A Associação Moçambicana de Escritores (AEMO) suspendeu o ex-ministro da Saúde Hélder Martins, acusando-o de ter plagiado a proposta de lei da Academia Moçambicana de Letras (AML) e de a ter submetido ao parlamento em nome de outra academia.
O secretário-geral da AEMO, Carlos Paradona, disse ontem ao diário O País que Hélder Martins depositou na Assembleia da República (AR) uma proposta de lei de criação da Academia Moçambicana de Artes e Letras (Amocal) idêntica à proposta de lei de fundação da AML.
O texto da AML foi elaborado por uma comissão instaladora criada pela AEMO e teve como presidente o antigo ministro da saúde e também escritor, tendo sido dissolvida após a conclusão dos trabalhos e submissão do documento ao parlamento.
“Surpreendentemente, a AEMO tomou conhecimento de que a documentação produzida e remetida à AEMO pelo presidente da comissão instaladora foi levada pelo escritor Hélder Martins para a criação de uma outra academia em que ele aparece, uma vez mais, como presidente da comissão instaladora. Isto viola os estatutos da AEMO”, afirmou Carlos Paradona.
Aquele responsável acusou o antigo ministro da Saúde e escritor de desonestidade, avançando que o comportamento de Hélder Martins deixou a organização sem outra opção, senão a suspensão.
Em declarações ao País, Martins disse que a Amocal conta com o apoio de 41 associações e tem um escopo mais abrangente do que a AML, porque esta incide apenas sobre a área de letras.
O antigo governante declarou que explicou à direção da AEMO a intenção de criação de uma academia mais inclusiva, tendo recebido o apoio da organização dos escritores. “Foi só mais tarde que voltaram atrás com a sua palavra, porque não têm palavra”, afirmou.
Hélder Martins acusou a AEMO de “atitude fascista e autoritária”, por supostamente tentar coartar a liberdade dos seus membros. “No que respeita à acusação de que nós nos apropriámos de uma ideia da AEMO é uma acusação sem pés nem cabeça, porque quem fez o trabalho de produzir um projeto de lei foi a comissão, não foi a AEMO”, enfatizou.
Tanto a proposta de lei da AML como a da Amocal ainda não foram debatidas pela AR, cujos trabalhos se encontram interrompidos para a habitual pausa entre sessões.
Em fevereiro deste ano, Hélder Martins demitiu-se da função de membro da Comissão Técnico-Científica para a Prevenção e Combate à Pandemia de Covid-19 por discordar dos métodos de funcionamento da entidade.
Martins é um veterano da luta de libertação de Moçambique e membro histórico da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, e foi ministro da Saúde entre 1975 e 1980 e mais tarde quadro da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Como escritor conta com várias publicações. (Lusa)