Vítimas de violações de direitos humanos e abusos sexuais perpetrados pela Polícia da República de Moçambique (PRM) na cidade de Nampula preveem um futuro incerto por conta dos problemas psicológicos significativos vividos durante os protestos pós-eleitorais.
Uma das vítimas, Tânia Costa, de 21 anos de idade, natural de Angoche, residente na cidade de Nampula, descreve o momento em que os membros da Unidade da Intervenção Rápida abusaram sexualmente dela, após ter sido baleada e agredida por um dos agentes, na sua própria residência, no bairro de Belenenses, próximo ao mercado do peixe. A irmã também não escapou às sevícias.
“Durante as manifestações um agente da UIR invadiu a minha residência, alegadamente para dispersar manifestantes, quando eu confeccionava almoço. O agente forçou-me a despir e, em seguida, com fortes ameaças, lançou gás lacrimogéneo”, disse.
O agente forçou-nos a despir para que introduzisse os seus dedos nos órgãos genitais e, porque resistimos, torturou-nos fisicamente. Depois de lograr os seus intentos, o mesmo teria disparado contra a minha perna, uma situação que me deixa constrangida até hoje. “Não sei o que será da minha vida, uma vez que isto afectou a minha locomoção cortando a minha rotina”, sublinhou Tânia Costa.
Outra vítima, Samito Inácio, de 24 anos de idade, natural de Memba, residente em Nacala-Porto, por sinal vendedor ambulante, foi alvo de baleamento pela Polícia, nos membros inferiores, durante os protestos pela reposição da verdade eleitoral, concretamente no mercado do Juma.
“Quando a polícia me baleou, fui socorrido por populares para o Hospital Distrital de Nacala, onde tive tratamento. Neste momento não tenho muletas para me apoiar na minha locomoção. Eu era o pilar da casa, ajudava os meus pais, porque não têm condições, agora tudo está difícil para mim, não sei que vida me espera daqui em diante, estou num total desespero”, lamenta Samito Inácio.
Luís Pires, de 23 anos de idade, estudante universitário, residente na zona militar, arredores da cidade de Nampula, foi baleado na avenida de Trabalho. “Fui baleado pelos agentes da UIR no pé esquerdo, quando regressava da faculdade, num ambiente em que o povo se manifestava pacificamente. Foi um momento triste, porque não esperava algo do género. Até hoje, estou traumatizado”, disse Luís Pires.
Outra vítima, por sinal menor, de nome Ana João, de oito anos de idade, residente no bairro do triângulo, na cidade de Nacala-Porto, também foi alvo de baleamento. Conta que, após a ocorrência, uma viatura da polícia não identificada colocou-se em fuga, tendo abandonado a vítima.
Dos casos registados, incluem-se, baleamentos, lesões físicas, trauma psicológico, tentativa de violação sexual, uso excessivo da força, atropelamento e abandono das vítimas. Dentre as vítimas, na sua maioria são jovens, mulheres e crianças que foram directa ou indirectamente atingidas. (Carta)