As autoridades do distrito de Magude, na província de Maputo, manifestaram na última sexta-feira preocupação com a proliferação dos casamentos prematuros e com a consequente desistência das raparigas das escolas, por conta deste mal.
Segundo a Chefe do Gabinete do Atendimento da Família do Comando distrital de Magude, Esperança Miranda, que falava durante uma mesa redonda sobre casamentos prematuros em Magude, organizada pela Brotar Moçambique, uma organização que facilita diálogos a nível dos distritos em busca de um ambiente favorável, a pobreza extrema na qual vive grande parte das famílias e a falta de escolaridade dos pais é o que está por detrás do aumento dos casamentos prematuros.
‘’Magude é um distrito bastante frequentado por indivíduos que trabalham na vizinha África do Sul e, ao entregarem suas filhas para se casarem com este tipo de pessoas, muitos pais acham que é uma das formas de se livrar da pobreza. As meninas também ficam animadas, razão pela qual tem-se tornado difícil para nós, como autoridades, libertar essas crianças deste mal, visto que ao chegar numa casa onde conseguem ter, no mínimo, as três refeições diárias, e sabendo que o esposo proporciona uma mesada, ficam animadas e recusam-se a regressar à casa dos seus progenitores”, referiu Miranda.
Para Miranda, o mais caricato neste ponto do país e que torna mais difícil ainda eliminar os casamentos prematuros é o facto de alguns pais afirmarem que uma rapariga que atinge os 16 anos de idade, sem estar casada, está fora do prazo.
Dados do sector distrital da educação de Magude apontam que 29 raparigas uniram-se prematuramente em 2018. No presente ano de 2019 são já 34, as que se casaram e abandonaram a escola. Entretanto, as autoridades conseguiram sensibilizar 13 raparigas (dessas 34) a voltarem à escola e abandonarem a vida de casadas que levavam.
De acordo com o representante do Grupo de referência da Equidade de Género de Magude, Monteiro Nhamussua, não basta só falar e legislar – é necessário que o governo faça uma intervenção, o mais breve possível, sobretudo porque existem vários casos em que as raparigas são engravidadas, abandonadas e os rapazes não sofrem qualquer sanção.
Informações partilhadas pela Brotar Moçambique sobre casamentos prematuros dão conta que, em Outubro do presente ano, foi realizado um inquérito no posto administrativo de Motaze, no distrito de Magude, envolvendo 222 pessoas (entre jovens e autoridades locais), sendo que 92 por cento afirmaram conhecer uma rapariga que vive numa união prematura, 20 por cento disseram que o casamento prematuro é algo normal e quanto mais cedo a criança casar é menos despesa para os pais.
Na ocasião, as autoridades apelaram ao governo a apoiar as raparigas com ideias de negócios e fundos para abertura de alguns empreendimentos que as possam ocupar, como forma de evitar que elas se envolvam em casamentos prematuros.
A reunião contou com a presença das autoridades da Procuradoria Distrital, Acção Social, representante do sector da educação, membros do Gabinete de Atendimento da Família, funcionários do hospital, líderes comunitários, chefes dos quarteirões, entre outros. (Marta Afonso, em Magude)