mahindra e três carros blindados foram colocados à disposição da família da Luz e acabaram sendo cruciais para desbloquear a Estrada Nacional Nº 1, nos bairros George Dimitrov, Zimpeto (na cidade de Maputo) e Cumbeza (no distrito de Marracuene), onde a população tomou de assalto a estrada para ver passar o cortejo fúnebre do “herói” do povo.
Aliás, não só a Polícia acabou mobilizada, como também os militares, que prestaram vénia ao artista. Imagens captadas pelas televisões que faziam a transmissão em directo do cortejo fúnebre mostram militares de diferentes unidades, espalhados ao longo da EN1, a prestarem a sua vénia ao “herói do povo”. (Abílio Maolela)